10 :: um anjo mimado
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JEON JUNGKOOK
Finalmente consegui ter uma noite de sono que durasse mais que cinco horas. Geralmente, durmo pouco, mas nos últimos dias eu dormi ainda menos. Minha cabeça estava uma bagunça.
— Esse garoto está me deixando louco... — murmurei, sem saber se era raiva, atração ou masoquismo da minha parte.
Levantei da cama e fui para o banheiro tomar banho. A água quente caía sobre mim, ajudando a dissipar a tensão acumulada nos meus músculos. Assim que terminei, coloquei um roupão e parei no espelho para escovar os dentes. O reflexo mostrava um cara com olheiras profundas e um olhar perdido. Precisava me concentrar; hoje à tarde voltaremos pra Coreia, mas ele ainda tinha algumas coisas pra fazer aqui, e eu precisava ser rápido.
Escutei alguém bater na porta. Eu tinha pedido uma xícara de café americano no serviço de quarto do hotel, então já supus que era isso. Atendi ainda com a escova de dentes na boca e o roupão ligeiramente aberto.
Era o Jimin.
O que ele estava fazendo aqui? De alguma forma, eu realmente achei que ele fugiria de novo depois do que aconteceu ontem no estacionamento do hotel. O jeito que ele me olhava, misto de timidez e determinação, me deixava confuso.
— Oi... eu, hmmm... eu vim te avisar que... — Ele hesitou, o olhar fixo no meu corpo. Eu continuei apoiado na porta, esperando ele falar.
— E-eu preciso sair mais cedo pra participar da inauguração da loja de uma parceria. Se puder, coloca uma roupa logo pra gente sair rápido... — Ele apontou para meu corpo, como se isso fosse uma explicação suficiente.
Era claro que ele poderia ter me mandado uma mensagem, mas decidiu vir até minha porta.
— Ok, saio em cinco minutos — respondi.
— Se demorar mais que cinco, vou sem você — ele respondeu, dando as costas e saindo rapidamente.
— Esse seu jeito birrento vai durar até quando? — murmurei, respirando fundo enquanto fechava a porta.
Voltei para o quarto, liguei na recepção do hotel cancelando o café e coloquei uma camisa social preta. Assim que terminei, percebi que Jimin ainda estava se arrumando e decidi ir até o carro.
Entrei no carro e, como eu imaginava, o cheiro de morango dele já havia se espalhado por tudo. Era uma mistura de conforto e confusão, e mesmo que ele pedisse um tempo, as coisas nunca pareciam fáceis entre nós.
Por que eu simplesmente não consigo fingir que ele não existe e esquecer esses pensamentos?
Ele estava usando um terno todo preto pela primeira vez, e era impossível não notar o quanto ele estava lindo. Cada detalhe parecia ressaltar sua beleza ainda mais, e eu tentava disfarçar a todo custo o quanto estava me perdendo nesses meus olhares na sua direção.
Enquanto isso, ele lutava contra a gravata que não conseguia colocar, sua frustração era evidente. O jeito irritado que ele tentava amarrar só aumentava meu desejo de ajudar. Não consegui evitar.
— Você quer ajuda? — perguntei.
— Sabe dar nó em gravata?
— Sei.
Ele virou o corpo na minha direção de imediato, erguendo levemente o queixo.
— Arruma pra mim, por favor, antes que eu jogue essa merda no lixo.
Se fosse no começo, já estaríamos nos matando, mas agora, ele até me pede "por favor". As coisas pareciam estar evoluindo com o playboy mimado.
Com cuidado, coloquei as mãos na gravata no seu pescoço. Ele tinha embaraçado tudo ao tentar colocar, e eu precisava desfazer o nó antes.
— Por que você fez tantos nós? — suspirei.
— Nem sei, só segui o que o vídeo do YouTube dizia. — Ele riu, e acabamos rindo juntos.
Comecei a desfazer cada nó com cuidado, mas não consegui evitar sentir o aroma de morango que exalava do pescoço dele, ficando ainda mais forte agora que estávamos tão próximos. Isso me atingiu em cheio, bagunçando completamente meus pensamentos. Eu odiava isso, odiava o fato de que mesmo em um gesto tão simples como dar um nó em uma gravata, ele conseguia me deixar nesse estado, como se eu fosse um completo idiota.
