Marshall Aldrin:

Lilly, com os cabelos apanhados num rabo de cavalo, soltou um suspiro, seus olhos fixos em Ricky, que parecia uma fera enjaulada, prestes a se soltar a qualquer momento. A sala onde treinávamos estava em ruínas, com destroços de madeira espalhados pelo chão, e o ar estava carregado de eletricidade.

— Simplesmente não está dando certo — Lilly disse com uma voz carregada de preocupação. — Este treinamento vai acabar destruindo a sala ainda mais, com Ricky querendo avançar quando está à beira da transformação.

Ruídos ininteligíveis ecoavam de Ricky, uma mistura de palavras e grunhidos, enquanto ele lutava para se controlar e não deixar seu lado selvagem dominá-lo. Cada palavra era uma batalha contra seus instintos animalescos.

Algo naquela cena me intrigava e desafiava. Uma vontade incômoda de interromper o momento, de provocar Ricky ou simplesmente ver até onde ele poderia se controlar. Minha mente faiscava com um desejo de testar os limites de Ricky.

— Tudo bem, treinamento encerrado — Lilly finalmente declarou, exausta. Ela se afastou de Ricky, mas ele a interceptou, sibilando alto, a raiva cintilando em seus olhos. Ela se virou lentamente, suas botas fazendo um som abafado no chão destruído.

— Lilly! — Ricky rosnou atrás da irmã, cuja expressão indicava que ela estava se sentindo pressionada entre seu desejo de treinar mais e a preocupação com o irmão. Ela parou, virando-se para encarar Ricky com uma expressão determinada.

— Eu sei que você é forte, Ricky, mas essa é a hora de descansar e recuperar o controle. Não quero te ver ferido, e tenho medo do que acontecerá se você deixar o lobo interior dominar — ela respondeu, sua voz firme, mas carregada de amor e preocupação.

Ricky olhou de volta para Lilly, seus olhos faiscando de conflito. Enquanto isso, permaneci em silêncio, observando a dinâmica entre os irmãos, ciente de que algo dentro de Ricky estava querendo lutar.

— Eu quero continuar — Falei, preparando-me para o momento em que Ricky viria com tudo. Suas roupas foram rasgadas enquanto ele se transformava por completo.

Baixei-me, cuidadosamente, carregando o arco com uma flecha e mirando na direção dele. Com um leve suspiro, puxei para trás, liberando uma flecha veloz que cortou o ar.

Com reflexos afiados, ele lançou-se para o lado, escapando da flecha mortal por uma fração de segundo. Ele rosnou, revelando presas afiadas e olhos que brilhavam com raiva. Agora ele estava em posição de ataque.

Rapidamente recarregando outra flecha, mirei novamente. O lobo avançou, movendo-se com uma agilidade surpreendente. Quando disparei, o lobo saltou para cima, desviando-se da flecha, que passou raspando por sua pata.

O lobo investiu contra mim, com uma velocidade incrível. Ele mordeu na direção do meu pulso, fazendo-me cambalear para trás. Com um movimento ágil, o lobo atacou novamente, me derrubando no chão.

A luta era feroz. Eu estava desarmado, lutando para me defender com minhas próprias mãos, enquanto o lobo usava sua força e agilidade para me dominar. Gritos e rosnados ecoavam pela sala.

Minha mente iluminou e a pulseira brilhou, com uma adaga surgindo em minhas mãos. Consegui golpeá-lo no flanco. Ricky uivou de dor, recuando momentaneamente. Aproveitei a oportunidade para me levantar, mas estava ferido e sangrando.

O lobo, apesar da ferida, não desistiu. Ele avançou novamente, mas desta vez estava pronto. Joguei-me para o lado e enfiei uma adaga no flanco dele.

O lobo uivou em agonia, cambaleando para trás, e o arco surgiu em minhas mãos. Disparei uma flecha atrás da outra, atingindo-o novamente no flanco. Me levantei, ofegante, e assisti enquanto Ricky, ferido e derrotado, recuava para a escuridão da sala e voltava à sua forma humana, arrancando as flechas de seu corpo.

Lily surgiu ao lado dele e jogou uma toalha e algumas roupas em cima do irmão, com uma expressão divertida surgindo no rosto.

— Aí está o que você queria, Marshall acabou com a sua raça novamente — Lilly disse, e Ricky mostrou o dedo do meio em sua direção.

