32- Detida


Era uma tarde de sexta-feira, e o estúdio de Enzo estava tranquilo, iluminado pela luz suave do fim do dia que entrava pelas janelas. Ele e Luna tinham combinado de sair para jantar naquela noite, algo casual, uma pausa bem-vinda após uma semana cheia. Enzo, no entanto, estava largado no sofá, imerso em um novo caso que acabara de pegar. O caso que Enzo analisava enquanto estava largado no sofá era complexo e intrigante. Tratava-se de um caso de homicídio envolvendo um famoso empresário da cidade. A vítima, fora encontrada morta em sua casa de campo, em circunstâncias misteriosas. O homem era conhecido por seu império no setor imobiliário, mas também por suas inúmeras desavenças e controvérsias no mercado, o que tornava a lista de suspeitos vasta e variada. A cena do crime não apresentava sinais de arrombamento, o que indicava que a vitima conhecia seu assassino ou que este tinha acesso à casa. Ele fora encontrado na sala de estar, ao lado da lareira apagada, com uma lesão na cabeça e vestígios de luta. No entanto, o que tornava o caso mais peculiar era a ausência de uma arma do crime e o fato de que a casa estava impecavelmente arrumada, exceto pela sala onde o corpo foi encontrado. Entre os principais suspeitos estavam sua esposa, com quem ele mantinha um casamento tumultuado e repleto de rumores de traições e brigas intensas. Havia também os sócios de Arthur, Rodrigo e Paulo, que recentemente haviam tido uma grande discussão sobre uma fusão que poderia impactar diretamente os lucros da empresa. Além disso, uma ex-funcionária, que fora demitida sob circunstâncias suspeitas, também estava na lista, pois havia movido um processo judicial contra ele por assédio moral e sexual. Enzo analisava cuidadosamente os depoimentos colhidos pela polícia até então. O caso era um quebra-cabeça, e Enzo estava apenas começando a juntar as peças. Enquanto lia os relatórios e cruzava os dados, sua mente já começava a formular teorias. Quem teria mais a ganhar com a morte do empresário? Seria um crime de paixão, vingança ou algo ainda mais complexo?

Era o seus questionamentos, enquanto Luna, sentada à mesa do estúdio, estava imersa em suas anotações, concentrada em cada detalhe para a festa de casamento de Samira, que seria realizada em poucos dias. Como organizadora de eventos, Luna sabia que faltavam apenas ajustes finais, mas, como sempre, esses últimos retoques poderiam ser os mais complicados. Além disso, Luna estava lidando com a questão da música. Samira e o noivo tinham gostos musicais muito diferentes: ela adorava clássicos românticos e ele, ritmos mais contemporâneos e animados. Eles haviam escolhido duas bandas, uma para o início da recepção e outra para a festa, mas Luna ainda precisava garantir que a transição entre os estilos fosse suave, sem quebrar o clima de celebração. Por fim, Luna também estava organizando uma surpresa especial para Samira. Ela havia convencido o noivo a gravar uma mensagem personalizada, que seria exibida em vídeo durante o jantar, algo que Samira não fazia ideia. Luna queria que tudo saísse perfeito, e, enquanto conferia os últimos detalhes da agenda do evento, já começava a sentir a pressão das horas finais se aproximando. Ela olhou de soslaio para Enzo, largado no sofá, imerso em seu caso criminal, e sorriu ao pensar que, enquanto ele resolvia mistérios, ela se ocupava dos desafios emocionais e logísticos de transformar o casamento dos sonhos de Samira em realidade.

De repente, o celular de Enzo vibrou sobre a mesinha de centro. Ele pegou o aparelho distraidamente, seu olhar mudando ao ver o nome de Rafael piscando na tela. Estranhando a ligação naquele horário, atendeu.

—Rafa? O que foi?— perguntou, sem se levantar, imaginando que seria algo rotineiro.—

Do outro lado da linha, a voz de Rafael veio tensa, quase alarmante. 

—Enzo, preciso que você venha agora. Milena... está detida.

Enzo imediatamente se sentou, os papeis esquecido no sofá. 

—O quê? Como assim, detida? O que aconteceu?

Luna levantou o olhar ao perceber o tom urgente na voz de Enzo, ficando atenta à conversa. Ele se levantou do sofá, começando a andar de um lado para o outro no estúdio enquanto Rafael explicava.

—Ela brigou na porta da faculdade com a namorada do Matteo. Parece que a Sofia traiu o Matteo com um amigo, e ele descobriu. A confusão foi feia, Enzo. Milena se envolveu de algum jeito e acabou sendo levada pela polícia.

Enzo passou a mão pelos cabelos, sentindo a frustração crescer. 

