II
Capítulo 02
Amy
Passei mais uma noite sem Julie nem ao menos visualizar minhas mensagens.
Fiz uma promessa a mim mesma de que não iria me importar, e, quando dava por mim, lá estava eu vendo a tela bloqueada do celular na esperança de ter recebido uma resposta.
Liguei o som no volume mais alto que meus pais permitiriam sem reclamar, vesti meu pijama mais confortável e deitei na cama tentando estudar pra prova de estudos sociais no dia seguinte, com a mente ainda na conversa que escutei de Kyle com aquele amigo dele figurante(pelo menos na minha vida era o que aquele cara era).
Conversei com Monica sobre o novo álbum de um artista que gostávamos e escutei Arnold tagarelar sobre uma série que ele estava indignado. Fiquei entretida por um tempo, mas logo voltei a olhar o celular aflita, querendo ter notícias de Julie.
Durante a noite, tive um sonho horrível de que Julie me largava para andar com o grupinho de amigos de seu namorado. Eu caminhava pelo corredor e ela vinha na direção oposta, com o uniforme de líder de torcida e de braços dados com Margot. Só aquele pesadelo terrível me fez ter ânsia e não me deixou tomar café da manhã.
Pela noite mal dormida, me arrumei para a aula como se fosse um zumbi, sem nem me importar muito se o meu cabelo estava parecendo a juba do simba.
Foi a primeira vez em que caminhei até a escola sozinha. Passei na casa de Julie e perguntei à sua mãe se ela estava pronta, e tal foi minha surpresa quando fui informada que Kyle tinha ido buscá-la mais cedo.
De carro.
Ao que parecia, de nós duas, eu era a única que iria a pé. Se soubesse, tinha pedido carona a Arnold e teria jogado Margot pela janela do veículo assim que ela falasse algo no caminho.
Uma caminhada chata e monótona até a escola. Foi o que aconteceu na minha manhã. Atravessei o quarteirão escutando latidos de cães, choro de criança e o barulho dos regadores automáticos regando os gramados das casas.
A propósito, um deles encharcou minha bolsa nova. Não estava sendo mesmo meu dia.
Quando virei na rua da escola, me deparei com uma cena atípica. Uma viatura de polícia em frente ao prédio do colégio, com um oficial carregando um garoto para o banco de trás do carro.
Aproximei-me para ver melhor e fiquei ao lado de Mônica que assistia a tudo como sendo um novo episódio de CSI.
— Oi, Amy. – Monica sorriu de forma simpática. — Confusão logo de manhã, né? Mais um dia normal na West High.
— Oi, Monica. Nem me diga. - Comentei. — O que houve? – Perguntei a ela, que parecia ainda bem chocada.
— Prenderam o Boyce. – Monica contou. Fiquei quieta por um segundo tentando lembrar quem diabos era Boyce.
— Aquele skatista idiota que faz um barulho estranho com o sovaco? – Monica assentiu. — E o que ele fez além de atentado à higiene?
— Ele foi pego traficando drogas. – Ergui a sobrancelha sem entender, mas Mônica me poupou de fazer outra pergunta. — Parece que o colega traficante do Gabe pulou fora, então, ele teve de preencher a vaga. Acho que ele não fez uma boa escolha.
— É, não fez mesmo. – Vi o monitor do corredor tentar dissipar a multidão de alunos amontoada para assistir a cena. — Com certeza, não fez.
— Uhum. – Mônica respondeu. — Agora vem, vamos sair daqui antes que o monitor venha nos expulsar. Odeio o jeito que ele bate palmas pra mandar a gente sair. Parece que está afugentando um punhado de galinhas.
— Se pensar no caso da Escargot e das amigas dela, até que é uma maneira bem apropriada. – Monica deu uma risada.
— Você não toma jeito, né Amy?
