Capítulo 7
Se continuasse a gastar daquele jeito, nem ia chegar ao fim do mês com as malditas senhas. Estava um pouco frio e Jamie alisava os braços com as mãos a fim de se aquecer no meio das ruas perigosas daquele bairro. Tinha saído as pressas, e agora se arrependia de não ter levado pelo menos uma gabardina.
Em alguns cantos escuros se ouviam gemidos, noutras casas gritos e não era do interesse dela, saber se eram de alegria ou não. O cheiro a podre também era notável, urina, fezes e vómito. Provocavam uma revolução no estômago da mulher grávida que vez ou outra parava para respirar fundo e prender a ânsia.
Vários corpos dormiam em cobertores sujos, completamente drogados e com pequenas fogueiras, seringas e latas queimadas. A maioria alheia a sua presença quando parava para os inspecionar.
Não demorou a avistar Alda, estava deitada junto de um homem que a apalpava sem pudor, arrancando um nojo profundo de Jamie.
— Solta ela! — Ameaçou e viu o riso no rosto da mãe que não sabia o que estava a acontecer, apenas tentava segurar o corpo para não cair contra o chão.
O homem fedia a álcool, era maior e também não parecia estar em si, pois ignorou-a e continuou a massajar o membro por cima das calças. Em algum momento pensou em se livrar delas, mas estava bêbado demais para encontrar o fecho.
— Saia já daqui! — Jamie se meteu no meio cheia de coragem e empurrou a figura maior que ela com as duas mãos. Virou para a mãe. — Eu estou grávida, devia estar descansando, mas estou aqui aturando essa merda toda.
— Sai você! — O energúmeno ignorou a conversa familiar e sem modo algum a empurrou com força, levando as mãos sujas para a segurar pelos braços e a afastar de sua frente. — Essa mulher é minha.
— Não... Toque... na minha filha! — Alda decidiu se pronunciar, levantando um dedo que em seguida caiu ao colo, estava mole demais para se aguentar. Deixou a figura voltar a apalpar-lhe quase sem reagir, mas a filha segurou o casaco quase sem cor de tanta sujidade e tentou arrancar o homem dali. Provocou a ira do mesmo, que se virou e a agrediu fisicamente e sua força mostrou que mesmo naquele estado, poderia violenta-la e ninguém faria nada.
— Larga, ela! Larga!
A jovem médica não se fez de rogada, lutava contra o homem com o dobro do seu tamanho, ouviram-se bofetadas e este a empurrou contra o chão com todas forças possíveis. Não acreditou quando ouviu uma voz masculina interceder.
— Acabou a festa para você, saía já daí. A velha quitou a dívida! — Ordenou, falava de um jeito arrastado e ameaçador. O que levou o outro homem a se afastar rapidamente, cambaleando sob os próprios pés, mas não era isso que chamava a atenção ali naquele momento.
— Christian! — A admiração na voz da prima de Darcelle não demonstrou se estava feliz ou zangada, pois todo o rosto estava carimbado por um inegável descrédito.
— Passa o dinheiro e podem ir por vossa conta e risco. Sua princesa ta intacta, tirando a surra que levou, ninguém tocou nela não. Não fazemos nada a quem não nos deve. — Falou o suposto guarda-costas que o acompanhava e conferiu o dinheiro que Chris lhe entregou.
Assim que ficaram sozinhos, Jamie rastejou até a mãe, enrolada num cobertor velho, tremia e falava coisas sem nexo. As duas estavam sujas, algum sangue podia ser visto.
— Vem, eu vos levo.
— Não. Por favor vá embora. — Sequer olhou para ele, tinha a cabeça baixa e com dificuldade tentava erguer a mãe e apoia-la no seu ombro. Não queria acreditar que ele estava ali, não fazia sentido, como descobrira? Ninguém sabia.
— Sei que não me pediu nada, mas um obrigado era bem-vindo.
— Por favor Christian, estou morrendo de vergonha. Preciso que vá embora. — Jamie insistiu, sendo sincera até a alma, lutando com o corpo frágil da mãe drogada, que vez ou outra se ia abaixo.
O administrador da Beauchamp dobrou as mangas da camisa social e andou até elas, apoiando a outra parte do braço da senhora em seu ombro. Suspirou ao ver que a teimosa não reclamou, aceitando a ajuda muda. Caminharam em silêncio e com dificuldade, as duas não pareciam ter condições de se mover com facilidade. Por sorte conseguiram chegar até ao carro, e Chris colocou a senhora no banco de trás, antes mesmo da filha se dignar a protestar ou resistir.
