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N/A - Considerações - Meninas, vocês estão esquecendo que Ben e Chiara mal se conhecem, nunca trocaram um beijo, ele não sente nenhuma atração por ela, e está claro que ele só se casou por status. Ela também se sente aliviada por ele procurar outra, porque ela não o quer, e só aceita o casamento porque teme uma guerra entre as máfias.
Não existe fidelidade entre eles porque não há amor, nem amizade, nada... eles terão que desenvolver isso... é um romance lento...
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Ben
— Como pôde ter se casado com ela?
Encarei Mercedita. De todas as minhas mulheres, ela era a mais enérgica. Lembro-me da primeira vez que a vi, sua pele num tom quente e dourado, o cabelo negro, longo e liso que caía em cascatas perfeitas sobre seus ombros. Ela brilhava com a intensidade do sol do México. Ah, e havia seus olhos... olhos quentes, profundos e essencialmente latinos.
Eu gosto de mulheres, mas gostava especialmente daquelas da América central ou do Sul. Da maneira como elas são temperadas, como se fossem preparadas com pimenta.
Sorri.
— Você sempre soube que iria acontecer — comentei.
Ela balançou o corpo. Usava um vestido de cores vivas. Tinha traços indígenas e espanhóis, tornando-a mais e mais vibrante. Seus ombros estavam desnudos, e havia uma beleza na forma como se mexia.
Quando ordenei que saísse de minha casa, pela chegada de Chiara, Mercedita demonstrou sua fúria. Mas, agora, ela estava bem instalada em uma bonita praia perto do Acuario de Vera Cruz. Ela realmente não tinha do que reclamar, nem todas as mulheres com quem estive nesses anos foram tão bem tratadas.
— Como ela é? — indagou, as mãos na cintura. — É mais bonita do que eu?
Eu me joguei no sofá. Sua nova casa era confortável e eu gostei daqui. Seria um bom lugar para eu aliviar a cabeça depois de um dia difícil.
— Não — respondi, sinceramente.
— Nunca vou entender por que se casou com alguém só porque seu irmão pediu.
— Não tem que entender nada — retruquei. — Sua função na minha vida não é me questionar.
— Mas, eu amo você... — choramingou.
— Nunca fui exclusivo, e você sabe disso. Não me canse, Mercedita... Eu já não gostei como você tentou bater em Theresa quando fui ter com ela na semana passada.
Mercedita bufou, fazendo um adorável bico com os lábios.
— Todas essas mulheres são dispensáveis. Só eu realmente estou a sua altura, e você sabe, Ben... — ela foi até o sofá e se inclinou para mim. Seu cabelo solto bateu no meu peito, enquanto ela lutava para me manipular. — Ao menos, tire a canadense de sua casa, coloque-a em algum lugar. Você já assinou os papeis, não precisa mais ter nenhum contato com ela.
— Quero que fique claro, Mercedita. Chiara é minha esposa, e é mais que papel. Ela vai me dar filhos...
— Eu posso te dar filhos também...
— Não tenho dúvidas disso...
E por isso nunca arrisquei. Usei preservativo todas as vezes que a via, e fazia questão de ter os meus próprios meios de proteção, já que acreditava que se Mercedita colocasse as mãos em algum deles, ela daria um jeito de furar o látex para engravidar.
— Que fique claro, Mercedita... Chiara é minha esposa, não é uma amante como as outras. Sei que incomoda as demais meninas, que faz seus escândalos e tem seus rompantes, e eu não posso negar que acho até engraçadinho. Mas, Chiara não está nessa lista. Se ousar fazer mal a minha esposa, teremos um problema feio, você e eu.
Mercedita sabia que não era uma ameaça vazia. Ela choramingou um pouco mais no meu colo, como se eu fosse um homem mau tirando o pirulito de uma criança, mas por fim aceitou o que devia.
Era tarde quando voltei para Tana. Eu ainda cheirava a sexo, especialmente porque quando fui tomar banho antes de vir embora, Mercedita me deu mais um chá de boceta. Transar com ela era o que me fazia suportá-la. Essa mulher era quente como o inferno.
Entrei na casa, e percebi tudo escuro e silencioso. Uma parte de mim se culpou por não estar em casa no primeiro dia de Chiara, mas outra justificou dizendo a mim mesmo que sou homem e estou sem sexo a dias.
Estava...
Estou respeitando minha esposa, não vou estuprá-la. Farei com ela quando for o momento certo, e ela estiver mais preparada. Enquanto isso, não viverei em celibato.
Caminho pelos corredores e me aproximo meu quarto. A luz do quarto ao lado que escapa por debaixo da porta indica que minha esposa ainda está acordada. Penso que devo conversar com ela, mas francamente nem sei o que lhe dizer.
Então me volto para minha própria porta, e estou prestes a abri-la quando percebo que a porta de Chiara se abre e ela aparece, o olhar preocupado.
— Aconteceu alguma coisa? — pergunto, assim que a vejo.