Enquanto Monica contava sobre seus planos para uma outra festa ainda esse mês, fiquei observando aquela mesma monotonia pelos corredores da escola. Margot passou por nós com as outras minions (desculpa, líderes). Ela acenou falsamente pra mim, e eu retribuí, com talvez o dobro da falsidade.
— Amy, preciso falar com minha dupla do trabalho de inglês. A gente se vê depois. – Ela me deu um abraço de lado e saiu acenando, enquanto eu parei de frente ao meu armário.
Coloquei o código para destrancá-lo e troquei os livros para a primeira aula, quando senti duas mãos taparem meus olhos.
— Dylan O'Brien?! – Dei um palpite extremo e escutei a risada muito conhecida pelos meus ouvidos.
— Continua sonhando. – Virei-me e lá estava Julie, com uma roupa que jamais a vi usando em todos os nossos oito anos de amizade e união maléfica. — Ah, Amy! – Ela me abraçou tão empolgada que meu choque não me deixou retribuir aquele gesto.
— O que foi? Por que toda essa animação? E Por que está fantasiada de puta? – Julie soltou uma risada que fez todo o corredor olhar pra nós.
— Sabe de uma coisa, Amy? Estou tão feliz que nem o seu sarcasmo indiferente vai me abalar. – Ela avisou, mais confiante que aqueles modelos de comercial de pasta de dente. — Esse não é um vestido de puta, é o vestido que o Kyle me deu, junto com isso. – Ela colocou sua mão quase na minha cara, para que pudesse ver o anel brilhante em seu dedo.
Só aquele anel parecia ser mais caro que a minha casa.
— Ele te deu um anel de compromisso?! – Julie parecia querer explodir de felicidade.
— Eu perguntei aos amigos dele e eles me disseram que ele NUNCA, escuta bem, NUNCA, deu nada parecido a nenhuma das namoradas dele. – Ela falou, orgulhosa.
— Claro, se a cada namorada que ele tivesse desse um anel desses, Kyle iria morar em baixo daquele viaduto da rua Hemiltown. – Girei os olhos.
— Mas não é tudo. Ele me convidou pra ir passar o fim de semana na casa de praia dos pais dele! Em Los Angeles! – Julie contou, totalmente eufórica.
— Ah, incrível. – Fingi estar empolgada, mas confesso que não fiz muito esforço.
— E ele me disse que eu poderia chamar uma amiga! – Vi um sorriso malicioso se abrir no rosto de Julie. — E eu respondi pra ele: "Tenho a pessoa certa em mente".
— É sério?! Eu e você em Los Angeles?! – Segurei em suas mãos e nós duas passamos a pular feito duas loucas no meio do corredor.
— Pensava que você tinha ranço do Kyle. – Ela provocou. Eu não tinha dito que Julie era a maior sonsiane da terra?
— Jules, ranço é ranço, California à parte, né? – Brinquei e Julie riu, me abrançando. — Vamos fazer comprar pra viagem depois da aula?
— Pode apostar que sim. Nos vemos às três. – Julie piscou o olho e saiu quase que saltitando pra longe.
Algumas pessoas realmente não sabiam controlar as emoções.
— É impressão minha ou a Julie saiu saltitando? –Ouvi a voz de Arnold e quando me virei lá estava ele, abrindo seu armário que ficava ao lado do meu.
— Sim. Sabe por quê? Vamos pra Los Angeles! Aquele mala do Kyle finalmente vai me ser útil. – Falei, muito empolgada, tanto quanto Julie estava.
— Pensava que você não gostasse dele. E que ele tivesse dito algo sobre a Julie. – Arnold compartilhou suas dúvidas, enquanto reparei nos inúmeros posters de animes e quadrinhos na porta de seu armário.
— Sim, eu achava isso, mas olha, ele deu um anel de diamantes pra ela. Pegou ela em casa. E chamou ela pra Los Angeles. Talvez ele... não seja tão ruim? – Minha última frase, que era para ser uma afirmação, saiu como uma pergunta.
