Capítulo 1 da fase
" Reviravoltas".

Holden já tinha uma vaga reservada diante da casa de Edith, por isso não teve dificuldade em estacionar seu veículo. Mas Ryan desligou o carro e virou-se para Stephanie, uma das mãos sobre o câmbio.

- Sei o que vai dizer. - adiantou ela.

- Você agora ler pensamentos? - ele questionou com ironia.

- Pelo jeito como olhou para os arredores, agora, pude notar que o lugar não o agrada. Tenho certeza, não sou idiota! - o nervosismo por não saber como explicar a vinda dele pra sua tia se manifestava nela numa explosão de irá.

- Mas sabe muito bem representar o papel de uma. - ele procurava com um olhar rápido uma vaga mais afastada.

- Não quero que entre na casa de minha tia fazendo observações pejorativas. - advertiu Stephanie.

- O quê? Que tipo de pessoa acha que eu sou? - Sem esperar resposta, Ryan resolveu colocar o automóvel em movimento.

- O filho de sua mãe. - bufou ela.

- E o que isso quer dizer? - Ryan finalmente encontrou uma vaga e com habilidade estacionou. Procurou por Holden e Justin, mas eles haviam entrado na casa e agora Stephanie também seguia em direção a porta.

- Nada. - Stephanie segurou a maçaneta, de certa forma esperando que Ryan a impedisse e exigisse uma explicação sobre o que disse, o que não aconteceu. Ela suspirou. Era bobagem manter aquela atitude beligerante. A saúde de seu filho estava em risco. - Venha. - convidou-o. - Vou te apresentar minha tia.

Stephanie entrou na sala, Ryan a seguia, mas deteve-se após fechar a porta atrás de si e sentir todos seus sentidos a avisarem do perigo. A cabeça de Stephanie girava em absoluta confusão. O que Edith diria? E o que será que Holden falou a Jéssica pra ela nem os saldar? Por que Ryan tinha de fazer isso com ela agora? Deveria ter lhe dado um tempo para as coisas se acertarem. A inexistência dele foi tão descomplicada nos últimos anos. Ela trabalhava duro, cuidava do filho com a ajuda da tia e da melhor amiga, que nunca reclamava quando o dinheiro mal dava para as despesas. Porém naquelas poucas horas, sentiu toda sua tranquilidade se evaporar. Jamais explodia em irá e agora estava ali, fora de seu limite como se isso fosse um comportamento natural.

- Edith estar esperando na cozinha. - Holden avisou, estava acompanhado de Jéssica, que nem os olhou e com Justin. Stephanie compreendeu e direcionou Ryan ao local indicado.

- Ouça-me. Vocês estão agindo como umas crianças. - Ryan não ponderou em ser grosseiro.

- Essa foi a declaração da década? - ela também não conseguia evitar.

- Bem, que seja. Acontece que eu também não esperava que minha vida sofresse uma reviravolta!

- Mil desculpas, cavalheiro. - por algum motivo ela sentia vontade de contender com ele cada vez mais, mesmo que soubesse que ele estava com alguma razão. Afinal, receber de uma hora pra outra uma notícia surpreendente, não era tão simples.

Eles entraram na cozinha. Edith os olhou detalhadamente e indicou um lugar na mesa para que sentassem. Stephanie sentiu que dali em diante nada mais séria o mesmo para nenhum deles.

- Precisa de ajuda, tia Edith? - perguntou e a tia fez que não, pegando suas canecas no armário. Depois colocou sobre a mesa com um bule de chá e começou a servi-los.

- Tia Edith, esse é o Ryan Williams. Achamos que ele pode ser a ajuda que o Justin tanto precisa. - falou tensa.

- Prazer Sra Edith. - ele estendeu a mão e ela o cumprimentou.

- Venha, Justin. - Jéssica chamou tentando pegar o pequenino que entrou correndo pela cozinha e se agarrou nas pernas da mãe interrompendo as apresentações.

- Quero mamãe! - a voz infantil se fez ouvir por toda cozinha.

- É hora de tomar banho e comer seu lanche. - informou Jéssica. - Desculpa, não deu pra controlar a energia dele.

- Justin, estamos conversando. - Edith falou e no mesmo instante o pequenino soltou as pernas de Stephanie e pegou na mão da tia Jéssica. - Seja um bom menino e antes de dormir sua mãe conta uma história pra você.

