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CAPÍTULO DEZ
oh, pretty woman

Depois do Natal, Sirius soube que era a hora de ir embora, já que aquele tinha sido seu combinado com James e o seu amigo provavelmente já havia voltado antes dele. Fez as malas, recolhendo as roupas que havia levado e que agora estavam espalhadas pelo quarto emprestado, ele desejou poder voltar ali outra vez, passar alguns dias naquela casa lhe fez bem, de fato. Pandora ficaria por alguns dias até o feriado acabar, pensando que não aguentaria tanto tempo assim longe da família e ele voltaria sozinho.

Sirius pegou a mala cheia em mãos, já sabendo que dentro haviam potes cheio de lanchinhos, os quais a senhora Madison simplesmente enfiou ali e disse que ele podia ficar com fome durante a viagem, preferiu não a contradizer, porque ela também sabia que o pó de flú durava segundos. Passou pela porta, fechando atrás de si e parou no corredor, percebendo que Pandora estava lá no fundo, olhando pela janela e comendo um bolinho. Ele não pôde evitar olhar para o pescoço dela, onde agora havia um colar quase escondido por sua camiseta de uma banda qualquer.

Ela não notou o caminhar de Sirius em sua direção, mas viu quando ele ficou ao seu lado, recostando-se na janela e trocando a vista dali do alto pelo rosto dela. Ele a encarou tanto que chegou a dar medo, não sabia muito bem como agir com ela. É claro que ele não era inseguro, como havia de ser quando era tá popular e bom com todos? Mas, Pandora... ela era a única que o fazia vacilar e Sirius odiava isso.

— Você está usando o colar. — ele comentou.

Ele não estava provocando ela.

— Sim.

Pandora suspirou profundamente, vendo Sirius tão perto dela, com a cabeça no vidro da janela e quase olhando em seus olhos. Ele era tão bonito que lhe trazia ódio.

— Sinto que não agradeci você o suficiente. — Sirius disse. — Sei... de todas as coisas que nós fazemos e da maneira em que agimos, mas dessa vez foi bom. De verdade, eu agradeço.

Pandora se odiava por conseguir sentir empatia por ele, não deveria sentir nada, ainda mais quando não fizera aquilo como um favor e sim porquê não tinha sangue de barata, ninguém merecia passar por aquilo. Ela encarou Sirius de volta, percebendo que os olhos azuis acinzentados estavam nela, ambos respirando como se estivessem saindo da atmosfera ou quando se mergulha na água, quase sem ar, tão estranhamente próximos um do outro, somente separados pela mala que estava entre eles. Quase nem piscavam, mas continuaram em silêncio por aqueles minutos que pareceram segundos, tentando entender o que estava acontecendo ali.

Porque Pandora soube com toda certeza que ele poderia simplesmente beijá-la naquele momento, como se não fosse uma coisa errada. Como se não fosse fora de cogitação. E talvez ela deixasse.

— Bandeira branca, Sirius Black? — ela praticamente sussurrou.

Não poderiam ficar em silêncio para sempre.

— Nem pensar. — ele respondeu no mesmo tom e sorriu. — Continuamos nossa brincadeira depois do feriado.

Aquilo soou estranho demais, aparentemente era um dom dele.

— Vai na festa do Slughorn? — ele perguntou.

— Sim. E você?

Ele assentiu.

— Acho que nem tenho uma roupa pra isso, ele é tão fru-fru. — ela disse.

— Vista vermelho.

Ela riu, como se fosse uma piada.

— Como a Grifinória? Não sei...

— Eu aposto que você não ficaria nada mal.

Ela quase travou, quando foi que ele começou a reparar no que ela vestia?

— Então eu aposto que você não tem coragem de aparecer lá vestido de verde.

— Como a Sonserina? Não sei... — ele repetiu o que ela disse. — Se eu for de verde, você me deve algo.

— Mas se eu for de vermelho, é você quem me deve!

Eles se calaram por mais alguns segundos.

— Tenho que ir.

Foram até o primeiro andar, onde os pais dela e os irmãos já esperavam por Sirius e comentavam algo que deveria ser secreto, já que ficaram quietos quando eles chegaram. Ele se despediu de todos com um abraço ou aperto de mãos, agradecendo pela estadia, falando várias vezes que o Natal foi incrível e que a casa era belíssima, todo tipo de puxa-saquismo que ele poderia fazer. A senhora Madison lhe deu um abraço apertado e carinhoso, sussurrando algumas coisas em seu ouvido das quais Pandora não conseguiu entender.

— Volte sempre que quiser, querido! — ela disse em voz alta dessa vez. — E coma todos os lanchinhos!