Quando entraram no veículo, Jamie sequer teve tempo de perguntar o que acontecera ao carro de dois lugares, apenas desabou com a mistura de sentimentos, a raiva, a vergonha, o alívio e tudo o mais que habitara seu coração nos últimos dias. Tinha gasto todas suas poucas economias a tentar ajudar a mãe, se desfeito de seus bens, livros de medicina caros e tudo o que pode. Não chegou. Nunca chegava.
— Não chora filha, o moço bonito veio salvar a gente — Alda falou atrás e riu em seguida, a cabeça parecia não aguentar ficar parada em cima do pescoço, sempre pendendo para o lado.
— Sua velha maluca, eu odeio você! Odeio! — Num minuto de surto, gritou contra a mãe e queria se atirar para o banco de trás, mas Christian a segurou pela cintura, obrigando-a a permanecer no lugar.
— Ela não está nas próprias faculdades mentais. O vício é uma doença — lembrou com paciência, enquanto ligava o carro e conduzia para longe dali.
— Pois senhor psicólogo, isso já sei, porque desde os cinco anos eu cuido dela. Desde que meu pai se afundou no alcoolismo por frustração da mulher drogada e prostituta. Desde que os pais de Darcelle tiveram pena e me acolheram e educaram como filha. Quando meu pai se casou novamente e nunca mais quis saber de mim. Faço medicina em busca de poder curar essa gente e nada, nada muda! — Desabafou tudo de uma vez, como se uma bola presa na garganta finalmente tivesse sido regurgitada. Cobriu o rosto com as mãos, escondendo as lágrimas que insistiam em cair, autónomas. A bílis lhe subiu pela garganta, não tinha comido nada, mas não ia vomitar na frente dele.
— Você não precisa ser forte o tempo todo. Pode ser frágil sim. Não se esqueça nunca que é humana.
— Não tenho dinheiro para pagar consulta no psicólogo, por isso me poupe da sua consulta barata!
Chris conseguiu sorrir ao escutar a resposta chorona. Era renitente como nunca, daquelas que achava que podia resolver tudo sozinha e que não precisava de ajuda de ninguém para que não tivessem pena. Não a condenava, deveria ter crescido com olhares penosos acerca da sua história de vida e agora em adulta não queria mais passar por isso.
— Essa maldita sempre volta, me persegue para todo lugar! Sempre querendo arruinar a minha vida. — Mais uma vez acusou a mãe e recebeu os lenços de papel que o condutor a entregou.
— Porque precisa de ajuda. Ajuda séria!
— Pensas que nunca ajudei?
— Eu não disse isso!
A grande clínica privada Dash & Dash era toda branca com várias janelas amplas e azuis. Dava um aspecto bem moderno e caro. Só o pátio gigante possuía mais de mil hectares, com um pequeno lago e várias árvores e lugares de lazer.
Alda Johnson foi levada numa maca para os cuidados intensivos, e só depois de uma boa discussão, Jamie aceitou que cuidassem de seus ferimentos.
— Christian! Faz tempo que não te vejo por aqui. — Lola apareceu com sua bata branca, era baixa com os olhos rasgados e os cabelos lisos até ao queixo, uma mistura certa de caucasiano e japonês. Sorriu.
— É, às vezes lembro que este lugar existe. — Salientou de forma despreocupada, obrigando os olhos a girarem por toda sala da receção como se fosse algo novo. Ficava sempre tenso diante da ex e única namorada, não que já não tivesse perdoado a traição, mas não conseguia deixar de lembrar que aquela tinha sido a mulher de sua confiança.
— Deixa disso. Sentimos sua falta aqui! — Esticou o braço pequeno para dar um estalo no ombro do antigo colega e namorado. Lola fora a única mulher que conseguira subir ao título de namorada por dois anos. Nunca antes e nunca depois. — Onde encontrou essas mulheres? Foi uma sorte, a senhora por um pouco apanhava alguma infecção séria.
— Me diga apenas o estado de Alda. — Esquivou da resposta e junto das palavras, veio um longo suspiro, cansado. Lola o inspecionou, o conhecia muito bem para saber existir algo para além daquela lamentação.
— Conseguimos desintoxicá-la por ora, tinha contusões e lesões graves, o suficiente para ser internada. Vamos ter que coloca-la na reabilitação?
Sim, era uma pergunta pois a Dash & Dash possuía todo tipo de tratamentos possíveis em várias alas distribuídas em edifícios e blocos, mas o preço não parecia possível para o bolso da Johnson.