Te odeio por me fazer gostar de você, Park Jimin.
Meus dedos terminaram o nó da gravata, mas meus olhos continuaram presos nele. Sem perceber, eu ainda segurava a gravata, enquanto nossos olhares se encontraram. Não foi diferente para ele, que também ficou me encarando, como se o tempo tivesse parado por alguns segundos, só pra nós dois.
Seu rosto, que antes estava mais relaxado, começou a mostrar sinais de vergonha. Ele desviou o olhar rapidamente, e eu percebi o leve corado em suas bochechas, como sempre. A situação ficou mais tensa do que eu queria admitir. Eu sabia que não podia forçar nada, não queria estragar o que quer que estivesse começando a se formar entre nós, mesmo que as chances de algo realmente acontecer fosse mínima, ou quase nula.
Ele se ajeitou no banco, tentando disfarçar o constrangimento, e olhou no espelho do carro, conferindo o resultado da gravata.
— Caralho, você é bom nisso — disse ele, soltando um suspiro, tentando disfarçar.
Eu dei um leve sorriso, me segurando para não dizer nada que pudesse piorar o clima. Eu poderia ter respondido de mil maneiras provocativas, mas apenas agradeci. A verdade é que eu estava nervoso, algo que raramente acontece, principalmente com alguém. Era um sentimento que só ele conseguia despertar em mim.
Liguei o carro e seguimos em direção ao seu compromisso. No caminho, ele estava concentrado no celular, digitando várias mensagens para alguém. Provavelmente para o melhor amigo. Eu tinha certeza de que ele já havia comentado algo sobre nós dois com ele.
Enquanto digitava, Jimin fazia aquele bico nos lábios, algo que ele sempre fazia quando estava focado. E aquilo era uma maldição pra mim, porque cada vez que eu via, só me dava ainda mais vontade de beijar ele de novo...
[...]
Quando chegamos ao endereço que o GPS indicou, percebi que era uma loja gigantesca da Dior. Do lado de fora, uma multidão já aguardava sua chegada, e assim que ele saiu do carro, os flashes começaram a disparar freneticamente. Era impressionante vê-lo naquele ambiente. Ele ficava tão confiante, como se tivesse nascido para estar sob os holofotes. Observar ele assim era, de certa forma, satisfatório, assim como no show.
Segui logo atrás dele, mantendo a postura discreta de guarda-costas. Lá dentro, o cenário não era diferente. O lugar estava lotado de gente, desde pessoas comuns a celebridades, sem contar os inúmeros funcionários da imprensa. Mesmo com tanta gente, o garoto loiro era o centro das atenções, sendo praticamente o próprio evento. Cada movimento que ele fazia atraía olhares e câmeras de todos.
E, em meio a tudo isso, só uma coisa se passava pela minha cabeça: o quão ambicioso eu estava sendo em querer algo com alguém como ele. Alguém que brilhava tanto, enquanto eu era apenas uma mera sombra.
Todos que estavam lá o observavam, e não era surpresa, considerando que Jimin chamava atenção. Mesmo que ele não quisesse, acabava se tornando a estrela principal do evento. Era como se ele não fosse real; a atmosfera parecia envolver ele de um jeito que tornava tudo quase etéreo. O rastro do seu cheiro de morango se espalhava pelo ar, e mesmo de longe, eu conseguia sentir, como se ele deixasse um pouco de si por onde passava.
Fiquei em um canto, em uma posição estratégica, observando enquanto o evento se desenrolava. Ele fez alguns discursos, suas palavras fluíam com naturalidade, e tirou tantas fotos que eu perdi a conta. Era fascinante ver como ele interagia com todos ao seu redor, como se fosse uma extensão do ambiente.
Em um determinado momento, uma garota se aproximou dele. O cumprimento foi informal, uma interação que deixava claro que eles já se conheciam. Ela era familiar, mas não conseguia lembrar de onde a conhecia. Contudo, a presença dos seguranças ao redor dela me fez deduzir que também era uma figura pública.
Não pude evitar que um sentimento de ciúmes surgisse dentro de mim. A ideia de ver próximo de outra pessoa, mesmo que apenas de maneira casual, era irritante. Mas, ao mesmo tempo, sabia que não tinha o direito de sentir isso. Afinal, nem mesmo tínhamos algo.
