Capítulo 28
Koany
"Às vezes, ficamos tão presos aos acontecimentos do passado que nos impedimos de viver o futuro."
Eu vivi todos estes anos tentando superar as coisas ruins que compõem o enredo da minha história, me sentindo triste, magoada, machucada pelas tragédias e pelas marcas das mesmas.
Fechei os meus olhos e também o meu coração. Com essa atitude, me privei de aceitar o que a vida me deu de presente, colocando pessoas maravilhosas em meu caminho, e novas oportunidades de construir uma nova história. Uma delas foi o Guilherme, e eu o afastei.
Espero que não seja tarde para mim, pois o alívio que sinto por finalmente me livrar dos medos e receios que eu carregava em meu coração todo esse tempo é tão bom, que me sinto até mais leve, como se um peso enorme estivesse sido arrancado das minhas costas. Eu realmente precisava muito disto. O Johnata foi um acontecimento muito importante e que marcou para sempre a minha vida, mas é só isso.
Sinto-me livre para um novo recomeço, desta vez sem fantasmas para me assombrar e sem assuntos inacabados.
Três meses depois...
— Não gosto de surpresas. Para onde está me levando? Dr. Guilherme, eu exijo que me diga agora.
— Mulher curiosa, sabe nem brincar. Se acalme, criatura, que a surpresa é muito boa.
Esses três últimos meses foram os melhores dias da minha vida. Sério, não estou exagerando, esse homem não existe. Ele me disse que gostaria de fazer tudo o que um casal de namorados faria, e assim foi.
Nossa rotina lá no hospital é pesada, mas nós sempre arrumamos um tempinho. Acho que agora não existe uma sala naquele prédio que não guarde a lembrança de um beijo, um amasso, um sarro gostoso que não me deixasse em chamas, vendo o safado sair em seguida, caminhando normalmente como se nada estivesse acontecido.
Dividimos o nosso tempo entre ir ao cinema, sair para jantar, assistir peças de teatro que eu adoro e caminhar de mãos dadas na praia, molhando os pés nas águas do mar.
Nada de sexo, só para constar.
Não sinto mais raiva do John, acho que agora eu até o entendo. Se tanto ele como eu estivéssemos aberto mão dos nossos sonhos, em sacrifício da nossa relação, talvez teríamos nos machucado ainda mais. E no final de tudo, eu sei que minha razão voltaria e eu saberia que aqui é o meu lugar. E que não há outro homem no mundo que eu queira mais e que me faça tão bem quanto o Gui. Eu sei que ele me ama, e a cada dia que se passa, eu o amo mais.
— Vou tirar sua venda agora. Peço que não surte, nem se assuste.
Quando a venda é finalmente retirada de meus olhos, fico parada sem esboçar nenhuma reação. Eu estava preparada para qualquer coisa que o Gui pudesse aprontar, mas não estava psicologicamente preparada para o que vejo em minha frente.
Leio a frase e perco totalmente as palavras.
Eu considerava-me uma mulher realizada.
Sou totalmente independente, tenho um bom dinheiro em minha conta bancária e, apesar de ser uma médica recém-formada na minha profissão, sei que tenho um futuro promissor.
Minha família, que hoje é composta apenas por mim, Jaime, Sue e Karen, não poderia ser mais perfeita. Sinto falta de meus pais e de tudo o que poderíamos ter vivido juntos se não fossem todas as tragédias que se abateram sobre nossas vidas, mas como dizem por aí, às vezes é preciso morrer para depois viver. E é exatamente assim que me sinto agora, como a fênix, renascida das cinzas.
O cenário escolhido por ele não poderia ser mais perfeito.
A pequena ponte que dá acesso à ruína que fica situada bem ao meio do laguinho, na Quinta da Boa Vista, estava toda decorada com flores.
A tarde estava quente, a sensação térmica na Cidade Maravilhosa beirava os cinquenta graus. Sendo assim, uma tarde de piquenique no parque, acompanhada de um pedido tão importante como este, combinava muito bem.
Uma cesta foi cuidadosamente preparada, e dentro dela havia de tudo um pouco, desde croissant de chocolate até o tradicional pãozinho de queijo da minha terrinha, recheado com requeijão bem ao estilo mineiro que eu adoro. No chão, uma toalha xadrez com algumas almofadas jogadas para que pudéssemos nos sentar ou até nos deitar, e as mesmas flores da ponte enfeitavam as pilastras que nos cercavam.