— Hum. Se você diz. – Arnold deu de ombros, e eu dei um riso divertido ao ver seu caderno do Bob Esponja. — O que foi? Esse vem com 10 adesivos exclusivos!
— Aiai, Arnold, eu não digo mais nada. – Bati de leve em seu ombro, rindo. — A gente se vê depois.
Caminhei em passos lerdos até a sala, pensando em tudo que poderia fazer em Los Angeles. Um relance de culpa me fez me sentir mal por não ter contado a Julie sobre o que ouvi Kyle dizer, mas o desejo de conhecer Los Angeles era muito maior. Afinal, Julie também sempre quis conhecer, então por que estragar isso pra ela, ou melhor, pra nós duas?
Entrei na sala de aula e escolhi o local mais afastado, observando uma figura totalmente coberta por um capuz dormir em cima do livro. Ou pelo menos fingia que dormia.
— Dia ruim, Gabriel? – Estava tão feliz que até puxei assunto.
— Não enche. – Ele respondeu, ríspido, com a voz baixa.
— Eu vi que o seu capanga foi preso. Nunca tinha visto seu negócio dar errado. – Comentei de forma inocente, mas Gabe levantou a cabeça e me encarou, quase como se me fuzilasse com os olhos. — Não se fazem mais bons traficantes como antigamente, não é mesmo?
— O Boyce saiu sobre fiança. Então não me amola. E se deu errado foi por culpa daquela vadia da Julie. – Ele desabafou com ira.
— Ninguém chama minha vadia de vadia! – Rebati. — Qual é a sua? Não fumou um baseado hoje?
— A "minha" é que aquela otária pode estragar todo o meu negócio! – Ele repetiu a mesma coisa.
— Pode me explicar melhor? Ainda não tive a primeira aula do meu curso de mãe Diná pra videntes iniciantes. – Blefei, algo que eu sabia fazer muito bem.
Mas Gabe não deu aquele riso debochado que costumava dar.
— Agora que o Kyle está saindo com a sua amiguinha, ele disse que queria parar com o nosso... empreendimento. – Finalmente ele começou a explicar. — Ele pulou fora, Amy. Foi isso que rolou. Kyle não trafica mais. Disse que Julie não namorava tipos ruins como o que ele estava sendo, então me largou sozinho no lance do tráfico.
— Nossa, mais uma alma boa tirada do caminho ruim, que coisa mais triste. – Fingi empatia. — Onde vamos parar? Lamentável.
— Sem o Kyle, não tenho como financiar o meu
Fornecedor, muito menos arranjo clientes. Eu preciso da grana, sacou?! – Ele segurou meu pulso, como se realmente estivesse desesperado.
— Por que precisa tanto? – Minha pergunta pareceu tocar em um ponto delicado.
— Não é da sua conta. Mas o Kyle, ele é meu melhor amigo e sabe muito bem o porquê faço o que faço. Agora, por causa da sua amiga, ele me deixa do nada como se eu fosse um qualquer. – Por mais que aquilo me incomodasse, não conseguia deixar de pensar no quanto aquilo me parecia familiar. — Odiava quando o Kyle saia com aquelas patricinhas, mas era melhor ele sair com elas do que com sua amiga metida.
— Ah, e acha que eu realmente prefiro que Julie namore um mauricinho a sei lá, um
Funcionário de bar que me deixe beber de graça?
— Acho. Porque é graças ao namoro com esse mauricinho que você vai pra Los Angeles, não é? – Fiquei confusa, como ele sabia disso? — Eu ouvi vocês duas berrando no corredor. Parece que vamos em quatro então.
— Quê?! Você também vai?
— Que parte de eu sou o melhor amigo dele não ficou claro pra você?! – Gabe realmente estava sem paciência.
— Certo, que seja. – Bufei, já farta daquela conversa.
Então seria eu, Julie, Kyle e Gabe. Juntos durante 48 horas em Los Angeles.
Bom, seria, sem sombra de dúvidas, um longo fim de semana.
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