Capítulo 23

 Koany

O celular dele que ficou sobre a mesa. Acende o visor e apita com um sinal de mensagem. Passo o olho instintivamente sobre a tela e vejo na foto de contato uma loira com o nome Kate. Meu corpo fica rígido e eu me remexo na cadeira desconfortavelmente, tentada a abrir a mensagem. Olho na direção do local para onde ele foi e nem sinal dele. Meu ciúme fala mais alto e eu clico para abrir. Sei que não é educado, mas faço mesmo assim, e perco meu chão diante do conteúdo da mensagem.

Oi, querido!

Acabei de chegar, estou no Rio Othon Palace, ansiosa para te ver. Nosso almoço está confirmado para as 13:00.

Sua Kate

Mal posso acreditar nas palavras que vejo escritas ali. Não sei se saio correndo sem olhar para trás, ou se espero ele voltar para matá-lo. Tarde demais para decidir, ele já vem se aproximando.

Nem a bengala consegue tirar o seu charme, e o sorriso que ele ostenta ao caminhar em minha direção é de fazer qualquer mulher perder o juízo. Droga de coração traidor! Neste momento, eu só posso sentir raiva dele, e desprezo por ele estar me fazendo de idiota. Eu deveria ter imaginado que ele tinha alguém, afinal de contas, eu mesma vi no noticiário o anúncio de seu noivado com aquela modelo.

— Oi, amor. Demorei, minha princesa? Me desculpe por deixá-la por tanto tempo, mas fui parado no corredor por um grupinho que queria tirar fotos comigo. Não gosto de parecer indiferente com meus admiradores. Procuro dar atenção a todos em qualquer lugar.

— Imagina, Johnata, acho até que você foi rápido demais — Falo com uma dose de sarcasmo na voz. Não estou me aguentando, a minha vontade é de pular em cima dele e esbofetear a sua cara linda. Ops! Ignorem o "linda".

— Está tudo bem, Bela?

— Está, mas eu preciso ir embora. Recebi um chamado lá do hospital e terei que ir até lá ver um pós-operatório, sinto muito. Bom almoço para você! — Levanto, já pegando a minha bolsa e contornando a mesa para sair dali.

— Ei! Espera, eu vou com você. Podemos pedir para entregar nosso almoço e comemos em casa assim que você estiver liberada.

— Não! Vou sozinha. Preciso ficar um pouco sozinha. Tchau, Johnata.

Saio do restaurante, deixando-o lá, chamando por mim. Mas não me atrevo sequer a olhar para trás, pois isso denunciaria toda a fúria que estou sentindo. Ele que fique com a noivinha dele, para mim já deu.

Johnata

— Tudo bem, Kate, boa tarde!

Já estou entediado de tanto falar ao telefone, mas não quero nenhuma pendência em minha vida que impeça ou dificulte meus planos para o futuro com a minha princesa. Ontem à noite, ela me disse que voltaria hoje, e eu estou contando os minutos para vê-la novamente. Em nossa última conversa, ela estava apreensiva comigo, magoada pelos acontecimentos do passado, e eu não tive tempo de dizer a ela tudo o que eu havia planejado para aquela noite. Mas hoje vou corrigir isso, vou fazer uma surpresa para ela. Se ela me aceitar novamente em sua vida, finalizo a negociação que está em andamento com o clube, e me desligarei de vez dele, para o desespero do Wagner.

Eu deveria estar triste por essa decisão, afinal de contas, isso significa abandonar o meu sonho da vida toda. Mas por ela, eu deixo tudo, abro mão de qualquer coisa para ficar com ela, para fazê-la feliz como ela merece. Principalmente depois de tudo o que ela passou, depois do inferno que ela viveu sozinha, sem que eu estivesse ao seu lado.

A Kate é minha última pendência.