— Não estava preparado — Ricky disse e se vestiu em segundos, com um olhar determinado no rosto, pronto para enfrentar seu lado selvagem mais uma vez.

A tensão na sala diminuiu gradualmente, à medida que Ricky recuperava sua humanidade e respirava profundamente. Os destroços da sala testemunhavam a intensidade da batalha que havia ocorrido ali, mas o silêncio que se instalou quebrou a tensão que antes dominava o ambiente.

Lilly se aproximou de Ricky com uma expressão de alívio, passando a mão carinhosamente pelo cabelo dele, como uma demonstração de apoio silencioso. Seus olhos se encontraram, compartilhando um vínculo forte de irmãos que haviam enfrentado desafios inimagináveis juntos.

Meu arco brilhou voltando para sua forma de pulseira, consciente de que aquele treinamento tinha sido uma experiência intensa para todos nós. A adrenalina que pulsava em minhas veias começou a se dissipar, deixando para trás uma sensação de realização e uma pitada de preocupação pelo que ainda estava por vir.

— Vocês dois são incríveis — elogiei Ricky e Lilly, reconhecendo o esforço monumental que haviam colocado naquele treinamento. — Ricky, você é um ótimo treinador e a Lilly ainda mais.

Ricky assentiu com gratidão, seus olhos agora expressando mais controle do que antes. Lilly sorriu e se aproximou de mim.

— Você também está ótimo no treinar, Marshall. Você tem um grande caminho pela frente então será invencível. — Lilly disse.

Aquelas palavras aqueceram meu coração, pois sabia que juntos éramos mais fortes e que, no final das contas, nossa união seria nossa maior força contra os obstáculos que enfrentávamos.

A sala, antes em ruínas, começou a ser reconstruída magicamente por Lilly, os destroços de madeira se recompondo e voltando ao lugar e fiquei feliz de como ter magia na vida era útil para todos.

Enquanto a sala voltava ao seu estado original, me senti alegre de ter tudo para mostrar minhas habilidades nesse instante.

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Sai da sala com Lilly me empurrando para longe, sentindo meu coração ainda acelerado pela intensa batalha que havíamos testemunhado. A adrenalina pulsava em minhas veias quando, de repente, esbarrei em cima de Daniel. Seu olhar estava carregado de raiva, mas algo em seu rosto se suavizou ao perceber que era eu.

— Então, aqui estamos novamente — Daniel disse, seus olhos castanhos fixos nos meus por um instante, surpreso. Em seguida, ele deu a volta ao meu redor, como se avaliasse alguma coisa, e apertou gentilmente minhas orelhas. — Está deixando que as orelhas feéricas apareçam.

Um calor suave espalhou-se pelo meu rosto quando ele mencionou minhas orelhas feéricas. Era um traço que eu compartilhava com os feéricos de minha linhagem, algo que eu geralmente mantinha escondido dos outros e me negava até olhando nos espelhos nos últimos dias. Mas Daniel não era como os outros; ele parecia entender e aceitar essa parte de mim.

— Às vezes, elas têm vontade própria — murmurei, dando de ombros e tentando disfarçar a leve timidez que se apoderou de mim. — Mas você as torna menos assustadoras.

Daniel soltou um sorriso sincero, fazendo com que seus olhos brilhassem. Era um sorriso que iluminava a sala, contrastando com a tensão que havia permeado o treinamento.

— Não sei como, mas você sempre consegue trazer um pouco de delicadeza para qualquer situação — ele disse, sua voz suave e calorosa. — É uma das coisas que eu mais gosto em você, Marshall. Quer dizer que aprendi a gostar e ainda tirando uma da sua cara.

Minha respiração ficou um pouco mais rápida com suas palavras elogiosas. Eu não tinha palavras para responder, então apenas sorri de volta, com gratidão por pelo menos sermos um pouco mais amigos.

Enquanto compartilhávamos aquele momento, percebi que a ligação entre nós estava se aprofundando a cada dia, e eu não podia deixar de me sentir grato por ter encontrado alguém que aceitava e amava cada aspecto do que eu era, incluindo as minhas orelhas feéricas que agora se exibiam com orgulho.

Antes que abrisse a boca meu celular começou a tocar, peguei do bolso vendo que era minha mãe engoli em seco.

— O que foi? — Daniel perguntou.

— Minha mãe dizendo que irá vir me visitar e o meu avô também está vindo junto — Falei.

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Gostaram?

Até a próxima 😘