Capítulo 31
Após ter passado um tempo conversando com Théo, seguimos para a aula do turno vespertino, que foi muito edificante para todos nós. A maior parte do conteúdo eu já tinha visto no congresso de missões, em uma das palestras, como já tinha falado com a Lídia. No entanto, a forma como o pastor Júlio César nos transferiu seu conhecimento sobre o assunto, tornou a aula bem mais dinâmica e interessante.
Lara estava toda sorridente, seus olhos brilhavam e ela não parava quieta. Logo desconfiei que Caio tinha conseguido. Entretanto, só fui saber mesmo quando entramos em nosso dormitório.
— ESTOU NAMORANDO! — Exclama sem conseguir conter a alegria.
— Sério, Larinha? — Lídia pergunta surpresa e eu alargo o sorriso — Finalmente o Caio conseguiu fisgar esse peixe bravo!
Damos gargalhada de seu comentário.
— Ele usou o anzol de Jeová! — Pisco e a envolvo em um abraço apertado, assim como Lídia.
— Estou tão feliz...! — Diz quando se afasta de nós, jogando-se na cama em seguida.
— Como foi o pedido? — Lili pergunta sentando ao lado da morena, em sua cama.
Eu apenas observava as duas, escorada no batente da porta do banheiro.
— Ao invés de almoçarmos, ele me levou a um jardim que nunca tinha visto antes. — Senta na cama e começa a contar com animação. Sorrio ao escutar sobre o jardim escondido. Me alegrava saber que ele tinha ouvido um dos meus conselhos — Assim que chegamos lá, fizemos uma oração e em seguida preparamos o piquenique,
— Piquenique! Que romântico! — Lídia comenta sonhadora.
— Sim! — As duas unem as mãos em animação e eu só conseguia rir da cena. Entretanto, um aperto surgiu em meu coração ao lembrar de Helena e do dia em que ela me contou sobre seu pedido de casamento.
Suspiro fundo, tentando afastar as lágrimas.
Como você faz falta, minha amiga... Precisava tanto de você ao meu lado!
Por mais que Deus tivesse me presenteado com Lara e Lídia, nunca seria a mesma coisa. Ninguém jamais ocuparia o lugar que Helena tinha em minha vida. Ela era a minha melhor amiga e a irmã que eu nunca tive.
Vivemos praticamente a vida toda uma ao lado da outra. Enfrentamos tudo, absolutamente tudo juntas!
Seria impossível colocar outra em seu posto!
— E aí ele disse que estava orando há meses quanto a isso, e que esta noite Deus tinha falado com ele. E olha só, Deus também me deu um sonho! Ele também me confirmou! — A morena se levanta e começa a pular no colchão erguendo a mão direita — Depois ele perguntou se eu aceitaria ser sua namorada e eu disse sim! Aí ele me deu um anel de compromissooooooooooo! AHHHHHHHH!
Não conseguimos conter nossas gargalhadas. Lara estava extremamente feliz, era nítido, e isso me deixava da mesma forma!
— O que acha de comemorarmos então? — Pergunto tendo uma ideia.
— O que tem em mente? — Lídia me olha com desconfiança.
— Que tal fazermos uma noite só das meninas? Com direito a karaokê, dancinha brega, muita besteira e quem sabe um filme para chorar...
— SUPER TOPO! Tirando a parte do filme para chorar... Quero rir hoje! — A morena desce da cama e vem correndo me abraçar.
— Eu também topo! Estou precisando dar um pouco de risada. — Lídia dá de ombros e se junta a nós.
Fomos para o refeitório e lá escolhemos várias opções de comida mais saudáveis e algumas bebidas. As besteiras já tínhamos em nosso quarto, das vezes que saímos para visitarmos nossos familiares e trazíamos coisas que não tinham no CEM.
Espalhamos tudo pela bancada, unimos as camas, posicionamos o notebook ao pé da cama e vestimos nossos pijamas de bolinha, e antes de começarmos a festa nos unimos parar orarmos pela noite que estava apenas iniciando.
