• cinco •
CAPÍTULO CINCO
i'm still standing
— Acho que ofendi o Black hoje. — Pandora comentou.
Morgana franziu o cenho.
— Esse não é o seu hobbie? — ela perguntou, confusa.
— Sim... — mas logo se corrigiu. — Não! Não é proposital, simplesmente acontece.
Morgana estava sentada em sua cama, enquanto encarava a melhor amiga.
— Estávamos na frente do Zonko's, caímos juntos no chão e eu estava tão irritada... cansada por causa da escola. — contou. — Acabei falando dele, dos amigos idiotas e da família perfeita...
— Dora... você sabe que a família dele não é perfeita. — disse Morgana.
Pandora estava se sentindo mal por ele pela primeira vez, aquilo sim era assustador.
— Eu sei, sou amiga de Regulus! — falou. — Mas eles sempre quiseram ter essa imagem de merda.
Mas aparentemente a quietude de Sirius Black durou apenas alguns dias, já que naquela semana mesmo ele começou a implicar com Pandora. Ela também nem ousou falar com ele naqueles dias, mas já que ele estava a ofendendo, não poderia fingir que não ouvia. Começaram a voltar com as discussões no meio das aulas, ou então as pequenas azarações e os xingamentos. E obviamente, não paravam de sussurrar pelos cantos sobre sua aposta, da qual Pandora percebeu que ainda estava de pé, mesmo ela pensando que as coisas poderiam se acalmar. Mas de fato eles eram assim, aquelas piadinhas, as brigas e as apostas faziam parte daquele estranho relacionamento.
Era como se desde o início tudo tivesse acontecido sem querer, já que eram apenas crianças, mas agora... agiam de uma forma sorrateira e vísceral, de uma maneira que os impediria de direcionar bons sentimentos um para o outro, parecendo que eles impediam tal fato. Afinal de contas, eles eram Pandora e Sirius, não deveriam ter sentimentos bons um pelo outro, não é?
Eles sempre se encontravam no corredor da escola, ou até mesmo na rua, onde Pandora costumava se sentar em alguma sombra e ler um livro escolar, mas naquele dia Sirius a encurralou em um dos corredores estreitos do primeiro andar. Estava, aparentemente, muito motivado em irritá-la, Pandora não conseguiu o julgar, já que aparentemente ela havia sido cruel demais no comentário daquele dia, talvez ela merecesse ele no seu pé.
— Tudo certo para a nossa aposta? — ele perguntou.
Pandora se escorou na parede, cruzando os braços cansados.
— Pensei que você estivesse com vontade de desistir...
— Nunca. — resmungou Sirius. — A aposta é minha.
A garota riu, tentando não gargalhar, ele parecia tão cheio de si o tempo todo. Sirius semicerrou os olhos e caminhou em passos lentos na direção dela, mas se manteve deveras distante do corpo de Pandora, como se um escudo o impedisse de avançar. É óbvio que ela sentia aquela tensão entre os dois, mas nunca aceitaria que realmente poderia existir algum sentimento naquilo.
— Eu sou mais próximo dele, dormimos no mesmo dormitório, somos amigos há mais tempo. — listou, contando nos dedos.
— Tudo isso e em sete anos não conseguiu nem um beijo? E acha mesmo que vai ganhar?
Ela sorriu de uma forma marota. Sirius Black detestava aquele sorriso, pois era ele que guardava a única de todas as coisas que ele se impedia de ter: Pandora. Não que a desejasse, não tanto... mas era praticamente uma imoralidade odiá-la por tanto tempo e de repente se sentir atraído por ela. Ele negaria até a morte se alguém lhe perguntasse se já sentira atração por ela.
— Amanhã tem uma festa naquela sala secreta que os alunos da Corvinal encontraram. — comentou Pandora. — Vejamos se você consegue usar todos esses seus... atrativos para beijá-lo.
— Não faltarei, Madison.
Ele piscou feito o canalha que era e saiu caminhando daquele jeito orgulhoso que só ele tinha. Pandora revirou os olhos tão fortemente que sua cabeça doeu.
— Maldito. — Pandora sussurrou.
Naquele dia, após ter as aulas da tarde e perceber que tinha uns períodos livres para conseguir já estudar os conteúdos das provas finais, Pandora se sentou abaixo da sombra de uma árvore e começou a ler. Estava frio, o inverno chegando aos poucos, mas sem congelar o lago ou pintar a grama de branco, Pandora apenas se encolheu, coberta pela capa quentinha do seu uniforme e perdeu-se em poções importantes do sétimo ano. O vento gelado pareceu diminuir seu ritmo, sem mais varrer os cabelos curtos dela. Percebeu que alguém vinha em sua direção, pois o barulho dos sapatos contra as folhas caídas lhe chamou atenção, Pandora simplesmente fechou seu livro e o encarou.
