05 :: o limite da paciência
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PARK JIMIN
Eu dormi a tarde toda, e quando acordei já era praticamente noite. Minha cabeça doía intensamente e ainda estava girando. Já estava acostumado a chegar mal em casa, mas dessa vez, me sentia muito pior, como se tivesse sido atropelado.
Escutei uma voz grave chamando meu nome no corredor, batendo na porta do quarto. Levantei com certa dificuldade e me arrastei até a porta. Era o Namjoon.
— Diga... — disse me apoiando na porta, com meus olhos quase fechando.
Ele cruzou os braços e me encarou.
— O Jungkook veio à tarde e eu liberei ele, afinal, você está pior que defunto.
— Obrigado pelas palavras de carinho.
— Por nada.
— Você veio só pra me humilhar? Então já pode ir.
— Vim ver se você estava vivo, mas parece que morreu tem cinco dias.
— Idiota...
Ele começou a rir.
— Daqui a dois dias vai ter o show do Yoongi. Mantenha sua postura lá, por favor. O Jungkook vai com você.
Isso só pode ser brincadeira...
— Que merda, Nam, por que ele tem que ir junto? É só um show.
— Sinto muito, mas são ordens do seu pai.
Eu achei que passaria uma semana incrível sem meus pais, mas a verdade é que está sendo péssima, porque agora tenho a droga de um cão de guarda.
— Alivia essa pra mim, diz para o meu pai que você vai comigo, por favor.
— Nem pensar. Você já passou a noite acompanhado dele e mesmo assim chegou nesse estado. A ordem dele é cuidar de você, e ele tem que exercer essa função.
— Você tá ficando chato igual meu pai... — cruzei os braços, emburrado.
— Se você continuar se comportando, esse segurança será temporário, confie em mim. Não adianta tentar tirar ele do cargo agora, porque a única coisa que seu pai vai fazer é colocar outra pessoa, e talvez, alguém pior. Entendeu?
Ele estava certo...
— Entendi.
— Agora vá comer, o jantar está servido.
— Tô indo. Você vai comer também?
— Desculpe, mas preciso ir para casa, minha mãe está esperando para jantar.
— Tudo bem, boa noite, Nam.
Depois de falar comigo, ele desceu. Eu desci em seguida, e na mesa de jantar tinha um banquete. Um banquete para uma pessoa...
Sentei na ponta da mesa e comecei a comer. Olhar todas as cadeiras vazias foi como uma lembrança vívida de toda a minha vida. Eu me vi sentado ali, criança, acompanhado de babás, ou às vezes, até sozinho.
Enquanto comia, cada garfada parecia mais pesada do que a anterior. O silêncio da casa, quebrado apenas pelo som dos talheres contra o prato, fazia com que a solidão se tornasse ainda mais evidente. Mesmo cercado de luxo, o vazio ao redor da mesa era o que mais se destacava.
Me lembrei de todas as noites em que meus pais estavam ocupados demais para estarem em casa, e quando eram presentes, a conversa sempre girava em torno de negócios, da empresa, das expectativas que elea tinham para mim. Não havia espaço para nada mais.
Eu me sentia fraco por me importar com isso. Afinal, era algo normal para eles, deveria ser para mim também... Mas, por mais que tentasse, nunca consegui me acostumar com a ideia de que era só assim que as coisas eram.
Terminei de comer, mas o apetite havia desaparecido há muito tempo. Levantei da mesa e fui para o meu quarto, passando pelos corredores imensos da casa. Mesmo com tanto luxo, tudo parecia vazio e triste. Sempre foi assim.
Já na cama, olhando para o teto, eu tentava afastar a sensação de vazio que me consumia. O quarto estava escuro, iluminado apenas pela luz da lua que entrava pela porta da varanda. O vento fazia os galhos da árvore balançarem, criando um som suave e constante. Meu corpo estava cansado, mas a mente ainda estava agitada.
