Prólogo

Era mais um dia normal. O rei dedicava seu tempo a cuidar de suas flores douradas que embelezavam o solo fértil da sala. Uma pelagem branca cobria todo o seu corpo másculo. Cujo era sobreposto por uma longa capa púrpura. No topo de sua cabeça, sua coroa reafirmava seu papel naquele reino subterrâneo.

- Dum-dee-dum-dee-dum - ele cantava baixinho, mas logo foi interrompido ao sentir uma presença familiar na entrada da sala do trono.

Seu olhar não deixou as flores ao indagar o visitante: 

- O que desejas, antiga rainha do subsolo?

Com passos pesados, adentrou na sala uma madame de semblante semelhante ao dele, com exceção da falta de cabelo e barba.

Um manto roxo cobria todo seu corpo esbelto, e no topo dele tinha uma espécie de runa desenhada.

- Eu vim convencer um rei idiota a parar com seu plano insano. Como eu devia ter feito há bastante tempo - começou, com uma expressão determinada - Não vou deixar que mais nenhuma criança inocente seja sacrificada. Desista dessa loucura Asgore!

Sem se virar para a visitante, o rei continuou a podar suas flores.

- É um sacrifício pequeno pela liberdade que nosso povo tanto merece, Toriel.

- E VOCÊ ACHA QUE AQUELAS CRIANÇAS MERECIAM O QUE VOCÊ FEZ COM ELAS?! 

O ódio percorreu todas as veias de Toriel. Lágrimas começaram a se formar em seus olhos. Ela rapidamente as coleta com as costas de suas largas mãos.

- Os humanos são os responsáveis por nos prender no subsolo. Eles não merecem nenhuma piedade - podia-se ouvir um leve tom de melancolia em sua voz.

- DIGA ISSO OLHANDO NOS MEUS OLHOS, SEU COVARDE! 

O rei permaneceu estático.

- Você está cego, Asgore. O caminho que você está trilhando vai resultar em nada mais que a destruição de todos nós. Nossos filhos ficariam horrorizados. Eu… Eu lhe imploro, pare com essa loucura!

As últimas palavras preencheram o rei de culpa, porém ele nada disse. Sua mão forte vai de encontro com um pingente dourado em formato de coração em seu pescoço. “Já é tarde demais para desistir” pensou.

- Muito bem. - Toriel se virou e caminhou até a saída da sala; parou na frente da porta; respirou fundo e disse:  -  Essa é a última vez que pedirei que coopere.

Asgore soltou um suspiro de alívio ao ouvir o bater da porta, mas logo seu coração parou ao escutar uma pancada estridente sobre ela. 

Ele finalmente se pôs a encarar suas costas, apenas para ver, em uma fração de segundos, a enorme porta voar, se estraçalhando contra seu trono. Fragmentos dos dois se espalharam por toda a sala, despedaçando as flores douradas ao seu redor.

- Devo ir atrás dela? - uma voz feminina questionou, camuflada nas sombras com um tom de desafio.

Asgore encarava melancolicamente seu jardim, mas não demorou a responder.

- Não, Undyne. Deixe-a ir. Ela não é uma ameaça.

A figura sombria o encara pasma, depois seu olho torna para o que restava do trono e da porta estilhaçados no chão. Podia-se ver uma marca de punho cravado nela

- Você tem certeza?

Asgore gargalhou de leve. Seu olhar, contudo, estava nublado.

- Se um dia ela retornar, eu irei me responsabilizar.

Finalmente saindo de seu esconderijo, Undyne se posiciona na frente do rei e encara com uma expressão frustrada.

- E para o quê você acha que serve sua guarda real, seu paspalhão? Se ela retornar, não terá a menor chance! 

Asgore pareceu se animar um pouco ao ver o sorriso largo de sua amiga. Ele posiciona sua mão forte sobre o ombro dela.

- Eu gostaria de pedir que pegasse leve com ela, porém Toriel é forte. Pegar leve é um erro que você não pode cometer. Ou vai acabar no chão comendo poeira como eu!

Ele não resistiu a gargalhar ao se lembrar de uma divertida lembrança.

Undyne ficou tentada a perguntar sobre, mas o rei logo começou a caminhar para o outro extremo da sala.

- Você pode ir agora, Undyne. Eu cuidarei dessa bagunça sozinho depois.

Asgore sorri, retornando ao seu alegre tom habitual. Como se nada tivesse acontecido.

Undyne encarou o amigo por mais alguns instantes, soltou um suspiro derrotada, e então disse: 

- Fique bem, okay, grandalhão? 

Ela então desapareceu como o vento.

Asgore se atira ao chão ao sentir a presença de Undyne esvair. “Faltava tão pouco para finalmente acabar tudo…” lamentou em seu pensamento.

Ele fecha os olhos envelhecidos. Um sorriso sincero se forma em seu fatigado rosto ao pensar em memórias antigas. Quando seus filhos eram vivos, e sua esposa era feliz ao seu lado. Quando tudo era perfeito. 

Sua expressão se entristece sabendo que tais tempos jamais voltarão.

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