Capítulo 50

Uma batida na porta chama nossa atenção. Olho para Julia, que terminava de vestir seu casaco, e ela me encara.

— Quem é? — Pergunto com um pouco de receio.

— Vicente. — Respiramos aliviadas.

Vou até a porta e a destranco. O mesmo me recebe com pequeno sorriso.

Ao olhar para ele é impossível não recordar da última madrugada. Desvio o olhar para o chão e comprimo um sorriso que ousava querer sair.

Sim, estou constrangida! Mas só porque é o Vicente.

— Bom dia, meninas! Estão prontas? — Pergunta.

— Sim! — Quem responde é a Ju, que passa por nós com sua bagagem nas costas.

— Ótimo! — Ele diz e volta a me fitar — Quer ajuda?

— Não precisa! — Caminho até minha cama e pego minhas malas — Estão relativamente leves.

Com um revirar de olhos, Vicente se apressa em tirar a mochila de minhas costas.

— Perguntei apenas por educação... Continuo sendo um perfeito cavalheiro! — Diz e me guia para fora do quarto.

— Tudo bem...

Descemos a escada e encontramos o restante do pessoal, que está na recepção apenas nos aguardando.

Entramos na van alugada por Habib e rapidamente nos acomodamos. Vin fez questão de permanecer ao meu lado, assim como Julia. Desta vez, Théo foi atrás conosco para não chamarmos tanta atenção. Já o anfitrião tomou assento ao lado do motorista, um outro empregado que se dizia cristão. Mas do jeito que as coisas estavam, prefiro ficar com um pé bem atrás.

A viagem foi tranquila, e completamente silenciosa. Diferente das últimas vezes.

Era estranho e tão doloroso olhar para os meus companheiros e não ter mais aquela figura loira de olhos azuis ao nosso lado. Meu coração se despedaça todas as vezes que penso em Lídia. Uma jovem tímida e cativante, dona de um coração enorme. Uma amiga leal e verdadeira.

Ao longo dos meses que passamos juntas no CEM, pude conhece-la bem. Descobri que por trás daquela timidez, havia uma mulher forte e corajosa. Porém, as imagens que não saíam de minha mente eram de uma Lídia frágil, de aparência pálida e totalmente sem vida.

Fecho os olhos com força e enxugo as lágrimas que brotam no canto dos olhos.

Pai, visite os teus filhos neste momento, onde quer que eles estejam. Por favor!

Clamo internamente.

A Lili deve estar com tanto medo, Paizinho... Se ela ainda estiver viva...

Engulo em seco antes de continuar.

Envie os seus anjos para protege-los! Faça dela uma mulher destemida, que não tema mal algum. Ajude o Hassan a ser forte e corajoso. Que os teus filhos não hesitem em enfrentar a morte por amor a Cristo, assim como Estevão e tantos outros mártires que existem até os dias de hoje. Em nome de Jesus!

Ainda com os olhos fechados, sinto a mão de Vicente sobre a minha, fazendo leves carícias. Encosto a cabeça no vidro e assim fico por um longo tempo.

Após algumas horas de viagem, chegamos em nosso destino. Uma pequena casa branca em Bani, onde os pais da falecida esposa de Habib moravam. Quando ele destranca a casa, Julia e eu somos as primeiras a entrarmos na edificação.

Bani não é tão perigosa como a capital da Líbia em relação ao tráfico de pessoas, entretanto, continuávamos em perigo por professarmos nossa fé em Cristo.

— Ficaremos aqui por poucas horas. — Diz o anfitrião.

Habib estava abalado demais com a captura do filho, mas tentava ser forte e não demonstrar sua dor. Esta, porém, era nítida em seus olhos negros.

— Quer que a gente vá com vocês? — Gabriel toca com compaixão no ombro do jovem senhor.

— Não precisa, missionário. Fique tranquilo, voltaremos logo.

Meu amigo assente e o outro se afasta.

A casa permanecia com os móveis antigos e empoeirados. As cortinas fechadas,e as janelas intocáveis.

Gabriel reúne o nosso pequeno grupo e nos convoca para levantarmos um clamor silencioso pelos missionários que devem estar pousando na Líbia a qualquer momento.

Findando o período de oração, cada um vai para um canto da sala. Olho o nosso líder, andando de um lado para o outro, e percebo sua ansiedade por poder rever a amada em breve.

Sorrio de leve e caminho até ele.

— Falta pouco! — Digo, chamando sua atenção.

— Eu não sei se fico grato ou assustado... — Comenta em tom de brincadeira.

— Sei que está grato. — Afirmo e ele assente.

— Em breve terei minha esposa ao meu lado, e mesmo que passemos por diversidades ou enfrentemos a morte, estarei perto dela e farei o que for preciso para mantê-la segura e bem!

— Isso é lindo! — Comento com admiração.

— Creio que saberá em breve o que é isso! — Ele cruza os braços e olha sobre os meus ombros.

Não preciso seguir seu olhar para saber que Vicente se aproxima de nós.

— Posso falar com você, Gabriel? — Ferraço pergunta ao se aproximar de nós — Na verdade, podemos? — Frisa a última palavra olhando para mim, e eu entendo do que se trata.

— Claro! — Ele aponta para a cozinha, onde não havia ninguém.

