28- Ligações e convites
Enzo e Luna caminhavam de mãos dadas pelas ruas pitorescas de San Tarantino. O sol da tarde iluminava o vilarejo, refletindo nas janelas das pequenas casas de pedra, e o ar fresco do campo trazia uma tranquilidade que eles não encontravam na cidade. San Tarantino, com sua lenda trágica de um amor impossível entre um rei e uma plebeia, parecia o cenário perfeito para aquele momento que eles compartilhavam. Enzo conhecia cada detalhe daquela história, pois ele e seus irmãos haviam crescido ouvindo sobre o amor perdido que atravessou gerações.
— Eu sempre me perguntei se a lenda de San Tarantino poderia ser real — comentou Luna, olhando para os detalhes da vila, as heras que subiam pelas paredes das casas e as flores coloridas que enfeitavam os becos. — O amor deles era tão intenso, tão profundo. Imagino se algum dia eles conseguiram ficar juntos.
Enzo sorriu, parando de caminhar e puxando Luna para mais perto.
— Talvez, de alguma forma, eles estejam juntos agora. No coração das pessoas que vêm até aqui para celebrar o amor. — Ele inclinou a cabeça, seu olhar fixo nos olhos de Luna. — Assim como nós.
Ela sorriu, sentindo o calor do momento, até que o toque de um telefone quebrou o silêncio suave ao redor deles. Enzo franziu a testa ao pegar o aparelho no bolso. Era sua mãe.
— Desculpa, amor, preciso atender. É minha mãe.
Luna assentiu, observando enquanto ele se afastava um pouco para atender a chamada.
— Ciao, mamma, está tudo bem? — Enzo perguntou, ainda olhando para Luna, que explorava um beco próximo cheio de flores.
A voz da mãe de Enzo era calma, mas havia uma urgência por trás de suas palavras.
— Enzo, caro, estamos todos nos reunindo na casa de campo da família este fim de semana. Preciso que você venha. É importante.
Enzo franziu o cenho, já antecipando o que estava por vir. Reuniões de família na casa de campo eram algo sagrado para os De Lucca. Sempre que possível, todos se reuniam ali, um lugar cheio de lembranças e momentos especiais. Mas dessa vez, parecia haver algo diferente.
— Reunindo todos? — ele perguntou, tentando entender a situação. — O que aconteceu?
Sua mãe fez uma pausa antes de responder.
— Sua avó quer fazer um anúncio importante, e precisa que todos estejam lá para ouvir.
Enzo sentiu um nó apertar em seu peito. Sua avó era o patriarca da família De Lucca, e qualquer decisão vinda dele era significativa. Reuniões como essa raramente eram apenas encontros sociais, sempre tinham um peso maior, especialmente quando envolviam o avô.
— Estarei lá — disse Enzo, firme. —
— Todos estão a caminho, e você sabe como ela é, sempre ansiosa para esses momentos, e quando coloca algo na cabeça, é difícil tirar. — Sua mãe riu levemente, tentando aliviar a tensão.
Enzo sorriu, pensando na irmã mais nova. Milena era uma das melhores amigas de Luna, e a dinâmica entre elas sempre foi cheia de risadas e cumplicidade.
— Certo, estarei aí logo — disse ele, antes de desligar.
Luna se aproximou, vendo a expressão pensativa de Enzo.
— Tudo bem? — perguntou ela, tocando levemente o braço dele.
Ele suspirou, guardando o telefone no bolso e olhando para ela.
— Minha mãe ligou. Todos estão se reunindo na casa de campo da família. Parece que minha avó quer fazer um anúncio importante, e precisamos estar lá.
Luna franziu a testa, preocupada.
— Um anúncio? Sobre o quê?
— Ainda não sei — ele respondeu, balançando a cabeça. — Mas, vindo da minha avó, é algo sério. Ela nunca faz esse tipo de reunião sem um bom motivo.
Ela o observou por um momento antes de colocar uma mão reconfortante no peito dele.
— Vou com você. Milena vai estar lá também, certo?
Enzo assentiu.