Ele finalmente entrou na lareira, antes disso dando uma olhadinha para a garota e jogou o pó de flú no chão, estourando em uma cor esverdeada. Pandora caminhou até lá e conferiu se nada havia ficado por ali, talvez uma meia ou um calção de banho de florzinhas. Mas não, nem mesmo um objeto do qual ela poderia usar como desculpa para que ele voltasse, buscasse e talvez ficasse por ali. Talvez a presença dele não fosse tão detestável. Voltando até os sofás, onde sua família estava, ela percebeu que todos a encaravam com sorrisinhos no rosto e uma cara de que estavam aprontando alguma coisa.

— O que foi? — ela questionou.

Abigail Madison soltou um gritinho e deu um pulo cheio de animação.

— Você gosta dele! — ela exclamou.

Ela franziu o cenho.

— N-não! Não, eu não gosto. Mãe!

Os irmãos gargalharam em uníssono.

AY AMOR DIVINO, PRONTO TIENES QUE VOLVER A MÍ! — cantaram juntos.

Os cinco começaram a fazer uma coreografia esquisita, enquanto batiam palmas no ritmo da música.

— Parem! — Pandora berrou.

O pai deles riu.

— Ele é um partidão, todo simpático e educado... — a senhora Madison continuou. — E está caidinho por você!

— Mamãe, você entendeu errado. — ela respondeu. — S-só o chamei porquê ele não tinha onde passar o Natal. Não há nenhum tipo de relacionamento acontecendo.

A mais velha revirou os olhos.

— Eu dava mil e uma desculpas para encontrar o seu pai também. — continuou. — Ah, que lindos! Quando ele vem de novo?

Y ENTREGARTE TODO MI CORAZÓN, TODO MI CORAZÓN! — eles continuaram cantando.

— Querem calar a boca? — ela quase berrou. — Vocês me cansam!

— Que maravilha! Mais uma filha com um namorado bonitão!

Não demorou muito tempo até que ela tivesse de voltar também, além de o feriado já estar praticamente no fim, ela participaria da festa de Slughorn e tentaria assaltar o armário dele para pegar os malditos ingredientes da maldita poção do amor que ela fez contra o maldito Sirius. Arrumou sua mala, recheando-a com todo tipo possível de comidas que seu pai fizera durante aqueles dias e desceu para se despedir de todos, recebeu tantos abraços que se sentiu amassada. Foi até a lareira, pegou o pó de flú em mãos e sorriu para a família, logo depois o jogando no chão e desaparecendo pelo fogo.

Quando chegou, já era quase noite, nem percebeu quando seus amigos a agarraram no corredor e lhe abraçaram com cumprimentos felizes depois das férias, é claro que em momento algum ela mencionou que não teria ido sozinha até sua casa, mas ninguém precisava saber. Já no outro dia, quando acordara animada o suficiente para fazer alguma besteira, soube que estava pronta para completar o seu plano maligno falho e já estava maquinando em sua cabeça como poderia arrebentar ele armário.

Sentadas na beira do lago congelado, enquanto Morgana brincava com a neve, Pandora conseguiu notar que sua amiga obviamente não estava nada bem, alguma coisa havia acontecido e ela precisava saber.

— Morgana. — chamou a garota. — Você estava em outro planeta.

Ela riu.

— Sim, eu estava. — ela concordou. — Tudo certo para hoje?

— Claro. — respondeu. — Mas não é isso com que estou preocupada. O que aconteceu com você?

Ela não poderia ter se arrependido mais de perguntar.

— Nós estávamos lá na mesa, estranhei o fato de convidarem os Monarch para uma data tão familiar como o Natal e tudo ficou claro... — contou. — Minha mãe quer que eu case com ele e me torne uma Comensal. Disse que vai apenas esperar o fim das aulas.

Morgana estava com os olhos cor de esmeralda marejados.

Pandora nunca de fato entendera o que acontecia no âmbito familiar dos Bouveair, sempre soubera de suas opiniões e escolhas, mas aquilo parecia demais. Afinal de contas, Morgana era apenas uma garota jovem, tinha sonhos e uma vida pela frente, mas tudo aquilo seria interrompido por um casamento e o comprometimento com o Lord das Trevas que começava a ganhar seguidores. Pandora nunca fora uma deles, muito menos sua família.

— Vou ajudar você a fugir. — ela disse. — Você é a minha melhor amiga e não vai ser obrigada a fazer isso.

Por Merlin, por que iriam condená-la à uma vida infeliz?

— Dora, não vai funcionar. — falou Morgana. — Sempre soubemos que isso aconteceria.

Pandora revirou os olhos.

— Entenda uma coisa. — olhou no fundo dos olhos da amiga. — Que se fodam as regras da sua mãe, que se fodam os Comensais e que se foda esse casamento.

Morgana sorriu triste.

— Você, Morgana Bouveair, não nasceu para ser parte deles. — disse. — Você nasceu para mudar o mundo!

Elas teriam de dar algum jeito, depois da formatura ninguém poderia simplesmente obrigá-la a voltar.

— Depois da formatura, entendeu? — perguntou Pandora. — Fugimos para o México, sabe que seus pais não iriam procurar você lá. E então você pode ser uma Madison, se quiser, meus pais já tem tantos filhos, uma à mais...