Tomo um banho bem demorado para me livrar de toda a tensão deste dia, coloco uma calça leve com uma camisa polo branca e sapatênis, um look bem casual. O calor está de matar nesta cidade hoje, mas tenho que ir preparado para qualquer situação esta noite. Convidá-la para jantar será uma boa opção, caso ela não me deixe entrar na sua casa. Deixo os cabelos bagunçados, passo uma colônia, a mesma que uso desde sempre, e desço em direção à garagem, onde meu motorista já se encontra a minha espera. Estou ansioso como um adolescente que sai pela primeira vez para encontrar a sua garota.

Não demora muito e paramos em frente ao prédio onde ela mora, afinal, não é tão longe assim de onde fica o meu. O porteiro dela me olha torto, e eu sei que ele ainda não me reconheceu. Esse cara definitivamente não assiste futebol, mas tudo bem. Peço para subir e fazer uma surpresa a ela, mas o homem finge não me ouvir e logo interfona para ela. Ele dá sinal de OK ainda ao telefone. Eu subo mais que depressa, pelo menos ela autorizou minha entrada. Bom sinal.

Eu estava preparado para tudo que pudesse acontecer, já havia até ensaiado algumas palavras que eu usaria para tentar convencê-la caso ela me dispensasse essa noite, mas nunca para o que ela fez ao me ver.

Quando ficamos frente a frente e eu me deparei com aquele rosto enrubescido, lindamente corado, eu disse a primeira coisa que me veio à cabeça e lhe entreguei o buquê que eu trazia em minhas mãos.

E o que ela fez a seguir foi apenas uma confirmação do que seu semblante denunciava.

Ela estava excitada.

Fui tomado por ela, e não o contrário, como deveria ser. Ela me beijou com tanto desejo e necessidade que minha reação foi instantânea, e eu dei a ela o que ambos precisávamos naquele momento. Precisávamos um do outro, e então eu a amei como da primeira vez que ela se entregou a mim, e foi como se os anos que ficamos separados estivessem sido apagados e nunca tivéssemos nos distanciado.

Acordei antes dela e fui para a cozinha, precisava encontrar alguma coisa comível, pois ambos não tínhamos comido nada ainda desde que a noite começou. Na verdade, a minha fome naqueles momentos era apenas dela. Quem precisa se alimentar de comida quando só se tem fome de amor? Enquanto eu a tinha em meus braços, o resto do mundo parecia não mais existir, e eu me senti o homem mais feliz e sortudo do mundo.

Tomamos o café que eu preparei com o pouco que encontrei na cozinha, levei para ela na cama e fiquei feliz por estar ali. Não acredito que ela pensou que eu fosse embora, como eu poderia? Nunca mais vou deixá-la, nunca mais. Fizemos amor várias vezes pelas três horas que se seguiram. Eu estava tão viciado nela, com tanta saudade, que eu poderia continuar pelo dia inteiro, mas ela tinha que trabalhar. Então saímos. Ela me deixou em casa e seguiu para o hospital. Antes mesmo de o seu carro virar a esquina, meu peito já se apertava de saudades.

O dia estava indo muito bem, até eu receber a ligação que acabaria com o ótimo humor em que eu me encontrava.

— Oi, Wagner, pensei que havíamos falado tudo ontem. Algum problema?

— Para mim, não há problema nenhum, já para você... Depende do conceito do que você denomina problema.

Sua voz está tensa, e eu sei que aí vem bomba.

— Desembucha, Waguinho, o que foi dessa vez?

— Repassei tudo para a diretoria exatamente como você me pediu, mas há uma cláusula que obriga você a permanecer aqui na Inglaterra até o término do contrato. Você não pode jogar, mas sua imagem continua sendo valiosa para eles. Sendo assim, se não quer ser o mais novo jogador falido do Brasil, aconselho que faça as suas malas, amigo.

— Sabe que não posso voltar agora, Waguinho. Se eu quero a Koany de volta, e isto não está em questionamento, preciso permanecer no Brasil. Ela jamais me perdoaria por deixá-la para trás novamente. E eu ainda tenho que enfrentar a Kate, sua ideia maluca de noivado me deixou em maus lençóis com ela.

