Capítulo Quarenta
Marshall Aldrin:
Estou noivo, e não consigo conter minha felicidade. Pareço um completo bobo, com um sorriso enorme estampado no rosto o tempo todo. Quando contei à minha família, eles comemoraram e, graças ao fato de eles já saberem sobre meus planos, não fiquei surpreso quando Kit, Kelsey, Lilly e Megan apareceram com um enorme álbum de casamento horas depois da revelação.
Nos últimos dias, tenho experimentado o conforto de alguém que está planejando seu casamento. Todos os dias, durmo até tarde e tomo decisões, com as meninas fazendo apenas perguntas básicas para Daniel, que, quando responde errado, leva um tapa de Lilly. Estou completamente imerso nesse estilo de vida hedonista dos últimos tempos.
Então, um dia, recebi um telefonema que me tirou desse estado de relaxamento.
— Senhor Marshall, há algo que precisa da sua atenção — disse o assistente do diretor da escola de David e dos gêmeos, que recentemente ingressaram em uma escola Mundana. Sua voz tinha um tom profissional e sério. A escola havia ligado de repente, pedindo que comparecêssemos lá, mas o Senhor Vamps estava fora da cidade em uma viagem de negócios que levaria um bom tempo, então ele não poderia retornar a tempo. — Segundo nossos registros, você é o responsável quando o pai de David não está disponível.
— Não seria apropriado eu ir, certo? — Perguntei a Megan e às garotas.
— Se você foi designado como a pessoa responsável pela educação de David quando o pai dele não está presente, então deve ir — disse Kit.
— Concordo com ela. Você é a pessoa responsável pelo David quando meu pai não está aqui — concordou Lilly, estalando a língua de leve.
— Tudo bem, então — respondi, percebendo que elas estavam surpresas com minha prontidão em ajudar.
Levantei-me e fui procurar Daniel para pedir que me levasse até a escola, ouvindo as garotas reclamarem de mim enquanto riam do meu jeito peculiar. Eu podia sentir que, mesmo com o casamento se aproximando, as responsabilidades da vida cotidiana não deixariam de fazer parte dela.
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Meu cérebro trabalhava a mil por hora, enquanto o de Daniel parecia estar à beira de um colapso. Era a primeira vez que ele comparecia à escola como pai, juntamente comigo. Normalmente, eu e o Senhor Vamps cuidávamos das questões relacionadas aos nossos filhos.
O carro já havia adentrado o campus escolar, e embora eu sentisse que algo estava errado, não havia como dar meia-volta e sair. Nossa única opção era nos prepararmos da melhor forma possível e seguir em frente.
Os professores responsáveis aguardavam do lado de fora do prédio do ensino médio, e suas expressões de desagrado eram evidentes. Assim que nos viram saindo do carro, seus semblantes se transformaram em pura perplexidade.
— O que exatamente aconteceu? — indaguei à diretora, ignorando os demais professores.
— Venham para a minha sala — ordenou a diretora, liderando o caminho até seu escritório. Durante o percurso, ela nos informou sobre o incidente.
A diretora era uma loba que havia assumido o cargo cerca de um ano atrás. Quando estávamos procurando escolas para David, pedi sua ajuda e orientação.
Ao chegar à escola naquela manhã, David testemunhou alguns alunos sendo assediados por outras pessoas. Num acesso de raiva, ele se lançou em direção aos agressores.
David não costumava se envolver em confrontos, mas naquele momento ele o fez. Quando ameaçaram agredi-lo, Hampher interveio e pôs fim à situação.
— Agora entendo o que aconteceu! — declarou Daniel.
— A situação ficou tensa, e essas pessoas eram mundanos. Felizmente, apenas os alunos sobrenaturais estavam presentes, mas essas pessoas estão ameaçando expor a escola por ter "aberrações" entre seus alunos — explicou a diretora. — A maioria acredita que deveríamos tomar medidas drásticas contra os agressores, até mesmo a violência.
Os alunos da escola, incluindo David, eram conhecidos por seu forte senso de justiça, algo que eu admirava profundamente.
Após compreender o que havia ocorrido, um pensamento surgiu em minha mente. Eu sabia que a diretora me havia convocado aqui porque contava com a ajuda de Daniel para fazer com que essas pessoas esquecessem o incidente.
— Então vocês querem usar Daniel para apagar a memória deles? — comentei, e a diretora assentiu. — No entanto, o que esses agressores fizeram não pode ficar impune.
— Eu cuidarei disso. Só peço que façam com que eles esqueçam completamente o que aconteceu esta manhã — solicitou a diretora. Eu lancei um olhar desconfiado ao observar as pessoas na sala, enquanto Hampher se esforçava para conter sua sede de vingança.