— Que tal começarmos com um louvor! Eu tenho alguns em formato de Karaokê aqui no notebook. — Digo selecionando uma das minhas músicas favoritas — Só não teremos os microfones. — Digo com pesar.
— Aí é que a senhorita se engana! — Lara corre para o banheiro e ao sair de lá, traz consigo três escovas de cabelo. Rimos enquanto ela entregava uma para cada — Fique à vontade para começar, missionária Agatha!
— Gente, isso não é estranho? — Lídia comenta rindo — Estamos aqui, nos preparando para sermos missionárias... E agora parecemos três adolescentes fazendo uma festa do pijama!
— Verdade! — Lara e eu comentamos pensativas.
— Maaaas... — Tomo a palavra — Por acaso, receber o "título" de missionária nos obriga a sermos mulheres sérias, sem alegria, ou nos impede de vivermos momentos descontraídos como esses? De forma alguma! Pelo contrário, devemos nos alegrar! E o melhor de tudo, na presença do nosso Senhor!
— Temos milhares de motivos para festejarmos! Fomos compradas pelo sangue de Jesus! SOMOS SALVAS! O ESPÍRITO DO DEUS VIVO VIVE EM NÓS! — Lara exulta pulando na cama.
— Alegrem-se sempre no Senhor. Novamente direi: Alegrem-se! — Lídia recita filipenses 4.4 e faz o mesmo que a morena.
Para não ficar de fora da bagunça, aperto o play e subo na cama segurando o meu microfone improvisado.
— Vou confiar, acreditar mesmo sem ver. Não consigo merecer, Ele já venceu por mim. — Mexo os ombros e a cabeça no ritmo da música — Já me deu o Seu Favor, me escondeu em Seu Amor. — Paro de dançar, ergo a mão para o céu e declaro — Não temerei!
As meninas começam a fazer uma dancinha de acordo com a letra. Movimentamos as mãos representando as ondas do mar.
— Se o mar se levantar, fortes ondas a quebrar sobre a minha embarcação, em meio ao caos e a escuridão. — Nos movemos para frente e para trás. Depois de um lado para o outro — Só em Ti confiarei, sei que eu não naufragarei. Tu comigo estás...
Dito isso começamos a pular sobre a cama enquanto cantávamos o refrão.
— Tu és bom! Tu és bom! Tu és bom em todo tempo, todo tempo Tu és bom!
Ríamos, dançávamos, brincávamos... até que paralisamos ao ver duas meninas invadirem nosso quarto. Alicia, namorada do Luiz, e Juliana, sua colega de quarto.
— Estão fazendo uma festa do pijama e não fomos convidadas? — Lice cruza os braços na altura do peito e finge uma cara feia.
— Sintam-se convidadas agora! — Lídia dá de ombros.
— Fiquem à vontade, chuchus! — Lara desce da cama e puxa as duas pelas mãos — Tem muita comida e muita musica boa para ser cantada!
Eu simplesmente dou risada e volto a cantar.
***
Depois da 22h nos policiamos a fazer menos barulho, respeitando a lei do silêncio. No entanto, nossa festa só foi acaba lá para uma da manhã. As meninas voltaram para os seus dormitórios e nós três dormimos juntas, com as camas unidas.
Era sábado de manhã, um belo dia para dormir até mais tarde, entretanto, o meu relógio biológico me acordou por volta das 6h.
Levanto devagar para não acordar as outras, que dormiam como pedras. Pego um vestido soltinho, lingerie, minha necessaire e vou para o banho. Lavo o cabeço, pois no meio da bagunça de ontem, não sei como, derramaram chocolate na minha cabeleira ruiva.
Saio do banheiro sem fazer barulho, pois as duas continuavam dormindo. Pego minha bíblia e deixo o cômodo.
Era quase sete da manhã e o refeitório deveria estar começando a encher. No entanto, não comeria nada, pois hoje era o dia do meu grupo fazer o jejum. Ao invés de ir para o jardim secreto, decido seguir para o lago. O amanhecer era lindo naquele lugar.