— Sim, e acho que ela vai ficar feliz em te ver. Eu... acho que você deveria estar lá comigo. Afinal, você faz parte da minha vida agora.
Luna sentiu uma onda de calor no peito ao ouvir isso. Eles estavam juntos há algum tempo, mas aquela reunião de família parecia um passo importante. Ela sorriu e assentiu.
— Eu vou. Vamos juntos.
Com isso, os dois começaram a voltar para o carro, prontos para deixar a tranquilidade de San Tarantino e seguir rumo à casa de campo dos De Lucca.
****
Quando o carro de Enzo e Luna finalmente chegou à entrada da casa de campo da família De Lucca, a atmosfera já parecia diferente. As colinas verdejantes que cercavam o local, com o brilho suave do entardecer, sempre trouxeram paz para Enzo. A casa, uma grande construção rústica, de pedra antiga e madeiras envelhecidas pelo tempo, era um refúgio para toda a família, cheia de histórias e lembranças. Mas, naquele dia, havia algo no ar, uma expectativa silenciosa.
Assim que estacionaram, Enzo segurou a mão de Luna e deu um sorriso, como se aquele gesto fosse suficiente para dizer que tudo ficaria bem. Luna retribuiu o sorriso, mas estava nervosa. As reuniões de família sempre vinham acompanhadas de algo importante, e o mistério do que o avô de Enzo poderia anunciar pairava no ar. No entanto, havia algo mais: a aliança em seu dedo.
Eles mal haviam saído do carro quando uma figura familiar surgiu correndo em sua direção. Milena havia acabado de chegar com o namorado, vinha em disparada, seu rosto iluminado por um sorriso. Luna mal teve tempo de reagir antes de Milena praticamente saltar sobre ela, a abraçando com força.
— Luna! — exclamou Milena, enquanto a envolvia nos braços. — Eu não acredito que você está aqui! Passei na sua casa mais cedo, buzinei e ninguém apareceu... Eu te liguei umas mil e quinhentas vezes, por que não me atende? Você é uma amiga desnaturada... Eu não te amo mais!
Luna riu divertidamente, enquanto pegava o celular para mostrar para amiga...
— Desculpa, eu fiquei sem bateria... — disse ela, sorrindo. Foi então que Milena olhou para a mão de Luna e seus olhos se arregalaram. O brilho da aliança prendeu sua atenção como se fosse uma estrela no céu.—
— Espera... — disse ela, quase sem fôlego, enquanto pegava a mão de Luna e a erguia para examinar o anel mais de perto. — Não acredito! Você e Enzo... finalmente?
O grito de alegria que Milena soltou fez os pássaros nas árvores ao redor voarem, assustados.
— Já estava na hora! — exclamou ela, rindo e pulando de alegria. — Ah, meu Deus, não era sem tempo, Enzo! Você deveria ter feito esse pedido há séculos!
Enzo riu, enfiando as mãos nos bolsos, um pouco envergonhado, mas claramente feliz com a reação da irmã.
— Eu queria fazer as coisas do jeito certo, Milena — respondeu ele, balançando a cabeça com um sorriso.
Milena, porém, não estava interessada em desculpas. Ela correu até o irmão e o abraçou com força, enquanto Enrico o namorada da morena se aproximava carregando a pequena mala de mão e observava a cena.
— Você fez as coisas do jeito certo agora, é o que importa — disse ela, ainda com o sorriso radiante no rosto. — E eu não poderia estar mais feliz por vocês! Meu irmão e minha melhor amiga estão juntos...
Luna, por sua vez, sentia-se calorosamente acolhida. Milena sempre foi como uma irmã para ela, e saber que tinha a aprovação dela significava muito. A energia contagiante de Milena estava começando a aliviar a tensão que Luna sentia desde que soube da reunião de família.
— Então... como foi o pedido? Foi romântico? — Milena perguntou, sem conter a curiosidade.
— Para de ser curiosa Mila... — Falou o namorado observando o furacão da namorada que estava radiante de felicidade.—
— Não tem nada demais com um pouco de curiosidade meu amor... E além do mais, eu contei para ela como foi que você me pediu em namoro.