Caminhamos juntos até lá. Permaneço em silencio, esperando Vicente tomar a palavra.

— Podem falar! — Gabriel sorri de lado, lançando um olhar para mim.

— Bom, não sei ao certo por onde começar, mas tentarei ser breve e direto. — Vin começa — A Agatha e eu nos conhecemos desde os oito anos de idade — Nosso amigo arregala os olhos, mas não o interrompe — Nos tornamos melhores amigos, e com o passar dos anos, acabamos nos apaixonando um pelo outro. — Baixo o olhar, quando sinto os olhos de Vicente sobre mim —Infelizmente, ou felizmente, pois todas as coisas contribuem para o bem daqueles que amam a Deus, nós perdemos o contato por alguns anos.

Escuto um suspiro vindo dele.

— Houveram alguns maus entendidos nesse meio tempo. Por querer andar com os meus próprios pés, não confiei nos planos do Senhor para nossas vidas, e acabei fazendo escolhas erradas — Seguro sua mão, e tal ato não sai despercebido por Gabriel — Porém, pela misericórdia de Deus, estamos recebendo uma nova oportunidade de vivermos os propósitos que Ele tem para nós.

Vin sorri para mim, mas logo olha para o homem a nossa frente.

— Como você é a autoridade espiritual responsável por nós nesta missão, gostaria de pedir a sua benção. Sinceramente, eu não tenho a intenção de iniciar um relacionamento de namoro com a Águi — Desta vez quem arregala os olhos sou eu, e ele ri — Acho que já passamos dessa fase, mesmo sem termos vivenciado realmente. — Ele sorri carinhosamente para mim — Eu sempre deixei as minhas intenções claras para você, e isso não mudou! — Diz com seriedade — Então, assim que retornarmos para casa, iremos selar um compromisso, que eu desejei ter feito há quatro anos, diante dos nossos pais, da lei e de Deus.

Meus olhos enchem de água e meus lábios tremem com a emoção.

É possível amar ainda mais esse homem?

— Uau! — Gabriel exclama chamando nossa atenção para si — Eu não sei exatamente o que aconteceu ao longo desses anos. Não faço ideia do tamanho das barreiras que enfrentaram, mas como homem de Deus, eu consigo ver claramente a mão do Altíssimo sobre esse relacionamento. — Ele toca em nossos braços — Eu os abençoo com toda certeza!

E naquele momento, Biel faz uma oração baixa colocando diante de Deus o nosso compromisso, não sei ao certo como nomear. Talvez noivado?

Assim que dizemos amém, a porta se abre e logo escuto uma voz que faz o meu coração aquecer de tanta alegria.

— Lara! — Sussurro.

Logo em seguida eu corro para sala, onde ela está.

— Lara, minha amiga! Como eu senti a sua falta! — Me jogo em seus braços.

— Ah, Águi! Que saudades! — Ela retribui o abraço, após o pequeno choque pela minha reação — Você faz muita falta, amiga!

Afasta-se um pouco, segurando com força o meu rosto entre suas mãos. Seus olhos, fixos aos meus, brilham com a presença das lágrimas. Pelo seu olhar, tenho conhecimento do que ela está prestes a dizer, mesmo não tendo dito uma palavra sequer.

— Eu sinto tanto! Tanto! — Sua voz falha, e eu aperto com força os seus braços na tentativa de diminuir a dor que volta com força máxima.

Assinto algumas vezes, já respirando com dificuldade devido os soluços incontroláveis que saem dos meus lábios.

— Ela se foi! — Minha voz sai embargada e carregada de sofrimento. Sinto minhas pernas fraquejarem, mas ela me envolve em mais um abraço e juntas choramos a perda da nossa amiga e companheira.

Seria ainda mais difícil enfrentar tudo isso ao lado de Lara, pois ao olhar para a morena, é inevitável lembrar de Lídia e de tudo o que nós três vivemos juntas no último ano. Éramos inseparáveis.

— Vai ficar tudo bem, amiga! — Tenta me consolar, mesmo precisando de consolo.

Não me importo com as pessoas ao nosso redor, precisava colocar para fora toda aquela dor. E ninguém melhor do que Lara para entender um pouco do meu sofrimento, afinal, nos tornamos grandes amigas.

Após diminuir os soluços e sessar o choro, olho para o restante do pessoal. Alguns choravam com os que choram. Outros, de olhos fechados e em silêncio, intercediam. Sam me recebe com um abraço maternal e repleto de consolo, como só ela sabia dar. Cumprimentamos o restante do pessoal, e logo dou falta de uma pessoa.

Aisha.

Passo os olhos pelo local e encontro Habib e a filha abraçados na cozinha, chorando em silêncio.

Penso em me aproximar, no entanto, prefiro respeitar o momento dos dois. Só assim para o jovem senhor colocar para fora toda a dor e sofrimento.

>>>><<<<

Ahhhhh, genteeee, não sei se me alegro ou choro 😫 Toda essa situação com a Lídia e com o Hassan me deixam triste e com o coração apertado, mas fico muito feliz por ter a Lara de volta ♥️

Também fico muito feliz pelo nosso casal!! (Siiim, preciso aproveitar a felicidade momentânea enquanto não recebo as pedradas rs)

Por hoje é isso! Não esqueçam de clicar na estrelinha!

Att.
NAP 😘

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top