Avisto Vicente sentado na beira do píer de madeira. Pondero sobre o que devo fazer. Por fim, decido seguir adiante.
— Bom dia! — O cumprimento assim que chego ao deck.
Ele olha para trás assustado, mas abre um sorriso sem mostrar os dentes ao me ver.
— Bom dia! — Responde voltando seu olhar para a vista.
Sento a uns três metros de distância, encostada em uma pequena tora de madeira. Antes de abrir a bíblia, fecho os meus olhos e começo a conversar com Deus. Agradeço pela divertida noite de ontem, pelo descanso e pelo fôlego de vida. Oro também pelo homem que se encontra a poucos metros de mim.
Abro os olhos e o observo na mesma posição de antes.
Suspiro e volto minha atenção à bíblia. Medito por cerca de meia hora.
E lá estava Vicente, na mesma posição de minutos atrás. A diferença é que seus olhos estavam fechados.
Fecho o livro e pigarreio antes de falar.
— Passou a noite aqui?
Ele nega com a cabeça sem abrir os olhos.
— Madruguei para ver o nascer do sol. — Diz em um sussurro.
— Já tive a oportunidade de vê-lo daqui. É lindo! — Penduro as pernas no píer.
O silêncio insuportável retorna.
— Se quiser conversar, saiba que eu estou aqui. Nós estamos aqui! — Digo sem conseguir me conter.
— Nós? — Questiona abrindo os olhos, mas fitando o lago.
— Caio, Théo... eu. — Ele vira o rosto e finalmente me fita. As olheiras em volta dos seus olhos eram bem visíveis.
— Ele é um homem incrível, Águi! — Sorri docemente.
— Não faça isso! — Digo e ele muda sua expressão para confusão.
— O quê?
— Tentar jogar o seu melhor amigo para cima de mim. — Ele assente e desvia o olhar.
— Ele gosta de você.
— E eu dele... Mas só como amigo! — Dou de ombros e me deito no deck.
A essa hora o sol já clareava toda a extensão do grande lago.
Sinto a madeira abaixo de mim se mexer. Viro o rosto para ver Vicente se deitando, assim como eu. O sol batia em seu cabelo, deixando-o ainda mais claro. Fecho os olhos mais uma vez e respiro o ar puro.
— Sinto muito pelo que aconteceu entre você e a Lídia! — Digo baixo.
— Eu também! — Responde no mesmo tom.
Ficamos por um bom tempo em silêncio, apenas ouvindo o som dos pássaros e sentindo a brisa suave nos envolvendo.
— Sabe, Águi... Eu nunca me senti tão perdido, como estou agora. — Abro os olhos e o encaro. Ele permanecia com os seus cerrados — Sempre tentei fazer tudo certo, mas a sensação que eu tenho é que fiz tudo errado em todo esse tempo. — Inclina o rosto me fitando — Não começamos a namorar por uma escolha minha, e hoje fico pensando, será que também errei nisso enquanto tentava acertar?
Franze o cenho e bufa sentando novamente. Ele estava inquieto e um pouco angustiado.
— Se tivéssemos começado a namorar, as cosias seriam muito piores, Vicente! — Digo me sentando também — Você foi para o Canadá, e ouve toda essa falta de comunicação... Imagina se estivéssemos juntos!
Ele assente fitando o lago.
— Você tem razão! No entanto, a minha falta de paciência me fez magoar duas mulheres importantes para mim. E isso eu não consigo suportar! Me sinto um completo imbecil! Um verdadeiro canalha! — Pega uma pedrinha e lança com força no lago — Por que não esperei com paciência no Senhor? Por que deixei a frustração me dominar? — Ele se vira para mim com os olhos marejados — Agatha, eu fiquei doido quando me dei conta que tinha perdido você! Mas sinceramente, eu preferiria ter ficado doido sozinho, a ter envolvido a Lídia nisso tudo! Eu tinha plena consciência de que ela seria incapaz de tirar de mim toda mágoa, decepção e frustração. — Nega com a cabeça — Só Deus poderia me ajudar! Só Ele pode nos ajudar quando pensamos que tudo está perdido e quando pensamos que não há mais solução. E o pior é que eu já sabia de tudo isso, mas mesmo assim trouxe a Lili para essa confusão!