E a faixa? Acreditem, era um pedido de casamento. O mais meigo, fofo e apaixonado pedido de casamento que eu já vi. Só que no lugar do tradicional "Quer se casar comigo?", havia um intenso "Aceita ser minha para sempre?".
Enquanto eu olhava tudo ao meu redor, atenta a cada detalhe, ele pegava o vinho que estava na cesta juntamente com todas as outras coisas que comeríamos no nosso lanche. Servindo duas taças, entregou uma para mim em seguida, com os olhos brilhando de ansiedade, olhando no fundo dos meus olhos e tentando ler a minha resposta.
Tomei a taça de suas mãos, levando-a aos lábios sem quebrar o nosso olhar. Senti o líquido descer suave e gostoso em minha garganta, enquanto tentava acreditar em tudo o que acontecia ali. Depois de alguns constrangedores minutos de silêncio, eu me pronunciei.
— Guilherme... Eu não sei nem o que dizer... — Sussurrei baixinho com um típico tremor na voz de quem está totalmente sem ação.
— Uma palavra linda, você só precisa dizer uma palavra. E eu serei o homem mais feliz, completo e realizado que já existiu na história da humanidade.
— Gui, você não acha que estamos indo rápido demais? Está tudo lindo, você está me proporcionando um pedido de casamento dos sonhos de toda mulher, mas...
— Sim, estamos indo rápido, mais não tem "mas"... Como eu já disse antes, eu quero tudo de você, Koany, te quero por inteira ao meu lado, não aceito menos do que isso — Seu olhar torna-se firme, inquisidor, provocando em mim arrepios, mas passando segurança e firmeza em cada palavra pronunciada, e deixando claro para mim o quão decidido ele está em me ter ao seu lado para sempre. Ele dá de ombros, ficando de costas para mim, agora com o seu olhar fixo nas águas do lago.
— Preparei este encontro com muito carinho para compartilhar com você esta tarde maravilhosa. Minha intenção é lhe mostrar de todas as formas o quanto eu a amo. Você tem diante de si um homem completamente apaixonado e totalmente entregue, mas antes disso sou seu amigo, e não espero de você menos que sinceridade.
Se me disser que ainda tem dúvidas, e que não está preparada para viver ao meu lado como um casal, eu ficarei imensamente triste, mas vou entender, e não deixarei de ser o que sempre fui para você, um grande amigo. Mas se disser sim, ah, linda... Então serei o homem mais feliz deste mundo, e farei o impossível para vê-la sempre com esse sorriso doce nos lábios, que eu tanto amo e que me deixa cada dia mais louco, minha Doutora linda e gostosa.
Então mais uma vez eu lhe pergunto:
— Você quer se casar comigo, Dra. Vasconcelos? Aceita ser para sempre minha?
Depois de ouvir todas estas palavras sendo pronunciadas por ele com aquela voz extremamente rouca e sexy, mas firmes como uma rocha, é a minha vez de sussurrar mais uma vez.
— Sim! Mil vezes sim, Dr. Guilherme. Eu aceito ser sua para sempre, e quero que seja para sempre meu também.
— Neste momento, eu sou o homem louco, bobo, apaixonado, mais feliz do mundo. Obrigado, linda, minha linda bonequinha, por me proporcionar tanta felicidade!
Dito isto, ele tira de minhas mãos a taça de vinho, já quase vazia, pousa seus lábios nos meus e me beija ternamente. Bem diferente das muitas vezes que senti sua língua assaltar minha boca vorazmente, me beijando com desejo e luxúria.
Muito antes do que eu gostaria, ele afasta-se de mim, inclinando-se onde está seu telefone, tocando a tela e fazendo ecoar a voz de Paul Stanley pelo ambiente. Vira-se novamente para mim, tomando minha mão direita e retirando do seu bolso uma caixinha de veludo vermelha. Abre-a com apenas um toque, fazendo brilhar sob a luz do sol o solitário de ouro amarelo, que ostenta uma pedra de diamante no centro, acompanhada de mais oito pedrinhas de cada lado. Nem preciso dizer que levei a outra mão a boca em sinal de espanto, diante de tamanha beleza da joia, né? Após deslizar o anel em meu dedo, ele enlaça-me pela cintura e fala baixinho em meu ouvido:
— Dança comigo, minha noiva!
