Capítulo 27.
— Você tem certeza, Sissa? — Bernardo me questiona mais uma vez, a expressão preocupada faz com que um vinco apareça em sua testa. Eu sorrio, acariciando as linhas de expressão do seu rosto e assinto corajosamente.
Eu não tenho cem por cento de certeza, mas sinto que esse é um passo importante para deixar o passado para trás. Felizmente, eu nunca fui uma pessoa que se deixa perturbar pelos fantasmas.
Vivi toda a minha vida da melhor maneira possível, grata por tudo que tive e que conquistei. Conheço meus limites e meu próprio coração, sei que agora, se nunca me encontrar com Tizziano, provavelmente deixarei isto para lá. Serei feliz com o homem que me ama e poderei ter novamente minha vida de calmaria que sempre tive.
Mas sei também, que um dia, estarei esperando que Tizziano atravesse a porta, que olhe para meus filhos e revele à eles a bombástica notícia de que é um avô naquela família. E isto jamais poderei permitir.
Faz parte de quem sou tentar proteger aqueles que amo e faz parte de quem cresci sendo, ser protegida por aqueles que me amaram. É justo que agora eu seja adulta e coloque um ponto final nesta história para que ninguém mais volte a se preocupar.
Enzo e Logan estão na lanchonete em frente ao café onde combinei com Tizziano. Garanti a ele que a polícia não seria envolvida, mas ele não a teme, de qualquer forma. Eles precisam de uma confissão e não estou disposta a consegui-lá. Tudo que quero é olhar nos olhos desse homem e dizer a ele as palavras que preciso e quero dizer.
Bernardo estaciona em frente ao café e eu beijo sua bochecha antes de descer, após sua longa insistência para me acompanhar, permiti que ele dirigisse até aqui, mas isso se prova desnecessário quando reconheço quatro seguranças à paisana sentados no café.
Giovanne veste bermudas e tem um óculos de sol no topo da cabeça, ele tem um jornal aberto em frente ao rosto e acho que nunca o vi tão informal. Os outros três se vestem tão informalmente quanto ele, eu quase rio quando os vejo observarem-me discretamente, mas não encaro demais para não estragar o disfarce. Entro como se eles fossem só estranhos em um café.
Me sento em uma mesa próxima a janela, claro o bastante para que os meninos me vejam e corram para cá se Tizziano tentar fazer qualquer coisa estranha. Parte de mim, após a conversa no telefone não acredita que ele tentaria me machucar. A outra, no entanto, está em alerta porque simplesmente não conheço esse homem e não posso dar a ele nenhum crédito.
Meu coração dispara quando vejo Tizziano atravessar a porta de entrada da cafeteria. Minhas mãos estão suando e eu me ajeito sobre o banco de couro como se houvessem formigas carnívoras nele. Minha vontade é de sair correndo no exato momento em que ele para ao lado da minha mesa.
— Fiquei muito surpreso pelo seu convite. — ele disse ao sentar-se a minha frente. Respiro fundo, levando meu café aos lábios. — O que deseja de mim?
A confusão me toma. O que eu preciso dele, afinal? Eu nem mesmo sei. Ah sim, há algo que quero. Minha paz de volta.
— Eu quero que vá embora. — A confusão toma o rosto de Tizziano por um segundo antes dele simplesmente entender o que quis dizer. — Eu não sei o que você queria com toda aquela perseguição e revelação a respeito da minha mãe, mas não me interessa. — Desabafo cansadamente. — Eu tive meus irmãos e meu avô e eu senti muita falta de ter uma mãe, mas nunca de um pai. Eu sinto muito.
— Você quer que eu me vá?
— Por favor. — Eu assinto. — eu quero que você nunca mais volte e que esqueça que eu existo. Eu não tenho nenhum interesse em tê-lo em minha vida.
— Alessia. — ele lamenta com a mão tocando a minha sobre a mesa. — Eu sou seu pai.
Balanço a cabeça negativamente. — Você foi meu progenitor. Meu pai foi meu avô, foi Enzo, foi Bernardo.
