28 • não! te quero nessa vida

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JEON JUNGKOOK

| ainda na noite anterior |

O Ji me avisou que estava indo a um jantar com o pai, e era nítido que ele não queria ir. Não só isso, essa viagem parece muito uma tentativa de nos manter afastados.

Meu coração aperta em angústia ao lembrar quanta coisa o Jimin tem passado, e não sai da minha cabeça que é culpa minha, porque realmente é. Ele é seguido quase o tempo todo, para não ter chances de me encontrar.

Eu realmente não consigo entender como alguém pode ter um comportamento assim, seu pai age como se estivéssemos cometendo um crime.

Terminei de lavar meu rosto, peguei uma toalha e sequei com toques lentos. Olhei para o meu reflexo no espelho, ainda com a cabeça inundada de pensamentos.

— Tantas pessoas no mundo, e fui me apaixonar justo por um cara. E pra ajudar, ainda é famoso...

Coloquei uma camisa, saí do quarto e fui em direção à cozinha.

O Tae estava fazendo janta pra nós, enquanto o Jin estava na sala com o Bam.

— Você quer ajuda? — Perguntei enquanto roubava um pedaço de carne de porco da panela.

— Coloca os pratos na mesa.

— Ok, capitão. Só isso?

— Uhum.

Arrumei a mesa e sentei com o Jin no sofá pra tentar jogar videogame. Era "tentar" mesmo, porque ele nunca aceita perder, ainda mais em jogos de luta.

E depois de alguns minutos...

— Você tá roubando, olha aí... mas que caralho, Jk! — Ele reclamava enquanto jogava o controle e batia com as mãos no sofá.

Quanto mais ele reclamava, mais eu ria e provocava ele.

— Não tenho culpa que você é ruim, perdedor.

O Bam corria de um lado para o outro, e os brinquedos dele estavam espalhados pela casa.

— Me dá esse controle, vamos trocar. Você tá trapaceando.

— Sai fora, Jin!

Ele veio pra cima e começou a puxar o controle da minha mão, e eu puxei de volta mais ainda, enquanto coloquei o pé nele, esticando a perna pra afastar ele de mim. O Tae voltou da cozinha nesse momento, com uma panela nas mãos e um olhar indignado pra nós.

— Que porra, tô parecendo um pai e vocês os filhos. Olha essa bagunça.

Ele colocou a panela na mesa. O Jin soltou rápido do controle e foi em direção à mesa, mas ganhou um tapa na mão assim que pegou na tampa.

— Vão arrumar essas coisas, vocês dois. Se não, só eu vou comer. Bam, para com isso você também!

Ele estava mordendo um brinquedo barulhento enquanto corria de um lado para o outro, e parou no mesmo momento que o Tae falou.
Seu olhar pra mim e para o Jimin era quase como uma faca afiada pronta pra acertar nós dois.

Levantei do sofá e arrumamos tudo em segundos.

— Ótimo, agora nós vamos jantar.

Ele é o mais novo entre nós, mas sempre foi o com mais juízo, mais que eu, inclusive.

Sentamos e começamos a comer, e como já era de imaginar, estava delicioso.

Depois que comemos, cada um foi para o seu quarto. Eu fiquei na sala assistindo tv enquanto o Bam continuava correndo pelo apartamento, arrastando o mesmo brinquedo barulhento que ganhou do Jin.

Enviei algumas mensagens para o Jimin, mas ele não me respondeu mais. Sua última mensagem foi comentando que estavam saindo do hotel pra irem ao restaurante.

— Será que o pai dele soube que nos encontramos com a ajuda do Namjoon? — Isso me deixou preocupado, afinal, colocaria nós três em mais problemas, e envolver o Namjoon seria péssimo.

Eu sentia meus ombros rígidos, e a tensão começava a tomar conta de mim.

— Merda, tô pilhado demais. É um jantar, Jungkook, por isso ele não está respondendo... Tenho certeza que o pai está perto, logo ele responde. — Eu tentava encorajar a mim mesmo.

Fiquei esperando alguma resposta enquanto assistia, mas depois de um tempo olhando para a televisão, acabei pegando no sono no sofá.

[...]

Meus olhos se abriram lentamente.

Olhei para a varanda e estava tudo escuro através da cortina. Em seguida, olhei no celular e era 01:12h da manhã. O pouco que dormi na sala foi o suficiente pra ter vários pesadelos, e isso nunca acontece comigo.

Meu estômago estava doendo, e isso me fez despertar. Levei a mão no abdômen enquanto tentava entender o que fiz pra essa dor vir do nada.

Peguei o celular novamente e desbloqueei a tela, e, ainda não havia respostas do Jimin. Eu queria ligar pra conferir se estava tudo bem, mas a essa hora, eu vou só atrapalhar ele.

