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A primeira vez que percebi que tinha muito mais a oferecer ao mundo foi numa viagem que fiz com a minha família para a praia.

Mais uma vez, eu tinha pouca idade, talvez uns sete ou oito anos.

Já tínhamos ido algumas vezes antes e fomos muitas vezes depois, porém, naquela viagem específica que meu mundo se expandiu. Estava sentada na areia, enfeitando o meu castelo de areia com uma infinidade de conchas que enchiam o meu balde que estava semi enterrado.

A maré estava calma, porém, uma onda veio muito forte e levou parte do meu castelo, o fazendo desmoronar. Eu até quis chorar, e o nó sem dúvidas veio esmagado na minha garganta, porém, mais rápido que o choro, veio um deslumbramento que ainda não tinha experimentado.

A areia sendo levada com as conchas brancas, e no movimento da onda, a superfície da água brilhou dourada.

Sempre achei que o mar fosse apenas azul, no máximo em variações dessa cor, porém nunca tinha percebido que dentro do mar ainda haviam infinitas cores para serem descobertas. Coisas que eu nunca tinha prestado atenção antes, agora brilhavam como pequenos multicoloridos na minha frente.

E sem falar nenhuma palavra, enchi minhas mãos com a areia de uma das torres que ainda não tinha sido varridas pela água e com cuidado, quando a onda estava voltando, mergulhei as mãos abaixo da superfície da água.

Observei maravilhada a areia perdendo a forma e escapando da minha mão sem que eu tivesse o menor controle, tornando a água turva com aquele brilho dourado.

Fiz isso diversas vezes até desfazer completamente o castelo.

Meu pai me chamou para almoçar, então lavei as mãos no mar e corri em sua direção, sentando ao seu lado.

— Filha, porque você destruiu completamente o castelo que você estava fazendo? Estava tão bonito. Dava pra reconstruir o que o mar levou.

— Sei que dava papai, mas preferi ver as cores do mar!

— As cores?

— Sim! Quando a gente olha daqui, o mar parece ser apenas azul. Mas lá no final, já é de um azul mais escuro. Só que quando a gente olha de perto, a gente percebe que a água é na verdade transparente, e quando a gente olha bem de perto mesmo, a gente consegue ver os dourados e todas as cores das conchas!

— O mar tem uma infinidade de cores mesmo, querida.

— Aposto que tem muitas cores mais lá no final dele...

— No fundo você quer dizer? — meu pai questiona com um sorriso feliz no seu rosto.

— Não! Quero dizer no final mesmo! Porque olha lá longe papai. Ali onde o mar se encontra com o céu. Ali é o final do mar? O que tem ali?

— Filha... Ali não é o final — e foi essa resposta do meu pai que mudou completamente o meu modo de olhar para o mundo.

— Como é que não pode ser o final? Ainda tem coisa depois dali?

— Sim! Há muito mais! Mesmo que consigamos ver o final de alguma coisa, isso não significa que aquilo é o fim dela! Pode ter muito mais por baixo da superfície. O que a gente vê quase sempre não corresponde completamente ao que é de verdade!

— Sério papai? — meus olhos arregalaram então lembro da frase de um dos livros que ele adora contar para mim antes de dormir. — "O essencial é invisível aos olhos, e só se pode ver com o coração".

— Não só o essencial filha, muitas coisas a gente só consegue enxergar com o coração.

— Obrigada pai! — levanto da cadeira, dando um abraço apertado.

— Pelo o que querida? — ele faz um carinho em meu cabelo e me abraça também.

— Por abrir os olhos do meu coração.

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