— Bom, quanto à Kate, já fiz tudo o que eu poderia para convencê-la de que era apenas um negócio. Mas fazer o que se a garota é louca por você? — O infeliz gargalha alto e minha vontade é de matá-lo por isso.

— Marquei com o advogado para as quinze horas, ele vai explicar melhor para você cláusula por cláusula, e juntos estudaremos a melhor maneira de tirar você dessa. Fica bem, meu amigo.

— Obrigado. Tchau, seu infeliz.

Ali jaz meu bom humor. Encerro a ligação e me jogo no sofá, onde permaneço como um peso morto, me preparando psicologicamente para a reunião de logo mais.

Às quinze horas em ponto, minha campainha toca e corro a atendê-la. Estou ansioso para ouvir uma boa notícia. Tem que haver uma saída que me livre da obrigação de ter que deixar o país. Koany já é parte de mim, e por nada neste mundo eu vou abandoná-la novamente. Ouço atentamente tudo o que me é explicado, e não gosto nem um pouco das conclusões a que chegamos. Discutimos cada cláusula do contrato várias vezes, e a constatação é a mesma: eu teria mesmo voltar.

Só percebo que já é tão tarde quando o nome dela pisca na tela em um sinal de mensagem. Visualizo, mas não respondo, preciso vê-la pessoalmente e falar com ela. E torcer para que ela aceite a ideia de ter que me esperar por um ano, o que eu acho pouco provável, pois nós nem conversamos ainda, e oficialmente ainda não somos namorados.

Acompanho o Wagner e o advogado Miguel até a saída, aproveitando para tomar um ar, clarear meus pensamentos e preparar o espírito para falar com ela. Sei que não será fácil, mas é extremamente necessário. Essa conversa não pode mais ser adiada.

Chego a seu apartamento e a encontro com carinha de sono, linda e meiga como sempre, mas com um olhar desconfiado. Tento me concentrar em ficar com meu amigo em off até que eu possa falar com ela, mas ela não ajuda. A visão de seu belíssimo traseiro coberto apenas por um shortinho curto e camisetinha colada em seu corpo faz com que o danado desperte imediatamente. Quando ela vira-se, ficando de frente para mim, eu vislumbro aqueles bicos empinados e perco de vez a razão.

Pego-a em meu colo e a levo para o quarto, e a amo novamente, tomando tudo dela e dando a ela tudo de mim. Convido-a para jantar em um restaurante próximo à casa dela, penso que estando em público sua reação ao que eu vou contar seja mais amena. Entramos no restaurante e o maitre nos recebe com toda atenção. Olho em volta e não avisto nenhum paparazzo, acho bom. Não gostaria de expor a imagem dela ainda. Vou ao banheiro. Quando volto, minha princesa não está mais lá, seu lugar foi tomado por uma Koany carrancuda e mal humorada. Não me lembro dessa sua desestabilidade de humor. Ela inventa uma desculpa qualquer e sai sem sequer me dar a chance de abordar o assunto que nos trouxe ali.

Pego meu celular para ligar para ela, preciso que ela me ouça antes de qualquer coisa. Meu tempo está se esgotando e logo terei que partir rumo à Inglaterra, e então entendo tudo quando vejo uma mensagem da Kate aberta na tela. Agora eu entendo a sua fúria, e o medo de perdê-la novamente me consome. Preciso mesmo resolver tudo isso se quiser Koany de volta em minha vida, e isso é exatamente o que farei. Vou para casa sem jantar mesmo, não tenho fome. Prefiro deixar para voltar a procurá-la depois de ter me acertado tudo com a Kate, mas há uma coisa boa nisso tudo. Ela ficou com ciúmes, sinal de que ainda me ama. E se ama, vai entender que não posso desistir da minha carreira agora, vai me esperar. Adormeço com um sorriso bobo nos lábios, me lembrando do seu corpo nu se contorcendo sobre o meu, e de sua voz rouca chamando meu nome.

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