—Droga... Milena e o temperamento dela. Já estou indo, Rafael. Me avisa se souber de mais alguma coisa até eu chegar.

Luna já estava de pé, aproximando-se de Enzo. 

—Aconteceu alguma coisa com a Milena?— ela perguntou, com preocupação nos olhos.—

Enzo assentiu, visivelmente abalado. 

—Ela se meteu em uma briga na faculdade. Vou até a delegacia, não sei exatamente o que aconteceu, mas Rafael disse que ela está detida.

—Eu vou com você.— respondeu Luna, já pegando sua bolsa e fechando o caderno de anotações. O jantar que haviam planejado foi imediatamente esquecido diante da urgência da situação.—

A caminho da delegacia, o clima no carro era tenso. Enzo mantinha uma mão firme no volante enquanto tentava organizar os pensamentos. Luna, ao seu lado, oferecia um apoio silencioso, sabendo que ele precisava processar as coisas à sua maneira.

—Eu não acredito que a Milena fez isso. Ela sempre foi impulsiva, mas entrar numa briga desse jeito...—Enzo murmurou, mais para si mesmo do que para Luna.— O que essa garota tem na cabeça afinal?

—Ela provavelmente só estava tentando defender o Matteo.— disse Luna calmamente, tentando aliviar a situação. —Mas vamos ver o que realmente aconteceu quando chegarmos lá.

Os minutos pareciam se arrastar, mas logo chegaram à delegacia. O prédio simples e impessoal estava rodeado de algumas pessoas, e o ar da noite já começava a esfriar. Enzo estacionou rapidamente, e ambos desceram do carro, o nervosismo crescendo em seu peito.

Ao entrarem, avistaram Rafael e Matteo encostado em uma parede, com os braços cruzados e o rosto fechado. Assim que os viu, ele foi ao encontro dos dois.

— Onde ela está? 

— Lá dentro conversando com os policiais. 

— O que aconteceu de fato? — Ele perguntou para os irmãos.—

— Eu não sei, eu vim correndo assim que Rafael me ligou. — Falou Matteo furioso com aquela situação.— Como você acha que isso vai terminar?

Enzo deu de ombros, com um sorriso amargo. 

—Depende do que eles disserem lá dentro. Se for só uma briga sem consequências graves, talvez consigamos resolver rápido. 

Antes que pudessem continuar a conversa, um policial saiu da sala ao fundo. 

— Quem é o responsável da Milena De Luca? 

 — Sou eu! sou o advogado.

—Você pode entrar para falar com ela agora, mas sejam breve. A situação ainda está sendo analisada. Estamos analisando as imagens das câmeras.

Ele assentiu, e andou ate o local indicado. Ao entrarem na sala de detenção, encontraram Milena sentada em uma cadeira, o rosto abatido, mas com uma expressão de determinação. Seus olhos azuis, brilhavam de raiva misturada com arrependimento.

—Milena!—exclamou Enzo, avançando para ela, mas mantendo a calma. — O que diabos aconteceu?

— A culpa foi da Sofia.

— Não estou perguntando de quem é a culpa, estou perguntando o que aconteceu... E não adianta mentir...

— E eu sou lá mulher de mentir.  A gente discutimos,  ela me esbofeteou, e quando eu revidei, ela se ofendeu e veio para cima de mim...As coisas saíram do controle, e agora estamos aqui.

—Você sabe que isso foi uma péssima ideia, né? Agora estamos lidando com as consequências.

—Eu sei... Mas, não admito que ninguém coloque o dedo na minha cara. Eu simplesmente... explodi.

Enzo suspirou profundamente, passando a mão pelos cabelos enquanto assimilava o que Milena havia dito. Ele sabia que ela tinha um temperamento forte, mas isso não justificava a situação em que ela havia se metido.

— Tudo bem, Milena. Eu entendo que você se sentiu provocada, mas agora não adianta ficar remoendo isso. Temos que resolver. — Ele suspirou profundamente enquanto passava a mão nos cabelos.— Vou falar com o oficial responsável e ver como podemos resolver isso o mais rápido possível, mas você terá que cooperar. — Enzo se inclinou, falando em um tom mais baixo e sério. — Quando sairmos daqui, você vai manter a calma e seguir as orientações. Entendeu?

Milena assentiu, os olhos ainda brilhando de raiva, mas agora com um toque de resignação.

Enzo saiu da sala e foi conversar com o oficial que os tinha recebido. Após uma breve conversa, ficou claro que as acusações contra Milena não eram graves, mas como houve uma briga física em um local público, ela teria que responder formalmente por suas ações.

