Capítulo 37
Bato na porta do quarto ao lado algumas vezes, até que ouço alguém me mandando entrar.
— Hey, Sam! — Cumprimento minha amiga — Você viu a Lara?
Ela fecha a bíblia que estava lendo e olha no relógio.
— Ela saiu há meia hora dizendo que iria encontrar o Caio e o Vicente na biblioteca.
— Entendi. — Aproximo-me dela e sento em sua cama.
Fazia muito tempo que não conversava com Samantha, e todas as vezes que tínhamos um tempo de qualidade ao seu lado, saía ainda mais edificada.
— Está tudo bem, Águi? Quer me perguntar algo? — Questiona, com um pequeno sorriso nos lábios.
— Não sei ao certo. — Dou de ombros — Talvez eu só queira conversar um pouco.
Sam apoia a Bíblia no colchão e se aproxima um pouco mais de mim.
— Estou aqui! Me conte, o que tem achado da Espanha?
— Bom, estamos aqui há uma semana e eu sei que sentirei falta deste lugar. Das meninas, dos povoados próximos, da comida, da tranquilidade. Eu realmente gostei daqui.
— Acredito em você! Esse lugar é encantador. — Ela me analisa por um segundo — Mas...?
Prendo o cabelo em um coque alto antes de responder.
— Mas eu também estou doida para...
— Ir para a Líbia! Eu sei, Águi! — Segura minhas mãos — Está assim, pois foi preparada para essa missão em específico.
— Exatamente! — Suspiro aliviada por ter compartilhado com alguém — Sabe, eu estou muito feliz em estar aqui, principalmente em conhecer histórias incríveis e pessoas incríveis! Tudo isso é uma injeção de fé, entende?
Ela assente.
— Olha, seus companheiros de profissão, meu esposo e eu, temos basicamente organizado a nossa viagem para a Líbia. Mal tem sobrado tempo para ajudarmos os outros com as coisas por aqui, e isso me deixa um pouco incomodada, pois eu queria muito poder fazer algo de útil — Faz aspas no ar.
— Mas você está fazendo! Estão estudando toda a situação para não irmos de qualquer maneira. Qualquer escolha mal feita poderá nos levar direto para a morte. — Tento confortá-la.
— Exato, Agatha! E são esses pensamentos que me fazem entender que o que estou fazendo agora, juntamente com os outros três, por mais que não seja o que queríamos estar fazendo, faz parte da nossa missão! — Entendo onde ela quer chegar — Tenha certeza que a experiência que você está adquirindo aqui na Espanha te ajudará quando você estiver lá no olho do furacão.
— Eu creio!
Batidas na porta nos interrompem.
— Entre!
A porta é aberta e o missionário Gabriel aparece em seguida.
— Meu bem, Águi, precisamos de vocês no salão. Temos um comunicado importante a fazer.
— Vamos! — Samantha, entendendo a seriedade do assunto, segura em minha mão e levanta, puxando-me com ela.
Ao lado de fora, no corredor, observo outros missionários fazendo o mesmo percurso que nós. No meio daquelas pessoas, avisto Vicente saindo de um dos quartos, sendo seguido por Cardoso e Daniel.
Afasto-me do casal e vou até ele.
— Oi! — Ele me cumprimenta assim que me vê.
— Oi! Está tudo bem? — Questiono.
— Sim e não. O Gabriel explicará melhor. Mas adiantando, amanhã alguns de nós partiremos para Cartagena. — Forço-o a parar e me encarar.
— Cartagena? Mas não estava em nossa rota, Vicente!
— Agatha, fique tranquila! O Gabriel irá explicar tudo detalhadamente, ok?
— Ok! Me desculpe! Eu tenho andado um pouco ansiosa. — Solto o seu braço e volto a andar.
— Sabe que se precisar conversar, estou aqui, certo? — Pergunta, vindo atrás de mim.
— Sim, eu sei. Obrigada!
Assim que todos já estavam reunidos no local, Gabriel toma a palavra.
— Boa noite, pessoal! Eu sei que já está um pouco tarde, mas temos novidades sobre nossa ida para a Líbia. Um pastor, amigo da missionária Nina — Aponta para a jovem senhora ao seu lado — nos informou que amanhã, por volta das três da tarde, chegará um navio no porto de Cartagena, com algumas dezenas de passageiros. Entre eles, refugiados, missionários e cristão perseguidos que conseguiram fugir da Líbia e foram resgatados na Argélia.