— Sobre minha responsabilidade — garantiu sem hesitar e levou a mão para massajar a têmpora. Os olhos ardiam.
— No entanto, a mais jovem entende de medicina, estava sempre a dizer ao enfermeiro como devia proceder no atendimento. — A forma como Lola falou não deixou claro se era uma censura ou elogio, apenas continuava com o ar neutro e profissional.
— E como ela está? — Não conseguiu ficar sem perguntar, mas a resposta surgiu em forma física de Jamie saindo de um dos corredores com um ar grave e cansado. Naquele momento o coração de Chris se compadeceu e correu para a envolver em seus braços num movimento instintivo.
— E a minha mãe? — A raiva tinha passado, dava para ver. Tudo o que restara era a preocupação de sempre, a mesma que a levara a se deslocar sozinha para aquele beco perigoso. A mesma que sentira ao saber que Chris conhecia sua condição.
— Você é uma idiota. Pensei ter dito que eu ajudaria caso me pedisse, desde que estivesse ao meu alcance! — Primeiro zangou e só depois percebeu estar a ser observado pelos trabalhadores e conhecidos do hospital.
— Olá, eu sou a Lola Hazumi. Responsável pela sua mãe, de momento ela foi sedada e precisa descansar. Pela manhã pode receber visitas. — Sorriu para os dois e se despediu em silêncio, afastando-se para longe.
— Obrigada por tudo, não sei como agradecer — disse Johnson por fim ainda com a cabeça escondida no peito de Christian. Não queria encontrar a censura nos olhos verdes. — Não tenho como pagar.
— Vou levar você comigo e lhe dar um banho — murmurou contra a orelha, ignorando o cheiro desagradável e apertando-a mais para si. Não se importava se seus pais poderiam aparecer a qualquer momento, apenas queria passar segurança.
— Eu queria ir para casa. Prometi para Darcelle não esconder mais nada e...
— Sua prima está com Damien. Ele me pediu para avisar quando estivesse tudo bem e assim poder acalmá-la também. Está certo?
O aceno de cabeça foi suficiente como resposta, recebeu o casaco de Chris e o aguardou acertar as contas do hospital, para logo em seguida seguirem em silêncio para o apartamento do outro lado nobre da cidade.
— Como me encontraste? — Perguntou durante o percurso, os olhos apreciavam o movimento da estrada, apenas para ocupar a mente e não se dar por vencida a presença dele.
— Sabe que sou muito inteligente, e qualquer dia a CIA me contrata — respondeu sempre com as piadas habituais. — O seu carro foi encontrado num beco e a Darcelle me contou da sua mãe. Por que nunca me contaste nada?
— Por algum acaso eu sei algo sobre os seus pais? — Retorquiu numa resposta amarga, e sentiu o corpo doer. Ainda queria estar zangada com Chris depois da última noite, mas era fraca, só de o ver o coração amolecia.
— Eu não sei pedir desculpa. Sabes como é? — Pareceu ler seus pensamentos, mas queria deixar claro que podia ter exagerado na última noite.
— Alguém lhe disse para pedir alguma coisa? — Jamie fechou os olhos e repousou a cabeça no encosto. Não ia sentir, não queria sentir.
Chegaram a Penthouse e o conforto e o silêncio do lugar serviram para relaxar um bocado a tensão anterior, sem demora o dono da casa conduziu-a para a sua suíte e olhava sempre para o bom gosto da decoração como se fosse a primeira vez. Em tons azuis e prateados, com bases e cabeceiras em madeira. Um guarda-roupa do tamanho de um quarto e uma casa de banho com jacuzzi e televisão plasma nos azulejos escuros.
Encheram a banheira de água quente e sais, e Jamie se deixou ficar lá dentro a relaxar até ele voltar com duas taças de vinho e entrar do lado oposto.
— Há quanto tempo nos conhecemos?
A pergunta veio do nada, manchando o silêncio anterior. Ela pareceu despertar ao ouvir a questão e encarou os olhos verdes com insegurança. A gravidez lhe veio logo na lembrança. Não poderia saber.
— Alguns meses? — Deu de ombros, sem saber ao certo e bebeu um gole do vinho.
— Sabe quando foi a última vez que eu me importei com alguém?
— Como eu vou saber?
Christian sorriu, colocando gel numa esponja e começou a lavar o corpo nu sem pressa, apreciando cada detalhe deste, talvez para gravar com atenção. Os seios pareciam maiores e mais belos como nunca.
— Juro que hoje eu queria deixar você se estrepar, para aprender a saber expor seus problemas para os outros. Se não para mim, pelo menos para sua prima.
