Capítulo 39
A primeira coisa que sentiu após pisar na mansão Arnaud foi um sentimento de familiaridade, pois era a mesma casa que tinha visto quando encontrou seu pai e Mary, então por instinto, Anastasia começou a se dirigir para a biblioteca.
Pelo que pôde notar no caminho pelos corredores, a casa estava impecável e limpa, como se tivesse sido utilizada por todo aquele tempo, mesmo sem ninguém estar morando ali desde a morte de seus avós maternos na Primeira Guerra Bruxa.
— Dobby, a casa está sendo mantida por alguém? — Anastasia perguntou ao elfo que caminhava ao seu lado.
— Os elfos de sua família. Eles são livres, mas gostam de trabalhar aqui e sua mãe os paga muito bem.
Ao abrir a porta, ela viu se tratar da mesma biblioteca onde conversou com Mary e logo acima da lareira, um retrato de um casal estava posto para todos verem.
E a mulher ao lado do homem, era Mary.
— Preciso achar a réplica no cofre — A Bellini disse olhando o ambiente.
Tudo parecia impecável para quem olhasse e buscasse algo visível aos olhos, mas um detalhe no chão de uma estante chamou a atenção da corvina. Pegando sua varinha, ela pode perceber que havia um pequeno buraco na lateral com a circunferência exata de uma varinha, e ao colocar a ponta dela no local, a estante se afastou revelando um corredor com escadas voltadas para baixo.
Anastasia conjurou lumos em sua mente, fazendo a ponta da varinha se iluminar. Sendo seguida de Dobby, ela foi descendo as escadas até chegar em uma porta que era semelhante a entrada para o Salão Comunal da Corvinal.
— Qual é a semelhança entre um corvo e uma escrivaninha? — a altrava perguntou para a garota.
— Ambos fazem notas, nem sempre alegres.
A porta se abriu e Anastasia ficou surpresa com o que encontrou. Era praticamente uma versão ampliada de uma biblioteca, com poções, caldeirões, livros e um esqueleto de dragão pendurado no teto.
O ombro da garota doeu por alguns instantes e ela se abaixou, virando-se para ver o que havia acertado-a, acabou encontrando sua coruja Mary sobrevoando o local até parar em uma caixa de metal na mesa.
O cofre com a réplica.
— Dobby, sabe o que acontecia aqui embaixo?
— Dobby investigou quando a senhorita Ravenclaw pediu. Parece que, as descendentes da senhora Ravenclaw, construíram aqui para poderem praticar magia após terminar Hogwarts.
— Então deve ter algo de Alice aqui. Vamos procurar antes de abrir o cofre e transferir a magia.
Dobby concordou largando a caixa com o verdadeiro diadema em cima da mesa e procurando a carta. Anastasia avaliava os papéis, a maioria eram datados antes mesmo de seu nascimento, e alguns estavam quase ilegíveis.
— Encontrei! — o elfo disse alegre indo até a menina com a carta nas mãos — Aqui está a assinatura dela.
— Obrigado Dobby. Vejamos.
Abrindo o papel do envelope com delicadeza pela idade da folha em si e com medo de rasgá-la, Anastasia apanhou a carta e se deparou com uma letra cursiva que mais parecia relatar algo do que instruir.
Hoje é primeiro de setembro.
Estranhamente, após muito tempo, não irei mais para Hogwarts. Tiveram a bondade de me oferecerem um cargo como professora de feitiços, outrora, minha missão ainda não acabou e sinto que é somente o início dela agora que completei meus estudos.
Os sonhos com Mary estão se tornando mais e mais recorrentes, ao ponto de não conseguir pensar em outra coisa se não for o diadema. Mamãe acha que é loucura eu ir nesta viagem, e está tentando de todas as formas acabar com minha missão arranjando-me um casamento com um lorde bruxo. Embora já tenha dito que não me casarei, e que o papel de levar a família adiante é de Margareth, ela ainda acha loucura.
Papai é o único que me apoia, e isto basta.