— Eu vi você crescer. Eu estive sempre lá! Eu só não pude...
— Foi uma escolha que você fez. — Interrompo sem paciência. — E neste momento, eu te peço que me dê a chance de escolher algo na minha vida. Eu não quero você nela. Eu não pretendo te denunciar para a polícia ou fazer qualquer coisa que te prejudique judicialmente. Mas eu quero que você vá e nunca mais se aproxime de mim ou da minha família.
— Eu amo você. — ele sussurrou tristemente. — Me deixe tentar recompensá-la.
Meu coração dói com a cena, porque me sinto incapaz de ser insensível nesse momento. Mas ao mesmo tempo, parece loucura. Porque mal o conheço.
— Mas eu não te conheço. Como eu poderia..?
Ele se inclina em minha direção. — Então me permita me aproximar. Pode me conhecer, pode gostar de mim, podemos ser uma família. Você é sangue do meu sangue, é a minha menina!
— Eu não... Sangue não significa nada para mim! Eu já sou uma mulher adulta.
Ele balançou a cabeça, aproximando-se de mim. — Eu faço o que você quiser, Alessia. Mas me dê essa chance, querida. Me deixe me redimir com você.
— Eu te perdoo. — Digo sinceramente segurando a sua mão. — Não há em mim nenhuma mágoa, eu estou bem Ibrahim. Muito bem. Eu cresci bem, feliz, saudável. Eu tive uma boa vida, felizmente. Não precisa se redimir comigo, talvez só com você mesmo.
— Eu gostaria de tê-la por perto. — Ele murmura unindo as sobrancelhas de uma forma que me vi fazendo muitas vezes no espelho. — Eu gostaria de ser um pai para você.
— Eu não sei se isso é possível... Precisa me entender. Todas as vezes que me feri, quem cuidou de mim foi Bernardo. Sempre que estive doente, foi vovô quem passou a noite em claro e quando eu encontrava confusão na escola, foi Enzo quem foi resolver e me dar uma bronca sobre ser responsável e ser um ser humano digno. Acredite, eu não tenho mágoas. Mas tive três homens em minha vida que fizeram todo o seu trabalho, entende? Eles me criaram, me amaram, me ensinaram sobre humanidade, amor, respeito e gentileza. Eles me fizeram quem eu sou e eu amo a pessoa que eu sou. Acredito que eu talvez eu não fosse essa pessoa se você tivesse me criado. Então, não o culpo. Desejo que seja feliz, que encontre paz e perdão para o seu coração, mas se esse perdão está comigo, estou dando-o à você. Por anos, pensei que mal fiz para que Deus levasse minha mãe tão jovem, por anos pensei que ela simplesmente não resistiu ao parto e que fui uma parte boa dela que se salvou...
— Você é, Alessia.
— Eu sei. — Sorrio apertando seus dedos entre os meus. — Escolhi manter esse pensamento, não tenho vontade de guardar mágoas de uma mãe que sempre venerei. Escolho pensar que ela não tentou se matar, não tentou me matar. Escolho pensar que ela era feliz. E escolho pensar que você não tem nenhuma culpa nisso, somos todos humanos sujeitos a erros grotescos e gigantes. Erros, às vezes, incorrigíveis... Mas perdoáveis. Então eu te perdoo, Ibrahim. Perdoe a si mesmo também.
— Isso é definitivo? — Ele questiona tristemente.
Balanço a cabeça. — É, eu sinto muito. Enzo ainda tem muito o que se recuperar e eu devo muito à ele. A vida é feita de prioridades e meu irmão é a minha, neste momento.
— Você é maravilhosa, nunca me orgulhei tanto de algo em minha vida. — Ele segura minhas duas mãos, levando-a aos lábios. Meus olhos enchem-se de lágrimas, mas eu sorrio. — Me ligue quando quiser. Nunca, nunca, Alessia, vou deixar de esperar por você.