— Vicente, eu...
— Eu tentei te esquecer! Juro que tentei! Queria amar a Lídia da forma como ela merece! Como eu queria ser o homem que ela desejava... Mas fui incapaz de cumprir com isso.
— Não ache que a culpa disso tudo é apenas sua!
— Por favor, Agatha! Não quero que sinta pena de mim ou tente justificar os meus erros. — Me encara com seriedade — Eu errei, agora preciso arcar com as consequências sozinho!
— Eu não ia fazer isso! — Brado chateada, virando-me de frente para ele — Somos cristãos, seguidores de Cristo! Mas também somos seres humanos, Vicente! Ou você já se esqueceu desse detalhe?
— Não...
— Pois bem! Você errou, isso é fato! Assim como a Lídia, ao achar que seria capaz de curar suas feridas e te fazer esquecer uma parte da sua história! Ela não é Deus, Vicente! — Ele estava prestes a abrir a boca, mas eu o impeço erguendo uma mão — Não me leve a mal, não estou colocando a culpa apenas nela. Como já disse, você também errou ao querer andar com suas próprias pernas. Mas e agora? O que você vai fazer? Ficar cabisbaixo andando pelos cantos? Ficará revoltado por aí remoendo os erros do passado? Não, Vicente! Deus está nos dado uma nova oportunidade a cada dia! Permita que ele te ajude a fazer o que é certo dessa vez.
Ele assente e fecha os olhos.
— Escuta, vou ser sincera com você! Quando Lídia me contou sobre o término de vocês ela, literalmente, me devolveu a esperança de um possível futuro entre nós... — Ele me olha confuso — Mas eu não estou aqui te aconselhando como uma mulher apaixonada, aproveitando um momento de fragilidade seu. Se eu fizesse isso estaria sendo uma verdadeira aproveitadora safada. Mas estou aqui como um instrumento de Deus, e o conselho que eu te dou é que você foque apenas nas coisas do alto! Busque primeiro o reino de Deus, e sua justiça, e as demais coisas vos serão acrescentadas no tempo que Ele julgar ser o certo.
Ele me encara com a mesma expressão indecifrável que costumava fazer. Abro um sorriso e olho para trás.
— Estamos em um centro de missões. Olha o que Deus fez por nós, Vicente! — Fito-o com os olhos emocionados — Estamos vivendo algo que sonhamos há muitos anos! Faremos missões juntos, mesmo não sendo como tínhamos imaginado, mas eu tenho certeza que será melhor, pois tudo o que Deus faz é perfeito!
— Você tem toda razão, Agatha Tavares! Obrigada pelo aperto de orelha! — Comenta envergonhado.
— Não agradeça a mim! O Senhor disciplina a quem ama, e educa todo aquele a quem recebe como filho, como disse, estou aqui como um instrumento! — Pisco lhe entregando minha bíblia — Agora vou deixar você a sós com o Pai! Não esqueça que hoje é o nosso dia de jejuar e orar às 23h.
Digo e me coloco de pé.
— Pode deixar, general Tavares! — Ri folheando a bíblia — Até mais tarde!
— Até!
Deixo o lago com a sensação de dever cumprido e com o coração cheio de paz e alegria. Focar na obra de Deus não significaria esquecê-lo, disso eu já sabia. Entretanto, manifestava que o meu coração não estava mais voltado para as coisas carnais, coisas do mundo. Ele estava voltado para as coisas espirituais, para aquilo que realmente importava. E como a própria palavra diz, as demais coisas me serão acrescentadas.
>>>><<<<
E aí, pessoal, o que tem achado da história? Que Deus abençoe cada um de vocês!
Não esqueçam de votarem no capítulo ⭐️
Att.
NAP 😘
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