Prólogo

Ben

Minha vida está um inferno. Há um monte de merda para eu lidar, especialmente diante da guerra contra os Russos. Os desgraçados acreditam mesmo que vão me tomar Vera Cruz, e meu porto para a Europa, mas estão enganados. Não vou perder para nenhum deles.

Respiro fundo, tentando manter a calma com Gianni. Meu irmão estava sentado diante de mim, naquele escritório, seus olhos pedintes como nunca estiveram.

— Por favor — ele roga, mais uma vez.

São tantas vezes que me dá nos nervos.

— Dom devia saber disso — resmungo.

É como falar com uma porta. Gianni nega com a face, parece certo das próprias ações.

— Eu me viro com Dom. Ele está ocupado com a gravidez da esposa, e com sua própria guerra contra Vicenzo. Por favor, eu te imploro...

— Filippo concorda?

Impaciente, bati meus dedos na mesa. Gianni assentiu, rapidamente.

— É até melhor. Você é o segundo em comando.

— E ele deixaria a irmã vir morar no México?

— Sim. Ele quer fazer um corredor entre o Tennessee e Ohio para passar contrabando. Sua presença em Vera Cruz ajudaria isso. Você sabe que o território é de Vicenzo, atualmente, e ninguém mais teria coragem de infiltrar homens ali, além de um Lupi Sanguinari.

Queria dizer que todo esse esforço de Gianni era simplesmente um desperdício, pois eu jamais deixaria minha vida agradável para me embrenhar com um Romagna, mas a verdade é que o poder é sedutor, e não posso negar que criar um caminho exatamente onde Vicenzo domina com tanto orgulho me deixa animado.

Eu queria desgraçar aquele filho da puta... Por culpa dele, minha irmã é a mulher quebrada que é hoje...

— Certo... — murmuro. — Mas, e quanto a minha reputação? Sabe bem que não poderia deixar de ser quem sou...

Um homem de muitas mulheres...

Gianni não reagiu, apenas continuou a me encarar. Seus olhos estavam calmos.

— Ninguém espera que mude sua personalidade.

A sala ficou em silêncio. Não obstante, a reação que eu esperava. Era incrível como ninguém se preocupava com a desgraça que seria a vida da pobre Chiara ao lado de um homem como eu.

Resvalo para trás na minha cadeira. Gianni me pediu para trocar de lugar com ele. Dominus o pôs como noivo de Chiara, mas Gianni não queria isso de jeito nenhum. Ele me disse, quando chegou no dia anterior, que não a amava e não podia viver ao seu lado. Não disse, mas eu desconfiava que sentia algo por outra pessoa.

Para mim, que não sentia nada por ninguém, era algo difícil de compreender. Casar-se com ela era basicamente assinar um documento e fazer um herdeiro. Depois, mantê-la feliz em casa, cuidando de coisas de mulheres enquanto eu dominava o mundo.

Eu não queria me casar com ninguém, mas também não via dificuldades em ter apenas uma esposa de papel. Nunca tive a intenção de ter uma família minha, temia os genes malditos de meu pai, seja quem for que ele seja. Mas, na mesma medida, não entendia qual era o problema de simplesmente colocar pirralhos na barriga de uma garota.

E Chiara não era horrorosa. Eu a vi uma vez, acredito... duas, no máximo. Não me chamou a atenção demais, era magricela e sem expressão, uma poça de água profunda, como um fantasma sem desejos. Diferente das mulheres latinas quentes, que aqueciam minha cama todas as noites. Ainda assim, não horrorosa.

— Irmão, por favor... Dizer a Romagna que mais um Carbone está recusando sua irmã... É uma ofensa tão grande que perderemos nosso aliado.

É verdade. Então concordo.

— Tudo bem. Que mal há de fazer? Tenho muitas mulheres queimadas do sol todos os dias para me entreter. Uma branquinha será algo diferente — dou risada. — Diga a Filippo que vou cuidar bem dela. Terá uma casa grande, terá filhos... E uma vida pacífica, como é direito de toda mulher. A única coisa que não posso prometer é amor.

— Chiara não espera amor — ele afirma. — Que mulher espera isso?

Sou forçado a concordar. Movo minha cadeira giratória para trás. O golfo do México é visível pelas minhas janelas. O mar faz um barulho um tanto assustador quando bate nas pedras da propriedade onde minha mansão foi construída.

Esse é um bom lugar para um homem.

Espero que seja para Chiara também...


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