— Claro que sim, meu noivo! Mas aqui, sob o olhar de todos os curiosos?
— Curiosos? Onde? Para mim, aqui somos só eu e você.
E sob os últimos raios de sol de uma linda tarde de verão carioca, nós dançamos ao som de Kiss, tocando "Forever", com ele sussurrando trechos da letra em meu ouvido, me enchendo de beijos entre uma frase e outra, e me fazendo ficar cada vez mais embriagada com a paixão que exala de seus poros.
"Me diz que desta vez
É para sempre, desta vez eu sei
E não há dúvidas em minha mente
Para sempre até que minha vida se acabe
Garota, vou te amar para sempre..."
E nossa tarde foi assim, regada de muito amor e paixão.
Quando a fome nos tomou, comemos todas as guloseimas que estavam na cesta. Eu já sentia minhas bochechas queimarem pelo efeito do vinho que tomamos. Deitamos nas almofadas e, quando vimos, já era noite. As estrelas já começavam a surgir no céu, e eu não sentia a menor vontade de sair dali, muito pelo contrário, ideias mirabolantes e nada inocentes começavam a tomar conta da minha razão. Um intenso desejo emergiu de dentro de mim, fazendo-me encarar o Guilherme com um olhar travesso que ele conhecia muito bem.
— Eu sei, linda, não é preciso que me diga nenhuma palavra sequer para que eu saiba exatamente o que você está querendo dizer com esse seu olhar. Mas estamos em um local público, baby, e não quero terminar esta noite preso em uma cela fria. Prefiro o calor do seu corpo e o conforto da nossa cama. Hoje, vou amar muito você, e depois, quando você pensar que acabou, vou fodê-la duro e forte, do jeito que você gosta, e você vai gritar pelo meu nome, e eu estarei todo enterrado em você.
— Nossa! Quantas promessas para uma noite, Doutor.
— Que pretendo cumprir fielmente, minha linda.
Não demoramos muito para colocar no carro todas as coisas e pegar a rota para casa. O parque fica a uns quarenta minutos do Leblon, e enquanto o meu noivo dirigia atento ao trânsito, eu recostei minha cabeça em seu ombro e alguns pensamentos sombrios surgiram para me perturbar. Mas nada que se diz respeito a mim passa despercebido a ele.
— O que foi, bonequinha? Você já deu três suspiros profundos, o que está incomodando você?
— Gui... Você vai querer filhos?
— Claro, meu amor, um monte deles.
Não consigo segurar o choro diante de suas palavras, e meus ombros começam a tremer devido aos soluços que aumentam descontroladamente. Ele para o carro e toma meu rosto em suas mãos, dizendo em seguida:
— Ei... Não chore mais pelo o que aconteceu no passado, minha linda, vou ajudá-la a superar a perda de seu bebê e teremos filhos lindos. Mas só o faremos quando você se sentir pronta, tudo bem?
Quanto mais ele fala, mais eu choro ao sentir suas palavras cortarem meu coração como se fossem navalhas. Ficamos abraçados por algum tempo, e então decido que não vou mais adiar o momento de dizer a ele.
— Não, Gui... Não teremos. Algumas complicações do aborto me deixaram estéreo, meu anjo — Falo entre lágrimas — Eu nunca mais terei a chance de ser mãe.
Sem pensar muito, ele diz:
— Pois então adotamos, ser mãe é muito mais que gerar um bebê, Koany, você é médica, sabe disso. Olhe para mim, meu amor, e ouça bem o que vou lhe dizer. Nós seremos uma família completa e normal como qualquer outra. Adotaremos quantos filhos você desejar e, com o tempo, o amor que compartilharemos no seio desta família fará com que você entenda exatamente o que eu te disse agora. Você me ouviu, Koany Vasconcelos? Nós vamos compartilhar tanto amor que nem nos lembraremos que nenhum deles saiu de você, combinado?
— Uhum... — Resmungo chorosa e ainda soluçando.
— Ok, linda, então vamos para casa, já estou atrasado para estar dentro de você e te fazer esquecer essas lágrimas, que eu cuidarei para que não sejam mais derramadas a partir de agora.
Entramos em casa aos beijos, derrubando tudo que havia em nosso caminho, e nos amamos como nunca, a noite inteira, exatamente como ele havia prometido.
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