• dezesseis •
CAPÍTULO DEZESSEIS
wish you were sober
Pandora odiava a ideia de ter seu coração partido por um garoto, mas talvez aquela fosse sua sina, já que o fim de sua amizade com Severus a deixara louca o suficiente para aceitar o convite de Sirius Black e ir em uma festa com ele. Talvez ela devesse pagar com a língua por todas as vezes que dissera nunca se render aos pedidos dele, mas naquele dia... ela não se importava que ele pensasse que ela era idiota, ou que estivesse preparado para atacá-la com uma facada nas costas, Pandora Madison só precisava refrescar a cabeça, ou iria surtar.
Sabia que Morgana, diferentemente dela, deveria estar lidando muito bem com a situação, afinal de contas, ela sempre era boa com tudo, mas Pandora se conhecia. Era o tipo que confiava cegamente em pessoas que lhe eram muito conhecidas, mesmo sabendo que aquilo poderia lhe causar problemas. Mas não era sua culpa se ela se entregava totalmente para todos que pareciam se entregar para ela, não tinha culpa de ser comprometida com seus amigos, não tinha culpa de ser tão boba. Mas ela sabia que a única culpa que carregava era a de não ter sido pior com Severus.
Já Sirius, conhecia muito bem a sensação de perder algo que ele sempre achou que teria, de não encontrar conforto em coisas que costumavam confortá-lo e sabia ainda mais que ela, sua maior inimiga, não merecia chorar por Severus Snape, na verdade, era até humilhante fazê-lo. E somente por isso, ao que ele pensava, Sirius sentiu-se na obrigação de distraí-la.
— Marlene me chamou e eu decidi não ir... mas acho que vai ser bom. — ele disse.
Pandora o encarou, os olhos ainda vermelhos e inchados estavam cheios de descrença.
— S-se você quiser, é claro. — completou.
O dia não poderia estar mais confuso para Pandora, não bastasse seu melhor amigo a tratar como se ela merecesse ser xingada, agora Sirius Black a havia chamado para uma festa e parecia estar sendo sincero, como se quisesse realmente que ela esfriasse a cabeça. Pensou, antes de encarar o corredor, que nada poderia ser pior do que perder o melhor amigo e ainda por cima ficar revivendo a cena em sua cabeça, ela precisa mesmo de uma festa, mesmo que dependesse do garoto mais... bem, eram tantos adjetivos que ela nem soube se decidir.
— Sem brincadeirinhas. — ela disse. — Sem segundas intenções.
Sirius ergueu suas mãos para o alto, como se estivesse se rendendo.
— Juro de dedinho!
Enquanto a noite começava a cair, os dois caminharam pelo corredor em silêncio, ele a guiando para onde aparentemente aconteceria a tal festa e ela já estava começando a ficar confusa toda vez que Sirius parecia querer conversar com ela, mas aparentemente não sabia como, já que sua boca abria e fechava constantemente, não sabendo o que falar. Ele, ao contrario do que Pandora pensava em sua cabeça altamente planejada para ficar contra a imagem dele, queria tentar perguntar se ela estava chateada e o que ele poderia fazer para ajudar.
Andavam os dois um ao lado do outro, os braços dela unidos atrás das costas para não ter o perigo de encostá-los no corpo dele, as mãos de Sirius dentro dos bolsos e seus olhos acizentados mudando de direção constantemente, mas de alguma maneira sempre voltando a encará-la. Engoliu em seco ao pensar que apesar de tudo, se eles não fossem tão ruins um com o outro, poderiam ter sido grandes amigos. Ao menos ele sabia que naquilo ele era muito bom.
— Me siga. — ele disse.
Ainda desconfiada, Pandora o fez, apressou-se para seguir o mesmo caminho de Sirius e notou que a cada segundo os corredores ficavam mais escuros, assim como as escadas que se moviam mais devagar. Os quadros bisbilhoteiros comentavam sobre os dois, mas não o suficiente para incomodá-los, deixando que continuassem seu caminho até uma passagem estranha atrás de uma estátua de alguma figura animalesca da qual a garota não reconheceu. Ali, havia uma sala secreta abarrotada de alunos de todas as casas, rindo, conversando e bebendo enquanto uma música baixa tocava.
