Capítulo 3
A ressaca era parceira dos moradores da casa, cada um com a expressão mais acabada que o outro. Os olhares cúmplices trocados entre Logan e Jacqueline só lembravam o que Sam havia perdido. Não era fácil se consolar com essa visão, mas, era o necessário para o momento. Estava sinceramente feliz pelos amigos, mas sentia falta dessa conexão. Havia uma pausa para tudo em sua vida, não é?
- Bom dia.
Jonathan parecia mais animado que os demais e estava sorridente. Sem que se dessem conta o final de semana estava aí, e, não havia muito para fazer em qualquer lugar da cidade, então haviam combinado de fazer um piquenique no pé da serra, era um lugar aconchegante com um córrego largo e suas pedras gigantes onde podiam se sentar sem ser incomodados por nada além da mãe natureza.
Depois da bebedeira do dia anterior, Sam desconfiou que o programa não aconteceria, no entanto, lá estava Logan, mesmo com aquela cara de zumbi do jogo Left For Dead, animado para pescar e fazer uma fogueira.
- Você só pode ser louco...
- O ar puro vai fazer bem a todos nós. Bom dia! Vá se arrumar também, Jon.
- Como é?
- As meninas não te disseram?
Jaque e Sam o olharam culpadas e pegas, enquanto ele balançava a cabeça de um lado a outro sorrindo. Eram duas travessas. Em uma delas ele poderia bem dar umas palmadas quando a noite caísse.
- Vamos fazer um piquenique no lago hoje. Para respirar ar puro. Vai logo se trocar, sairemos em meia hora.
Contrariada mas de certa forma feliz por continuarem dividindo esses momentos, Jaqueline arrumou a cesta de piquenique, deixando o vinho propositalmente de fora. Ela daria tudo por pelo menos mais duas horas de cama e um analgésico, no entanto, Logan parecia disposto a não deixar mais ninguém descansar naquela casa.
Seus olhos foram para a foto em que os quatro estavam sorrindo, aqueles dois anos desde as poses estáticas até o momento presente pareciam mais para vinte. Jamais imaginou que Sam poderia viver sem Adam.
-Você não vai levar isso.
-Claro que vou, qual é a razão para não levar.
-Você sabe.
Logan estava tentando fazer Jon desistir de alguma ideia. Ele parecia resoluto a fazer como desejava na verdade. Isso parecia deixar o loiro de cabelos de pé, ainda que não perdesse de todo a compostura. Ele era acima de tudo diplomático.
-Qual é Jon, realmente quer levar uma boia? Nunca entramos na água.
-Se algum de vocês cair, posso salvar.
-Você sabe que todos sabemos nadar, deixe de ser cabeça dura.
Sorrindo para a discussão a mulher simplesmente os deixou sozinhos e foi em busca de Samanta que no andar de cima, parecia estar procurando por algo. A escrivaninha revirada enquanto ela não parecia certa de como foi parar na cama e tudo estava fora do lugar em que havia deixado na noite anterior.
-O que está procurando, meu doce?
-Meu livro de biologia. Deveria estar por aqui.
-Deve estar. Provavelmente o chutou para debaixo da cama.
-Acho difícil, mas, tudo bem... Posso levar o de Comunicação.
Sam estava tão focada, que não havia percebido a flor sob uma de suas folhas de estudos ou o fato de que seu livro de biologia estava logo abaixo dela.
O dia que prometia ser doce e tranquilo, começou a se nublar meia hora depois de chegarem até o local do piquenique. Apesar disso, estavam tranquilos e ainda que no início a situação entre Sam e Jon parecia insustentável, ali estavam comentando e conversando com os amigos sobre algumas coisas diárias que de certa forma não eram tão interessantes quanto pareciam. Ela sorria mesmo que o motivo de seus mais sinceros sorrisos não estivesse mais com ela. Doía muito que Adam fosse privado dos amigos e dela mesma, mas, havia motivo para tudo ou pelo menos era o que queria se fazer acreditar.
-Vamos fazer algumas fotos?
Jaque já se levantava com o ímpeto de correr mais próxima do rio. Seus grandes olhos negros fitando na direção do noivo e dos amigos, Jon sorria enquanto puxava o celular para fotografá-la. Ela agarrou Sam pelos braços a forçando ficar de pé e indo na direção da margem do rio. As pedras cheias de lodo não eram muito convidativas, mas, ficavam em uma disposição tão harmoniosa que ele se sentiu tentado a ir tirar umas fotos próprias no processo.
-Sorria de verdade, Samanta, nada desses sorrisos enigmáticos e de meia boca.
-Deixe ela em paz, Jaque. Ela fica linda assim.
-Obrigada, Jonathan. Eu te disse, eu sou linda.
-Ah, mas, é claro que é...
Fotos, sorrisos, fotos, brincadeiras, fotos e ainda mais sorrisos. Raramente ele tinha a chance de vê-la tão linda e com a sua pureza desperta pela natureza. Se não havia amor nele, esse seria o momento perfeito para despertá-lo. Antes de perceber, estava excluindo Jaqueline das fotos, focando na mulher que era assaltante constante de seus sonhos. Neles ela se mostrava disposta e muito jovial, atitude totalmente diferente do que ele observava nela no dia a dia. A expressão de seus olhos castanhos, a cor natural tingindo suas bochechas... Era tudo tão lindo que ele tinha vontade de dar a ela toda a lua e algumas estrelas apenas para que pudesse ter um gosto do que era retornar para o céu.