E o pior era que ela parecia tão perfeita para ele, diferente de mim. Não era apenas a questão de sermos homens, mas nossas realidades eram completamente diferentes. Ele vivia em um mundo de glamour, festas e fama, enquanto eu estava preso a obrigações e responsabilidades que mal me deixavam respirar. Além disso, havia mil outros motivos que tornavam impossível.
Talvez, desistir fosse uma das opções que eu tivesse. E também, a mais sensata.
[...]
O evento de inauguração durou horas, e Jimin brilhou do início ao fim. Era impressionante ver ele tão à vontade, cercado por flashes e fãs, como se aquele mundo fosse feito sob medida para ele. Mas, por dentro, eu estava inquieto, e minha mente não calava a boca.
Quando finalmente voltei para o lado de fora, esperei por ele na frente da loja, observando a multidão que ainda tentava se aproximar. Ele se despediu dos fãs que ainda estavam por lá, e logo entrou no carro, parecendo exausto.
— Me leva pra um bar agora — disse ele, respirando fundo enquanto reclinava o banco para trás.
— Você vai beber a essa hora? Ainda são 15h.
— Nós vamos — ele insistiu, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
— Eu não posso ficar bebendo, Park...
— Então me deixe lá. Vou beber sozinho, não tô nem aí! — ele deu com os ombros.
Ele era mais teimoso que uma criança, e eu sabia que não haveria acordo. Suspirei, pensando em todas as razões pelas quais eu deveria recusar. Mas, ao olhar para ele, percebi que não conseguiria dizer não.
— Ok, mas se você começar a fazer besteira, eu vou ter que te trazer de volta, entendeu? — eu avisei, enquanto ligava o carro.
Ele sorriu e concordou, e aquela expressão iluminou seu rosto, fazendo meu coração acelerar de uma forma que eu não conseguia ignorar. Aquele sorriso me fazia questionar tudo de novo, como se, por um breve momento, eu pudesse esquecer as enormes barreiras entre nós.
— Você precisa pelo menos trocar de roupa. Como vai aparecer assim em um bar? — eu comentei.
Ele ficou em silêncio, pensando por alguns minutos no que eu tinha falado. Sabia que estava certo; aparecer assim só chamaria atenção e traria problemas. Mas, afinal, ele era Park Jimin, e suas decisões muitas vezes não se baseavam no que era mais sensato.
— Não quero perder tempo. Vou assim mesmo, lá eu tento disfarçar. Vamos — ele decidiu, sua determinação evidente.
Enquanto dirigia, observei pelo canto do olho ele tirando o blazer, a gravata, e abrindo os primeiros botões da camisa.
— Para o carro ali, eu quero dirigir — ele disse, esticando a mão pequena e apontando para uma vaga na rua.
Eu parei sem questionar. Ele pulou para o banco do motorista e ajustou tudo na altura dele, enquanto eu entrava no banco do passageiro.
[...]
Jimin dirigiu até um bar diferente, muito mais distante do hotel. Assim que chegamos, fui imediatamente atraído pela estética do lugar. A temática cyberpunk futurista era intensa, com várias luzes neon piscando e um ar que fazia parecer que, mesmo sendo início de tarde, ali dentro era sempre noite.
Assim que nos sentamos em uma mesa, ele rapidamente fez os pedidos. Enquanto esperava, suas mãos arrumavam o cabelo, e ele se recostou no encosto da cadeira, parecendo relaxado, como se estivesse em casa e não fosse famoso.
— Vi a indicação desse bar em um vídeo. O Hobi ia gostar, tenho certeza. Eles têm drinks do mundo todo, e nós vamos provar todos — ele comentou, a empolgação evidente em sua voz.
— Não vamos, não. Não se anime, a ordem do seu pai era justamente não te deixar beber dessa forma — eu disse, tentando ser firme.
— Para de ser chato, porra... — Ele revirou os olhos, reclamando e suspirando alto, o que me fez rir.
— Você e seu amigo se conhecem há muito tempo? — perguntei, tentando mudar de assunto.
— Hmm, acho que eu tinha 15 e ele 16 anos. Nos conhecemos em um acampamento. De lá pra cá, ele se tornou meu melhor amigo e um ator excelente, modéstia à parte — Jimin respondeu, o orgulho evidente em sua voz.
Eu escutava atentamente cada palavra dele, que já parecia bem mais à vontade comigo.