— Vamos resolver isso agora, pagando a fiança — explicou Enzo para Luna e os irmãos enquanto voltava à sala de detenção. — Ela será liberada, mas terá que cumprir alguns trabalhos voluntários como parte da sentença. Nada muito complicado, mas vai exigir que ela pense antes de agir no futuro.

Pouco tempo depois, Enzo finalizou o pagamento da fiança, e Milena foi liberada. Eles saíram juntos da delegacia, o ambiente carregado de tensão, mas também de alívio. 

— Vou ter que fazer trabalho voluntário, é isso? — Milena perguntou, sua voz carregada de frustração.—

— Sim, e sinceramente, eu acho que vai ser bom para você — respondeu Enzo, com um leve tom de provocação. — Talvez aprenda a pensar duas vezes antes de reagir com os punhos.

— Eu sei que fui longe demais... — Milena murmurou, olhando para o chão enquanto caminhavam em direção ao carro.

— O seu namorado vai surtar quando descobrir que você veio parar na delegacia... — Rafael comentou, cruzando os braços e lançando um olhar de advertência para Milena.

Ela revirou os olhos, soltando um suspiro irritado.

— O Enrico já sabe, e não me importa o que ele vai pensar. — Milena respondeu, seca. — Eu não sou uma criança que precisa de aprovação dele.

Rafael balançou a cabeça, exasperado.

— Não é sobre aprovação, Milena. É sobre evitar que situações como essa prejudiquem você no futuro. Já pensou no que isso pode significar? Carreira, reputação... e, claro, seu relacionamento. — Ele enfatizou a última palavra, olhando para ela com seriedade.

Milena estreitou os olhos, a raiva voltando ao seu rosto.

— O que aconteceu entre Sofia e Matteo não é problema meu, e eu não pretendia me envolver, mas não vou deixar ninguém passar por cima de mim por isso. Ela veio para cima de mim, eu apenas reagi.

Enzo, que estava quieto até aquele momento, olhou para a irmã, tentando acalmar a tensão crescente.

— Milena, eu entendo que você se sentiu atacada, mas reagir dessa forma só piorou a situação. Agora é uma questão de lidar com as consequências. E o Rafael tem razão... você precisa estar ciente do que isso pode causar no longo prazo.

Milena soltou um suspiro, frustrada, seus olhos ainda brilhando com a intensidade do momento.

— Eu sei. Só que... não consigo ficar quieta quando alguém me desrespeita. E quanto à Sofia, ela pode esquecer que algum dia foi minha amiga... — Milena virou-se para Matteo, que a observava com uma mistura de surpresa e culpa. — E você, Matteo, se voltar para aquela lambisgoia, eu juro que vou quebrar o seu nariz. Só não bati mais nela porque Rafael me segurou. Mas, sinceramente, minha vontade era quebrar a mão dela, para ela passar um bom tempo sem segurar um bisturi.

Rafael, que até então estava com os braços cruzados e tentando manter a calma, interveio.

— Milena, já chega. O que está feito, está feito. — Ele olhou firme para a irmã. — Não há mais o que falar sobre isso, e você sabe que ameaçar os outros só vai piorar as coisas... Você deu sorte que o delegado era amigo de Enzo... Já pensou no escândalo que isso vai dar quando chegar no ouvido do nosso pai. E os Salvatore, quando ficarem sabendo. 

Matteo, visivelmente desconfortável com toda a situação, respirou fundo e se aproximou de Milena, tentando manter a compostura.

— Esquece isso, Milena. — Ele disse em um tom mais baixo, mas firme. — Sofia é passado. O assunto morreu aqui, e nossa família não precisa saber de nada disso. A gente resolve entre nós.

Milena olhou para Matteo, ainda com raiva, mas seu olhar suavizou ao perceber que, apesar da confusão, ele estava tentando encerrar o assunto.

— Você é um irmão ingrato Matteo... — murmurou Milena, cruzando os braços, mas sem a mesma intensidade de antes.— Nem parece o meu irmão gêmeo.

— Tem toda razão, nem parecemos irmãos gêmeos! E dou graças a Deus por essa sorte... Deus me livre ter esse temperamento explosivo que você tem.

Enzo, que observava tudo em silêncio, deu um passo à frente.

— Chega Milena, vamos encerrar isso por aqui... — Ele olhou para a irmã, deixando claro que a situação tinha que acabar ali. — você tem trabalho voluntário pela frente. Use esse tempo para refletir e colocar as coisas em perspectiva. 

Milena assentiu, mesmo que contrafeita, enquanto Rafael dava um suspiro de alívio, sentindo que finalmente havia um fim àquela confusão.

— Vamos para casa — disse Enzo, pegando suas chaves. — Esse dia já foi longo o suficiente. E você estragou a minha noite com a minha namorada.

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