Capítulo 19

Corro pelos corredores do prédio B, onde as aulas específicas costumavam ocorrer. Estava super atrasada, e eu não suportava me atrasar em meus compromissos, mas acordei com uma sensação tão ruim que fiquei orando por mais tempo do que deveria, não que isso fosse algo ruim.

Entro na sala esbaforida, chamando a atenção dos dois médicos à minha frente, que me olham com surpresa.

— Bom... Dia! — Digo tentando controlar a respiração.

Apoio as mãos no joelho e respiro profundamente. Os dois tentam se levantar, mas eu ergo uma mão os impedindo.

— Não! Já estou bem melhor! — Respondo e caminho até eles.

Vicente se levanta e me oferece passagem.

— Quer um copo de água? — Pergunta.

— Por favor! — Sento-me e coloco a bolsa na mesa. Agradeço o copo oferecido por ele e bebo de uma só vez — Desculpem o meu atraso. Mas foi por uma boa causa!

— Sem problemas, Águi, começamos não tem nem dois minutos. — Théo responde.

— Que bom! — Apoio o rosto nas mãos e solto o ar.

— Tem certeza que você está bem? — Questiona Vicente.

— Sim! Sobre o que vocês estavam falando?

— Sobre as experiências que tivemos em campo. — Olho espantada para o homem à minha frente.

— Não sabia que já tinha ido ao campo, Vicente. — Ele me olha com confusão, mas responde em tom calmo.

— Sim, há três anos. — Fita Théo e sorri nostálgico — Foi a nossa primeira missão.

— Uau! Vocês fizeram missões juntos. Isso é incrível! — Digo admirada — Bom, eu não tenho experiência nenhuma com isso, estou aqui para aprender! Sou toda ouvidos!

A animação era notável em minha voz, o que fez os dois rirem.

— Fomos para Moçambique, mas permanecemos na parte sul, onde as coisas costumam ser mais tranquilas. — Théo comenta com um olhar distante.

— Como assim? — Questiono.

— É porque no geral, o país tem liberdade religiosa limitada. No entanto, a perseguição aos cristãos é mais severa no norte da província de Cabo Delgado, devido aos extremistas afiliados ao Estado Islâmico que realizam ataques violentos por lá. — Vicente responde com seriedade — Na parte norte do país, onde os muçulmanos são a maioria, é que os convertidos enfrentam extrema pressão para renunciar à fé. Na parte sul as coisas são mais tranquilas, como o Théo falou.

— Vocês já presenciaram algo... ruim? — Engulo em seco, eu realmente me sentia estranha ao tocar nesses assuntos, por mais que já estivesse me "acostumando" com algumas coisas.

Eles se entreolharam e Théo toma a palavra.

— Nós conhecemos um casal em uma das igrejas locais. A mulher era do Norte, e Yuran do sul. Eles se conheceram em um culto e acabaram se aproximando, e consequentemente se apaixonaram. — Respira fundo — No entanto, quando os pais da moça descobriram onde ela estava, mandaram que a sequestrassem, pois ela tinha fugidos de casa. Assim que o fizeram, entregou sua mão em casamento a outro homem, um muçulmano. Dessa forma eles teriam certeza de que ela não "voltaria" — Faz aspas com as mãos — para o cristianismo.

Arregalo os olhos.

— E quanto a Yuran?

— Ele ficou arrasado! — Vicente explica — Tentou recupera-la de várias formas possíveis, mas sem sucesso... Até que um dia nós acordamos e encontramos um bilhete dele dizendo que iria atrás da amada. — Ele sorri tristemente — Depois disso nunca mais o vimos ou tivemos notícias dele.

Fico sem palavra diante de tal história.

— Que trágico! — Engulo em seco e, por força do hábito, quase levo a mão ao pescoço, mas consigo me controlar.

Ouvimos batidas na porta e viramos para ver quem era.

— Com licença! — Sabrina, uma das auxiliares administrativas aparece na porta — Missionário Théo, o Pastor André está te chamando.

— Obrigada, Sabrina, já estou indo! — Ela assente e se retira — Bom, vou precisar ir, mas daqui a pouco estou de volta. Aproveitarei para pegar alguns documentos com informações sobre os possíveis locais que ficaremos.