Eu não deveria ter dormido.

Meu coração estava apertado e implorando por essa ligação.
Com minha mente dizendo que não, mas meu coração dizendo que sim, eu não aguentei e liguei uma vez.

Chamou até cair.

— Não posso tentar mais, eu vou acabar acordando ele.

Meu estômago doía ainda mais forte, e a dor estava piorando em questão de segundos. Fui até o banheiro me apoiando pelas paredes, e lá, procurei algum remédio no armário. Peguei o primeiro que achei e fui até a cozinha pra tomar.

— Preciso dormir pra esquecer essa dor... — Falei comigo mesmo e fui para o quarto. O Bam me seguiu e foi logo atrás.

Depois de rolar na cama com dor e com a respiração pesada durante um bom tempo, consegui dormir.

[...]

Acordei assustado com murros na porta do meu quarto e gritos do Jin e do Taehyung. Não era exagero, realmente eram murros e gritos.

JUNGKOOK, ACORDA CARALHO!

Levantei correndo e abri a porta desesperado assim que me dei conta que não era um sonho.

— Que merda, Jungkook, eu tô te chamando a muito tempo! — O Jin levantou a voz comigo.

— Que porra aconteceu? Pra que todo esse escândalo?

— O Jimin sofreu um acidente de carro, de madrugada, e você tá aí dormindo!

— E-espera aí, o que você tá falan... — Ele me entregou o celular dele, e tinha um site de notícias aberto, falando sobre isso. Junto, tinha a foto de um carro destruído.

— Não, isso... isso não é verdade... — Voltei pra dentro do meu quarto desesperado procurando meu celular e não achei. Corri para a sala e o aparelho estava em um dos cantos do sofá.

Havia mais de trinta chamadas perdidas do Namjoon e da Hyejin. Eu sentia meu corpo perder as forças e minha visão ficando turva. O Tae, que estava próximo de mim, me segurou logo em seguida e me ajudou a sentar no sofá.

Com as mãos trêmulas, retornei para a mãe dele, mas só chamou. Liguei em seguida para o Namjoon, e também, sem respostas.

Eu estava suando frio e meu coração batia acelerado no meu peito, como se tentasse pular pra fora do meu corpo.

— Eu preciso ir até lá.

— Como você vai para o Japão assim, nesse estado?— O Tae perguntou.

— Isso não importa, eu não vou ficar aqui. —  Levantei e fui me apoiando nas paredes até alcançar meu quarto. Peguei minha carteira, voltei para a sala, e já estava indo em direção a saída.

— Jungkook, espera, você tem que se acalmar. — O Jin tentava me acalmar, mas era em vão. Eu nem estava processando ou conseguindo raciocinar. Eu só queria ir até ele.

Meu celular tocou enquanto eu ia em direção a porta. Peguei rápido e vi que finalmente era o Namjoon.

— Namjoon, o que aconteceu? — Perguntei desesperado, ansiando que ele falasse que tudo não passava de uma mentira, uma brincadeira de mal gosto.

— Jungkook, o Jimin... — Ele parou e eu ouvi ele chorar baixo na ligação.

— É verdade?

— Infelizmente sim... Ele pegou o carro ontem e sumiu. Recebemos uma ligação de madrugada nos avisando do acidente.

Esse momento foi como se um abismo estivesse se abrindo abaixo dos meus pés, me puxando para a escuridão, mais uma vez.
Da mesma forma que meu coração acelerava cada vez mais, meu corpo ia ficando a cada segundo, mais fraco. Eu comecei a chorar com ele na linha.

— O-onde ele está? — Eu tentava falar.

— Agora ele está fazendo uma cirurgia. Resgataram ele com vida, mas, seu estado ainda é grave...

— Eu tô indo aí, me manda o endereço do hospital. — Desliguei a chamada e fui em direção a porta.

— Eu vou te levar até o aeroporto, já que não tem como te segurar. — O Jin pegou a chave do carro dele e saímos depressa.
No caminho pegamos trânsito, muito trânsito. Ele mudou o caminho pra tentar chegar mais rápido.

Assim que chegamos no aeroporto, eu fui correndo comprar a passagem. O próximo voo sairá em uma hora, e eu não tinha outra escolha. Comprei e fiquei sentado esperando. O Jin preferiu ficar comigo até a hora de embarcar.

— Jin... e se eu perder ele? — Eu raramente chorava na minha vida, mas nesse momento, qualquer palavra que eu falava me fazia chorar.

— Não vai. Confia, Jk. Vocês ainda têm muito o que viver juntos. Vai dar tudo certo, e logo ele estará de volta.