Ela é como um saco de batatas. Usa uma camisola branca que não revela nada. É sua primeira noite aqui e ela nem tentou se arrumar para me seduzir. Terei um problema sério pela frente, pelo jeito, na tentativa de me aproximar de Chiara.
— Não conseguia dormir e ouvi o barulho no corredor. Não pensei que fosse retornar hoje, então me assustei — se justificou.
E, diabos, eu acredito nela. Chiara não teria aparecido se soubesse que era eu.
— Por que achou que eu não voltaria?
Não disse a ela que ficaria fora. Talvez Lupe tenha lhe contado sobre minhas peripécias sexuais. Mas, sinceramente, não acho que Guadalupe fizesse tal coisa.
— Ah, não sei... — murmurou. — Apenas pensei que... não sei... Sinto muito ter sugerido que não voltasse. Não foi minha intenção.
Levei alguns segundos para entender que ela estava acuada, como se me temesse.
— Não me ofendeu — resmunguei.
Vi o alívio em seus olhos. Não sei exatamente o tipo de vida que ela teve, mas vendo a realidade das mulheres da minha casa antes de Dominus assumir como Capo, imagino que tenha sido infernal.
— Não sei nada sobre você, Chiara — eu me encostei no batente da porta. As mãos nos bolsos, indicando que não a tocaria. Esperava que isso a aliviasse de alguma maneira. — Qual sua idade?
— Vinte e cinco...
Caramba, ela era velha... Normalmente os pais de máfia casavam suas filhas aos dezoito. Filippo devia estar enlouquecido para se livrar da irmã logo.
— Por que demorou tanto tempo para se casar?
Ela molhou o lábio seco inferior com a língua, como se buscasse respostas. Mas, nós dois sabíamos que a resposta era muito clara. Homens poderosos não a queriam. E os que talvez pudessem desejá-la eram muito inferiores hierarquicamente para se apossar.
— Você já se apaixonou?
Sua face se moveu, de um lado para o outro, negativa.
— Nunca teve um namoradinho escondido de Filippo? Não estou falando sobre sexo, apenas sobre sentimento... Ninguém que fizesse seu coração bater mais forte.
Mais uma vez, negativa.
Era estranho conhecer uma mulher assim, apesar de saber que ela dizia a verdade. Sou um homem que está sempre cercado por mulheres atraídas por dinheiro e poder. E a que está diante de mim é um poço profundo do completo nada.
— Senhor Beniamino... — ela começou, mas eu a interrompi.
— Pelo amor de Deus, não me chame assim — me sentia um velho pela maneira como Chiara pronunciou meu nome.
— Meu marido — ela então se corrigiu. Eu queria dizer que bastava um "Ben", mas estranhamente adorei a maneira como ela disse isso. — Respeitosamente, quero lhe perguntar... Se eu não o agrado de forma alguma, pode me dizer o que devo fazer para mudar isso?
Estou impressionado.
— Quer um casamento de verdade? — pergunto.
— Apenas, não quero aborrecê-lo. Sinto muito que tenha sido escolhido para se casar comigo. Eu entendo que deve estar enojado, mas posso ser uma boa mulher se permitir.
Não posso deixar de admitir que não esperava isso. Estou tão surpreso que nem sequer nego que ela não me enoja.
Ela era mansa. Como um cordeiro. Ela não reagia, não alterava a voz. Não sorria – e isso me lembra como fiquei surpreso quando a vi rindo com Rocco —, ela simplesmente parecia ter sido feita de gelo.
Não sou acostumado a mulheres assim. Vivo um inferno impedindo Mercedita de bater nas outras. Enfrento ciúmes o tempo todo, e até gosto disso. Mas, agora, vejo uma nova faceta feminina que mal posso acreditar que existe.
De repente, ela me lembrou minha mãe. Sempre tão quieta e subjugava. Os poucos anos que a tive me traziam lembranças apagadas de alguém que nunca reagia. Nem sei se ela lutou contra meu pai, quando Paolo lhe quebrou o pescoço.
— Se pudesse escolher, teria se casado comigo? — indaguei.
— Escolher?
Seu tom era de assombro.
— Quero que faça escolhas, Chiara. Diga o que pensa para mim...
— Mas, e se eu irritá-lo?
— Azar o meu, então.
Havia mais que isso.
E se eu batesse nela?
Era o que ela queria indagar, mas não o disse. E eu duvido muito que confiasse em mim o suficiente para expressar o que sentia.
— Meu irmão fez uma boa escolha — resumiu tudo a isso. — Os Carbone são muito respeitados.
De repente, eu quis devolvê-la ao irmão. De repente, não queria mais olhar para ela. Uma mulher que nem me dizia o que pensava. Uma mulher tão fria que não abria a boca para falar.
Eu sabia que ela mentia. Sabia que não estava feliz. Sabia que se pudesse teria escolhido qualquer outro e não eu.
— Boa noite, Chiara — disse, entrando em meu quarto e deixando sua figura fantasmagórica para o lado de fora.
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