O luxuoso quarto ao meu redor parecia ainda mais frio, apesar dos lençóis macios e do aquecedor. Eu me virei várias vezes na cama, tentando encontrar uma posição confortável, mas o desconforto emocional parecia maior que o físico.
Depois de um tempo, o cansaço finalmente começou a vencer, e eu me deixei ser dominado pelo sono... E então, eu adormeci.
E, mais uma vez, eu estava sozinho...
[...]
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| Dois dias depois|
O dia do show do Yoongi chegou. Acordei cedo para ir à gravadora fazer os últimos ensaios junto com ele, mas antes, tomei um café caprichado.
Ontem foi um dia relativamente bom. Fui apenas uma vez para a gravadora, e como foi rápido, o Namjoon liberou o Jungkook novamente e foi comigo. Eu estava aliviado só pelo fato de não ver a cara daquele ignorante prepotente.
Enquanto andava pelo quarto, digitei uma mensagem para o Jungkook, pedindo para ele não vir. Assim que enviei, passei pela janela e vi que ele já estava lá embaixo me esperando, encostado em uma moto.
— Porra... Esse cara não dá um tempo?!
Mesmo irritado, troquei de roupa e desci. As formalidades dele comigo já não existiam mais; afinal, nem um bom dia ele me deu.
— Vamos com seu carro? — Ele jogou uma bituca de cigarro no chão e pisou em cima.
Olhei atrás dele enquanto pensava na resposta.
— Vamos com essa moto. — apontei.
— Mas essa é minha.
— E dai? Você não é meu guarda-costas? Você tem que se adequar às minhas regras.
Ele olhou para o alto suspirando e resmungando como um completo idiota.
— E por acaso o senhor vai sem capacete?
— Senhor é o caralho...
Dei as costas para ele, fui até a garagem e peguei um capacete do Namjoon.
— Vamos.
Seu olhar de raiva se intensificou, e pra mim, isso era muito satisfatório.
Montei na garupa dele e partimos. Assim que ele acelerou, o vento forte bateu no meu rosto.
Ele parecia correr para me provocar, desafiando o limite de velocidade e me fazendo agarrar com mais força nele. A cidade passava rapidamente ao nosso lado, e cada aceleração e frenagem brusca parecia uma provocação direta.
Depois de alguns minutos, chegamos à gravadora. Desci da moto e tirei o capacete.
— Essa foi sua tentativa barata de me assustar?
— Eu? Não, esse é meu jeito de andar de moto. Você quis vir nela, então tem que se adequar ao meu estilo.
— Como meu pai contratou um maluco feito você? Ele te encontrou jogado na entrada de um hospício, só pode.
O brutamontes não respondeu de imediato. Apenas tirou o capacete e me lançou um olhar de desdém.
— Isso é só um trabalho para mim, Jimin. Se você acha que eu estou aqui por diversão, assim como você vive sua vidinha, está muito enganado.
— Ah, claro. Eu sei que está aqui só pelo dinheiro, sem se importar com nada mais.
Ele suspirou, claramente irritado.
— Não estou aqui pra discutir sobre minhas motivações. O que você precisa é cumprir sua parte e ser um adulto normal.
— O que você quer dizer com isso? Que devo me comportar para que você não tenha mais trabalho?
— Exatamente. E você pode começar mostrando um pouco mais de respeito, talvez? Isso facilitaria as coisas para nós dois.
Revirei os olhos e fui em direção à entrada da gravadora, ignorando o tom irritado dele.
— Vamos logo. O Yoongi não vai esperar a manhã inteira por mim.
Ele me seguiu, com raiva, mas em silêncio. O tempo todo, sentia sua presença atrás de mim como uma sombra.
Entrei em uma das salas e encontrei Yoongi ensaiando alguns passos. Ele estava concentrado e a energia dele era contagiante.
— E aí, Yoon! — cumprimentei com um aperto de mão firme. — Ansioso para o show?
