Capítulo Dezoito

Marshall Aldrin:

Eu estava pálido agora, mas meus olhos brilhavam como se tivesse testemunhado um milagre. Enfrentar um caçador feérico tão antigo, e ainda mais, meu próprio pai, era uma experiência inimaginável. No entanto, não senti que algo fundamental dentro de mim mudara por causa desse encontro. Um calafrio percorreu subitamente minhas veias, mas não emiti nenhum som. Não conseguia me mover; apenas senti os dedos de Daniel entrelaçados nos meus.

Ele me pegou em seus braços, e em um piscar de olhos, estávamos em seu quarto, que estava coberto de poeira. Parecia que o quarto tinha permanecido intocado por anos. Em um ímpeto selvagem, Daniel começou a arrumar tudo. As roupas dele que estavam espalhadas no chão desapareceram, magicamente indo parar em seu guarda-roupa. O quarto estava completamente diferente do que eu imaginava quando ele estava fora de si.

Ele percorreu o cômodo, abrindo as cortinas empoeiradas e as janelas, permitindo que a luz do dia inundasse o quarto ainda mais. As cobertas estavam puxadas, com uma fina camada de poeira sobre a colcha.

Quando o cão do meu pai entrou, pulando na cama ao meu lado, uma nuvem de poeira se ergueu, me fazendo tossir enquanto agitava a mão inutilmente para tentar afastá-la mais rápido. Daniel permaneceu de costas para as janelas abertas, deixando a luz transformar as partículas de poeira em pequenas criaturas dançantes.

Olhei para o cão, cujos pelos eram negros e olhos eram vermelhos, terríveis e ferozes enquanto observava o quarto, como se visse através das paredes ou me encarasse como um pedaço de carne. Um dos livros que peguei emprestado de Tedy mencionava que algumas características atribuídas aos cães de caça feéricos incluíam uma força e velocidade sobre-humanas, atributos fantasmagóricos, voracidade, tenacidade e inteligência.

— Como você está? Foi um choque enorme vê-lo, especialmente pela primeira vez, e sentir a energia que irradia dele. — Daniel perguntou, e notei que agora ele estava a uma distância mais curta de mim.

— Estou melhor. — Respondi, e me surpreendi quando o cão deitou a cabeça no meu colo. Automaticamente, comecei a fazer carinho nele. — Ele é bem diferente do que imaginei.

Daniel riu, e aquilo o fez mostrar suas presas.

— Acredito que todos têm a impressão de que eles seriam horripilantes, talvez cheios de cicatrizes. — Daniel comentou. — Os livros costumam retratar os membros da Caçada Selvagem apenas como fadas.

Concordei com sua observação. Os livros realmente não davam muitos detalhes sobre a aparência dos feéricos.

— Vamos, vou levá-lo e sua família de volta para casa. — Daniel sugeriu, sorrindo, enquanto se aproximava de mim lentamente, com um olhar ocasional para o cão.

— Obrigado, mas prefiro ir com o carro alugado que minha mãe pegou. — Respondi, notando que ele parecia prestes a discordar. Estendi a mão e toquei o antebraço dele. — Não quero pensar muito nesse encontro agora, e tenho certeza de que você também não. Acho que, por alguns instantes, me viu como um feérico, mas ainda sou eu e, ao mesmo tempo, não sou. Deixe-me ter um pouco de tempo normal com minha mãe e Tony. Amanhã ainda teremos muito tempo juntos.

Ele concordou, embora tenha feito um biquinho que durou apenas alguns segundos.

— Tudo bem. Mas em todos os seus treinamentos com Kraes, estarei presente. Se perceber que ele está sendo muito rigoroso com você, vou interferir. — Ele declarou, e achei isso adorável, o fato de ele querer me proteger.

Então, meus pensamentos voltaram para o momento em que ele me puxou para ficar atrás dele, agindo como meu protetor, e nossos dedos se entrelaçaram.

— Daniel... — Comecei, e ele fez uma expressão boba.