Ela viu Marlene acenar de longe, enquanto bebia alguma coisa que parecia estar fervendo, já que uma fumaça branca saía de dentro do copo, mas logo a loira semicerrou os olhos e indicou com a cabeça na direção de Sirius, não acreditando que eles entraram em uma festa juntos. Mais fácil seria se entrassem em um ringue de luta ou coisa do tipo.
— Você quer cerveja amanteigada? — ele ofereceu.
Ela simplesmente assentiu e observou ao seu redor mais uma vez, percebendo que a música começou a ficar mais alta na medida que alguns alunos jogavam feitiços da porta, a fim de evitar que o barulho saísse para fora. Pegou o copo vermelho da mão de Sirius e imediatamente bebeu um gole da cerveja, pensando que ela gostaria muito que a taxa de álcool naquela bebida fosse maior, mesmo assim, agradeceu silenciosamente ao garoto e o acompanhou até o fundo da sala, onde algo que mais parecia uma clarabóia mostrava o céu estrelado.
Pandora ingeriu mais uns goles ao mesmo tempo em que agradecia pela música afastar o silêncio entre os dois, que mais pareciam preferir ficarem calados ao invés de dizer algo que estragaria aquela estranha comunicação. Olhou para cima, ao preferir observar o céu dessa vez, as estrelas praticamente piscando de muito longe como se a convidassem para voar. Riu com o próprio pensamento, imaginado uma versão de si com asas. Viu seu copo esvaziar rapidamente, assim como o de Sirius, que logo foi enchê-los outra vez.
— Você está bem? — ele perguntou.
Pandora estava iluminada pela cor azulada que vinha da rua, seus cabelos banhados por todos os raios da lua minguante.
— Por que está tão interessado?
Ele suspirou.
— Vi você brigar com o Ranhoso no corredor. — assumiu. — Ele falou coisas bastante cruéis.
Ela o encarou.
— Que bisbilhoteiro, Black. — ela disse. — Ao menos agora você vai poder dizer que eu não sirvo nem para fazer amigos.
Sirius franziu o cenho, bebericando mais uns goles de seu copo.
— Só não consigo entender como ele pôde falar todas essas coisas, como se não fosse nada. — falou. — E como ele falou isso para você.
— Deve ser a fama dos sonserinos de nunca ter amigos, sempre aliados que são facilmente derrubados quando necessário.
— Era assim que você o via?
Ela voltou a encarar o copo.
— É claro que não.
Pandora bebeu mais também, talvez a sua sinceridade fosse efeito do que estava ingerindo.
— Aquele maldito garoto era o meu melhor amigo, eu achei que nós nunca acabaríamos assim... e se acabássemos, não seria dessa maneira. — confidenciou ela. — Eu não estava pronta para perder ele assim.
Sirius a encarou, enquanto o olhar dela estava em outra direção, distante de uma maneira da qual ele nunca conhecera vinda dela.
— Acho que nunca se está pronto para perder alguém. — ele disse.
— Ele... ele costumava ser tão doce com a gente. E era gentil, Snape era o meu melhor amigo e eu o amava como um irmão.
— Acredite, Pandora, eu entendo você.
Ela piscou, em choque, enquanto se sentia a maior idiota do mundo por estar de luto por perder seu melhor amigo, quando Sirius de fato perdeu um irmão. Suas costas ficaram eretas e ela se virou na direção dele.
— Sirius, eu não quis...
Ele deu um sorriso sem graça, mostrando que estava tudo bem.
— Às vezes nós precisamos nos afastar de coisas que amamos porquê elas nos fazem mal, não podemos aceitar para sempre esse peso. É só lembrar de quando era criança e achava que amigos imaginários existiam... — ele disse.
Dessa vez, o rosto próximo de Pandora, como se só ela pudesse ouvir.
— Feche os olhos e diga adeus. — sussurrou. — E toda a dor desaparece.
Como uma criança boba, ela o fez, lentamente sentiu as pálpebras caírem e os raios de luz que vinham de fora desaparecerem. Sirius deu um sorriso tão sucinto que praticamente se sentiu envergonhado ao sorrir para ela e parou imediatamente. Ainda próximos, ele continuou perguntando.
— Por que você sempre me odiou?
Ela abriu os olhos tão rapidamente que quase se assustou ao vê-lo ainda tão próximo de seu rosto.
