Quando assistimos a um filme de romance e vemos as pessoas se apaixonarem num piscar de olhos pela outra, entendemos que a pressa é necessária para o filme.

Porém quando a pressa passa para a vida real, o sentimento que é tão terno e bonito na ficção se torna algo no mínimo assustador, e a gente ri muito, só não de felicidade, mas sim de nervoso.

Por mais que a pessoa ache que está preparada para encarar toda a intensidade do amor, não está.

Ninguém está esperando esbarrar com o amor da sua vida numa manhã qualquer de sábado. Pelo menos eu não esperava por isso.

Sinceramente não estava nos meus planos ter que sair de casa naquele sábado. Porém não tinha como adivinhar que Noah mastigaria o meu tubo de tinta lilás, me deixando sem ter como pintar meu mar.

Talvez eu mude as cores do meu mar, talvez não. Nunca gosto de pedir que comprem minhas tintas. Para mim é quase como uma terapia escolher os tubos certos. Até mesmo os cheiros das cores para mim influenciam.

Estou com um prazo um pouco apertado. Mas nem mesmo assim eu quero mudar o meu modo de criação. Se o sucesso da minha primeira exposição me alertou de alguma coisa, é que alguns rituais são importantes para que a inspiração venha.

Na sexta-feira já será aberta a minha segunda exposição de arte, e estou tão animada por conseguir um espaço maior, assim posso mostrar mais de mim para todos.

Só preciso terminar esse quadro e já terei todas as pinturas que irei exibir.

A loja que sempre abasteço a minha paleta está bem movimentada, mas consigo encontrar as cores que irão completar a imensidão do meu mar. Talvez por estar tão animada que nem percebo quando esbarro em uma pessoa logo na porta da loja.

Tão clichê que comecei a rir.

— Você está bem? — escuto a pergunta e ainda sem conseguir controlar a minha risada, apenas concordo com a cabeça.

Olho para a sacola que estava carregando e o que eu comprei estava espalhado pelo chão. Vou apanhando tudo e colocando dentro do saco de papel novamente, e agradeço quando a pessoa também me ajuda a recuperar todos os itens.

E quando vejo sua mão erguida na minha frente, para me ajudar a me levantar, aceito, ainda rindo sem saber o motivo.

Porém, quando ergo o olhar para finalmente olhar para a pessoa, toda a risada é roubada de mim, o ar parece fugir. O coração acelerou e parou ao mesmo tempo, e eu aperto com tanta força a sacola de papel entre meus dedos que escuto o barulho característico do papel cedendo aos meus ataques.

Estou olhando para as feições mais bonitas que já tive o prazer de encarar. Aquele rosto agradável, com sobrancelhas escuras, olhos grandes e de um castanho acolhedor, com cílios inferiores grossos e marcantes. O nariz era levemente torto para a esquerda, mas como o sorriso era amplo, nem dava pra perceber muito.

E por falar em sorriso, que belo exemplar!

Não era nem de longe o mais branco, e nem era tão alinhado, porém, o calor que aquele pedaço dele despertou em mim me fez ter a certeza que aquele sorriso era o melhor da face da terra. E de muitos universos paralelos.

— Desculpe-me. Não estava prestando muita atenção, estava com pressa. Quero dizer, ainda estou! Desculpe mais uma vez, mas tenho que ir! — e sem me dar a chance de falar como fiquei impressionada com sua beleza perfeitamente imperfeita, bastou eu piscar mais uma vez e estava sozinha na frente da loja mais uma vez.

Pisquei mais algumas vezes e meu coração ainda não tinha se acalmado. Tento respirar fundo, beber água, café. Consigo concluir a minha pintura. E não consegui de jeito nenhum superar aquele esbarrão. Não consigo esquecer aqueles olhos bonitos.

Aquilo não faz o menor sentido. Eu nem ao menos sei o seu nome. Foi então que eu entendi o que sempre falavam nos filmes de romance... Aquilo realmente não é pra ter sentido, o amor apenas é.

Bastou um olhar e a paixão conseguiu me colorir inteira.