— Certo! Enquanto isso eu explicarei para a Águi sobre as estratégias que costumávamos usar em casos extremos.

— Excelente ideia, Vice! Até mais, pessoal! — Diz saindo da sala.

Olho para Vicente e ele continuava olhando para a porta, bastante pensativo.

— Está tudo bem? — Chamo sua atenção.

— Sim! — Exclama e me encara — Então, deixa eu te explicar algumas coisas — Apoia os cotovelos na mesa e junta as mãos — Por mais que o lugar onde estávamos fosse relativamente tranquilo, tínhamos algumas estratégias caso houvesse qualquer ato de violência na área.

— E o que faziam?

Vicente compartilhou comigo suas experiências de missões até às 9h. Organizamos novas estratégias baseadas em nossa nova missão. Segundo ele, os auxílios que eles deram em Moçambique não tinha muito a ver com nossa profissão.

Théo enviou através de Sabrina um aviso para que fôssemos ao encontro dele e do pastor André.

Estávamos organizando os materiais para partirmos. Do outro lado da sala, observo Vicente ajeitando suas coisas, entre elas estava o seu jaleco de medicina. Decidi me aproximar devagar.

— Eu me lembro até hoje da emoção de receber o meu primeiro jaleco. — Seguro o tecido branco e sorrio ao ver seu nome bordado nele — Doutor Vicente Ferraço!

Ele me fita com certa emoção no olhar.

— Foi um momento único! E um dos grandes motivos para eu ter conseguido realizar um dos meus maiores sonhos, está bem na minha frente.

Encaro-o com um pequeno sorriso no rosto.

— Isso não é verdade!

— Agatha, se não fosse por você eu jamais arriscaria fazer medicina. Você foi a única que me apoiou e incentivou desde o início.

— Vic...

— E eu nunca tive a oportunidade de te agradecer pessoalmente, então muito obrigado, Águi! — Eu podia ver em seu olhar a sinceridade de suas palavras e isso me emocionou profundamente. Saber que de alguma forma pude fazer parte desse sonho, foi extremamente gratificante para mim.

— Não há de quê! — Minha voz sai como um sussurro.

Meu celular apita em cima da bancada nos fazendo pular com o susto.

Olho para o celular e sorrio ao ver a foto da minha sobrinha estampada no papel de parede. Como sentia falta desse pedacinho de gente.

— Nossa, ela cresceu bastante! — Vicente comenta e eu concordo com o sorriso bobo dançando em meus lábios.

— Sim! — Olho para ele, que ainda observa o celular.

De repente um pensamento inunda minha mente.

— O que disse? — Questiono com certa urgência na voz. Ele me olha sem entender nada.

— Que sua sobrinha, a Ângela, cresceu bastante... — Responde incerto.

Ergo as sobrancelhas. Não pude deixar de esconder o espanto e a surpresa em meu rosto.

— Quem te contou? — Franzo o cenho e ele fica mais confuso ainda.

— Quem contou o que, Águi? Sinceramente não estou entendendo nada! — Pega o jaleco e guarda na mochila.

— Vicente, quem te contou que ela é a minha sobrinha, e como você sabe que o nome dela é Ângela? Eu não disse a ninguém daqui. — Paro em sua frente fazendo com que ele olhasse em meus olhos.

— Ninguém daqui me contou nada, Agatha! — Diz seriamente — Eu vi com os meus próprios olhos! — Como se fosse possível, os meus olhos se arregalam ainda mais — Aliás, me contaram sim, mas foi o seu irmão, Ângelo. — Dá de ombros e se afasta — Vamos?

— Ângelo? — Sussurro e ele assente.

Sento em uma das cadeiras e fito a parede branca tentando encaixar todas as informações fornecidas por ele. Vicente se aproxima devagar, coloca a mochila em cima da mesa e se agacha em minha frente.

— O que está acontecendo, Águi? — Pergunta com cautela.

— Quando você os viu? — Ele pensa por um tempo antes de responder.

— Há quatro anos. — O encaro chocada com sua resposta. Nada daquilo fazia sentido.

— Onde? — Minha voz sai em um fio. Ele se levanta, pega uma cadeira e coloca de frente para mim, sentando em seguida. Meu coração tentava me alertar que o que viria a seguir poderia me abalar.

— No Rio de Janeiro, Agatha!