Nesse meio tempo, um garçom trouxe nossos pedidos. E não era nem forma de dizer, ele realmente pediu todos.
— Você sabe que temos que embarcar às 17h. Não deveria ter pedido tudo isso — eu cruzei os braços enquanto falava, tentando parecer sério.
— Nós não vamos.
Eu estava dando um gole em um dos drinks quando a resposta dele me fez engasgar imediatamente.
— Como assim? — Consegui finalmente falar após tossir, tentando recuperar o fôlego.
— Nós não vamos, simples.
— Você ficou louco? — questionei, não acreditando no que ele dizia.
— Vamos ficar mais dois dias, só isso. E se você não quiser ficar, pode ir embora, não tô nem aí! — ele respondeu, a determinação em sua voz era inegável.
— Você não muda mesmo, né? — eu soltei, um sorriso involuntário surgindo no meu rosto.
Ele fez de novo aquele bico e fechou a cara enquanto cruzava os braços, respirando fundo. Se as coisas não eram do jeito dele, seu humor mudava na mesma hora.
— Ok — eu revirei os olhos, tentando manter a calma.
— Ok, o que? Traduz — ele exigiu, inclinando-se para frente, o olhar desafiador.
— Só mais dois dias.
— Eba! Ok. — Ele abriu um sorriso enorme na mesma hora, como se sua expressão tivesse mudado completamente. Como ele podia ser tão mimado?
— E tem mais; você vai inventar algo bem convincente para o seu pai. Não quero me meter em confusão com ele.
— Tá, tá, agora chega. Já disse que você tá sendo chato.
— Você revirou os olhos pra mim quantas vezes só hoje, moleque?
— Muitas, e tudo por culpa sua. — Ele bebeu mais um gole, me encarando. Eu podia notar que ele já estava um pouco bêbado.
Encostei na cadeira e fiquei observando ele, que estava alegre enquanto tomava seus drinks. Seu rosto de anjo escondia o quão terrível ele realmente podia ser. Era engraçado e irritante ao mesmo tempo.
Enquanto a gente conversava, ele me mostrou no celular uma foto que tirou hoje com alguns famosos na inauguração da loja. Ele estava animado, falando sobre um determinado ator que estava ali e havia brigado com o Hoseok. Mas, na foto, aquela mesma garota estava ao lado dele.
Tentei ser o mais sutil possível com minhas expressões, mas acho que sou péssimo nisso. Meu coração disparou e eu me forcei a manter a calma.
— O que foi? — Ele cerrou os olhos, me olhando com desconfiança.
— Nada, por que você está perguntando isso? — respondi, tentando soar despreocupado.
Ele virou o celular na sua direção para olhar a foto, e um sorriso surgiu em seu rosto quando entendeu o que eu estava pensando.
— Qual a graça? — perguntei, tentando fingir normalidade, mas minha voz traiu meu nervosismo.
— Você quer saber quem é ela, é isso? — Ele me lançou um olhar provocativo, e eu percebi que não conseguiria esconder a curiosidade por muito tempo.
— Claro que não, nem sei de quem você está falando. — Quem eu estava tentando enganar? A verdade é que aquela foto e o jeito que ele falava dela estavam me deixando incomodado.
Ele jogou o corpo para trás e encostou na cadeira, com o mesmo sorriso irônico estampado no rosto.
— Ela é uma amiga que contracenou com o Hoseok há uns anos atrás.
— Você não precisa se explicar — respondi, tentando me mostrar indiferente.
Mas ele voltou a cruzar os braços em cima da mesa, como se estivesse se divertindo com a minha reação.
— Você está com ciúmes? — O sorriso dele se alargou, e eu não pude deixar de notar como a confiança dele estava em alta. Cadê toda aquela timidez que ele tinha antes? Bastou um pouco de bebida para ele ficar valente.
— Eu estou, algum problema? — minha voz saiu um pouco mais alta do que eu pretendia, revelando o quão afetado eu estava.
Pela expressão dele, percebi que não esperava que eu concordasse, mas era a verdade: eu realmente estava com ciúmes. O desejo que eu sentia por ele era completamente egoísta. Queria que ele fosse meu, apenas meu, onde ninguém pudesse tocar, olhar ou, muito menos, sentir aquele cheiro de morango que sempre o acompanhava.