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Levou bastante tempo até conseguirmos afastar aqueles agressores, e depois disso, alguns lobos surgiram para levá-los embora. Não sabia ao certo o que fariam com eles, mas a decisão já não estava mais em minhas mãos.
— Acho que agora é hora de levar as crianças para casa. Pode chamar meus filhos também — pedi à diretora, que assentiu. Daniel mal conseguia conter sua felicidade ao ouvir minhas palavras, e sua expressão era quase festiva, o que me fez rir.
Janet apareceu, seus cabelos soltos e uma pulseira cor de rosa em seu pulso, um presente de uma amiga. Desde que passara pela transição de escamas há alguns dias, ela estava incrivelmente serena.
Taylor a seguia, usando um colar idêntico ao que Janet ostentava, presente de nosso avô.
— Todos os alunos submundanos estão comentando sobre a briga de Hampher com aqueles mundanos — Janet relatou, e Taylor concordou.
— As emoções estão totalmente exaltadas. É melhor dizer que você resolverá isso, diretora — Taylor acrescentou, e eu os puxei para fora. Realmente, esses dois eram a cara do Daniel, até mesmo na forma direta de lidar com as situações.
Daniel olhava com orgulho para nossos filhos, e dei um tapinha em seu ombro para lembrá-lo de que aquele não era o momento para exibir sua satisfação. Era uma época importante, um momento para aproveitar em família, e a felicidade nos rostos de Janet e Taylor tornava tudo ainda mais especial.
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Quando chegamos à mansão dos Vamps, meu fiel companheiro, Utily, estava ao lado do meu pai. O cachorro latiu na nossa direção, mostrando sua alegria.
Desci do carro e me aproximei deles, enquanto Kraes Dramar observava com uma sobrancelha arqueada.
— Ainda está com esse vampiro? — Ele perguntou, sem demonstrar qualquer emoção. — Ouvi rumores de que vocês vão se casar.
Revirei os olhos, já prevendo de onde vinha a fofoca.
— Sei que foi o Vapa Kraesel quem contou. Nos últimos dias, o tenho visto voando com a motocicleta. Ele me nomeou como seu guarda-costas? Está agindo como um pai superprotetor. — Falei com um toque de sarcasmo.
Kraes apenas sacudiu a cabeça.
— Ele diz o que ouviu, mas não é por isso que ele está em missão no mundo mortal. — Kraes explicou. — Mas não vim aqui para falar do meu subordinado.
— Então, para que veio? — perguntei, fazendo carinho atrás da orelha de Utily, que latiu alegremente.
— Quero que tome cuidado quando se transformar em vampiro. A barreira entre a vida e a morte está completamente desequilibrada. — Kraes advertiu, estalando a língua. — Tome cuidado, minha criança. Os espíritos estão mais revoltados do que o normal e podem representar um perigo durante sua transição.
— O que quer dizer com isso? — indaguei.
— Um dos deuses responsáveis pela magia do caminho dos mortos desapareceu, e a magia se descontrolou. Os mortos estão retornando, e isso afetou o equilíbrio do mundo como uma máquina quebrada, com peças faltando. — Kraes continuou sua explicação. — O mundo é assim; quando Anúbis desapareceu, a magia do caminho dos mortos saiu de controle. Os outros deuses associados ao mundo dos mortos só têm autoridade sobre seus próprios territórios, não podem interferir no domínio alheio. O caminho de Anúbis ficou parado, sua magia descontrolada não apenas impede os mortos de segui-lo, mas também causa desordens no mundo dos vivos.
— Então, mortos voltando e fantasmas extremamente irritados com tudo isso. — Comentei, e Kraes assentiu.
— Seu amigo vampiro está ciente disso, e tudo foi revelado aos outros através de um youkai que faz parte do Livro dos Ocultos. — Ele continuou a explicar. — Tenha cuidado quando decidir passar pela transição para se tornar um vampiro, até que uma solução para esse problema seja encontrada.
Aproximei-me dele e o abracei, surpreendendo-o com o gesto.
— Obrigado por se preocupar comigo. — Sussurrei emocionado. — Pai, realmente, obrigado.
Ele hesitou por um momento antes de responder.
— Só estou dizendo para deixar esse assunto de lado, Marshall. — Ele disse. — Lembre-se de que, ao se tornar imortal, você perderá sua família e ficará sozinho para sempre.
— Você está errado. Terei o Daniel e a família dele até o fim, assim como meus amigos feiticeiros e vampiros. — Respondi com convicção. — E terei você ao meu lado, pai. É por isso que quero que você venha ao meu casamento como meu pai, não como o segundo no comando da Caçada Selvagem.
Pela primeira vez desde que conheci meu pai biológico, ele ficou em silêncio. Depois de um instante, seus braços me envolveram com força, e senti a emoção daquele momento único nos abraços calorosos que trocamos.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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