Um murmurinho toma conta do local.
— Pessoal! Por favor, prestem atenção, pois o que tenho a falar é sério. — Silêncio novamente — Obrigada! Segundo as informações que recebemos, alguns estão gravemente feridos. Dito isto, ainda esta noite, sairá o primeiro grupo de missionários. Os médicos, enfermeiros e técnicos irão na primeira van que chegará há alguns minutos. Amanhã à tarde, sairemos o restante do pessoal.
Ele encara a esposa e prossegue.
— A minha esposa, missionária Samantha, estará liderando o primeiro grupo junto com os missionários Vicente e Theo. Sendo assim, qualquer dúvida deve ser tirada com eles. Por meio de transporte rodoviário, que é o nosso caso, a viagem costuma durar entre sete e oito horas. Vocês terão menos de meia hora para estarem aqui com as malas prontas, pois ainda levantaremos um clamor. — Ele nos observa antes de finalizar — Sejam fortes e corajosos! Não se apavorem nem desanimem, pois o Senhor, o seu Deus, estará com vocês por onde vocês andarem! Amém?
— Amém!
Antes de ouvi-lo dizer que estávamos liberados, já subia a escada correndo. Entro no quarto como um furacão, pego minha mala debaixo da cama, agradecendo mentalmente a Deus por não a ter desfeito totalmente.
— Águi? Hey! — Levanto o rosto e vejo Lídia me olhando com preocupação — Quer ajuda?
— Não, estou adiantada. Talvez Lara esteja precisando no momento. — Volto minha atenção para as coisas que estava fazendo.
Antonella e Aisha seguem fazendo suas malas. Ao longo da semana descobri que as duas eram técnicas de enfermagem. Quando soube que a italiana concluíra a faculdade de história e fizera curso técnico, me espantei, pois ela não aparentava ter tanta idade. Entretanto, descobri que a jovem, era na verdade mais velha do que eu.
— Estão prontas? — Aisha pergunta.
— Sim! — Respondemos juntas.
Em menos de meia hora, estávamos de malas prontas no andar inferior. Todos os auxiliadores, missionários e pastores presentes no local se reuniram para levantarem o clamor juntamente conosco. Cada missionário e pastor impôs suas mãos sobre nós, intercedendo e clamando por nossas vidas.
Findando este momento, a condução já nos aguardava ao lado de fora.
— Nos vemos amanhã, que Deus abençoe a ida de vocês! Que Ele guarde este veículo e tome a direção. — Lídia nos abraçava com força — Amo vocês!
— Amém! Também te amamos, loira! — Lara responde.
— Lili, que Deus abençoe a viagem de vocês amanhã também! — Beijo o topo de sua cabeça — Fique bem!
Ela assente e se afasta um pouco. Despeço-me do restante dos meus amigos, com certo pesar no coração. A parte mais difícil foi falar com Caio, que não parava de chorar.
— Maninho, não se preocupe! Voltaremos em breve e compartilharemos todas as experiências incríveis, e as maravilhas que Deus, pela fé, fará por nós, em nós e através de nós! — Abraço-o com força e sussurro em seu ouvido — Eu prometo que farei tudo o que tiver ao meu alcance para que nada aconteça com eles. — Digo referindo-me à Lara e ao Vicente.
Ele funga e sorri.
— O cabeção do meu irmão que deve fazer isso!
Eu concordo, e aproveito a chegada de Lara para me afastar. Théo me ajuda com as bagagens e toma um dos assentos da frente, ao lado do motorista. Entro na van e me acomodo na primeira poltrona perto da porta.
Ao longe vejo Lídia e Vicente conversando. Tal visão me faz abrir um pequeno sorriso. Há tempos não os via assim.
— Parece que as coisas estão começando a se acertar entre eles. — Lara diz ao entrar e sentar ao meu lado.
— Fico realmente feliz por isso! — Digo com sinceridade.
— Eu também! — A morena apoia a cabeça em meu ombro e fecha os olhos — Eu prometi que voltaria para ele, mas não sei se conseguirei cumprir a promessa, Águi. — Sua voz sai embargada.
— Eu te entendo, amiga! Mas eu prefiro apenas confiar e não ficar pensando nessas coisas agora. — Apoio minha cabeça na dela — Isso não nos fará bem.
— Ok! — Ela boceja e se acomoda ainda mais — Acho que vou dormir.