— Onde está o Christian que eu conheço? — Jamie ergueu uma sobrancelha em forma de provocação, os olhos escuros brilhavam só de ver a cara bonita a sua frente. Deixou que lhe lavasse por completo, em silêncio.
— Bem aqui, olha só. — Levou a mão dela para o meio de suas pernas, revelando o membro erecto e arrancando um grito incrédulo por parte dela.
Se beijaram devagar, esquecendo a briga, e as mãos se libertaram das taças para poderem passear pelos corpos nus, havia ansiedade em cada virar da cabeça e cada toque. Os corpos pediam certa urgência também, como se fosse a primeira vez, pois latejavam, mas daquela vez não era apenas sexo.
Dash prolongou o beijo, como se o pudesse ingerir e guardar na alma, assim sempre que sentisse saudades, pudesse ir lá resgatar. Fez carinhos no corpo negro, sorrindo ao apreciar o rosto belo se deliciar e segurou-a pela cintura a levando para cima de si. Gemeu quando o membro se acomodou no interior e deixou-a no comando desta vez. Ouviu-a suspirar assim que se completaram, chamou pelo seu nome de maneira suave, sem o habitual toque seco, sem as defesas frequentes, ali no calor, acompanhava a vibração não só dos corpos mas de corações. Jamie estava a transpor barreiras há muito erguidas na vida de Dash e não só o membro duro como nunca era a prova, tal como a vontade súbita de tê-la todos os dias da sua vida.
Subia e descia enquanto rebolava a cintura com uma maestria enlouquecedora, arfava a agarrar os braços masculinos e sentia o membro entrar e sair sem pressa, numa fricção avassaladora e excitante demais. Mulheres boas de cama já lhe tinham passado pelas mãos, mas Jamie era diferente, exalava qualquer outra coisa que preferiu não identificar. Podia ser perigoso.
Quando ela acordou, estava na cama e cheirava a ele. Tinha dormido bastante e a lembrança de sua mãe a fez saltar da cama e correr para se lavar e procurar o que vestir.
— Comprei uma roupa para você e sua mãe. As de ontem estavam nojentas. — O psicólogo estava com um ar sério, apontou para a sacola em cima dos sofás e para o pequeno-almoço posto na mesa.
Comeram em silêncio, Christian fingiu trabalhar durante o processo e aguardou Jamie terminar antes de a levar para o hospital. Nenhum dos dois se dignou a ter uma conversa mais séria, tirando o clima e as horas.
Alda estava deitada num quarto de luxo, usava a roupa do hospital e recebia soro. A ressaca das drogas ainda não parecia afectá-la, pois sorriu ao ver a filha como se fosse a primeira vez.
— Vem aqui minha princesa você está muito linda — chamou com a voz arranhada, os cabelos por pentear pareciam uma juba de leão.
— Trouxe roupa para mudar. A comida e a enfermeira são por conta do hospital, aliás, do Christian. Agradeça-o por favor — disse Johnson, e pousou a sacola junto a cama. Os olhos não encaravam os da mãe.
— Esse rapaz é o pai do seu bebé? Muito obrigada e bem-vindo a família.
A filha congelou por dentro, se perguntando em que momento teria revelado tal coisa para aquela que não merecia sua consideração. Pior ainda foi imaginar como estaria o rosto de Christian naquele momento.
— Bebé? — Ele questionou.
Velha fofoqueira! Não estavam no clima para um assunto daqueles vir à tona, sem contar que pensava em tirar o bebé ainda naquela semana e mesmo sendo egoísta, não teria de encarar o psicólogo de frente. Estremeceu por dentro, mas fez a maior cara deslavada que conseguiu.
— Que bebé? — Jamie soltou um riso a beirar o ridículo. — Quem foi que me falou sobre viciados não estarem nas próprias faculdades mentais? Velha maluca, pare de inventar coisas descabidas.
Finalmente virou-se para encarar Christian cujo rosto estava todo tingido de um vermelho assustador. Não parecia acreditar no seu pequeno espetáculo.
— Volto mais tarde. Quando estiver melhor da cabeça — despediu da mãe e deixou o quarto com pressa, os olhos vidrados no caminho de saída. Algumas pessoas iam e vinham, pacientes e enfermeiros na maioria, pois os médicos pareciam sempre agitados. Sentiu quando Dash lhe alcançou o andar.
— Sou responsável pelos meus atos e jamais iria supor que você deveria ter-se cuidado, até porque não errou sozinha. Se é isso que temes podes ter a certeza de não vir a acusar de nada. — Advertiu cheio de precisão, para a surpresa dela.