Esses sessenta minutos que tive que esperar pelo voo pareciam dias de espera. Cada anúncio que o guichê fazia de embarque, meu coração se apertava. Fui mantendo contato com o Namjoon por mensagem enquanto isso.

Depois de um pouco mais de duas horas, meu vôo que já estava atrasado, chegou. Me despedi rapidamente do Jin e embarquei. Será um vôo de duas horas, duas horas que eu vou ficar me corroendo em desespero até conseguir chegar no Japão.

[...]

O avião finalmente desembarcou no aeroporto internacional de Tóquio. Fui rápido em direção a saída e chamei um táxi por aplicativo.

Assim que cheguei no hospital, vi a quantidade de fãs e imprensa que estavam na frente do hospital. Era muita gente mesmo, e vários fãs chorando e orando pela sua recuperação.

Desci rápido do carro, passei entre as pessoas e corri até a recepção. Eu já deveria imaginar, as recepcionistas não entendiam meu idioma e eu não entendia o delas. Isso piorou meu estado de desespero.

Virei as costas e comecei a ligar para o Namjoon. Tive que tentar mais de uma vez pra conseguir falar com ele.

— Você chegou?

— Sim. Vem aqui na recepção me ajudar, ninguém entende coreano e não me deixam entrar.

— Estou indo.

Esperei alguns minutos, e ele apareceu. Falou algo em japonês com as recepcionistas e entramos logo depois.

— Namjoon... — Parei no corredor e ele parou logo em seguida, virando seu olhar pra mim. — O que aconteceu pro Jimin sair sozinho com o carro?

— Ele e o pai estavam em um jantar, e acabaram discutindo. O Eunwoo disse pra ele que ficaríamos um mês aqui, e o Jimin não aceitou.

— Então foi culpa do pai dele...

— Não quero pensar dessa forma, mas, pode se dizer que sim.

Eu sentia o mundo desmoronar em cima de mim, me esmagando por completo.

Voltamos a caminhar pelos corredores frios e tristes, e finalmente chegamos até a sala de espera. A mãe dele estava sentada, sozinha, segurando um lenço enquanto enxugava as lágrimas de cabeça baixa.

— Sra. Park... — Falei baixo e com cautela conforme me aproximava. Ela me olhou e então, voltou a chorar. Inesperadamente, ela se levantou e me abraçou, e seu choro se intensificou conforme ela apertava o abraço.

— Meu menino... eu não quero perder ele. — Ela soluçava a cada palavra enquanto suas mãos apertavam minha camisa, e sua voz soava em completa dor. Se pra mim estava doendo dessa forma, eu imagino o quanto isso está doendo para ela.

— Ele é forte, eu tenho certeza que logo ele estará conosco de novo. — Eu tentava confortar ela, mas a real era que eu também estava com medo de perder ele.

Ela soltou do meu abraço e sentou, ainda em prantos. Eu sentei do lado dela enquanto o Namjoon buscou um copo d'água para a acalmar.

Nesse momento, escutei passos se aproximando, e em um movimento automático, olhei na direção. Era o Eunwoo.
Eu queria voar nele e quebrar cada parte do seu corpo, mas só permaneci em silêncio. Ele passou por entre a gente, olhou para mim e sentou em um banco afastado, sem dizer uma única palavra.

A porta da UTI se abriu nesse momento, e um médico veio em nossa direção.

— Como ele está, doutor? Ele vai ficar bem? — A Hyejin perguntou.

O médico respira fundo antes de sua resposta.

— Ele teve uma perfuração no estômago, e consequentemente uma hemorragia interna. Além disso, ele teve uma fratura no braço direito, e algumas escoriações pelo corpo.
Foi essencial alguém passar no momento do acidente, pois o atendimento rápido foi crucial para ele continuar vivo.

Cada palavra que o doutor dizia sobre seu estado era como um punhal fincando cada vez mais no meu peito. Eu só consigo pensar no que ele sentiu e passou no momento do acidente.

Ele continuou falando em meio ao nosso silêncio.

— Infelizmente o estado dele ainda é grave, então ele permanecerá na UTI. Induzimos um coma pra manter os sinais vitais estáveis.

Lágrimas escorriam no meu rosto. Me virei um pouco para o lado, e vi o pai do Jimin, apenas sentado enquanto ouvia tudo. Não sei até que nível ele era tão insensível ou frio, mas ele não demonstrava reação, apenas ouvia de cabeça baixa.

O médico falou mais algumas palavras com a Hyejin e voltou para a UTI.

Ela sentou e voltou a chorar. O Eunwoo não fez nada, então, sentei do lado dela tentando a confortar.

— Se esse cara não tivesse confundido o Jimin, nada disso teria acontecido... — Ele sussurrou do fundo da sala de espera, nitidamente me acusando do acidente. Eu levantei no mesmo momento e me virei enfurecido na sua direção.