Luna trocou um olhar divertido com Enzo, enquanto Enrico deu de ombros.
— Acho que San Tarantino ajudou um pouco com o cenário — disse Enzo para a irmã—
Milena suspirou, satisfeita.
— Ah, claro que ajudou! Aquele vilarejo é mágico! Tudo o que acontece lá é especial. — Ela olhou para Luna com uma piscadela. — Sabia que meu irmão tinha bom gosto.
Antes que pudessem continuar conversando, uma voz familiar chamou de dentro da casa.
— Ei escandalosa, pare de gritar do lado de fora e entre logo. — Falou Matteo, o irmão gêmeo de Milena aparecendo a porta.—
Milena pegou Luna pela mão, puxando-a para dentro da casa com entusiasmo.
— Mal posso esperar para contar a todo mundo! — disse Milena, claramente mal contendo a empolgação. — Eles vão surtar de felicidade!
Enzo olhou para Luna com carinho e a seguiu para dentro da casa com Enrico ao seu lado, e sentindo que, apesar da importância do encontro que os aguardava, aquele momento com Luna e sua família era o começo de algo ainda maior. Eles estavam prestes a enfrentar o que quer que a avó tivesse a dizer, mas com a sensação de que, juntos, poderiam lidar com qualquer coisa.
A sala de estar estava repleta de vida e calor familiar. As paredes eram decoradas com fotos da família De Lucca, capturando momentos felizes ao longo dos anos. Risadas e conversas animadas enchiam o ar, enquanto os membros da família se reuniam e se acomodavam em sofás e cadeiras.
No canto, Dona Antonella, a matriarca da família De Lucca, observava a cena com um sorriso amoroso. Médica aposentada, ela era uma força da natureza, apaixonada pela família e sempre atenta às necessidades de seus filhos e netos. Seus cabelos grisalhos estavam elegantemente presos em um coque, e seu vestido floral refletia sua personalidade vibrante.
Quando Enzo, Luna, Milena e Enrico entraram, a avó os avistou e seu rosto se iluminou. Ela se levantou, atravessando a sala para abraçar os netos, um caloroso abraço que envolveu os dois.
— Meus amores! Estou tão feliz que vocês vieram! — disse Dona Antonella, acariciando os rostos de Enzo e Milena antes de olhar para Luna com carinho. — E você, querida, é sempre bem-vinda.
Luna sorriu, sentindo-se imediatamente à vontade com a avó de Enzo. A casa estava cheia de pessoas queridas, incluindo Lorenzo, o pai de Enzo e Milena, que discutia algo animadamente com sua esposa, Francielle, a proprietária da floricultura local.
— Olá, Dona Antonella! — Luna disse, abraçando-a novamente. — Obrigada por me receber.
Dona Antonella sorriu, seus olhos brilhando de alegria.
— Ah, minha querida, a casa é tão mais alegre com você aqui! Agora, onde estão os outros? — Ela olhou em volta, procurando pelo resto da família.
— Leonel e Julia estão chegando! — informou Lorenzo, piscando para a mãe. — Gabriel e Alice vem com eles.
Nesse momento, a porta da frente se abriu e uma onda de risadas e conversas entrou na sala. O sr. Leonel De Lucca, entrou no ambiente com a esposa Júlia e os filhos Gabriel, e Alice, entraram.
— Desculpe a demora Mãe. Precisei passar para pegar Alice no hospital. — Falou o filho andando ao encontro da mãe e beijando o topo de sua testa.— A senhora está bem? Por que uma reunião tão repentina.
— Eu queria compartilhar algo com vocês. — Ela começou, sua voz forte e clara enquanto os netos iam se acomodando no sofá. — É sempre um prazer reunir toda a família, e eu realmente aprecio cada um de vocês.
Os netos a observavam, suas expressões misturando expectativa e curiosidade. Enzo sentiu o coração acelerar. Sabia que algo importante estava prestes a ser revelado.