Ela se sentiu abraçada por Morgana no mesmo instante, apertando-a de volta como o abraço que sua mãe lhe dera, com toda a vontade que conseguiu resgatar de seu âmago. Elas se conheciam desde o primeiro dia, ficaram amigas tão de repente e nunca mais se separaram, porque elas eram assim, leais. E não seria diferente daquela vez.

— Você é minha melhor amiga, Morgie. Não sei o que farei se um dia te perder.

Já mais tarde, quando voltaram para os dormitórios e começaram a se arrumar para a festa de Slughorn, Pandora sentiu certo nervosismo e se odiou por isso, aquilo era tudo que ela não podia sentir em uma situação que dependia de si. Assim que arrumou seu cabelo, deixando-o cair sob os ombros, vestiu a roupa da qual hesitou por alguns segundos usar, o vestido vermelho do qual Sirius havia mencionado era tão bonito que praticamente implorava para ser usado. Vermelho como o brasão grifinório, ele tinha alças finas e uma fenda descia em sua perna esquerda, mostrando o tênis preto ao qual ela usava, havia comprado alguns anos antes em uma feirinha trouxa perto de sua casa.

— Estou pronta. — ela disse, olhando-se uma última vez pelo espelho.

Morgana a encarou com desconfiança, obviamente tentando entender os motivos para ela usar aquela cor tão... diferente.

— Tá bom, tá bom. — assumiu. — Foi uma aposta.

— Com quem?

— Você vai ver. — Pandora falou, meio irritada com a situação..

Quando saíram sozinhas do dormitório, Pandora percebeu que era a única que não havia pensando em encontrar um par, já que aparentemente Morgana teria escolhido Charlie Monarch, também da Sonserina para acompanhá-la. Ele era o típico garoto almofadinha, rico, loiro e muito bonito. Pensou por uns segundos que ambos teriam lindos filhos, ele e Morgana eram esplêndidos.

— Você está esplêndida, minha querida. — comentou ele, sorrindo para Morgana.

Pandora revirou os olhos.

— Igualmente.

Ela caminhou atrás dos dois, caminhando no corredor enquanto aparentemente ela era a única ali a não ter um par. É óbvio que ela gostaria de ir acompanhada, mas tinha outras coisas mais importantes para se preocupar.

— Eu me basto, está bem? — berrou ela. — Não preciso de um par, como Severus. Não vê que ele preferiu ir sozinho?

Preferir era uma suposição muito forte.

— Ele não teve outra opção, nenhuma garota aceitou o convite. — falou Charlie. — Você poderia ter acompanhado ele, Pandora.

Ela assentiu, de fato não havia pensando nisso.

Quando chegaram na festa, foram recebidas por uma música muito alta e cheiro de insenso, aparentemente Slughorn deveria adorar o aroma de flores do campo queimadas. Mas apesar disso, seu olhar foi exatamente para onde ela não gostaria que fosse.

Sirius Black vestindo verde, como eles haviam apostado.

E ele estava muito bonito, não poderia nem em um milhão de anos negar aquilo, porque o cabelo estava penteado para trás como se ele tivesse passado horas na frente do espelho, o paletó verde estava sem nenhum amasso e a gravata perfeitamente colocada o deixava extremamente charmoso. Era terrível como ele sabia que era bonito e usufruía daquilo para o mal. Ele segurava uma taça com alguma bebida vermelha, enquanto conversava com o amigo que estava ao seu lado, James Potter.

Ele a deixou nervosa.

Sirius, que também reparara na chegada dela, não pôde evitar encará-la discretamente, porque ela estava infinitamente bonita e ela sabia disso, assim como sabia que ela com certeza vestiria vermelho por jamais ousar quebrar uma aposta, assim como também sabia que ela o odiaria por vestir verde. O verde dela, que agora ele havia tomado para si como todas as coisas que era dela. Ele sorriu de lado, observando todos os detalhes daquela roupa e principalmente... os tênis. Ela sempre os usava e ele nunca deixara de perceber.

— Aposto que elas vão tentar fazer o antídoto hoje. — Sirius disse. — É óbvio que Slughorn vai relaxar na segurança do armário dele.

— Não sei se gosto disso, eu fiquei sabendo de uma coisa horrível sobre Morgana. — James falou.

É óbvio que ele não estava enfeitiçado e Sirius sabia de tudo.

— Tente não se apaixonar por ela, Pontas. — ele brincou.

— Nós nos beijamos naquele dia, na Sala Precisa. — James contou.

Sirius franziu o cenho.

— Acho que você ainda está sentindo os efeitos da poção, meu amigo! — ele disse. — Ah, ela está saindo, vou ver o que ela vai fazer.

Ele simplesmente abandonou o melhor amigo e foi correndo atrás de Pandora.


____ TRADUÇÃO:

"Ai amor divino, logo você terá que voltar para mim.
E te dar todo meu coração, todo meu coração"

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