— O único culpado desse acidente é você! Um velho egoísta que não serve nem pra enxergar e respeitar os sentimentos do seu próprio filho. — Meu tom aumentava a cada palavra que eu pronunciava.

— Você está sugerindo que é minha culpa? — Ele se levantou.

— Não estou só sugerindo, isso É sua culpa. Se nem com uma tragédia acontecendo com ele, você foi capaz de enxergar que seu comportamento doentio quase custou a vida dele, você já não tem mais conserto. Sua alma vai continuar podre pra sempre.

— Jungkook, calma... — O Namjoon tenta intervir apoiando as mãos no meu braço.

— Cala a boca os três! — A Hyejin levantou a voz em meio aos choros, e em seguida, se virou na direção do Eunwoo. — Se meu filho morrer, você também morre pra mim, Eunwoo!

Ele não respondeu uma palavra sequer. Abaixou a cabeça e voltou a sentar.

A sala de espera estava vazia, então nossas vozes alteradas ecoavam pelo ambiente. Precisamos manter silêncio.
Ele permaneceu afastado de nós enquanto observava cada movimento.

[...]

Depois de pouco mais de uma hora de angústia e sofrimento pra todos, o mesmo médico atravessou a porta da UTI, vindo em nossa direção.

— O Jimin precisará de uma transfusão de sangue. O tipo sanguíneo dele é O+, e está em falta no hospital. Ele é um doador universal, mas só pode receber sangue O, positivo ou negativo.
Querem fazer o teste de compatibilidade pra doarem?

A Hyejin e o Eunwoo se levantaram e foram em direção a enfermaria acompanhados do medico, para fazer o teste.
O mesmo médico voltou após quinze minutos, folheando alguns papéis em uma prancheta. Ele deu uma pausa enquanto lia, e em seguida quebrou o silêncio.

— Infelizmente vocês não são compatíveis.

A Hyejin, que estava em pé, foi para trás e se sentou, sem acreditar no que acabou de ouvir.

— Posso fazer o teste? — Perguntei enquanto me levantava.

— Eu também. — O Namjoon falou logo em seguida.

— Tudo bem para vocês? — Ele olhou na direção da Hyejin, que aprovou imediatamente.

Fomos para a enfermaria e coletaram nossas amostras. Voltamos para a sala de espera, ansiosos por uma resposta positiva.

Após mais quinze minutos, o médico voltou novamente com a mesma prancheta na mão, enquanto novamente folheava nossas fichas.

— Jeon Jungkook?

— Sou eu. — Levantei rápido e apreensivo.

— Você é compatível. E surpreendentemente, tem exatamente o mesmo tipo sanguíneo dele, O+. Você está disposto a doar?

Isso brilhou como um raio de esperança.

— Sim.

— Vamos precisar de uma boa quantidade de sangue, então você ficará bem frac...

— Eu aceito, doutor. — Reforcei antes mesmo dele terminar de falar.

— Ótimo. Me acompanhe, por favor.

— Jungkook... — Enquanto eu estava acompanhando o médico, a voz da Hyejin soou fraca. Eu virei na direção dela, que se aproximou de mim e pegou minhas mãos.

— Obrigada. — Seus olhos que estavam lacrimejando, brilhavam demonstrando gratidão e esperança.

— Eu faria qualquer coisa por ele, Sra. Park.

Seu sorriso se abriu em meio às lágrimas.

Entramos e me posicionei em uma cadeira, não demorou nem um minuto e duas enfermeiras se aproximaram. Das duas, apenas uma entendia meu idioma.

— Posicione sua cabeça no encosto, por favor. Serão algumas bolsas de sangue, então se você se sentir fraco, acione esse botão. — Ela apontou em direção a um botão próximo ao meu braço.

— Tudo bem.

Colocaram os acessos e meu sangue começou a passar gradativamente para a bolsa de sangue. Uma bolsa rapidamente viraram duas, três.
Minha visão foi ficando turva, e minha cabeça parecia pesar toneladas, tornando difícil até de sustentar.

— Eu preciso... preciso ser forte... — Sussurrei enquanto tentava me manter acordado. Eu sentia minha boca seca e meu corpo soava frio.
Eu estava nitidamente passando mal, mas não acionei o botão.

Se for preciso tirar todo o sangue do meu corpo por ele, assim será.

Fechei meus olhos enquanto tentava buscar mais forças dentro de mim, até que.

— Rapaz, porque não me chamou? — A enfermeira se aproximou depressa assim que me viu, e parou a retirada.

— Não... não para. — Minha voz saía falhada. — P-pode tirar mais... — Lágrimas escorriam dos meus olhos enquanto eu falava, segurando um dos braços dela.