Ele desviou o olhar novamente, fixando no copo à sua frente. Estava envergonhado, e a coloração das suas bochechas denunciava isso de forma clara. Era um contraste curioso com a sua atitude desinibida antes.
— Acho que ninguém nunca sentiu ciúmes de mim — ele comentou, ainda desviando os olhos.
A declaração dele me pegou de surpresa. Como alguém tão cativante poderia ser tão inocente em relação a isso? Olhei para ele, tentando entender o que havia por trás daquela frase.
— Você está brincando, certo? — perguntei, forçando um sorriso que talvez não convencesse.
Ele soltou uma risada baixa, quase nervosa.
— É sério...
— Isso é difícil de acreditar. — A verdade era que ele era um imã de atenção, e não poderia ser apenas por causa de sua fama. Havia algo a mais ali, algo que fazia com que todos ao seu redor quisessem estar perto dele.
Ele continuou a olhar para o copo, mas seus pensamentos pareciam vagar por aí. Puxou outros assuntos, e a conversa voltou a fluir de forma menos intensa.
Até que ele fez a pergunta que eu mais temi durante todo esse tempo que trabalho para ele.
— Por que você saiu da polícia pra perder tempo com um idol? — Ele perguntou sem maldade, mas me pegou de surpresa.
Chegar nesse ponto era tudo que eu menos queria, mesmo que soubesse que uma hora ou outra ele perguntaria. Eu queria sair correndo, e se fosse qualquer outra pessoa ali, eu realmente faria isso.
Minhas palavras falharam. Eu não conseguia formar uma frase, e minha expressão deve ter mudado completamente, já que pude ver a mudança no olhar dele. Esperava que ele insistisse, mas ele era uma caixinha de surpresas.
— Quando quiser falar comigo sobre isso, tô aqui. Agora olha esse vídeo... — Ele mostrou um vídeo aleatório no celular e começou a falar sobre ele, puxando outros assuntos de maneira leve.
Aquela mudança de assunto me aliviou. Ele percebeu que eu não queria falar sobre meu passado, e a sutileza com que mudou de assunto me fez sentir mais à vontade.
— Obrigado. — Sorri e olhei para baixo, tentando agir normalmente, embora a tensão ainda estivesse presente.
Ele respondeu com outro sorriso, que não pude deixar de olhar. Seus olhos pequenos e brilhantes, e suas bochechas marcadas como um blush natural.
Meu coração acelerou de novo, um ritmo quase descontrolado. Era como se, a cada instante, ele conseguisse atingir uma parte de mim que eu tentava esconder.
— Não faz isso, Park... — sussurrei, cobrindo meu rosto com uma das minhas mãos. Mesmo que eu tenha falado em voz baixa, ele provavelmente ouviu.
Ele abaixou a cabeça sobre a mesa, entre os braços, como se estivesse perdido em pensamentos.
— Tá tudo bem? — me aproximei um pouco dele.
— Uhum... — sua resposta saiu abafada pelos braços.
— Você não está legal. Vamos embora.
Surpreendentemente, ele concordou e se levantou. Geralmente, ele era teimoso, ainda mais bêbado, e os dias em que ele obedecia assim eram raros.
Diferente de outras vezes, ele não apagou no carro, mas ficou o tempo todo com o olhar distante na janela, em silêncio.
Eu podia imaginar mil coisas sobre o que ele estava pensando, mas a pior das opções pairava na minha cabeça. Parei o carro em uma rua qualquer.
— Por que parou aqui? — ele perguntou, confuso.
— Eu... eu saí da polícia porque me acusaram de um assassinato... Uma morte que não foi minha culpa. — Talvez nem fosse isso que ele estivesse pensando, mas era melhor eu falar e acabar com essa angústia de vez.
Ele me olhou com um olhar profundo, claramente buscando palavras para responder a essa bomba que joguei entre nós. E eu continuei.
— Se quiser se afastar de mim, você tem todo o direito. Não só isso, se quiser, eu me demit... — Antes que ele terminasse, suas palavras foram cortadas.
— Eu acredito em você e não quero que se demita. A única coisa que espero é que você seja verdadeiro em cumprir a promessa que fez pra mim.
Por mais que eu tentasse esquecer o que estava sentindo, ele me prendia ainda mais, e ele sabia disso... Sabia o poder que tinha sobre mim.