— O que?
— Por que você insiste em me odiar, Pandora? Por que nós não pudemos ter sido amigos?
A garota olhou para cima, pedindo ajuda das estrelas e percebeu que aparentemente elas não respondiam com palavras.
— Não seja idiota, você sabe.
Ela respondeu, preferindo não olhar na direção dele. Sirius estava mais confuso do que nunca.
— Do que você está falando? Desde que eu me lembro você sempre me odiou, sem motivo algum.
— Sem motivo algum? Perdeu a memória?
Pandora cruzou os braços, bufando feito um titã.
— No primeiro ano você fez questão de falar centenas de vezes que eu não tinha amigos, não era boa em nada e ainda por cima não sabia nem falar. — ela quase gritou. — E por meses todas as outras crianças não pararam de falar sobre isso. Sirius, eu passei noites acordada aprendendo a falar a sua maldita língua.
Ele arregalou os olhos.
— E-eu era uma crianç...
— Eu também! — o interrompeu. — Mas sabe de uma coisa? Tudo aquilo me incentivou a ser melhor em qualquer coisa que você tentasse fazer. E foi por isso que nós começamos as apostas, sempre tentando provar que éramos melhores um que o outro.
— Eu não lembrava, eu...
Ela soltou uma lufada de ar pelo nariz, como uma risada. A culpa que invadira Sirius fizera uma onda elétrica subir por sua espinha e abraçar suas costas, como se o quisesse sufocar.
— Claro que não se lembra. Você nunca se importou com nada além de ser popular e estar rodeado de súditos.
— Me assusta pensar que tudo o que você sabe sobre mim é isso. — Sirius disse.
— Isso é tudo o que você me deixou saber. — ela respondeu. — E é tudo o que eu preciso saber para não me deixar enganar por você.
— E por quê você se deixaria enganar por mim?
Ela ficou quieta. Era óbvio, porquê se apaixonar por ele, ao mesmo tempo que parecia impossível, era fácil como um feitiço de levitação e tão inevitável quanto o coração partido que essa paixão resultaria. Esvaziou o seu copo em segundos e jogou o copo longe, deixando Sirius confuso.
— Se você estivesse sóbrio entenderia.
— Eu estou sóbrio.
Pandora revirou os olhos.
— Por que você se deixaria enganar, Pandora? — ele repetiu.
— Porque você é... porque...
Porque ele também era a pessoa com quem ela apostou um coração de um garoto gentil e sensível, de alguém que a beijou com sinceridade e lhe deu de bandeja a oportunidade de esfregar tudo aquilo na cara dele. Apesar disso, Pandora não conseguia nem pensar no que dizer.
— A aposta...
Tentou mudar o assunto.
— Você está começando a ficar bêbada.
— Essa aposta é uma porcaria! E eu não... acredito que aceitei fazer isso com ele! E por sua causa! — ela disse.
Sirius a encarou estático.
— Quer saber por que eu te odeio? Por me importar com você o suficiente para querer provar alguma coisa.
A mente bêbada de Pandora soube, que talvez ela pudesse continuar a aposta, mas sem afetar Remus. Sem beijo, sem aposta, sem ganhadores. Sem corações partidos.
— Não gosto que você me odeie. — ele disse.
Se Sirius não pudesse nem tentar, seria como se a aposta não existisse.
Começaram a ficar próximos outra vez, as respirações mescladas perfeitamente, os lábios entreabertos e o peito descendo e subindo aceleradamente. Ela fitou os olhos dele, então cravados no seu e desejou beijá-lo, segurar em seu cabelo escuro e suspirar ao sentir os seus corpos se tocando. Ele queria tocar o pescoço dela, beijar o maxilar desenhado e passar horas encarando os olhos dela, como se eles fossem só seus. Eles iriam se beijar?
— Não. — ela sibilou.
As testas quase se tocando.
— Não? — Sirius perguntou.
— Não quero sentir nada por você.
Ele mordeu o lábio inferior com nervosismo.
— Porque eu tenho medo do que esses sentimentos vão significar.
Sirius percebeu ali, que ela tinha medo de se apaixonar por ele e se assustou, porquê sentia o mesmo.
— E eu espero que você não se lembre de nada disso amanhã.
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