— Só estou tentando lembrar que vi você enfrentar aqueles dois caras antes, e eles pareciam assustados com o que aconteceu entre vocês. — Daniel disse, rindo, o que arrancou uma risada minha, fazendo o cão ao meu lado levantar a cabeça preguiçosamente.

Deixamos o clima mais leve com a risada compartilhada, enquanto o quarto lentamente se iluminava com a luz do sol, transformando as partículas de poeira em pequenas dançarinas. Era um momento de calma antes do que estava por vir, e eu estava grato por ter Daniel ao meu lado.

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Por volta das três da tarde, o tédio havia se instalado em minha casa como um visitante indesejado. Minha maior preocupação era acalmar minha mãe, afinal, não era nada fácil para ela ver seu ex, um feérico capaz de encerrar sua vida em questão de segundos. Tony havia insistido que saíssemos para um bom almoço, na tentativa de aliviar um pouco a tensão. Após retornarmos, me acomodei em meu quarto e passei a tarde mascando chiclete enquanto verificava meus e-mails.

Eu sabia que tinha trabalho a fazer, mas simplesmente não conseguia encontrar motivação. Além disso, havia a questão do projeto do meu avô, que ele desejava que eu participasse. Não havia um prazo definido para entregá-lo, e eu não estava disposto a quebrar a cabeça com isso.

Os últimos trinta e-mails que chegaram eram comunicações da empresa, listando algumas tarefas que precisavam que eu realizasse. Quando terminei de ler os artigos, por volta das seis horas, percebi que não tinha vontade de fazer mais nada naquela noite. Desliguei o computador e o afastei, sentindo-me completamente exausto.

O cão permaneceu ao meu lado o tempo todo, lembrando-me de que precisaria comprar comida para ele no dia seguinte.

Então, ouvi um leve batimento na minha janela e virei para ver Daniel ali, pedindo para que eu a abrisse. Ele estava vestindo calça jeans, uma camisa de botões e uma jaqueta impermeável vermelha. No dedo anelar, ostentava um anel dourado. Seu cabelo escuro estava ligeiramente úmido, provavelmente porque sua velocidade ajudou a secar os fios. Caminhei até a janela e a abri, permitindo que ele pulasse para o meio do meu quarto.

O cão latiu, mas Daniel o ignorou.

— Você tem um tempo para conversar? — perguntou, e eu assenti.

— Sim, claro. — Respondi, e ele retirou o anel do dedo, estendendo-o para mim.

— Antes que pense em algo estranho, meu tio fez um feitiço para transferir todas as coisas daquele baú de herança para este anel. — Daniel explicou, e peguei o anel, colocando-o em meu dedo. — Achei que nunca veria você usando um anel em uma das mãos.

Revirei os olhos, percebendo que ele parecia cansado e abatido.

— Você tem certeza de que não precisa do meu sangue? Daniel, você parece completamente exausto. — Falei e estendi o pulso em sua direção, mas ele recusou.

— Isso me prenderia a alguém, como poderia ter certeza de que essa pessoa seria minha única para sempre? — Ele respondeu, virando-se para olhar para o lado de fora. — Nenhum dos meus amantes, que eu pensei serem meus companheiros, quis abrir mão de sua mortalidade, o que me tornou cada vez mais amargo. Então, um dia, decidi que não deixaria mais essa maldição ditar minha vida, já que ninguém parecia querer ficar assim comigo.

— Você tem medo de que eu nunca queira ficar com você para sempre, é isso? — Falei, vendo seus ombros ficarem tensos.

Então, o abracei por trás, percebendo que ele ficava ainda mais tenso em meus braços.

— Eu nunca vou te abandonar. Quando chegar o momento, vou querer ficar ao seu lado para sempre. — Declarei, mas Daniel não respondeu, apenas afastou meus braços de seu corpo.

— Depois de tanto tempo, é difícil acreditar novamente. — Disse antes de pular pela janela.

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Gostaram?

Até a próxima 😘

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