— Fique à vontade! — Sussurro.
A van, de 12 lugares, estava praticamente cheia. Todos estavam acomodados, faltava apenas Vicente, que terminava de conversa com Gabriel. Os dois se despediram, e o Ferraço finalmente embarcou.
— Todos estão bem? — Pergunta assim que fecha a porta e toma o lugar na frente, ao lado de Théo.
— Sim. — Apenas Samantha e eu respondemos.
— Pelo visto, a maioria já está em um sono profundo, como o da pedra ao meu lado. — Sussurro, fazendo Sam, que estava sentada à esquerda de Lara, rir.
Ela olha para trás e sorri, ao perceber que minha teoria estava certa.
***
As horas do relógio demoravam a passar. Saímos de Cáceres por volta das 23:53h, e era exatamente 01:10h. Lara já tinha babado em mim, e agora se acomodara em Samantha, que também cochilava tranquilamente.
No banco da frente, Vicente conversava com o motorista, para que o mesmo não pegasse no sono. Só quem dirige sabe como é perigoso, em vários sentidos, dirigir durante a madrugada.
🕑 02:15
🕒 02:49
🕓 03:25
Sabendo que não aguentaria por muito mais tempo, inclino-me para frente e chamo o copiloto.
— Vicente! — Sussurro.
— Está acordada? — Pergunta com espanto.
— Ainda não consegui pegar no sono. — Explico.
— Por quê? — Se vira ainda mais para me encarar, com o cenho franzido.
— Eu não sei! Mas eu realmente preciso ir ao banheiro. Minha bexiga parece que vai explodir a qualquer momento.
Ele se vira para frente e fala alguma coisa em espanhol com o motorista. Depois volta a me dar atenção.
— Consegue segurar por mais dez minutos? — Questiona com preocupação.
— Provavelmente! — Respondo — Na verdade eu não tenho escolha! — Minha voz sai desesperada, e isso o faz rir.
Fecho os olhos tentando focar minha atenção em meu xixi, o que não foi uma boa ideia. Mas ouvir aquele som, despertava sentimentos que não deveriam ser despertados no momento.
— Ok! — Ele chama minha atenção — Se precisar de algo é só falar.
— Obrigada!
Dez minutos depois eu estava aliviada e com o humor muito melhor. Agora, quem sabe, eu não conseguirei dormir tranquilamente!
Volto para a Van e todos, menos o motorista, Samantha e Vicente, continuavam dormindo. Os dois estavam conversando do lado de fora.
— Olha para ele, não vai consegui permanecer acordado, Vice! — Aponta sorrindo para o doutor, no banco do carona — E você precisa descansar, hoje será um dia longo e cansativo! Deixa que eu assumo daqui.
Ele pressiona o cenho, mas concorda.
— Ok! Mas se você sentir sono, me chame! Não cogite! — Ele passa por ela e dá uns tapas no braço do amigo — Ei, cara!
— Estou aqui! — Théo desperta assustado, mas logo relaxa e começa a resmungar — Qual foi, Vice! — Esfrega o rosto.
— A Sam vai permanecer ao seu lado a partir daqui. Fique acordado! — Fala sério, apontando para o amigo, mas não obteve muito sucesso ao tentar segurar o riso. Assim como Sam e eu.
— Vá dormir, Vicente! — Resmunga, abrindo a porta do carona e dando espaço para Samantha entrar.
— É o que farei! — Responde.
Entro na vá e percebo que agora, Lara ocupava o lugar de Samantha.
— Ah, fui eu. Ela estava praticamente em cima de mim, precisei levantar. Ela acabou acordando e eu a coloquei encostada na janela. — Sam explica, já acomodada na frente.
— É a cara dela. — Respondo e sento no antigo lugar da minha amiga, para que Vicente ocupasse o assento perto da porta.
Ao me ajeitar, já começo a sentir o sono chegando violentamente. Foi inevitável bocejar.
— Creio que agora alguém vai dormir. — O homem ao meu lado comenta, enquanto coloca o cinto de segurança.
— Necessito! — Suspiro e fecho os olhos — Boa noite, Vin!
— Boa noite, Águi! — Sussurra.
>>>><<<<
Vai ter capítulo extra siiiim, porque Deus é bom e já temos muitos capítulos prontos para serem publicados 🙌🏼🙌🏼
Votem votem votem 🙏🏼⭐️
Att.
NAP 😘
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