— Hoje é um dia especial para nós. — Dona Antonella continuou, com um olhar sério, mas gentil. — Os murmúrios na sala diminuíram à medida que todos prestavam atenção. Enzo trocou um olhar rápido com Luna, que parecia tão curiosa quanto ele. Dona Antonella olhou para cada um dos seus netos, sentindo o peso da história que carregavam e o amor que os unia. Com um tom de voz sereno, mas cheio de significado, ela prosseguiu: — É importante lembrar de onde viemos e o que temos juntos como família. Nossa família é profundamente enraizada nas tradições de Gênova e San Lorenzo. Desde a minha mãe, que começou a floricultura Flor de Liz, até meu pai, que era policial... E o meu amado Luigi que foi um grande Juiz... Esses valores de amor, cuidado e generosidade são o que nos une e o que devemos passar para as próximas gerações. — A sala estava em silêncio, todos absorvendo a importância da mensagem. Então, Dona Antonella continuou. — Eu recebi um convite de um jornal local — começou ela, sua voz cheia de emoção. — A nossa família é muito conhecida tanto em Gênova quanto nas vilas San Lorenzo e San Tarantino. Eles gostariam de fazer uma reportagem sobre as nossas tradições e a nossa família, especialmente devido ao festival das flores. A nossa floricultura é uma das mais prestigiadas da vila, e, na verdade, foi a primeira floricultura da cidade, fundada pela minha mãe. —Os netos trocaram olhares animados, enquanto a avó falava com orgulho da história da família. — Eles querem marcar uma entrevista sobre a história da Flor de Liz e sobre os herdeiros dessa tradição . Isso é uma honra! E eu gostaria que toda a minha família estivesse presente para a foto que vai aparecer no jornal.
— Isso é incrível, Mãe! Podemos mostrar a força da nossa família e como as tradições continuam vivas através de nós. Uma oportunidade perfeita para destacar a história da Flor de Liz ,e claro, sua liderança como matriarca. Você não concorda querida. — disse o senhor Lorenzo De Luca segurando a mão da esposa Francielle.—
— Sim! Poderíamos organizar a apresentação de algumas das flores mais emblemáticas que cultivamos. Isso mostraria não só a beleza do nosso legado, mas também como estamos contribuindo para a comunidade.
Rafael, com seu jeito brincalhão, comentou:
— Eu me ofereço para ser o "modelo" da família! Vou garantir que todos estejam prontos para brilhar nas fotos.
Todos riram, mas Dona Antonella aproveitou o momento para enfatizar a importância da união.
— Eu quero que essa reportagem seja um reflexo da nossa unidade. A Flor de Liz representa não apenas as flores, mas também a nossa família, os laços que cultivamos ao longo dos anos. Cada um de vocês é uma parte essencial dessa história.
— Sogra! Podemos trazer algumas fotos antigas da floricultura, mostrar como tudo começou e como evoluímos ao longo do tempo. Isso pode enriquecer a reportagem e dar uma visão mais profunda sobre nossa história. — Julia, que sempre teve um bom olho para detalhes, e era a fotografa da família acrescentou.—
— Ótima ideia querida! — disse Leonel orgulhosos da esposa, acenando com a cabeça. — Vamos fazer isso. Devemos contar a história da nossa floricultura, do legado que minha avó nos deixou e da nossa paixão por flores.
A sala se encheu de entusiasmo, cada um começando a pensar em suas contribuições para a reportagem. Dona Antonella sentia-se grata por ter uma família tão unida e entusiasmada em celebrar suas raízes.
— Então, estamos todos de acordo? — perguntou ela, olhando para cada um com um sorriso. — Vamos participar dessa reportagem e mostrar ao mundo o que significa ser um De Lucca, como uma família unida pela paixão pelas flores e pelo amor que temos uns pelos outros.
Todos concordaram, e a atmosfera na sala se transformou em uma celebração de união e orgulho familiar. Estavam prontos para mostrar ao mundo não apenas suas flores, mas a beleza de sua história e o amor que as sustentava.
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