Sensação de queda

      Capítulo 2 da fase
" Péssimas notícias"

     Logo após a morte dos seus pais Stephanie passou a ter um sonho recorrente, sonhava que estava caindo, claro que sempre acordava antes de tocar o chão. Mas o impacto que aquilo lhe causava era muito assustador. Pensava nisso enquanto estava ali relaxando o corpo na cama com o pequeno Justin, adormecido tranquilamente no seu colo. Tentou sem sucesso não pensar na sensação de pesadelo em que Ryan se encontrava, mesmo com demorado esforço, não conseguiu desviar o pensamento. Estava tudo acontecendo de modo errado. Tudo indo fora de seu controle. E aquela sensação de queda se repetindo, mas não enquanto sonhava, agora acontecia toda vez que na sua mente vinha uma lembrança do pai de seu filho.     Acariciou a cabecinha do menino e sentiu que seu coração disparou.   Levantou-se, vestiu-se e antes de sair pediu pra tia tomar conta do pequeno por algumas horas, faria o que achava ser o certo.

     A expressão de Ryan ao avistar Stephanie foi pior do que ela pôde imaginar. Ele a olhou, com o que pareceu pra ela, ser rancor acumulado e a desilusão assombrou-a. Vexada deu a volta e começou andar sem parar, precisava sair dali, onde estava com a cabeça quando acatou a idéia de prestar solidariedade vindo até o velório da Roberta. Andando ligeiro constatou alguns olhares curiosos das mulheres que provavelmente já passaram pela vida ou apenas pela cama de Ryan.

     — Stephanie. — chamou Ryan. Ela imediatamente paralisou ao reconhecer a voz.

     — Desculpa, eu não me contive e vim até aqui. — ela respondeu e voltou a andar com passos largos. — Não fiz com má intenção. Não sei mesmo o vim fazer aqui. Desculpa.

     — Já que chegou até aqui, fique. — Ryan pediu segundo os passos dela. E ela paralisou outra vez sem palavras.

     — Você não precisa de mais uma mulher atrás de você, só porque é rico. — deduziu a imagem que ele via dela por se fazer presente ali e já arfou na defensiva.

    — Nunca parou para olhar no espelho e constatar a possibilidade de eu não te achar igual a elas? — o olhar dele oscilou. — Elas foram, sim, meros passatempo pra mim. Companhia pra seduzir e depois descartar sem mesmo um olhar de despedida. Mas você...

     — O dinheiro te deu o direito de agir como se os sentimentos alheios não valesse nada. — o olhar dela também oscilou. — Mas querendo pensar que eu também estava atrás da sua riqueza, que pense. — Stephanie não queria arfar, mas era incontrolável o impulso. Deu dois passos a frente e sentiu o toque de Ryan a paralisar.

    — Espera, Stephanie. — ele segurava o braço dela sem machucar. — Por quanto tempo pretende manter esse ar defensivo quando fala comigo? — ele não soltava o braço de Stephanie, também não prendia, apenas procurava impedir que ela se afastasse ainda mais dali.

     — Por que não me diz você? — ela já estava pronta a retirar o braço e ir embora quando perguntou. — Até quando você alimentar esse seu rancor contra mim. Ou melhor, contra uma calúnia.  — respondeu.

     — Não é tão simples. — ele falou baixo, quase não sendo possível ela ouvir. — Mas se agora me dizer que veio aqui de coração aberto e não com o intuito de me ver abatido e sofrendo... — Ryan soltou o braço dela e baixou o tom da voz novamente. — Anulo esse rancor.

     — Eu de verdade, sinto muito por sua perca, Ryan. — falou Stephanie não se importando se ele iria coloca-la para escanteio quando aquela dor que o consumia passasse. Erguendo a cabeça ofereceu seu abraço.

      Ele aceitou o abraço se permitindo o contato do corpo dela com o seu e sem reservas chorou abafado pela morte de sua mãe. Desde o momento que recebeu a notícia, no dia anterior, ele ainda não tinha baixado a guarda, porém sabia que precisava disso.   Apoiado nos ombros dela, ficou assim.
      Aproveitando que estavam um pouco afastados das demais pessoas, Ryan deixou Stephanie sentir lágrimas umedecer o tecido de sua blusa. Ela tentou dizer algo consolador pra ele, porém palavras não foram pronunciadas, o único ruído que se fazia ouvir eram de choros e as batidas de seus corações. Quando ela quis olhar no rosto de Ryan, ele logo pressionou o frágil corpo dela, fazendo-a permanecer na posição que estava. Neste gesto o coração dela errou a batida, ele não queria que ela o visse chorar. Sabia que ela também chorava, mas não queria que ela o visse assim. Ela entendeu e respeitou, Ryan tinha seu orgulho acima de tudo.

     Deu-se início ao velório e Ryan precisou se apartar dela. Fez isso rápido e saiu sem dizer nada. Isso Stephanie também não questionou, ela não conhecia o comportamento dele mediante a uma perca.