— Demais. Os ingressos esgotaram logo nas primeiras horas, acredita? Sua participação ajudou demais.
— Para com isso, é tudo mérito seu. — Respondi com um sorriso.
Yoongi era um rapper exemplar, sempre com músicas que se tornavam sucesso. Minha mãe o descobriu quando ainda era integrante de um grupo em outra gravadora, e trazer ele para a Town para seguir carreira solo foi uma decisão genial. Essa mudança alavancou sua carreira e foi um grande passo para a gravadora também.
Ensaiamos por horas a fio, trabalhando tanto na coreografia da música na qual eu participaria quanto no ensaio da própria música de Yoongi. Eu estava envolvido em cada detalhe, ajustando passos, sincronizando movimentos e garantindo que tudo estivesse perfeito para o show. O esforço que colocamos no ensaio se refletia na precisão e no ritmo das apresentações, e eu sabia que o show dele seria um sucesso.
Assim que terminamos, saí da sala e avistei o Jungkook, que estava em pé ao lado de uma janela do corredor, segurando um copo de café.
— Vamos para casa, preciso descansar antes do show.
Ele assentiu com um gesto e fomos até o estacionamento. O silêncio entre nós continuou durante o trajeto. Ele pilotou a moto até minha casa e, sem uma palavra, me deixou na entrada.
— Volte novamente às 21h.
— Ok. — ele respondeu, fechou a viseira do capacete e partiu.
Entrei em casa e tentei me preparar para descansar, mas a discussão com o Jungkook ainda estava na minha cabeça. Fiquei inquieto, pensando no quanto eu havia me importado com a atitude dele. Era estranho porque, no fundo, eu sabia que não deveria deixar aquilo me afetar tanto.
A tarde passou devagar, e eu lutei contra a ansiedade enquanto tentava relaxar, jogado na minha cama.
— Ele está certo, minhas chances de escapar dele são mínimas, fora que ele é esperto, minhas desculpas não vão colar com ele.
O que me resta é aceitar e suportar esse infeliz.
[...]
Quando o relógio marcou 20h, eu me levantei e comecei a me preparar. Tomei um banho rápido, vesti uma roupa qualquer.
Às 21h em ponto, o Jungkook já estava do lado de fora. Ele estava mais sério do que antes, e o silêncio entre nós se tornou ensurdecedor.
— Você dirige, não tô afim — Joguei a chave para ele, entrei no banco do passageiro e partimos.
O desgraçado estava bonito, com um blazer preto e uma camisa branca por baixo, e algumas correntes no pescoço. Enquanto dirigia, eu observava cada tatuagem em sua mão. O piercing na boca dele se destacava enquanto ele falava pouquíssimas palavras para mim.
— Você não vai beber hoje, entendeu? — Ele falou enquanto continuava olhando para frente.
Eu preferia que ele continuasse calado.
— Isso não é da sua conta.
— Se for pra me dar trabalho de novo, é sim.
Eu virei com raiva na direção dele.
— Se está ruim pra você, por que não desiste logo?
Mesmo dirigindo, seu olhar se direcionou para mim após minha resposta.
— Se está ruim pra você ser obrigado a ter a porra de um guarda-costas, por que fica levando uma vida de merda? Isso é só uma consequência dos seus atos, garoto mimado!
Eu não esperava essa resposta dele, muito menos que me enfrentasse dessa forma.
— Quem você pensa que é pra falar comigo assim? — perguntei enfurecido.
Ele ficou em silêncio e voltou a olhar pra frente.
— É obvio que não vai ter coragem de responder, você é um covarde.
Assim que terminei de falar, ele jogou o carro no acostamento da rua e parou de forma brusca. Soltou o cinto e veio para cima de mim, ficando completamente próximo.
— Do que você me chamou?
— Co-var-de, covarde! — repeti, enfrentando ele.
Ele começou a dar uma risada irônica olhando para baixo.
— Qual a graça, caralho?
— Você é só um moleque, Park, e eu vou te colocar na linha, por bem ou por mal.