O joalheiro deixou a encomenda que pedi hoje pela manhã, e está tão perfeito pelas minhas instruções, que não vejo a hora de encontrar o verdadeiro e trazê-lo de volta para casa. Partirei amanhã para a floresta, buscarei o diadema e voltarei com ele podendo deixá-lo são e salvo antes que Tom Riddle faça alguma coisa no futuro.
Segundo Mary, ele irá acabar com o objeto. E não posso deixar isso acontecer, nem que para isso, eu deva perder minha vida.
Fiz alguns estudos sobre como transferir a magia de um objeto para outro. Não achei nenhum feitiço próprio então tive que criar um novo, testei e deu certo se eu não tremer a varinha e dizer translatio, depois deve fazer um arco até o objeto que se quer transferir a magia. Exige muita concentração, provavelmente mais do que um feitiço de proteção ou até mesmo o feitiço do patrono. Mas se deu certo com o que tentei, com o diadema também deve dar. Para isolar algo, criei recludet, embora não tenha tanta certeza se funciona com magia obscura.
Agora devo ir jantar, embarco amanhã cedo e início minha viagem em busca do diadema. Não irei desapontar ninguém.
A.K
Anastasia olhou o feitiço destacado na carta, translatio, e pode notar que a senha do cofre deveria ser a data de início das aulas. A corvina andou até o cadeado do cofre, girou os números até formarem 0901 e quando o mesmo se abriu, sorriu aliviada. Apanhou a caixa que estava dentro, abriu e viu que a réplica de fato era como o original. Tanto que ao pôr ambos lado a lado, mal pode notar a diferença.
— Ainda não sendo o que Rowena usava, continua sendo lindo.
— A senhorita irá fazer o feitiço agora? Dobby tem um pedido para fazer para a senhorita, um pedido pessoal.
— Qual?
— Que tomasse cuidado com o que tem nele — o elfo apontou para o verdadeiro diadema — Tive senhores que mexiam com magia ruim e amigos de Dobby que perderam senhores para essa magia ruim, e é muito ruim mesmo, senhorita.
O elfo parecia chorar a qualquer momento e Anastasia se abaixou até ficar em uma altura de igual para igual. As mãos da bruxa pegaram as mãos do elfo, que parecia ter sofrido várias coisas já que tinha cicatrizes de cortes e queimaduras.
— Não se preocupe comigo Dobby, tomarei cuidado. Mas se alguma coisa ruim acontecer comigo e eu não ficar...bem, peço que esconda o verdadeiro diadema onde ele estava antes e nunca mais toque no assunto sobre o feitiço, a réplica ou qualquer coisa envolvendo a família de Helena Ravenclaw. E que avise minha mãe sobre o que acontecer aqui, tudo bem?
O elfo assentiu e a garota não resistiu em dá-lo um abraço, contendo também as lágrimas que queriam cair de seus olhos.
— Agora, vamos fazer o que deve ser feito — ela disse tentando se recompor e levantou.
A varinha apontava para o diadema de Rowena, firme e respirando fundo com toda a concentração, Anastasia recitou:
— Translatio.
*ೃ *ૢ✧
Louis olhava para a mesa da corvinal durante o almoço esperando pela prima mas até agora, nenhum sinal dela. O garoto já estava achando estranho, já que Hermione e Lúcia afirmaram que ela não apareceu para fazer as rondas, ela também não estava em qualquer canto do castelo e pelo que pode investigar, não tinha nenhuma detenção com Dolores.
— Nada ainda? — Hermione perguntou e o garoto negou — Vai ver, ela está em algum lugar e vocês estão se desencontrando.
— Pode ser, ou ela não está se sentindo bem e preferiu ficar no Salão Comunal dela — palpitou Gina.
— Não acho que isso possa ocorrer. Se não, meu anel não estaria escuro desse jeito e isso é um péssimo sinal.
— O quão péssimo? — Hermione perguntou.
— Vida ou morte.