Regulus se sentou ao seu lado no chão, quieto, brincando com as folhas caídas e as desmontando, jogando seus pedaços ao vento. Pandora não falou nada, sabia que a amizade dos dois era mais do tipo que aproveitava a companhia do outro, do que trocar muitas frases e palavras de conforto. E ele, como tímido e retraído que era, não falava muito sobre os próprios sentimentos, apesar de confiar em Pandora para tal.
— Espero que Morgana esteja bem... depois do que aconteceu naquele dia. — ele comentou. — Bellatrix não tem limites.
Pandora respirou fundo.
— É melhor que ela comece a ter. — disse. — Foi a segunda vez que ela conseguiu invadir essa escola... super segura.
Permaneceram em silêncio por alguns minutos, apenas ouvindo o assoviar do vento.
— E você está contente? — Pandora perguntou. — Sabe... com as suas escolhas de vida.
É claro que ela, assim como qualquer outro aluno de Sonserina, sabiam muito bem quais colegas estariam no lado obscuro daquela guerra, ainda mais quando suas famílias não tentavam esconder as opiniões sobre nascidos-trouxa. Ela não concordava nem um pouco com aquela situação, tampouco se envolvia com alguém que pensasse assim... mas Regulus, ela o conhecia há tanto tempo e tudo aquilo não parecia natural, como se ele tivesse sido criado para pensar daquele jeito. Também não entendia como Sirius, criado da mesma maneira, não tivera seus pensamentos apagados pelo ódio. Pandora o admirava por aquilo e não podia mentir.
— Sim, estou. E nós já falamos sobre isso, Dora. — ele respondeu. — Você sabe que eu prezo pelo bem maior.
Ela deu uma risada sem graça. Não queria discutir com ele, que merecia carinho, mas era impossível ficar quieta.
— O bem maior de quem? Quando a morte de alguém é um bem maior?
— Ninguém aqui falou em morte, Pandora!
— E o que você acha que vai acontecer se ele se tornar poderoso? — quase berrou. — Pessoas vão morrer, sangue mágico vai cair por pura loucura humana!
— Talvez nem tão mágico assim.
Ela o encarou, incrédula.
— Diga-me, se eu fosse nascida-trouxa você não seria meu amigo? — perguntou. — Porque se você é o tipo de pessoa que antes de falar comigo procurou a merda da minha árvore genealógica, eu não sei o que estou fazendo aqui.
— Pandora, é diferente...
— Por que? Porquê meu sangue é tão puro quanto o seu? É por isso que você continua sendo meu amigo?
Ele ficou quieto.
— Esses pensamentos vão acabar com você, Regulus. Falo isso porquê me preocupo. — falou. — Preciso ir.
Ela não tinha nenhum compromisso, é óbvio, mas já havia testado demais a sua capacidade de não machucar as outras pessoas e preferia não fazer aquilo com Regulus. Caminhando nos corredores, enquanto carregava a bolsa com os livros de estudo, Pandora percebeu que algumas aulas haviam acabado, já que muitos alunos caminhavam ali também. No entanto, o único deles que chamou sua atenção foi o garoto vestindo o uniforme da Grifinória que acenou de longe e correu em sua direção.
— Ei, Pandora! — ele chamou. — Você está livre?
Ela quase gaguejou.
— Sim, só tenho aula mais tarde. — falou. — Por que?
— Alguns alunos vão treinar quadribol em conjunto e eu pensei em chamar você para assistir comigo como combinamos naquele dia. — Remus comentou.
Pandora o encarou em completo silêncio por alguns segundos, como se fosse apenas uma miragem ou alucinação.
— C-claro! Obrigada por lembrar. — falou. — Vamos?
No momento em que ela começou a andar ao lado de Remus Lupin no meio do corredor, a única coisa que veio em sua cabeça foi o rosto de Sirius Black, morrendo de ódio e inveja dela. Ela iria amar ver ele se corroendo quando Pandora beijasse Remus e ganhasse a aposta com méritos.
Por Merlin, ela era uma pessoa horrível.
— Podemos nos sentar nas arquibancadas e dividir os bolinhos que eu assaltei na cozinha, o que acha? — ele perguntou.
Parecia demais um encontro. Era um?
— Acho incrível.
Foram juntos até a parte de fora do castelo, enquanto comentavam sobre o tempo e as aulas, além de mencionar as inúmeras provas que viriam pela frente, extremamente importantes para definir o que fariam futuramente em suas vidas adultas. Virar adulta era um pesadelo para Pandora, mas de fato inevitável, uma hora ou outra ela teria que entender que estava crescida o suficiente para não fazer mais pegadinhas ou apostas.