— Eu não consigo imaginar o que você está passando, jovem, mas se você prejudicar sua saúde, como vai estar com a pessoa que você está tentando ajudar?

Ela estava certa.

Meu coração doía e apertava no meu peito como se estivesse sendo esmagado. Eu comecei a chorar, de uma forma que nunca chorei na vida.

A enfermeira saiu sutilmente da sala e me deixou sozinho, e ali, eu desabei. Minhas lágrimas pareciam pesar toneladas, e eu senti o vazio profundo da incerteza, como se o mundo todo tivesse desabado em cima de mim.

O silêncio da sala ecoava a angústia que eu estava segurando desde que tudo isso aconteceu, e cada soluço era um eco da minha impotência diante da situação que ele estava.

Se ele morrer, eu morro junto.

Eu nunca chorei assim...

Depois de um tempo sozinho, a enfermeira voltou.

— Vou tirar seu acesso, infelizmente não posso mais retirar seu sangue, tudo bem?

Sem forças, apenas concordei com a cabeça.

Enquanto ela tirava os acessos do meu braço, vi os médicos saírem depressa com as bolsas de sangue pelo corredor, pra fazerem a transfusão no Ji.

Espero que tudo ocorra bem.

Ganhei um pouco de força após alguns minutos e me levantei.

— Precisa de ajuda pra voltar até a sala de espera?

— Não, eu consigo. — Sai devagar e voltei para a sala, onde me sentei em silêncio, ainda tentando recuperar minhas forças por completo.

— Está tudo bem? — A Hyejin sentou do meu lado e perguntou.

— Vou ficar. O importante é que o Jimin fique bem. — Ela apoiou uma das mãos nas minhas costas logo em seguida, buscando me confortar.

— Obrigado por tudo que você faz por ele.

— Te agradeço também, por ter nos aceitado desde o primeiro dia.

A cirurgia começou. Esperávamos apreensivos por qualquer informação, e essa apreensão durou horas. O tictac do relógio na parede ecoava na cabeça de todos, nos lembrando mais ainda da nossa angústia.

[...]

Após mais algumas horas, eu via pela janela o sol partindo, e a cada minuto que passava, eu me sentia pior ainda. Todos estavam angustiados.

Eu conversava por mensagem com o Hoseok, passando cada informação do estado do Ji. E depois dessas horas, ele chegou no hospital e veio até nós na sala de espera.

— Você veio... — A Hyejin foi na direção dele e o abraçou, e ele retribuiu em um abraço confortante e apertado.

— Como ele está, tia?

— Está passando por outra cirurgia. Estamos aqui apreensivos, esperando alguma notícia.

Eles conversaram mais um pouco, e após isso, ele sentou do meu lado.

— Eu tenho certeza que ele vai sair dessa, eu conheço o amigo que tenho. Ele só parece frágil, mas é forte, o cara mais forte que já conheci. — Mesmo que ele quisesse evitar, sua voz também saiu em tom de choro.

— Eu tô torcendo por isso. Tô em um ponto que não sei o que fazer na minha vida sem ele.  Simplesmente não consigo imaginar...

Enquanto conversamos, o médico saiu da porta da UTI e veio em nossa direção.

— A cirurgia e a transfusão foram um sucesso. — Isso foi como um raio de esperança atravessando a escuridão que todos estavam.

— Ele ainda está no coma, doutor? — Perguntei apreensivo.

— Sim, e precisaremos manter ele assim.
Aproveitamos e fizemos alguns exames de sangue, e, bem... constou uma quantidade de álcool bem alta pra cada miligrama de sangue.

Então foi isso, ele brigou com o pai dele e foi beber pra descontar a raiva... Eu sei o quanto ele sai de si quando bebe, ainda dirigindo, com chuva e frustrado com a briga, foi tudo favorável para uma desgraça acontecer.

— Preciso aproveitar e confirmar, vocês vão optar por transferir ele em um avião hospitalar até a Coreia, ou ele permanecerá aqui?

— Existem riscos se levarmos ele? — A Hyejin perguntou.

— Infelizmente, sim. O ideal é ele ficar. Mesmo que seja uma viagem rápida, é arriscado, ainda mais considerando seu estado atual.

— Então ele ficará aqui.

— Ok, com licença, vou avisar a administração. — O médico voltou para a UTI.

E o dia finalizou assim, com todos presentes, ansiando por boas notícias a cada vez que víamos a porta da UTI se abrir.
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[...]
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| 2 dias depois |

Dois longos dias se passaram e eu sequer consegui ver o Jimin.