— Não sei do que estás a falar. — Continuou a mover o corpo sempre em direção a saída, mas sentiu duas mãos forçarem sua paragem. Encarou os olhos verdes. — Minha mãe é maluca, Chris.
— E, mentes muito mal — redarguiu e prendeu a respiração por alguns segundos antes de a soltar. Tinhas as mãos trémulas, não queria acreditar naquela possibilidade, mas a verdade era que mesmo sem saber explicar, nunca tinha usado camisinha com ela e sequer se preocupado em gozar fora.
— Vamos supor... supor, Chris. — Frisou. — Que por uma questão, isso fosse possível. O que lhe faz pensar que eu quereria ser mãe solteira?
— Porque mãe é mãe, não vem com título atrás.
— Viu a minha vida? Acha que ia deixar uma criança vir ao mundo para sofrer por não ter um pai perto? Por parecer que a mãe deu um golpe da barriga num milionário que não a assumiu? Supondo.
— Certo, então. Supondo que essa mãe pense isso, qual seria a solução?
— Se isso fosse verdade? Um aborto. — Sugeriu de forma crua e fria. Sequer pestanejou uma vez, contudo, se admirou quando viu um riso de Dash em descrédito.
— E sua mãe é que é maluca? Se eu fosse esse pai, não estaria de acordo com tal decisão.
— Essa mãe tem o direito sobre o próprio corpo, como mulher.
— Mas certamente o bebé não surgiu no útero dela, sozinho. Teve que precisar do esperma mais esperto e esse veio do pai, que provavelmente é esperto.
Jamie mordeu o interior das bochechas com força, como se pudesse exteriorizar todo stress contido.
— As mulheres não são receptáculos de espermas espertos de pais espertos. Se alguém quer ter um bebé que forme uma família, digna e respeitada!
— Se esse bebé existisse não teria culpa de nada. Os pais deveriam se responsabilizar por ele.
— E como não existe, então não há nenhum problema! — Tratou de se afastar para o lado e recomeçou a andar, o peito subia e descia num ritmo desajustado como se a qualquer momento fosse se abrir e expelir o coração lá de dentro.
— Não podes matar uma vida só porque a tua não correu bem. Nenhuma criança precisa de ser exclusivamente criada pela mãe, se o pai quiser, pode tomar conta dela. — Insistiu, recomeçando a andar lado a lado, avistando a saída da clínica mais perto do que esperava. Começou a ficar nervoso, sem certeza de nada e mil coisas corriam na cabeça dos cabelos desarrumados.
— Senhor Dash, herdeiro de tudo isso aqui! Visite a ala de procriação e contrate uma barriga de aluguer, tempos modernos. Tanto dinheiro que tem então dê um uso para ele! — Desta vez a Johnson quase gritou, se esquecendo do lugar onde estavam. Mais uma vez foram alvo dos olhares dos demais.
Christian permaneceu calado, vendo-a primeiro se enervar e depois pestanejar para segurar as lágrimas. Parecia em constante conflito interno e se aquilo não era a maldita tensão pré-menstrual, só podia ser a falta desta.
— Nunca pensei em ser pai, Jamie. Juro que não. Mas se aconteceu, eu estou preparado para o que vier. Se você fizer algo contra o bebé, eu te processo — ameaçou com os olhos fixos na bela jovem negra. Estava com o corpo frio e os lábios estavam secos.
— Tira isso da cabeça.
— Então vamos ali fazer um teste. É rápido.
— Você é maluco como a minha mãe. Eu vou embora! — Deu meia volta e correu em direção a porta, quando sentiu duas mãos a carregarem do chão e pendurar-lhe por cima do ombro como um saco pesado. — Me solta, Christian Dash! Me solta!
Jamie se debatia, mexendo os braços e as pernas de maneira agitada e chamando ainda mais atenção. Todos pareciam parar para assistir a cena inédita, sem saber se riam ou se criticavam. Ele ia a andar pelo corredor em direcção à obstetrícia quando se cruzou com os pais no caminho, ambos com o rosto indignado.
— Christian Wihlem Dash, o que vem a ser isto? — Questionaram ainda atónitos, sem deixar de prestar atenção quando o filho tirou a jovem do ombro e a pousou de novo no chão de azulejos brancos.
— Pais, sendo muito específico. Eu desconfio que essa mulher teimosa aqui ao meu lado carrega um bebé Dash. E vou ali comprovar isso! — Com um ar irreverente, ergueu uma sobrancelha desafiadora como sempre. Quanto mais achasse que poderia chocar os doutores Dash, melhor era.
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