Capítulo 26
"...Há momentos na vida que deveríamos nos calar...e deixar que apenas o silêncio fale ao coração..."
Johnata
Após uma noite muito da mal dormida, na qual meu corpo já doía de tanto rolar na cama de um lado para o outro, eu me levanto e vou direto para o banheiro. Preciso de uma ducha bem demorada para relaxar e me preparar psicologicamente para conversar com a Koany, e dizer a ela o que eu decidi para nós dois. Eu viveria com menos da metade de todo o meu dinheiro, e até me acostumaria a não ter os paparazzos na minha cola, noticiando sobre a minha vida. Mas por que ter que escolher se eu posso ter os dois? Ontem, quando eu falei com os diretores e com o Wagner, em um videoconferência pelo Skype, eu não estava muito convencido de que era uma boa ideia, mas hoje, após horas de reflexão, estou convencido de que fiz a coisa certa, e encontrei a solução para todos os meus problemas. Posso trabalhar com a Kate e ter a Koany comigo, tenho dinheiro suficiente para nós dois vivermos o resto dos nossos dias, e ela terá uma vida de rainha, como ela merece.
Não atendi a nenhuma de suas chamadas ontem, pois não me sentia preparado para dar a ela a grande notícia. Confesso que, por receio de como seria a sua reação, achei melhor falar pessoalmente, tendo tudo já acertado. Até nossas passagens eu já agendei, agora vou até lá falar com ela. O dia foi cheio de ligações e chamadas de vídeo, o Wagner não faz outra coisa senão comemorar, então agora só falta ir até lá pegar o que é meu: a minha princesa, o amor da minha vida.
Ao chegar à portaria, dou apenas um aceno de cabeça para o Sr. Francisco, carrancudo, e subo direto sem ser anunciado. Não consigo conquistar a simpatia deste homem. Ainda bem que ela deixou minha entrada livre, pois assim eu não preciso lidar com o humor dele mais que o necessário. Toco a campainha e ela atende como se já me esperasse, toda sorridente. Não entendo, pois pensei em encontrá-la soltando fogo pelas ventas depois de ter acesso ao jornal desta manhã. Vejo seu sorriso morrer em seus lábios assim que ela coloca os olhos em mim.
— Você?
— Precisamos conversar! Koany, você estava esperando outra pessoa?
— É, John, precisamos conversar. Que tal começar me dizendo quando exatamente você ia me contar que ainda tem uma noiva?
— Não mude de assunto, princesa, vou falar tudo o que você precisa saber, mas antes me explica: por que a surpresa ao me ver?
— Sério que vai dar crise de ciúmes? Eu ainda tenho o jornal desta manhã. E você, tem o que?
— Tudo bem, princesa, sente-se e vamos conversar.
— Estou ouvindo!
Como uma boa menina que neste momento eu não sou, eu me sento confortavelmente em meu sofá, cruzando as pernas e o encarando, atenta a cada palavra que ele possa falar, pois serão as últimas que ele terá a chance de dizer para mim. Nem em outra vida eu aceitaria ser a outra, e desconfio que é exatamente isso o que ele tem para me oferecer. Será triunfante ver sua cara de cachorro pidão quando eu disser "não". E então ele começa a falar, andando de um lado para o outro, mostrando-se claramente que está nervoso. Sinto, mas nem sofro, como dizem por aí.
— Ontem, eu almocei com a Kate, mas, ao contrário do que parece, foi um almoço de negócios. Eu marquei esse encontro com ela por dois motivos. Primeiro, para colocar fim a um noivado que nunca existiu de verdade, tudo não passou de uma jogada de marketing arquitetada pelo Waguinho e a assessora dela. Nunca fomos noivos de verdade, e nunca houve a menor possibilidade de nós dois nos casarmos.
— Sinceramente, John, eu esperava uma justificativa mais convincente. O beijo que vocês trocaram, e que está estampado na primeira página do jornal, não me parece nada falso.
— Eu sei o que parece, mas não é.
— Continue...
— Confesso que houve envolvimento entre nós dois, mas sempre foi apenas sexo, somos grandes amigos. O segundo motivo que me levou a marcar esse encontro com ela é justamente por isso, ela se diz apaixonada por mim, mas esse sentimento não é recíproco. Eu precisava esclarecer tudo para ela e fazê-la saber por mim que você é a mulher que eu amo, e que é você que estará comigo de agora em diante por todos os lugares por onde eu for.
Sem deixar espaço para que ela reflita demais, eu continuo a falar, e jogo toda a novidade a respeito da nossa mudança para a Inglaterra sobre ela. Só espero que o amor que ela sente por mim seja maior que a mágoa por toda essa bagunça que sempre foi a nossa história, e aceite deixar tudo para trás e seguir comigo por onde eu estiver que ir.
— Em uma reunião com o meu advogado, eu fui informado que não posso quebrar o contrato que ainda está em vigor com o Chelsea e, como faltam exatos doze meses para o término do mesmo, eu terei que me apresentar para a diretoria ainda esta semana. Não posso estar em campo, mas eles podem usar a minha imagem, e o novo patrocinador exigiu exatamente isso quando fechou com eles. Portanto, como eu sei que você me ama assim como eu te amo, eu tomei a liberdade de marcar o nosso voo para daqui a dois dias.
Começo a sentir medo da expressão que se forma em seu rosto. É difícil decifrar se ela quer me matar agora ou se está tão feliz que o sangue sumiu de seu rosto.
— Johnata, é esta a hora em que você me olha e diz que está brincando.
— Não, princesa, esta é a solução para tudo. Se eu dissesse que iria sozinho, você com certeza não iria aceitar, e eu nem poderia, pois eu te amo demais para te perder novamente. Se eu rescindir o contrato, como eu estava pensando em fazer anteriormente, serei um homem falido, princesa, e seria o definitivamente o fim da minha carreira. Então uma luz iluminou em minhas ideias e eu encontrei uma maneira de termos tudo sem precisar abrir mão de nada.
— Pois eu sinto em te informar, Johnata, que a sua carreira acabou naquela mesa de cirurgia, no dia do seu acidente. Como a ortopedista responsável pelo procedimento, eu lhe digo que você nunca mais será o grande jogador John Wilder. Sua perna está ferrada e não há fisioterapia que consiga o milagre de te deixar cem por cento. E quanto a ninguém abrir mão de nada, você está muito enganado. Eu amo o meu trabalho aqui e não vou por nada deste mundo abrir mão do hospital. Faltam poucos meses para eu terminar a minha residência e eu estou exatamente onde eu gostaria de estar. Me desculpa por falar tão diretamente sobre a sua perna, mas é isso. Eu sinto muito. Agora, se me der licença, estou esperando um amigo para o jantar, e não está em meus planos dormir com fome depois de um plantão para lá de cansativo.
Abrindo a porta, ela me olha e fica esperando que eu passe por ela.
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