Eu assinto e Tizziano se levanta, ele se aproxima e deixa um beijo demorado em minha testa. Faço um aceno de mão quando os seguranças preparam-se para se aproximar. Eu me levanto e pego o velho homem de surpresa em um abraço breve.
— Eu gostaria que tivesse sido diferente. — Ele diz suavemente.
Me afasto, sorrindo. — Eu não.
Ele se afasta e me dá às costas, eu o observo sair com o coração leve, apesar as lágrimas que escorrem por meu rosto. Sinto alívio, porque acabou. Não há mais nenhuma pendência em minha vida, nenhuma perseguição, segredo ou mentira. Deixo meu corpo cair sobre a cadeira e respiro fundo, soltando o ar. Do outro lado da cafeteria, Enzo e Logan me olham preocupados, observo meu irmão sentindo um aperto que vai nascendo em meu coração.
Nem tudo está acabado, preciso ajudar Enzo. Me levanto, acenando brevemente para os seguranças antes de sair da cafeteria. Atravesso a avenida movimentada sem tirar os olhos de Enzo, ele tem a barba por fazer e olheiras profundas em baixo dos olhos, a camisa está amarrotada e dobrada até os cotovelos.
Percebo como meu irmão está mal e o quanto quero vê-lo bem finalmente. Meus olhos alcançam os seus e os verdes profundos tomam conhecimento do meu ato antes que eu o faça. Enzo abre os braços e eu me jogo sobre eles. Envolvo sua cintura em um abraço, coisa tão rara para nós dois e ainda reconfortante.
Enzo se curva sobre mim, sendo muito mais alto, se fecha ao meu redor como uma concha e eu me deixo chorar em seus braços.
— Obrigada, irmão. — Agradeço finalmente me afastando e tocando seu rosto com minhas duas mãos. — Obrigada por tudo que fez por mim a minha vida inteira. Por ter me salvado, ainda no ventre da nossa mãe, por ter me criado e me educado e ter me feito corajosa e forte. Você salvou a minha vida, mais vezes do que eu posso contar.
Enzo fica em silêncio, não sorri, mas não se afasta. Ele toca a minha mão, olhando-me profundamente. — Eu fiz a minha obrigação, Alessia.
— Você era um garotinho, Enzo. Não tinha obrigação nenhuma. — Balanço a cabeça, olhando-o emocionada. — Fez por amor, à mim e aos nossos irmãos. Nunca poderei devolver os anos que perdeu conosco, mas farei o meu melhor para vê-lo feliz o resto da vida; Nunca se esqueça que eu te amo.
Um pequeno sorriso brota no rosto de Enzo e ele assente puxando-me para um novo abraço. — Não como eu te amo. — Ele sussurra e eu o aperto mais em meu abraço.
Provavelmente levaria algum tempo até que estivéssemos completamente curados, um trauma de anos à fio pesa nas costas do meu irmão. E em nossa família, a dor de um é a de todos. Provavelmente, levará muito tempo para que curemos Enzo de sua dor, mas tentaremos. E essa certeza é a melhor coisa que pode nos acontecer. Sabemos qual é o problema, sabemos que anos atrás, uma pessoa não tão boa assim nos deixou uma herança de dor e mágoa, mas sabemos também que isso não é sobre nós completamente. Todos nós somos amor, gentileza e alegria, até mesmo Enzo. O mais ferido de todos nós.
Mas um dia, chegaremos lá. Chegaremos na felicidade de Enzo.
E ai gente, o que acharam?
O próximo capítulo já é o penultimo gente e eu tô emocionada. Sério. Espero que não tenham ficado pontas soltas, nem nada do tipo. Qualquer dúvida me chamem!!
Quem ai está ansioso para finalmente quebrar a maldição da Virgem de Verona? Hahaha Será que vai rolar? Eu não podia deixar essa passar né gente?
Quando eu completar o livro, vou revisar desde o início e responder todos os comentários. Se vocês talvez pensem que eu não leio, gente, eu leio simmm. É que às vezes eles se perdem e eu nem acho pra responder. Mas leio todinhos!
Um beijo pra vocês!
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