— No... Rio? — Tento falar, mas minha voz sai embargada — Você esteve no Rio?

Ele me analisa atentamente, e em segundos sua expressão de confusão muda por completo. Vicente fecha os olhos e respira profundamente. Quando me fita novamente, seu olhar era duro e ele trincava o maxilar. Com certeza alguma coisa fez sentido para ele naquele momento.

— Agatha, há quatro anos eu fui te procurar no Rio de Janeiro! — Suas palavras atingiram meu peito como um soco. A sensação de que faltava ar em meus pulmões fez com que eu tivesse dificuldades para realmente respirar — Você está bem? Fala comigo, por favor! — Ele segura meu rosto em suas mãos e me encara com preocupação.

— Estou bem! Apenas continue, por favor... — A última frase sai como uma súplica. Meus olhos que estavam fixos nos dele, começam a ficar embaçados. Fruto das lágrimas que estavam por vir.

— Me responda apenas uma coisa. O que você sabe sobre a minha mudança? — Pede com cautela.

Essa foi fácil, não pensei duas vezes antes de responder.

— Nada! Apenas que vocês precisaram se mudar com urgência. — Digo. Certamente parecia uma louca, pois as palavras saíram com tanta rapidez de meus lábios que nem eu me entendi direito.

— Ok, então precisarei te explicar tudo o que aconteceu.

— É o que eu mais desejo saber há dez anos, Vicente! — Digo engolindo o choro que teimava querer sair.

Ele suspira e começa.

— Águi... Como você sabe, o meu pai era missionário, assim como minha mãe. Naquela época as coisas estavam ficando cada vez piores, principalmente quando ele perdeu o emprego. Para você ter uma ideia, quase fomos colocados para fora de casa. — Suspira esfregando o nariz — Nunca tivemos uma condição muito boa, apenas vivíamos com o que o Senhor nos dava. E eu sou muito grato a isso, pois Ele nunca deixou que faltasse algo.

Concordo com a cabeça. Até aí eu já sabia.

— O senhor Samuel, um pastor conhecido do meu antigo pastor, abriu uma igreja no Canadá e ligou para ele dizendo que estava precisando de pessoas para o auxiliar. Logo o nosso pastor pensou em meu pai e em nossa família. Segundo ele, éramos obreiros que não medíamos esforços para servir ao Senhor, e tudo o que fazíamos era dando o nosso melhor.

— E isso é a mais pura verdade! — Digo e ele dá um pequeno sorriso sem mostrar os dentes.

— Nosso pai entrou em contato com o pastor do Canadá e descobriu que teríamos absolutamente tudo lá, Águi! Comida, casa, trabalho e estudos para o Caio e para mim. — Segura minhas mãos — Era tudo o que precisávamos no momento. Foi a provisão de Deus!

Ele sorri tristemente antes de prosseguir.

— O único ponto negativo era que eu precisaria ficar mais tempo longe de você. — Acaricia minhas mãos, mas logo as solta — Pensei em recusar e ficar aqui sozinho, me viraria de alguma forma, mas não era isso que Deus queria de mim. E você sabe que eu jamais desobedeceria a vontade de Deus para atender aos meus caprichos humanos.

Assinto sem tirar os meus olhos dos seus.

— Então eu me iludi achando ter pensado em tudo, mas falhei completamente... — Ri secamente — Deixei uma carta com o meu pastor para que ele te entregasse no próximo acampamento de verão. Nela eu te explicava absolutamente tudo o que estou te contando, mas também tinha o nosso endereço e telefone da igreja. Mas pelo visto essa carta nunca chegou até você.

Nego com a cabeça sentindo os olhos arderem novamente.

— Enviei algumas cartas para o seu endereço, mas como você já deve imaginar...

— Nenhuma chegou até mim. — Ele concorda.

— Eu nunca tive celular, fui comprar o primeiro quase um ano depois da mudança, quando comecei a trabalha, mas não tinha o seu número ou o da sua casa. Ninguém tinha. — Dá de ombros — Eu também nunca fui ligado a essas coisas de rede social, mas quando fiquei sem receber notícias suas por quase dois anos, decidi criar o facebook. Caio até tentou me ajudar, mas eu me sentia um velho mexendo nessas coisas. Te procurei de todas as formas possíveis e nada. Até que encontrei o perfil da Helena, tentei adicioná-la, mas ela nunca me aceitou. Então desisti percebendo que ainda não era o tempo do Senhor. E confesso que comecei a achar que você não me queria mais.

