Capítulo 09.

Nunca fui muito dada a leituras, mas certa vez aos quatorze anos, li um livro de romance. Foi o único livro que li desse gênero, eu acho. Mas lembro bem de achar aquilo a maior idiotice, uma marmelada sem fim. Quero dizer, que sentido tinha uma garota se apaixonar do nada? Que sentido tinha ela simplesmente se derreter nos braços de um cara que ela conheceu há menos de um mês? Ou contar a ele coisas vergonhosas que ela não contaria a mais ninguém? 

Afinal, que sentido tinha o amor dos livros de romance? 

Ah, não sei! Mas lembro perfeitamente da personagem descrever tão bonitinho seu primeiro beijo com o galã do romance. Achei que a escritora era bem tonta com aquela coisa de pernas bambas, coração disparado e mãos suando.

Certo. 

Então eu me tornei uma dessas tolas apaixonadas.

As mãos de Logan tocam o meu corpo e eu sinto um arrepio cada vez que ele aperta os dedos em minha pele. Ainda posso ouvir o som dos aplausos e da cantoria, mas estou envolvida com a presença marcante de Logan. O corpo grande praticamente cobre o meu e eu estou tão quente.

Um desejo  de me enroscar cada vez mais em seu corpo suado surge em mim. Não tem nada de borboletas no estômago, ou fogos de artifício, é mais como se eu estivesse beijando pela primeira vez.

É possível isso? O beijo de um cara que eu mal conheço ser como o meu primeiro beijo? E tudo bem, eu admito, há mãos suando — mas pode ser pelo calor — e há também pernas bambas, mas para isso que eu não tenho nenhuma explicação. É só ele, esse homem e os lábios deliciosos dele. Esse beijo arrebatador que me deixa absolutamente tonta.

Logan e eu encerramos o beijo com um sorriso nos lábios e alguns selinhos rápidos. Parece difícil se afastar, mas acho que estamos chamando atenção demais no meio da multidão. Eu encaro os olhos verdes de Logan e estremeço por algum motivo, ele me olha de forma que faz com que eu me senta desejada, como se eu fosse uma dessas garotas de capa de revista. 

Não que eu seja feia, mas eu havia sido pega especialmente de surpresa hoje. Estou sem maquiagem e certamente meu cabelo está um desespero! Os jeans são os mais surrados que tenho em meu guarda-roupa, e as sandálias abertas são uma coisa que Tony jamais aprovaria para um encontro.

— Vem. — ele diz pegando minha mão e entrelaçando nossos dedos. É tão diferente e estranho. 

Tem uma coisa, um alarme em minha cabeça que fica se perguntando o que estou fazendo, e o que Logan está pensando. É bem difícil ser uma garota neurótica. Os pensamentos praticamente nos atropelam pela vida. — Com fome? — ele questiona com os olhos bonitos me encarando. A boca é bonita também e quero beija-lo de novo.

— Eu, bem... — Ah, quem se importa? É o que questiono a mim mesma quando paro no meio da avenida e aproximo meu corpo de Logan outra vez. Ele entende a minha intenção e não existe recusa nele. Puxa-me para os seus braços e os lábios quentes e macios tomam os meus em um beijo voraz que parece até apaixonado. 

Logan me puxa em uma direção da rua que se quer percebo, é mais afastado e silencioso e simplesmente me deixo ir.

As costas de Logan estão na parede e estou apoiada em seu corpo, é gentil da parte dele se sujar por mim. Mas esse pensamento é só uma parte do meu cérebro, a outra está focada na mão dele em meu cabelo e a outra que desce sorrateiramente até minha bunda. Os lábios de Logan descem em direção ao meu queixo e quero dizer a ele que estamos bem suados e isso é nojento, mas nossa, a sensação dos seus lábios em meu pescoço e das mãos me apertando é bastante prazerosa. Nesse momento não quero saber de nada, nada importa, nem vovô ou o balé, ou o perseguidor ou os meus...