O Eunwoo não estava aqui agora, mas surpreendente tem ficado aqui no hospital todos os dias. Vejo ele me olhar quase o tempo todo, mesmo sem dizer uma única palavra.
Ele parece ter aceitado minha presença na vida do Jimin, mas, infelizmente, ele esperou uma tragédia acontecer pra aceitar.

Eu aluguei um quarto em um hotel próximo ao hospital, só pra dormir e tomar banho. Na verdade, dormir seria só uma metáfora, afinal eu não durmo à três dias. Mas, mesmo dormindo mal, tenho me alimentado bem pra poder doar mais sangue para o Ji, se for necessário.

O doutor veio até a sala de espera e se aproximou de nós.

— Com licença. — Nossas atenções se viraram rapidamente em sua direção. — Vou poder liberar cinco minutos de cada um para verem ele, nem um segundo a mais que isso.

Eu mal podia acreditar nisso, finalmente vou conseguir ver ele. Meu coração acelerou enquanto minhas mãos imediatamente começaram a transpirar.

— Preciso reforçar. Tenham ciência que ele ainda está entubado e machucado, então se não tiverem forças para vê-lo assim, melhor que não entrem.

A Hyejin se levantou e foi primeiro. Eu estava apreensivo e meu peito doía a cada segundo que se passava.
Ela realmente voltou depois de exatos cinco minutos. E ela voltou chorando, muito, e sequer conseguia falar. O Hoseok ajudou ela a se sentar.

Como o Eunwoo não estava presente, o médico se virou para mim.

— Você quer vê-lo?

— Sim, por favor. — Eu me levantei e o segui através dos corredores do hospital. O clima pesado e triste pairava no ar, como se o próprio ambiente estivesse envolto em melancolia. Cada passo que dávamos parecia carregar o peso do meu sofrimento, e o som distante de choros ecoava nos corredores.

Chegamos à porta do quarto na UTI, e uma sensação de apreensão se intensificou. Eu respirei fundo, tentando me preparar para encarar a realidade que aguardava do outro lado.
O médico abriu a porta, eu entrei e ele fechou logo após, me deixando sozinho com ele.

Meus olhos lacrimejaram assim que eu o vi. Ele estava entubado, todo machucado e cercado por máquinas que o mantinham vivo.

Me aproximei lentamente, e minha mão percorreu cuidadosamente pelo seu rosto quase irreconhecível.

Eu nunca imaginei ver ele assim, e isso dói tanto. Cada arranhão e cada machucado demonstrava o quanto ele sofreu e está sofrendo, e eu faria qualquer coisa pra que isso tivesse acontecido comigo, não com ele.

A sala silenciosa era preenchida apenas pelo som ritmado dos aparelhos médicos, e agora, também pelo meu choro.

Eu não quero perder ele, mas parece que o universo está sempre conspirando contra nós.
As lágrimas continuavam a escorrer, marcando um rastro de dor no meu rosto.

Eu agarrei a beira da cama, buscando qualquer tipo de apoio para a realidade que se desdobrava diante de mim.
Eu me sentia impotente, desesperado para mudar o rumo de tudo.

Peguei sua mão com cuidado enquanto olhava seu rosto.

— Volta pra mim, por favor. Ainda tenho tantos planos com você... — Pego com cuidado uma de suas mãos enquanto meus dedos circulam por ela, em um carinho sútil. — Nós vamos casar, meu loirinho. Teremos uma casinha só nossa, na beira da praia, assim como você já falou várias vezes o quanto ama praia. Vamos acordar com o cheiro salgado do mar e o som gostoso das ondas se partindo na areia.

As palavras soavam como uma promessa, na esperança de que ele pudesse ouvir de alguma forma, mesmo na inconsciência que o envolvia.

Algumas batidas na porta me trazem de volta, era o médico.

— Desculpe, mas precisamos ir.

Os cinco minutos passaram tão rápido. Eu queria tanto continuar com ele, mas preciso sair.

Voltei a olhar para o Jimin e me aproximei um pouco.

— Eu vou te esperar o tempo que precisar, seja forte, Ji. Eu te amo. — Sussurrei e fui em direção a porta. Eu não queria sair, mas não tinha outra escolha.

O Namjoon tinha saído com o Eunwoo, então o médico deixou o Hoseok entrar.

Assim que ele voltou, se sentou em silêncio, e seu olhar parecia distante e triste.

— Nunca imaginei ver ele assim... — Ele respirava fundo.

— Logo ele estará melhor. Dá pra ver que ele tá lutando pra ficar bem, e ele vai ficar, eu tenho certeza.

O dia foi passando conforme a gente assistia o movimento dos médicos e de pacientes pelo hospital. Qualquer minina notícia que o doutor nos dava já nos enchia de esperanças, e felizmente, as últimas notícias tem sido boas.