O olhar dele percorreu cada ponto do meu rosto enquanto falava. Seu corpo estava tão próximo que eu podia sentir a respiração dele bater na minha pele.
— Dirige a droga desse carro logo, você vai me atrasar! — falei e desviei o olhar.
Ele se afastou, colocou o cinto novamente e saiu com o carro, em silêncio.
Fiquei em silêncio, surpreso e irritado. A verdade é que eu não sabia como agir, e isso me deixou ainda mais frustrado. Ele era só um guarda-costas; e eu o chefe, não tinha por que me estressar com um funcionário qualquer.
De alguma forma, essa situação estava me afetando mais do que eu queria admitir...
Assim que ele parou o carro no estacionamento do local do show, eu desci e deixei ele sozinho. Andei pelos corredores até achar o camarote que vamos ficar.
Era um espaço reservado e exclusivo, projetado para oferecer conforto e uma visão privilegiada do palco. O local era escuro, com decorações em tons de preto e dourado, destacava o luxo do espaço sem ofuscar a visão do palco.
No centro, havia um grande sofá em formato de U, coberto com almofadas macias e elegantes. À frente, uma mesa de vidro escuro estava repleta de petiscos variados, ao lado de garrafas de champanhe e outras bebidas finas.
Meus olhos brilharam com as bebidas.
Depois de uns quinze minutos bebendo, o Yoon entrou no palco e o show começou.
Após duas músicas, o Hobi e a Nayeon chegaram também. Quando levantei pra cumprimentar, notei que o Jungkook estava ao fundo, em um canto do camarote, apenas observando.
— Desde quando ele tá ali? — sussurrei pra mim mesmo.
Ele estava encostado na mesa, a postura relaxada, mas os olhos fixos em mim, me observando sem qualquer tentativa de disfarçar. A luz suave que entrava no camarote iluminava parcialmente seu rosto, destacando suas feições sérias. O contraste entre a música alta e a sua calma intensa só fazia meu incômodo aumentar.
Mesmo enquanto o Hobi tentava conversar comigo, minha atenção continuava dividida, uma parte de mim sempre ciente da presença dele ao fundo, observando cada detalhe.
Hoseok olhou para trás e depois para mim, notando meu olhar incomodado.
— O que foi? Sua cara está péssima.
— Depois eu te conto o que aconteceu, vamos só curtir o show.
Ele concordou e sentou, já se servindo de uma das garrafas que estavam ali.
— Oi Ji — A Nayeon entrelaçou as mãos na frente do corpo enquanto falava de forma tímida.
Desde quando eu dei intimidade à ela pra me chamar assim?
— Oi.
Minha atenção se voltou novamente ao palco.
O tempo todo, ela ficou tentando chamar minha atenção, e tanto a presença dela quanto a do Jungkook estavam me incomodando. O ambiente, que deveria ser animado e descontraído, estava me deixando inquieto,
Após mais algumas músicas, um dos produtores finalmente me chamou para o camarim para eu me arrumar. Hobi e a irmã continuaram no camarote assistindo ao show, enquanto eu me levantava, aliviado por finalmente poder sair.
Entrei no camarim, troquei de roupa e fui direto para a cadeira em frente ao espelho. As maquiadoras já estavam à espera e logo começaram a me arrumar. A luz suave do camarim contrastava com os sons abafados do show lá fora. Mesmo presente, minha mente estava longe dali.
Enquanto elas aplicavam a base e ajustavam meu cabelo, minha cabeça continuava presa no camarote. O jeito como o guarda-costas me olhava, fixo, sem desviar o olhar... Por que aquilo me incomodava tanto?
Eu deveria estar focado no show, na minha performance, mas, em vez disso, a existência dele não saía da minha mente. Mesmo com uma produtora ao lado falando comigo sobre os últimos detalhes, eu mal conseguia prestar atenção no que ela dizia.