Já perto do campo de quadribol, ela conseguia ver alguns alunos voando em suas vassouras e mais brincando do que treinando, haviam alguns da Grifinória, outros da Corvinal e um só aluno da Lufa-lufa, obviamente ela era a única sonserina dali, aparentemente os sonserinos tinham uma infame maneira de se lidar com os outros, por isso em sua maioria não faziam muitas amizades e nem eram chamados para socializar com outros alunos. Mesmo assim, ela estava ali e ninguém pareceu se incomodar.
Ninguém, exceto Sirius Black.
No exato momento em que ele viu Pandora chegando ao lado de seu melhor amigo, sentiu uma raiva que acendeu-o por dentro, quase pegando fogo. Mas ainda ficou no ar, onde ria junto de Marlene, que fazia algumas piadinhas obscenas sobre o jeito que Sirius jogava. Viu que os dois se sentaram na arquibancada, um ao lado do outro, rindo como idiotas e dividindo bolinhos que deveriam ser dele. Ele não sentia ciúmes, é claro, mas era algo parecido com um sentimento de indignação, já que Pandora obviamente parecia estar muito envolvida na aposta.
— Megera. — ele sussurrou.
Enquanto Sirius murmurava sozinho as palavras de ódio, Pandora permaneceu apenas dando algumas olhadas em sua direção, torcendo que ele talvez caísse e lascasse um dente. Remus lhe ofereceu mais um bolinho, continuando sua história sobre a aula do dia.
— Então a McGonagall disse que era para o Malfoy sair, ele ficou uma fera. — contou. — Disse por todos os cantos que ia chamar o pai dele na escola.
Pandora gargalhou. Lucius Malfoy era um babaca de marca maior, não como Sirius, é claro, muito menos como James Potter e Peter Pettigrew — Remus ficava de fora dessa lista, pois era educado e bonito —. Boa parte da Sonserina era babaca em certo ponto, por isso Pandora tinha o orgulho de dizer que só havia beijado os mais legais daquela casa, bem, talvez ela não tivesse orgulho em si, mas era bom não ter dedo podre.
— Ele é sempre um idiota assim, não sabia que você também tinha percebido. — Pandora disse.
— Impossível não perceber, ele fica chamando atenção o tempo todo! — ele riu. — Você já notou que ele deixa a futura esposa toda envergonhada quando dá chilique?
Pandora percebeu naquele momento que Remus Lupin era muito mais interessante do que ela imaginava, por ter uma imagem de bom garoto, ela nunca pensou que justo ele gostava de fofocar sobre os canalhas alheios. E melhor do que isso, ele riu com ela, aquilo era bastante pessoal, talvez mostrasse que ele confiava o bastante nela para conversar bobagens. Ela mal podia esperar para ver o que Sirius faria para chamar a atenção naquele momento.
— Fico triste por ela, Narcisa parece ser uma boa garota... Imagine ter de se casar com um idiota daqueles. — Pandora falou, tentando não rir.
— Não, imagine eles tendo filhos! Crianças muito loiras e mal educadas. — ele brincou.
Os dois riram juntos, quase deixando o lanchinho cair no chão.
— Sabe, não sabia que você reparava nisso também. — Remus comentou. — É legal ter alguém para falar sobre esses assuntos... vexatórios.
Ela o encarou, pensando no quanto ele ficava bonito naquela luz de fim de tarde, que banhava seu rosto e as lindas cicatrizes com amarelo.
— Estou ao seu dispor, senhor Lupin. — ela brincou. — Sempre que precisar fazer fofoca sobre os alunos!
Sirius estava sim se corroendo de raiva, os dois pombinhos estavam gargalhando como velhos amigos e aquilo era só um passo até se beijarem feito loucos. Não conseguiu aguentar, teve de guiar sua vassoura até perto deles, pairando no ar e os encarando, os olhos semicerrados feito um homem autoritário e mais velho, como se ele realmente tivesse aquela postura de mau. Pandora revirou os olhos, como talvez em todas as vezes que ele aparecia e esperou até que ele começasse a interromper.
— Onde conseguiram os bolinhos? — Sirius perguntou.
— Eles caíram do céu, acredita? — Pandora falou, nada gentil. — Remus, como o cavalheiro que é, pegou alguns na cozinha.
Cavalheiro, cavalheiro... Sirius também era um cavalheiro!
— Remmy, você ainda vem comigo na Torre de Astronomia hoje? — ele continuou.
Torre de Astronomia? Pandora arqueou a sobrancelha, aquele era literalmente o lugar que os casais mais usavam para ficarem sozinhos.
— Não, já disse que lá é um péssimo lugar para estudar. — Remus respondeu. — Na biblioteca será ótimo.
— Biblioteca?
Ela segurou o riso, realmente a biblioteca era o lugar perfeito para não conseguir nem dar uma bitoquinha.
— A biblioteca é super aconchegante, Sirius. — Pandora provocou.
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