Ele leva a mão até o meu rosto e enxuga uma lágrima que rolava. Fecho os olhos ao sentir seu toque suave em contato com minha pela.

— Águi, eu... — Começa a falar, mas se calou — Quando estava prestes a completar dezoito anos, eu consegui uma bolsa para estudar na universidade McGill, uma das melhores de Montreal. — Comenta com um sorriso esplendido no rosto — Foi uma grande vitória, e eu só queria poder dividir ela com você, Ga... Águi.

Ele se levanta e começa a andar de um lado para o outro, agora com a expressão um pouco mais séria.

— Assim que retornamos para o Brasil, apenas o Caio e eu, fui direto para o Rio atrás de você! Eu tinha o seu endereço, e orava para que fosse o mesmo. Quando o Ângelo me recebeu, eu tive certeza de que estava no lugar certo. — Esfrega o cabelo — No início ele foi bem frio, até diria que foi rude, mas não imaginava o motivo, hoje tudo faz sentido... No entanto, depois ele mudou, ficou mais simpático e receptivo.

Se volta para mim com tristeza no olhar.

— Mas quando eu perguntei por você, ele me disse que não estava em casa no momento. — A confusão estava estampada em meu rosto — Que tinha saído com um rapaz, seu namorado...

— O QUÊ? — Grito levantando tão rápido que a cadeira quase vai para trás. — E VOCÊ ACREDITOU? — Já estava ficando desesperada.

— Ele me deu o endereço da lanchonete, e eu fui atrás de vocês. — Explica me olhando com tristeza — E você realmente estava com uma pessoa.

Nego com a cabeça tentando trazer esse momento à memória.

— Não pode ser... — Sussurro.

— Eu cheguei a entrar para falar com você, mas assim que o fiz ele tinha acabado de se ajoelhar diante de você com... uma pequena caixinha de veludo. E não é preciso ser nenhum gênio para imaginar o que estava acontecendo.

— Não! — Coloco as mãos na boca me recordando de tal cena.

— Na mesma hora eu saí da lanchonete e fui para uma praça qualquer. Fiquei lá por um bom tempo até que decidi escreve uma carta. Eu e as cartas... — Ri sarcástico — Parece que não aprendi da primeira vez.

Volto a encara-lo. As lágrimas rolavam copiosamente, e isso só acontecia quando estava da presença do meu Deus.

— Escrevi uma carta te agradecendo por tudo o que fez por mim, direta e indiretamente. Até cheguei a lhe parabenizar pelo noivado — Noivado? — e deixei o número do meu novo celular, caso você quisesse pelo menos minha amizade. Lá eu também informei sobre minha primeira missão, a que estava prestes a fazer. Voltei à sua casa e entreguei a carta ao seu irmão. Depois disso vim direto para cá.

Ele se aproxima de mim e sorri, um sorriso doce e nostálgico.

— O meu objetivo era que viéssemos juntos para cá, como sempre planejamos. No tempo certo é claro, afinal não sabia como estava a sua vida. Se estava na faculdade, se trabalhava... Eu só tinha certeza de que você esperaria por mim, Águi. No fundo do meu coração eu tinha essa certeza. — Fecha os olhos — Mas os planos mudaram, e eu decidi fazer isso sozinho.

A minha vontade era de abraça-lo e consola-lo. Eu não era a única ferida nessa história. Vicente foi enganado, assim como eu.

— Confesso que fiquei surpreso quando você chegou aqui sozinha e — Olhou para minha mão esquerda — sem nenhuma aliança. Não sei o que realmente aconteceu, Águi, mas parece que eu me precipitei e entendi tudo errado. — Comenta com a voz embargada — Eu fiquei completamente confuso quando a vi com o colar que tinha te dado no nosso último acampamento. — Senta novamente esfregando os olhos — E quando você descobriu que a Lídia e eu estávamos namorando... Você ficou arrasada e eu não conseguia entender o porquê, pois para mim você já tinha me esquecido há anos! — Exclama se levantando e vindo ao meu encontro — Você consegue me entender, Águi?

Penso em segurar suas mãos, mas simplesmente assinto com a cabeça.