— Tudo certo para você? — a voz da produtora cortou meus pensamentos.
— Eu? Ah... sim... tudo ok.
— Ótimo. Vou te esperar na entrada do palco, não demorem.
Eu mal ouvi o que ela falou e só concordei.
A irritação crescia dentro de mim. Talvez fosse o fato de ele me tratar como se quisesse mandar em mim, ou simplesmente porque ele não tinha medo de me enfrentar, de me encarar diretamente, sem hesitar nem por um segundo.
Respirei fundo, tentando afastar esses pensamentos. Precisava me concentrar e esquecer disso, pelo menos enquanto estivesse no palco.
Fui até a produtora, que ajustou os acessos do microfone e do ponto. Finalmente, subi no palco. A plateia gritava ainda mais alto quando começamos a cantar.
A energia da plateia me envolvia, e conforme a música fluía, a felicidade tomava conta de mim. Quando a música acabou, agradeci ao Yoon pelo convite e saí do palco, onde ele continuou sua performance.
Tirei o acesso dos pontos que estavam em mim com a ajuda de um staff e voltei para o camarote para continuar assistindo.
Lá dentro, só o Hoseok estava lá.
— Sua irmã foi embora?
Eu já estava aliviado antes mesmo dele responder, seria um incômodo a menos.
— Ela sabe que não pode beber. Passou mal com duas garrafas de soju... — ele riu — o Jungkook levou ela embora.
— Ele o quê?! — falei alto.
Não. Não pode ser.
— O que foi?
— Hoseok, ele é MEU guarda-costas, e não da sua irmã.
— Jimin, eu não tô te entendendo. Você não me disse que queria uma chance dele sair do seu pé? Olha a puta oportunidade que você está tendo, vamos curtir.
Ignorei o que ele disse, completamente irritado e saí do camarote.
Enquanto descia algumas escadas, mandei mensagem pra ele, mas como eu já imaginava, ele nao respondeu. Nem sequer viu.
Liguei e só chamou.
— Só pode ser brincadeira.
Cheguei no estacionamento e notei que meu carro ainda estava lá, ou seja, ele deve ter ido com o carro do Hobi.
Enquanto procurava a minha chave, meu celular vibrou; era o desgraçado com uma única mensagem.
— Agora ele quer que eu espere por ele?
Andei de um lado para o outro no estacionamento, incomodado. Minha paciência já estava no limite.
Eu sabia que o Hoseok estava certo, era minha oportunidade de curtir, mas por que eu estava sentindo tanta raiva? Eu precisava pelo menos descarregar isso nele para poder continuar minha noite.
Depois de dez minutos, vi o Jungkook chegar no estacionamento com o carro do Hoseok e estacionar ao lado do meu.
— Eu falei cinco minutos.
Ele não respondeu. Desceu do carro e olhou para trás enquanto ativava o alarme.
— Eu tô falando com você, Jungkook! — Cheguei mais perto e levantei a voz.
Ele se aproximou e me olhou nos olhos, da mesma forma das últimas vezes.
Ele estava muito próximo, muito mais do que deveria. Dei um passo para trás para me afastar, mas ele segurou meu braço.
— Tudo isso por ciúmes? — Ele riu maldosamente.
— Você só pode estar de brincadeira. Ciúmes de você? Seu louco!
Comecei a rir de raiva, mas o problema era que ele também ficou rindo, com ironia no tom. Puxei meu braço que ele ainda segurava e me soltei das mãos dele.
— Você é pago pra servir à mim, e não aos outros. Não tem nada a ver com ciúmes.
— Você está sendo egoísta, senhor Park... — Ele se aproximou ainda mais, me prendendo entre ele e o carro.
— Para de me chamar assim, seu prepotente dos infernos!
— Vamos entrar, ok?
— Eu não preciso mais dos seus serviços. Vá trabalhar para Nayeon.
Ele se afastou de mim e começou a rir ainda mais, olhando para o chão. Eu era uma piada para ele, e isso estava destruindo o pouco de sanidade que ainda me restava.