Estamos revezando para passar a noite lá, e hoje a mãe do Ji vai ficar. Assim que a escuridão da noite chegou, fui para o hotel pra descansar, ou ao menos, tentar.
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| 3 semanas depois |

Nessas semanas, muita coisa aconteceu.

Os avós do Jimin também estão no Japão e o visitam no hospital com frequência. Eles ainda não sabem de nós, e assim permanecerá, pelo menos por enquanto. Para eles, sou o guarda-costas e amigo, assim como o Namjoon, que também continua no Japão todo esse tempo, acompanhando a Hyejin.

O Eunwoo precisou voltar pra Coreia pra cuidar da Town, mas tem vindo alguns dias. Durante todo esse tempo, ele não me dirigiu uma única palavra, mas não me impede de estar lá e de visitar o Jimin.

A esse ponto, eu imagino que ele já nos aceitou, mesmo contra sua vontade. Preciso ter certeza disso, e só vou ter essa certeza quando o Ji tiver alta.

O Hoseok precisou voltar à Coreia pra continuar gravando a série em que está atuando, mas também vem sempre que pode.

E o Jimin... meu loirinho tem melhorado cada vez mais. Há quatro dias ele saiu da UTI e foi para o quarto, e hoje o médico liberou nossa primeira visita após isso.
Tiraram ele do coma induzido à onze dias, mas desde então ele permanece desacordado.

Terminei de me arrumar no hotel e fui para o hospital. A essa altura, eu até já entendia e arriscava algumas palavras em japonês.
Comprei um café no caminho e apressei meu passo pra chegar.
Ainda havia alguns fãs na frente do hospital, mesmo após todo esse tempo. O Ji vai amar saber do apoio que deram pra ele durante todo esse tempo, aqui pessoalmente e pela internet.

Entrei e fui até a sala de espera. Pra minha surpresa, estava vazia. Sentei e fiquei ali por um tempo, mas ninguém apareceu.

Meu celular vibrou no bolso, era uma mensagem do Namjoon.

Fiquei sentado ali enquanto observava o movimento das pessoas no hospital, cada um no seu mundinho, com suas preocupações e medos, e eu aqui era só mais um.

— Sr. Jeon. — A voz do doutor ecoou pela sala de espera. Eu me levantei assim que ouvi.

— Você quer entrar pra ver ele?

— Sim, quero.

Andamos pelos corredores e fomos para um quarto. Diferente da UTI, aqui já passava uma sensação de conforto. O doutor abriu a porta e saiu logo após eu entrar.

— Oi, meu amor. — Me aproximei dele, que não estava acordado. Mesmo após todo esse tempo no hospital, e com todas essas marcas, ele conseguia ser tão incrível que me deixava sem palavras pra explicar.

Ele estava melhor. Grande parte dos machucados e inchaços do seu rosto e corpo já sumiram, restando apenas algumas marcas e cicatrizes que foram mais profundas. As duas cirurgias que ele fez no estômago foram um sucesso, e sua saúde vem progredindo cada vez mais.

Além do mais, ele não precisava mais ficar o tempo todo no nebulizador, e depois de todo esse tempo, eu conseguia ver pela primeira vez o seu rosto sem nada o cobrindo.

Segurei sua mão enquanto o admirava.

— Quase um mês sem ouvir sua voz, tô sentindo tanto a sua falta, meu loirinho. Tô tão feliz com sua melhora, e ansioso pra ter você comigo de novo. Você precisa ver o quanto seus fãs falam e postam sobre você, até hoje. Todos sentem sua falta, e está cada vez mais próximo da sua alta acontecer.

Mesmo que ele estivesse desacordado, todas as vezes que o vi, eu conversava com ele. De alguma forma, eu sentia que ele estava me ouvindo, mesmo que fosse inconscientemente.

Puxei uma cadeira pra perto da cama, e sentei ao seu lado, ainda segurando sua mão. Eu olhava para ele e lembrava de nós desde o primeiro dia que nos conhecemos... ele me odiou. Eu ria sozinho enquanto lembrava.

Eu odiei ele também, mas isso mudou rápido. Não consigo lembrar um momento exato que meus sentimentos por ele mudaram, mas acho que desde o primeiro dia, ele mexeu comigo. Só precisou uns dias convivendo juntos pra me apaixonar de vez. Mesmo com todos os defeitos que ele tinha.

Inclusive, me apaixonei até pelos defeitos.

Meus olhos circulavam por cada machucado que ainda restava em sua pele, assim como pelo seu braço, que ainda estava engessado.
Mesmo após todo esse tempo, ainda me dói pensar que ele passou por isso... E dói mais ainda só de imaginar que quase perdi ele.

Fiquei com ele por quase uma hora, e por todo esse tempo ele permaneceu imóvel e desacordado. Não vou perder as esperanças de ver ele finalmente acordado.

