Capítulo Onze

Daniel Vamps:

Marshall e Ricky continuavam sua luta acirrada no jardim quando me materializei na cozinha de casa. Observando a cena, não pude deixar de notar que Marshall havia acertado Ricky com uma flecha em uma área sensível.

Apesar de Ricky ser um guerreiro, ele tinha um jeito aristocrático de lutar, mantendo sua dignidade mesmo nas derrotas que o magoavam profundamente.

Ao meu lado, Tedy segurava um livro e comentava sobre a luta.

— Está observando seu companheiro acabar com a raça do Ricky? — Tedy provocou, olhando para a luta com interesse. — Vai voltar a ser o Daniela que se apaixonava rapidamente?

— Ele não é meu parceiro, lembra que parei de acreditar nisso há muito tempo. Todas as vezes, acabei machucado porque nenhum dos meus amantes desejava abandonar sua vida mundana para se tornar imortal. — Respondi, estalando a língua. — Vejo como nosso pai também sofreu por causa da mãe. Prefiro não ter outra pessoa no meu coração para acabar como ele.

Voltei minha atenção para a luta. Marshall estava mais ágil e rápido do que ontem à noite, surpreendendo Ricky com seus movimentos.

— Ele ficará conosco por muito tempo. Acho que deveria conversar com ele sobre seus assuntos em vez de ficar apenas observando. — Tedy sugeriu, abrindo seu livro.

Balancei a cabeça em negação, mesmo que meu irmão nem tenha notado minha presença, ele desapareceu em segundos.

Desisti de ficar ali e me dirigi a outro lugar na casa. Parei diante de um retrato gigante de nossa família reunida, uma imagem que evocava muitas memórias. Coloquei minha mão sobre o quadro pesado e ele se abriu revelando um corredor de pedra iluminado com pedras encantadas.

Desci uma escada que se aprofundava no solo e me deparei com duas portas no final: uma levava ao quarto do meu tio Aart, que permanecia fechado, e a outra ao seu laboratório. Abri a porta do laboratório e entrei, encontrando-o abandonado desde que meu tio partira em sua misteriosa viagem pelo mundo.

Os frascos estavam marcados com os nomes de suas pesquisas, e, por fim, encontrei um grimório que falava sobre uma cura para o vampirismo. A ideia me intrigou, mas parecia que, até o momento, a cura só funcionava até um determinado ponto, após o qual o vampiro acabava morrendo.

Procurei por mais informações sobre a viagem de meu tio, mas não encontrei nada. Ele era especialista em esconder seus rastros e parecia gostar do mistério.

Ao sair do laboratório, encontrei Marshall, que me lançou um olhar de desdém.

— Olha, parece que finalmente decidiu sair de casa. — Debochou, e eu revirei os olhos.

— Como eu já disse, uma alma sem paixão é aquela que não se encaixa em seu mundo. Nunca me prendi a ninguém e vejo que é o melhor para as pessoas esquecerem de mim. Você já sentiu essa sensação, quando sua percepção da realidade e do entorno parecem desconexas com tudo que faz? — Perguntei, estralando a língua.

— Eu já senti, mas não é normal que todos experimentem isso pelo menos uma vez? Como todo mundo é diferente, suponho que seja normal que todos fiquem confusos ou desapontados com as diferenças entre os pensamentos uns dos outros. — Marshall refletiu.

— Você é simplesmente estranho. Não há muitos que tenham o mesmo nível de desapego que eu. — Ri, embora não estivesse elogiando.

— Você não está me elogiando, está? — Marshall perguntou, erguendo uma sobrancelha.

Antes que eu pudesse responder, a voz de Lilly surgiu, e eu fiz uma reverência a Marshall.

— Espero que tenha uma boa viagem de volta para sua casa com a companhia da minha irmã. — Lilly disse, passando por mim. Recebi dela um olhar que claramente dizia que eu era idiota.