— E quem é Nayon?
— É NayEon. E é a garota que você levou — Cruzei os braços.
Ele deu com os ombros, abrindo os braços em um gesto de confusão.
— Mas eu levei porque seu amigo pediu.
— E dai? Era só não aceitar. Ele não manda em você, sou eu quem manda.
Ele mexeu no piercing dos lábios com a língua, visivelmente tentando controlar a paciência. Se é que esse desgraçado tinha alguma.
— Não achei que seria gentil da minha parte recusar ajudar a irmã de um amigo seu que estava quase desmaiada, ainda mais a pedido dele — Ele se afastou, falando em um tom calmo.
E o pior é que ele tinha razão, mas eu não daria esse gostinho para ele.
— Na próxima, me consulte antes de obedecer outras ordens que não sejam minhas!
Ele arqueou uma sobrancelha, claramente irritado, mas manteve a voz controlada.
— Se isso faz você se sentir melhor, senhor, vou me certificar de seguir suas ordens à risca na próxima vez.
Eu não sabia se ele estava sendo sarcástico ou apenas cínico, mas o tom dele me deixou ainda mais furioso.
— Ótimo. Agora vamos voltar — falei, seco.
Virei as costas para ele e fui em direção ao elevador. Quando olhei para trás, vi que ele continuava parado no mesmo lugar.
— O que foi? Tá esperando um convite por carta?
Ele sorriu olhando para o chão, colocou as mãos nos bolsos e veio na minha direção. Queria saber o que ele achava tão engraçado, que merda!
Subimos em silêncio, os passos ecoando pelos corredores. Meu coração batia rápido, e eu odiava a forma como ele me deixava fora de controle.
Assim que chegamos ao camarote, vi que o Hobi já estava muito mais bêbado do que antes, e eu sabia que acabaria sobrando para mim cuidar dele.
— Larga essa garrafa, chega de beber. — Puxei a garrafa da mão dele.
— Jungkook, o que você fez com meu amigo? Esse não é o meu amigo... O que aconteceu com você, Park? — Ele fingia chorar, completamente alcoolizado.
Depois de tudo isso, a última coisa que eu queria era beber. Minha cabeça doía, e eu só queria assistir ao restante do show e ir embora.
— Você já está bêbado demais e nem vai dirigir assim, então chega desse showzinho, né?! Outro dia, bebemos mais.
Ficamos por mais um tempo, e o show chegou ao fim. O Hobi estava deitado no sofá, apagado. Fui até ele e segurei seu braço para tentar o levantar, mas senti uma mão no meu braço, me segurando.
— Eu levo ele.
Jungkook levantou Hoseok com facilidade, algo que seria bem difícil para mim. Descemos de elevador e fomos para o estacionamento, no mesmo silêncio mortal.
— Coloca ele no meu carro. Dirija o carro dele e me siga.
— Ok.
Jungkook colocou o Hobi no meu carro e passei o cinto de segurança nele. Nem esse movimento foi suficiente para acordar ele. Comecei a dirigir até seu apartamento, e no caminho, o Hoseok ainda resmungou mais algumas vezes.
Já na frente do prédio, um funcionário da casa dele desceu e retirou Hobi do carro, enquanto Jungkook deixava o carro dele na garagem. Assim que terminou, ele entrou no meu.
— Quer que eu te leve para sua casa? — perguntei.
— Preciso da minha moto.
— Ok.
Liguei o carro e fomos para minha casa. O caminho todo foi em silêncio; após as diversas discussões que tivemos hoje, era o ideal a se fazer.
— Você... — ele parecia buscar palavras — A garota, ela é sua namorada?
— Não, de onde você tirou isso?
— Nenhum lugar, foi uma dúvida só.
— Hmm, entendi. Você tá afim dela?
— Claro que não! — O tom dele até mudou enquanto seus olhos, que já eram grandes, arregalaram.