- Isso mesmo, lindinho, mas precisa ir com tia Jéss tomar banho e com tio Holden comer seu lanche. - Stephanie beijou Justin quando ele faz menção de sair da cozinha.

- Tchau... - Justin olhou cativado para Ryan.

- Tchau. - o pai acenou com a mão para o filho num gesto atrapalhado e estudou o comportamento do menino quando ele e Jéssica sairam da cozinha.

- Licença. - Jéssica falou ao se retirar.

- Ele é incrível. - Ryan sentiu-se feliz.

- E muito inteligente também. - Edith acrescentou. Houve um momento de trégua tão perfeito que pairou no ar uma nota de orgulho. - Ficará para o jantar, Sr Williams? - virou-se pra ele, secando as mãos no avental.

- Sim. - ele afirmou. - Gostaria de um banho, tudo bem?

Edith assentiu em silêncio e indicou o banheiro ao lado do quarto de Stephanie para que ele usasse. Assim que ele se afastou, a tia veio na direção da sobrinha. - Por acaso ele está pensando em pernoitar?

- Ele insistiu em ficar, para conhecer um pouco melhor o Justin, mas amanhã vai embora. Precisa passar no hospital para fazer os exames e depois pode entrar em contato conosco pelo celular. - ambas sentaram a mesa.

- Que ousado. Tem a própria casa, não precisa ficar aqui. - questionou Edith.

- Não acredito que ele iria querer. A vida dele é de luxo, com objetos de grife. - Jéssica entrou na cozinha com Justin segurando sua mão. - Desculpa, eu ouvir o finalzinho da conversa.

- Ryan sempre a faz sentir-se tão sensível e na defensiva, Ste? - quis saber a tia.

Holden também chegou na cozinha quando viu que seu irmão passou pela sala em direção ao banheiro da casa.
Stephanie foi incapaz de responder a última pergunta que lhe foi feita por Edith. Mas quando se conheceram, ela se sentiu aquecida, livre e apaixonada. Compartilhando um belo momento de harmonia. Pena tudo terminar em recordações dolorosas para superar.

- Ryan não me parece o tipo de homem que vai sair assim fácil. - argumentou Jéssica, fazendo todos olha-la alarmados. - Não se ele não quiser. - concluiu colocando Justin no colo de Stephanie.

O pequenino estava sonolento por conta do banho e das medições que tem horário para serem tomadas. Stephanie acariciou o filho enquanto pensava se respondia a pergunta de sua tia e afirmava que Ryan sempre foi assim.

- Temos cuidado bem de tudo até agora. Porém, Ryan estar de volta, vai querer se aproximar do filho, e tem direito. - Edith falava enquanto preparava a mamadeira do sobrinho neto.

- Por quê? - as palavras saíram fracas dos lábios de Stephanie.

- Porque ele é o pai, Ste.

- Ryan contribuiu com a parte biológica, você quer dizer, titia. Há uma diferença enorme nisso. Só quis ter um caso comigo. Ele e a mãe dele me acusou de estar atrás de dinheiro, nem ao menos consideraram que poderiam estarem errados a meu respeito. Por que então ele deve ter esse direito?

- Porque sim. - Edith se ergueu. - Acho que ouvi o pai de seu filho te chamar. Talvez esteja precisando de alguma coisa. Vá saber do que se trata.

Stephanie foi até Ryan.

- Preciso de uma toalha. - ele pôs a cabeça pra fora da porta do banheiro.

- É claro que sim. - disse irônica. Saber que ele estava usando seu banheiro a deixava desconfortável.

- Não entendo porque está zangada. - Ryan agarrou o punho dela depois que envolveu na cintura a toalha que Stephanie lhe emprestou.

- Entende muito bem. - tentou recuar. Detestava a aproximação dele.

- Eu que deveria estar. Me sinto um intruso aqui, com meu filho, minha própria carne e meu sangue...

- De novo, não. Ainda não discutimos isso o suficiente? Não pedi que viesse passar a noite aqui! Não foi convidado. Eu não...

- Mamãe! - Justin chamou, segurava sua mamadeira.

- Ele quer que eu dê seu leite, Ryan. Então se puder me soltar...

- Eu vou com você. - soltou o punho dela lançando um olhar desafiador e foi se vestir.

Stephanie deu de ombros como se não ligasse, mas na verdade estava ressentida pela maneira como ele invadia seu espaço. Parte dela compreendia, mas ignorou esse sentimento.