     Durante a cerimônia fúnebre o caixão da Roberta foi posto em exposição pública para permitir que parentes, amigos e outros interessados pudessem honrar a memória dela, antes do momento do sepultamento. Stephanie permaneceu acompanhando o tudo à uma pequena distância.

     — Pobre Stephanie. — o humor sarcástico na voz feminina lhe percorreu a espinha. — Esperando algo mais? Pedido de casamento talvez? Não vá ficar chocada quando descobrir que existe historinhas de aventuras emocionais que não possuem finais felizes para sempre.

     — Natália. — ela reconheceu imediatamente a loira elegante e ousada que esteve com Roberta nos dias do evento do cruzeiro. — Não estou esperado que tudo acabe em alguma coisa, nem todo mundo é como você.

      Stephanie se concentrava em acompanhar a cerimônia de sepultamento, tentando não se deixa levar pelas emoções novas que brotavam dentro dela.

     — Eu vi você e Ryan abraçados a uma pequena distância. — Natália riu forçado. — Ainda nutre entusiasmo ao saber que foi um objeto pra ele como várias outras que estão aqui.

     Stephanie sabia disso por instinto, mas veio ao velório pra prestar seus pêsames neste momento de dor e amargura pela perda de um ente querido que era tão importante a família de Ryan.

     — Nunca se passou pela sua cabeça que ele não queria e não quer nenhum envolvimento sério com você. — Natália estava mesmo disposta a fazer Stephanie perder a compostura.

     — Eu que não me casaria com Ryan, nem que fosse a última pessoa do mundo. — ironizou pra irritar Natália. — É tão difícil assim crer que alguém pode resistir aos encantos dele.

      — Está me dizendo que se ele houvesse te pedido em casamento, teria dito, não? — Natália gargalhou baixíssimo em demonstração de zombaria e azeda concluiu.  — Que oportunista suja, ficaria satisfeita apenas com uma bijuteria ou gorjeta.

      — Nunca quis o dinheiro deles. — Stephanie teve vontade de quebrar a cara dela, mas foi inteligente e optou por dá-lhe pancadas sem mão. — O que almejei, consegui. Aproveitei o tempo que passamos juntos e de certo modo, ele me fez um enorme favor, porque antes de conhecê-lo eu era apenas uma garota ingênua.

      Ryan notou de longe que o clima não estava agradável entre Stephanie e Natália. Discretamente se afastou da sepultura pra ir ao encontro delas, antes que uma desavença se fizesse notória. Pretendia de qualquer forma pôr um fim naquilo que acontecia. Não pôde deixar de notar o furor que  emanava delas através de olhares. Ryan se aproximava delas por uma lateral que Stephanie não avistou, porém Natália viu.

      — É entediante ficar trabalhando dentro de um navio o dia todo, um pouco de diversão e aventura amorosa razoável ajuda bastante a melhorar nosso estado de espírito, não concorda, Natália? — Stephanie ergueu as sobrancelhas, forçou um riso falso e deu as costas pra ela, precisava urgentemente ir embora dali. — Poderia ter sido você naquele dia, mas ele me escolheu.

     Quando elevou o olhar e avistou Ryan parado, assistindo tudo que ela falava, sua cabeça ebuliu ao meditar na resposta humilhante que precisou usar para intimidar Natália.

    — Escute, eu não deveria...

    — Entendo. A verdade aparece, Stephanie. Não se explique.

     Ela deu as costas a eles e caminhou sem pressa, já cabisbaixa, o cérebro cheio de pensamentos desagradáveis, seu desejo era ser invisível. Não estava vendo, mas sentia ele acompanha-la com o olhar. Não era pra ter ficado ali e também não deveria ter escutado aquele diálogo da Natália. Que droga. Tiveram um momento tão importante. Por que tudo com eles sempre acabava do modo ruim? Ela se perguntava enquanto partia. Estava tão tensa que não percebeu a presença de Holden um pouco afastado também das pessoas que vieram prestar suas condolências.

     Ryan com os nervos à flor da pele não foi atrás dela, decidiu que era melhor a verdade do que acreditar em um paraíso inexistente. Foi até melhor assim, pois Holden foi até ela.

     — Stephanie. — chamou. — Quer que eu te leve pra casa? — perguntou ao se aproximar e ver ela com lágrimas no olhar.

    — Quero. — respondeu ao reconhecer Holden ao seu lado. — Obrigado.

      Natália não perdeu tempo e percebendo a situação entrelaçou seu braço em Ryan.

      — Eu lhe fiz um favor. — falou com desdém. Ryan puxou o braço, não se preocupando com a brutalidade.

     — Agradeço. — disse com ironia.

     — Tá certo. — Ela sentindo que ele poderia magoa-la o abandonou com desgosto estampado no rosto. — Se precisar estou aqui.

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