O médico bateu na porta e avisou que eu precisava sair, infelizmente. Saí do quarto e fui de volta para a sala de espera. Após mais alguns minutos, a Hyejin e o Namjoon chegaram.

Cumprimentei os dois e ela entrou no quarto pra ver o Jimin. Enquanto isso, o Namjoon sentou próximo a mim e ficamos conversando enquanto a hora passava.

Já era próximo de meio-dia, e eu sentia minha barriga roncando de fome.

— Acho que vou comer alguma coisa no restaurante aqui perto, quer ir junto?

O Namjoon pensou por alguns segundos e respondeu.

— Vou aceitar, tô morrendo de fome.

Ele avisou a Hyejin e saímos. Andamos por dois quarteirões e chegamos a um restaurante. Já comi algumas vezes aqui enquanto ia ou voltava do hospital, ele vai gostar da comida também.

Pedimos duas porções de karaage (frango frito japonês) e dois chás gelados. Com tudo o que aconteceu, nenhum de nós tem vontade de beber.
A atendente trouxe nossos pedidos e ficamos conversando enquanto comemos.

— Tem uma coisa que eu não deveria te contar, mas se fosse comigo, eu não gostaria que escondessem. — O Namjoon fala enquanto dá um gole no chá.

— Do que você tá falando?

Ele morde um pedaço de karaage antes de responder, aumentando mais ainda minha apreensão.

— Quem mandou aquela foto de vocês dois para o Eunwoo, foi aquele cara que o Jimin brigou na praia.

Senti a raiva percorrer cada centímetro do meu corpo.

— Isso não é possível...

— Eu só soube há uns dias atrás. Um dos seguranças que estão acompanhando o Sr. Park lá na Coreia me contou que ele foi na Town chantagear o Eunwoo pedindo emprego, e acabou falando isso.

Yoo Seung-ho, como eu poderia esquecer seu nome?

— Então quer dizer que, por culpa desse desgraçado, o Jimin quase morreu? Eu vou matar ele antes mesmo dele conseguir qualquer outra coisa.

E eu não estava falando de um modo figurativo, eu realmente queria matar ele.

— Não vai, não, você e o Jimin precisam tentar viver de boa. Não fique procurando problema pra vocês, mais do que já tiveram. Esquece que esse cara existe. Eu não contei pra você com esse intuito, contei porque sei que a forma que o Eunwoo descobriu era um mistério pra vocês até hoje.

Ele está certo, mas mesmo assim, minha raiva não me permitia raciocinar.
Eu vou, pelo menos, quebrar cada osso do corpo dele... assim que eu voltar para a Coreia.

— Tudo bem, você tá certo... Obrigado por me contar isso.

Terminamos de comer e voltamos para o hospital.
Após algumas horas, os avós do Ji chegaram. Eles trocaram algumas palavras com a Hyejin e entraram no quarto pra ver ele.

O Eunwoo também chegou depois de um tempo. Eles se reuniram na sala de espera e começaram a conversar.

Eu estava sobrando ali.

Sem ninguém perceber, me esgueirei pelos cantos e saí do hospital. A Hyejin me pediu pra evitar demonstrar para os avós dele que namoramos, e preciso respeitar seu pedido.

Voltei para ao hotel, tomei um banho gelado e deitei na cama. Ainda era cedo, mesmo assim eu já estava com sono, só não queria me entregar a ele, então comecei a mexer no celular, buscando não dormir.

Olhei algumas fotos nossas, e a primeira que abri foi nossa foto na Suíça. Essa viagem foi incrível, não só essa, todas as outras foram.

Assim que ele estiver recuperado após a alta, quero viajar com ele de novo.

Entrei no instagram, e então me deparei com algo surpreendente...

Era a Vogue divulgando a capa da revista da nova edição, das fotos que tiramos aqui no Japão quando viemos só nós dois.

— Uau... — Eu estava de boca aberta enquanto olhava pra ele.

A Vogue atrasou o lançamento da revista em respeito ao acidente, e só lançaram agora que ele está melhor, com a autorização do Eunwoo.
Nos comentários da postagem, tinha muitos fãs elogiando e torcendo pela sua melhora. Espero que ele acorde logo pra ver tudo isso, ele merece tanto.

Amanhã vou achar a revista pra comprar, o Jimin precisa ver isso.

Conforme eu mexia no celular, o meu sono piorava. Meu corpo estava implorando por uma noite de descanso normal.

E então, acabei dormindo.

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[🪽]

Oie anjo,
Espero que tenha gostado desse capítulo 🫂

Não esqueçam de votar e comentar, me incentiva demais 🫶🏻

E até o próximo capítulo!

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