As duas observaram o que ele queria dizer e se calaram, pois o anel que sempre era claro, estava extremamente o oposto. Por algum motivo, Louis sentiu que Malfoy sabia de alguma coisa, já que a cara dele não era das melhores e pelo histórico dele envolvendo Anastasia, e juntando ao fato de Will ter contado que a última pessoa que viu Anastasia falar foi o loiro, deixava ainda mais a pulga atrás da orelha pedindo para uma conversa interrogatória.
O sinal anunciou o fim do almoço, o grifano saiu da mesa ao mesmo tempo que o loiro saia da dele junto aos seus capangas, como costumavam dizer pelos corredores, e antes que ele pudesse se afastar demais do salão, Louis o encurralou.
— Onde está a minha prima? Onde ela se meteu Malfoy?
— Eu não sei do que está falando — o loiro tentou desviar o caminho mas Louis o fechou novamente.
— Fiquei sabendo que foi o último a ser visto com ela, e até agora, ela não apareceu. Anda, fala logo onde ela está e o que fez com ela, porque se tiver mesmo feito algo com ela, nem Merlim me segura.
Os alunos que saiam do almoço começaram a se reunir para ver a possível confusão que se iniciaria.
— Por que acha que eu faria algo com ela?
— Não sei — Louis disse debochado — Me responda você. Porque até onde eu sei, foi o último a vê-la, e ela sumiu do mapa. E olha que eu olhei nele.
— Eu não sei, tá legal? Porque está enchendo tanto o meu saco sobre isso hein Bellini?
— Quer mesmo que eu fale em voz alta aqui para todos ouvirem?
Draco ficou um tanto pálido, não queria que ninguém ainda soubesse do seu quase relacionamento com a corvina porque isso chegaria de uma forma ou outra aos ouvidos de seu pai, e ele preferia enfrentar as palavras duras de Lucius Malfoy contando por contra própria e não por boatos de corredor.
— Por que? Se eu não te contar vai me bater? — Draco provocou, e acabou incendiando ainda mais os comentários entre os alunos que observavam a briga.
— Então você sabe onde ela está! — Louis o agarrou pela capa do uniforme — Anda Malfoy, fala o que você fez com ela.
Antes que as provocações e um soco de Louis atingisse a cara do loiro, todos puderam ouvir um grito.
— JÁ CHEGA VOCÊS DOIS!
A cabeça de todos se viraram para ver quem havia interrompido a briga e Louis se surpreendeu com a própria prima, andando até onde eles estavam, como se não tivesse desaparecido durante a manhã inteira. Mas havia algo diferente nela pelo que o moreno pode notar, como se ela irradiasse algum tipo de magia antiga pela forma confiante que caminhava e tinha a capa da escola quase voando atrás de si.
Parecia extremamente poderosa para alguém da sua idade.
— Pode fazer o favor de soltá-lo, por favor — Anastasia pediu ao primo que ainda intrigado, soltou o loiro e tinha total atenção na garota — Eu estou bem aqui, soube que estava me procurando.
— É, onde esteve afinal de contas?
— Depois eu conto, agora — ela se virou para os alunos que cochichavam pela confusão minutos antes — Podem ir, acabou o show e acho que ninguém quer detenção.
Um por um os alunos foram saindo, deixando apenas os amigos de Anastasia observando ela como se ela acabasse de sair da Floresta Negra.
— Ficamos preocupados, Ana, você sumiu e não disse nada — Lúcia abraçou a amiga.
— Não sumi tanto assim gente.
— A manhã inteira, e não dormiu no quarto ou em qualquer canto de Hogwarts — Will disse após abraçá-la sendo seguido dos demais, o que fez Draco ficar um pouco enciumado por não poder fazer aquilo explícitamente.
— Tive meus motivos, mas o importante é que estou bem e voltei para a alegria de vocês — ela sorriu — Agora temos aula, não temos?
— A aula! — Hermione deu um pulo assustado e saiu correndo, deixando todos para trás, o que gerou risos em alguns.