E de novo, o mesmo silêncio ensurdecedor. Meu alívio foi passar pelos portões de casa.
Parei o carro na frente de casa, e ele desceu, montando na moto dele.
— Boa noite — ele falou, colocando o capacete.
Eu poderia xingar ele de mil coisas, mas...
— Obrigado, boa noite também.
Mesmo que tenha disfarçado, eu vi um certo sorriso enquanto ele ajustava o capacete. Ele acelerou e foi embora, e eu entrei em casa.
Assim que entrei e fechei a porta, vi Namjoon próximo à entrada, falando ao celular. Ele me encarou enquanto terminava a conversa.
— Ok, vou preparar tudo, Sr. Park. Boa noite.
Ele desligou a chamada.
— Qual é a má notícia, Nam?
— Seus pais chegarão amanhã cedo, adiaram o retorno.
— Ah, que interessante... — Tentei dar um sorriso, mas o que saiu foi uma expressão forçadae falsa.
— Sua cara nunca nega o que sente, você não mudou nada mesmo depois de crescer — ele riu.
Mesmo sendo um funcionário de confiança da família há seis anos, ele sempre me ajudou a fugir de várias encrencas com meus pais, e por isso nossa relação sempre foi muito boa.
— Você ri, né? — Também ri junto. — Meu pai está no meu pé mais do que nunca, e amanhã o pouco de paz que eu estava tendo vai acabar.
— Não ache que ele vai mudar de ideia quanto ao guarda-costas. Tenho certeza de que ele não vai.
— Infelizmente, eu sei que não...
Namjoon cruzou os braços, pensativo.
— Já te falei como agir. Tenha um bom convívio com o Jungkook, isso vai te ajudar a se livrar dele futuramente.
— É impossível, Nam, confie em mim, ele é insuportável, e nós brigamos por tudo. Não há como ter um bom convívio... É humanamente impossível.
— Você sabe que você também não é fácil de lidar. Tenta entender o lado dele.
— Não entendo e nem vou tentar entender. Ele é prepotente, e se continuar assim, eu mesmo o demito.
O Nam começou a rir, sabendo que não tenho esse poder, não com alguém contratado diretamente pelo meu pai.
Conversamos mais um pouco e subi as escadas. Quando entrei no quarto, as luzes estavam apagadas e a escuridão envolvia o ambiente. Deixei as luzes do abajur acesas para não ficar completamente no escuro. A noite, silenciosa e fria, parecia estar carregada de uma tensão inexplicável.
Deitei na cama e, enquanto tentava relaxar, minha mente girava em torno do guarda-costas, com seu olhar desafiador e comportamento infantil comigo. Seu sorriso irônico me atormentava.
Peguei meu celular e abri minha conversa com ele. Com um suspiro, comecei a digitar uma mensagem, mas parei, refletindo sobre o quanto essa atitude parecia inútil e imatura.
— Por que estou fazendo isso? — perguntei a mim mesmo, antes de bloquear o celular e colocar na mesinha de cabeceira.
Isso foi vergonhoso da minha parte...
A noite parecia interminável e, com meus pensamentos inquietos, o sono se mostrava cada vez mais distante.
Os minutos se arrastavam e a noite parecia não ter fim. A frustração e a ansiedade se misturavam, então liguei uma música qualquer e fiquei ouvindo.
Finalmente, o cansaço e a exaustão tomaram conta de mim. Com a mente ainda repleta de pensamentos e a música ao fundo, fechei os olhos e, apesar de todos os tumultos internos, consegui adormecer. O sono, embora inquieto, foi um alívio temporário para a turbulência emocional que havia me consumido durante todo o dia.
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O pior cego é aquele que não quer ver, não é mesmo?
Obrigada pelo apoio, leitor :)
Não esqueçam de votar e comentar, isso me ajuda muito a saber se estão gostando do desenrolar da fic.
E até o próximo capítulo!
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(Capítulo reescrito em agosto/24)
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