-Se a olhar mais dois segundos, vai gozar nas calças, Jon.
Logan solícito mencionou a fixação do amigo enquanto tinha os olhos grudados nos cabelos castanhos à sua frente. Como poderia não perceber que estava tão perdidamente apaixonado por ela? Era um dom que ele atribuía às mulheres exclusivamente.
-Hora de parar, meninas. Venham comer?
-Estraga prazeres... Jon gosta de nos fotografar, não é?
-Para ser sincera, Jaque, minhas pernas estão doendo de fazer essas poses.
-Deveria se exercitar mais... Já disse.
-Sim, sim... Só me falta a vontade para ser uma bailarina como você... Por favor.
-E é verdade. Nós somos todos iguais, basta querer.
-Prefiro me tornar enfermeira como sempre quis.
-É... uma boa história para contar a seus filhos.
A tristeza passou pelos olhos dela tão rápido que era difícil dizer se havia estado lá. A perspectiva de seus sonhos terem sido um rascunho mal feito da realidade que vivia agora, dolorosa, solitária e cercada de pessoas que compreendiam de certa forma o que ela estava passando, não deveria ser motivo para se abalar da forma como demonstrava, correto? Só mais alguns meses e ela poderia ser uma enfermeira, depois o tempo cuidaria de suas feridas, assim como fazia com todos em volta.
-Não faça essa cara, daqui a algum tempo vai conseguir encontrar alguém para curar seu coração.
-Eu não fiz cara nenhuma. Estou é com fome... É ela que você está testemunhando, Jaque.
-Sim, claro... Vamos lá.
Ao se sentarem na típica toalha quadriculada, Logan já havia servido todos de suco de laranja e colocado os croissant em pratinhos que havia na cesta. A cena que havia se repetido por anos agora trazia nostalgia e saudade. Ela não conseguia se desprender da visão de Adam sentado sorrindo para ela com aqueles olhos castanhos sonhadores. Uma lágrima ameaçou descer pelo seu rosto enquanto ela tinha que se segurar para que isso não acontecesse, olhou para a profundeza da mata à sua volta. Fazia um mês e meio que não ia àquele lugar e ele parecia tão etéreo e plácido, como se nada sumariamente humano o houvesse tocado ao longo do tempo em que as pedras se firmavam.
Um toque tão leve quanto pluma em seu ombro e ela se assustou ao olhar e ver os olhos marejados de Jonathan.
-Eu sinto tanta falta dele como você, só disfarço melhor.
O sorriso tão caloroso e sincero dele só poderia ser descrito como encantador. Era nesses momentos que ela via como estava feliz em tê-lo ali perto, sem precisar se esconder dele ou odiá-lo por seu sofrimento disfarçado. Em sua agonia, a dele era pouco comparada quando analisava de seu ponto de vista, e, ser egoísta não combinava com ela nem por um segundo. Tratou de se recompor e olhando nos olhos dele sorriu de volta, enlaçando seu pescoço com os braços.
-Eu sinto muito por tudo.
-A culpa é dele... Mas, tudo bem. Agradeço que sinta.
-Por ser tão dura com você e desejar que pudesse mudar o que sinto. Eu estou uma bagunça.
-Todos estamos, Sam. Fico feliz que tenhamos pelo menos começado a nos entender melhor.
O dia ficou menos pesado e de certa forma a felicidade agora não parecia tão distante quanto antes. Sam ajudou a limpar as coisas na cozinha antes de subir para estudar. Seus olhos doíam ainda das lágrimas represadas, por hora os sentimentos de tranquilidade sobressaíam aos de tristeza.
-Classe, começaremos com uma série de aplausos para vocês mesmos, por terem conseguido uma vaga nesse curso de Introdução à enfermagem, aprenderão muitas coisas que deixarão suas vidas mais fáceis. Acredito que será ótimo que estejamos aqui reunidos para explorar a mente e corpos humanos.
Na primeira aula ela já sentiu toda a pressão sobre si, os amigos contavam que ela gostasse do curso, Adam esperava isso dela e como definiu dessa meta um sonho, era o mínimo que podia fazer por todos e por si.
O dia havia sido entediante no trabalho, assim as partes divertidas do dia ficavam por conta do humor sarcástico de Jon que acabou voltando aos poucos e de Logan que estava feliz que os dois estivessem se dando melhor. Ele parecia mais que satisfeito de testemunhar essa aproximação.
-Srta. Dobbins, pode por gentileza informar quais seriam as falhas de comunicação entre o enfermeiro, médico e paciente?
A professora estava com um pequeno interrogatório oral, queria saber o que cada aluno havia absorvido antes de chegar àquela escola. Era uma preocupação válida, já que Sam parecia a segunda aluna mais velha de toda a escola. Ficava feliz de que estivessem tentando preparar as pessoas para serem bons profissionais.
Quando saiu da aula um dia à noite, acostumada a ver Jonathan à noite em casa, estranhou o silêncio, ao encontrar com Jacque no corredor para o quarto a amiga disse sem meias palavras: "Ele foi para casa, disse que volta em uma semana ou duas. "
Ela não sabia explicar a tristeza que aquelas palavras exprimiam... Talvez agora estivesse realmente no ponto de sentir saudade do amigo estranho do ex-noivo.
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