— Bom, já que terminaram de me encherem o saco — Draco fingiu ajeitar a gravata e saiu dali, não sem antes receber um olhar significativo da Bellini para se encontrarem mais tarde, do qual ela respondeu com um sorriso ladino.
*ೃ *ૢ✧
Após uma rápida comemoração do aniversário de Anastasia no Salão Comunal da Corvinal, com direito aos presentes faltarem em suas aulas para poderem desfrutar da comida que os Diggorys e Tiana haviam conseguido na cozinha da escola, as garotas foram se recolher para o quarto da Bellini e se encontravam todas deitadas nas camas ou então sentadas no chão.
— Então... vai contar o que houve ou fará mistério? — Gina perguntou.
— Não houve nada.
— Lógico que houve, você está animada e está toda radiante. Não venha com a desculpa de ser a nova idade que não cola — Tiana disse e fechou os olhos em fendas — Tenho até um leve palpite, mas não acho que seja isso.
— Que palpite? — Luna perguntou.
— Começa com S e termina com O — Tiana disse nas entrelinhas e Anastasia, ao entender, ficou com as bochechas vermelhas antes de jogar uma almofada na cara da amiga.
— Não! Não tem nada disso, não fiz nada disso com ele — a corvina tampou a boca mas já era tarde demais, pois todas tinham ouvido.
— Então tem alguém! Por isso você sumiu! Quem é? Fala! A gente conhece? Conta logo! — pediu Gina antes da porta do quarto abrir e Ellen entrar constrangida, já que Will tinha liberado a sua passagem para entrar no salão.
— Oi... hã... eu só vim deixar o presente da Ana, já estou de saída.
— Fica, por favor — pediu a corvina indo até a loira — Estava mesmo faltando alguém aqui. Você faz falta.
— Eu...
A loira dirigiu seu olhar a Gina, que abaixou a cabeça sob os olhares das demais. Era evidente que desde a discussão das duas, uma leve rachadura tinha se formado no grupo delas e acaba indiretamente afetando as demais, já que a Weasley sempre saia do lugar onde a loira estava.
— Ai, vocês tem que parar com isso, ok? Eu tô bem, viva e pronta para outra, não tem porque ficarem bravas. Eu as proíbo de brigarem por minha causa — a Bellini puxou Ellen até que ela e Gina estivessem frente a frente — Anda, peçam desculpas uma para a outra e decretem a paz com um abraço amigo.
— Me desculpe — elas disseram em uníssono de forma baixa.
— Foi muito fraco isso — Tiana balançou a cabeça em negação — Peçam desculpas com vontade, ou vou azarar vocês.
Gina olhou para Ellen e ao mesmo tempo, as duas se abraçaram murmurando desculpas uma para a outra, o que acarretou aplausos animados das outras que assistiam.
— Abraço em grupo! — Anastasia disse e elas se apertaram em um grande abraço, um pouco desajeitado no meio do quarto.
Logo depois, a conversa rendeu até o jantar e assim, o horário de dormir veio pouco tempo depois. O quarto já estava escuro, Tiana e Luna estavam dormindo profundamente quando Anastasia encarava o teto do cômodo sentindo a magia passando por suas veias, como uma magia familiar havia, enfim, reencontrado sua dona após anos.
*ೃ *ૢ✧
Notas da autora: Hey pessoal, como estão?
Demorei mas é porque esse capítulo é um dos pilares para o que a trama irá se tornar futuramente, e como planejo fazer capítulos maiores, acaba demorando um pouquinho, espero contar com a compreensão de vocês.
Acho que deu para adivinhar o que houve com a Anastasia certo? Agora, se alguém vai descobrir, isso são outros quinhentos... A briga entre Gina e Ellen terminou finalmente, todo mundo tá de bem e agora temos algo pela frente: A Armada. Palpites sobre o que pode acontecer nas aulas?
Me digam o que estão achando, quero saber de tudo! E antes de irem, quero agradecer pelo tanto de visualizações, comentários e listas de favoritos que Unconditionally está entrando, sério, se sintam todos abraçados por mim <3
Até o próximo!
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