— Tudo não passou de um mal entendido! — Sussurro sentindo a dor em meu coração se intensificar ainda mais — Eu nunca recebi nenhuma carta sua ou recado vindo de alguém. Eu passei todos esses anos criando diversas teorias e em todas elas o sentimento de abandono me incentivava a crer que você tinha me esquecido. Esquecido dos nossos sonhos...

Nessa hora eu começo a soluçar. Não suportava mais olhar para o homem que eu amava e ver a tristeza e as lágrimas acumuladas em seus olhos. Viro-me e fecho os olhos com força.

— Mas no fundo eu sempre tive esperança de que um dia você voltaria e me explicaria tudo o que aconteceu. Precisava ter um motivo para o seu sumiço... E hoje eu sei que realmente teve. — Sinto as mãos dele em meus ombros. Mais soluços — Eu nunca esqueci de você.

— E o homem da lanchonete, Águi? Ele estava te pedindo em casamento.

Respiro fundo e volto a fita-lo. Abro um sorriso triste e enxugo as lágrimas que ainda rolavam.

— Ele era um amigo, o Hugo. Nesse dia ele decidiu me pedir em namoro, não em casamento. — Ele me encara surpreso — De qualquer forma eu neguei. E depois de um tempo descobri que ele já estava noivo de outra... — Rio sem humor e volta a chorar novamente.

— Agatha, eu...

— Eu jamais te esqueci! Você sempre foi o meu primeiro e único amor, Vin!  — Chamá-lo por aquele apelido aqueceu o meu coração. Tentava me controlar desde o dia que o reencontrei, mas já não aguentava, tamanha era a dor. E saber que ele não tinha me esquecido só a intensificava — Eu nunca esqueci das suas promessas ou dos nossos sonhos e planos. Eles me enchiam de esperança toda vez que pensava em desistir. Quando sentia a sua falta eu olhava para o céu! — Ele sorri fracamente e acaricia meu rosto — Eu cumpri a minha palavra!  Eu esperei por você todos esses anos, Vin!

Já não tinha mais forças para permanecer de pé, se não fosse os braços de Vicente me envolvendo em um abraço, eu teria ido ao chão. Meu pranto era alto e forte, denunciando toda a dor que eu vinha guardando por todos esses anos. Minha mente estava um turbilhão de emoções e sentimentos.

Sentia felicidade por saber que ele não tinha me abandonado realmente. Sentia gratidão por Deus ter cumprido tantas promessas na vida dele. Sentia mágoa por ter sido traída por aquele que mais confiei, meu irmão, meu melhor amigo... E sentia tristeza por saber que já era tarde demais para o nosso amor. Vicente estava com outra pessoa.

Lembrar disso me deu forças para sair de seus braços. O abraço que tanto desejei nos últimos meses. Como queria estar em seus braços, sentir seu perfume, seu toque...

Balancei negativamente a cabeça com força, precisava encarar a realidade.

— Vicente! — Ele me encara com preocupação — Eu sinto muito, muito mesmo por tudo isso ter acontecido a nós. — Enxugo as lágrimas e respiro fundo juntando minhas forças — Mas mesmo sabendo a verdade, a nossa realidade é completamente diferente. Você... Você está com outra pessoa e nós precisamos seguir em frente. — Ele me segura pelos braços e me fita com os olhos carregados de tristeza.

— Agatha...

— Vicente, nós precisamos! — Minha voz teimava em falhar — E eu sei que Deus nos ajudará! Eu tenho certeza!

Ele une nossas testas e começa a chorar. Ouvir seus soluços acabava comigo ainda mais. Levo minhas mãos até seu rosto e enxugo suas lágrimas. Ele as segura levando até os lábios depositando doces beijos.

— Águi... — Coloco um dedo em seus lábios o impedindo de continuar.

— Shhhh, por favor não diga nada! Não torne isso ainda mais difícil, por favor! — Imploro.

Ele assente devagar e eu me afasto sem conseguir encara-lo. Dou alguns passos para trás e me viro correndo em direção a saída. Não suportaria permanecer nem mais um segundo naquela sala.

>>>><<<<

Como estão os corações?? As emoções apenas começaram 🥺

Não esqueça de clicar na estrelinha ⭐️

Att.
NAP 😘

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