— Eu vou.
Ele sorriu, o mesmo sorriso que acabava com a minha sanidade mental.
Aquela expressão era como uma faísca, acendendo algo dentro de mim que eu tentava esconder. O jeito como ele iluminava o ambiente ao seu redor tornava impossível ignorar, e, por um instante, eu me peguei desejando ele, de novo.
— Agora vamos comer alguma coisa, por favor. Não quero a comida do hotel e estou morrendo de fome — ele disse, passando a mão na barriga.
Liguei o carro novamente e dirigimos sem rumo até que ele finalmente decidisse o que queria comer.
— Já sei! Quero McDonald's! — Seu tom era de uma criança cheia de energia.
— Você pensou tanto pra, no fim, acabar escolhendo fast food?
— Ei, ei, para com isso! Eu gosto!
— Tudo bem, se é o que você quer — respondi, sorrindo.
[...]
Fui até o McDonald's mais próximo, compramos vários combos no drive-thru e voltamos para o hotel. Não seria uma boa ideia comer por lá, ainda mais com ele de cara limpa e bêbado.
Enquanto subíamos no elevador, ele sentiu o cheiro das batatas fritas.
— Que delícia, eu amo esse cheiro! — Ele começou a mexer nos pacotes, roubando algumas batatas. A porta do elevador se abriu e ele olhou para mim enquanto andava de costas. — Vamos comer no meu quarto.
Assim que entramos, ele colocou tudo na cama e começamos a comer. Até um momento tão simples como esse se tornava especial por causa dele.
Ele ligou a televisão e colocou um anime que gostava, suas pernas se cruzaram enquanto assistia atento a cada episódio, mordendo o hambúrguer com apetite.
Eu não conseguia deixar de observar como ele se perdia na história, totalmente envolvido. Naquele momento, todas as nossas diferenças pareciam distantes, como se praticamente não existissem... eu realmente queria que não existissem.
Até que, depois de um tempo, inesperadamente, ele deitou com a cabeça no meu colo enquanto continuava assistindo e comendo batata. Eu congelei, e sentia que queria tocar nele mais do que tudo.
Minha mão se moveu cuidadosamente até o cabelo dele, receoso de que ele pudesse recusar ou se ofender. Comecei a fazer cafuné, nervoso com a possibilidade de ele se levantar, mas ele ficou ali, apreciando o carinho.
Seus fios dourados eram tão macios...
Ele parecia estar gostando tanto que, após alguns minutos, percebi sua respiração se tornando um pouco mais pesada. Quando olhei para ele, a visão de seu rosto dormindo me fez sentir uma onda de calma e felicidade. O contraste entre o momento delicado e toda a confusão em nossa vida me fez sorrir.
Ele parecia um anjo dormindo, e não mais aquele anjo do mal que eu conheci. Fora de suas armaduras, defesas e birras, ele era apenas um garoto.
Um garoto por quem eu havia me apaixonado...
O olhar inocente dele, a leveza de sua respiração, tudo isso me envolveu em uma sensação de paz. A imagem dele ali, vulnerável e despreocupado, me fez perceber o quanto ele significava para mim.
Tentei me mexer devagar pra não o acordar, e então, deitei do seu lado. Ele imediatamente se acomodou enquanto continuava a dormir, e deitou no meu peito de forma confortável.
Nossos rostos ficaram próximos, e eu me perdi observando cada detalhe do seu rosto, hipnotizado. Até pequenos detalhes do seu rosto eram encantadores. Os traços suaves, a forma como seus lábios se curvavam levemente, tudo nele me atraía.
Aquela tranquilidade, a proximidade dele, fez com que eu pegasse no sono, talvez a melhor noite de sono da minha vida. O mundo lá fora parecia distante, e, ao invés das preocupações e pressões que costumavam me acompanhar, havia apenas a serenidade daquele momento. A suavidade de sua respiração se misturava com a batida calma do meu coração, criando uma melodia que me colocou em um sonho tranquilo.
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Meus amores, me perdoem a demora pra sair o capítulo, conciliar essa vida de estudante, trabalhadora, army, aspirante a autora e jikooka não é fácil KKKKK
Espero muito que tenham gostado do capítulo, bem softzinho pra gente se apaixonar mais ainda por eles!
E até o próximo capítulo!
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