Houve um tempo em que Lilly e eu éramos unidos como irmãos protetores, mas depois de um tempo, ela nunca sabia onde eu estava ou o que estava fazendo. Ela achava minha existência fútil quando passava longas noites envolvida em bebedeiras e relações casuais.

Francamente, não entendia por que, de repente, me sentia tão inclinado a refletir sobre tudo isso, algo que não fazia há mais de cinquenta anos.

— Eu não sei se está tudo bem para mim dizer isso, mas eu realmente sou um ser com muito pouca motivação para fazer algo útil. É realmente tão fácil para as pessoas mudarem de um jeito tão rápido. Não pode ser ajudado. Mesmo que eu não consiga encontrar nenhuma razão, eu sempre posso apenas continuar com a vida que já conheço sem arrependimentos. — Falei, enquanto observava Marshall se afastar.

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Mais tarde, encontrei-me deitado no meu quarto, preso entre a decisão de mexer no celular ou apenas contemplar o teto. O tédio rondava implacavelmente.

De repente, meu pai se materializou no meio do quarto, lançando-me um olhar de pura perplexidade, como se eu fosse um enigma indecifrável.

— Por que você não sai um pouco de casa? Não deveria passar o tempo todo trancado no quarto. — Ele sugeriu, com um toque de preocupação em sua voz. — Vá comprar algumas coisas para você e sair, pelo menos quando eu pedir.

Ele estava certo, eu precisava urgentemente de algumas roupas novas. Com um gesto, ele me entregou algum dinheiro.

— Posso simplesmente hipnotizar os funcionários da loja para pegar as roupas que preciso. — Sugeri, mas meu pai me lançou um olhar que dizia "como você pode ser tão ingênuo?".

— As lojas hoje em dia têm câmeras, Marshall. Como pretende escapar dessa parte? — Ele questionou, cruzando os braços e soltando um sorriso debochado.

— Você tem uma resposta para tudo, não é? — Respondi, saindo de casa.

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Caminhei por diversas lojas, mas nenhuma roupa realmente me agradou. No entanto, parei em frente a uma loja em particular, onde imediatamente me deparei com uma peça que me fez lembrar de Marshall.

Na vitrine, um manequim estava estrategicamente posicionado, com a cabeça levemente inclinada para o lado, como se estivesse prestando atenção em algo. As roupas que vestia eram extremamente estilosas, indo desde botas de cano alto até uma calça jeans com um rasgo casual no joelho direito, combinando com uma camisa branca e uma jaqueta marrom.

Estudei o manequim atentamente, percebendo que aquelas roupas cairiam perfeitamente bem em Marshall. Adentrei a loja, onde o aroma de velas não queimadas e tecidos recém-fabricados permeava o ar. Passei os dedos pelos diversos tipos de tecido, do algodão à seda, antes de encontrar uma blusa de caxemira que me chamou a atenção.

Com a blusa e as calças sob o braço, notei uma funcionária se aproximando.

— Posso indicar um provador para o senhor? — Ela perguntou, visivelmente entusiasmada.

— Adoraria, e por favor, também separe um conjunto igual ao que o manequim está vestindo. É para um amigo, embrulhe como presente. — Respondi com calma. — Eles podem servir, mas ele é um pouco menor que eu.

A funcionária me levou até três compartimentos com cortinas no fundo da loja.

— Chame-me se precisar de alguma coisa. Vou verificar o tamanho do seu amigo e trazer as roupas. — Ela disse antes de fechar a cortina do provador.

Após experimentar as roupas e me certificar de que tudo ficava perfeito, saí do provador e encontrei a vendedora com uma sacola contendo as roupas iguais às do manequim.

— Todas serviram bem? — Ela perguntou, e eu assenti. — Aqui estão as roupas que o senhor pediu.

Agradeci e fui para o caixa, onde paguei pelas roupas, decidindo que já era hora de levar essas surpresas para Marshall.

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Gostaram?

Até a próxima 😘



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