— Logan! — eu o afasto, pulando para longe dele. Logan está me encarando atordoado e confuso, está com o rosto quente e os cabelos desgrenhados. Todo sensual e bonito.

— O que foi Sissa? — ele sai da parede e se aproxima de mim. As mãos tocam meu rosto e quero gemer de frustração. O que esse cara fez comigo? Algum afrodisíaco que eu não sei? 

— Meus irmãos! — eu lembro e isso é motivo o suficiente para que eu esfrie. — não podemos ficar aqui no beco, imagina se um deles vê a gente?

Logan coca a cabeça, suspira mas sorri finalmente. — Seria impossível. Mas está certa, não vamos fazer isso assim. — ele pega a minha mão e a leva até sua boca, dando um beijinho.

Quero me derreter, só isso. — Vem, vou te alimentar e levar para casa.

Eu concordo e Logan me dá um beijo rápido nos lábios, de mãos dadas nos voltamos para o centro onde o carro ficou estacionado e Logan abre a porta para que eu entre. Acho isso muito gentil também, apesar de desnecessário, mas gentil. No restaurante nós nos preparamos para fazermos nossos pedidos e Logan suspira, olhando o cardápio com tristeza. 

— O que foi?

Ele me olha desolado. — Sinto falta do hambúrguer e batata frita. 

Eu rio e reviro os olhos. — Não seja por isso, vem comigo. — me levanto da mesa e puxo Logan para mim. Atravessamos a rua e levo o estrangeiro em uma viela, ignorando seu olhar malicioso para mim. — aí está! — gesticulo apresentando o nosso enorme Mc Donald's.

— O Mc Donald's? — porque ele parece tão surpreso? 

— Eles tem restaurante em todo lugar, sabia? — declaro quando entramos no lugar. Nós fazemos nossos pedidos e eu rio ao ver Logan se deliciar com o hambúrguer. Não sou muito fã, é claro.

Sendo criada por Mércia, aprendi a apreciar a boa comida, além de Fabrizio que queria abrir o próprio restaurante um dia. Era difícil apreciar o feast-food quando se cresce com a comida caseira italiana.

As melhoras, modéstia a parte. Ofereço a ele as minhas batatas quando as dele acabam e rio outra vez quando ele se suja com o queijo. Um pouco atrevida, passo o guardanapo em sua boca. 

Rio e fico sem graça ao imaginar aquelas cenas sensuais dos filmes em que as pessoas se limpam com beijos. —- O que está pensando? — ele questiona com um sorriso divertido.

Faço um gesto de mãos. — Bobagem. — é melhor não contar a ele todas as bobeiras que eu penso. Ainda é cedo, coitado, é melhor não fazê-lo pensar que sou louca ainda. 

Logan me conta que Anna odeia McDonald's e qualquer outro tipo de coisa gordurosa, como atleta, Anna gosta de alimentos naturais e saudáveis. Nós rimos e conto a ele que Fabrízio é a mesma coisa. O desejo dele é de abrir o próprio restaurante, mas ele nunca contou isso ao Enzo. Acho por medo de decepcionar ao meu irmão, mesmo achando que Enzo não é bom o suficiente para nós, Fabrízio ainda busca sua aprovação quase sempre.

— Acho que eu o entendo. — começa Logan pensativo. — Meu pai, quando eu era um moleque ainda, sempre afirmou que queria que eu seguisse os seus passos... 

— No que ele trabalha?

— Tecnologia. — ele dá de ombros — mas eu nunca fui bom nisso. Sempre gostei do direito. Ele gostou até, ficou orgulhoso do filho, falava pra todos que tinha filho estudante de direito. 

— Mas? — questiono ao ver sua frustração estampada.

Logan sorri sem jeito. — Mas eu segui a área da família e não tive grandes ambições como ele queria. Gosto de ajudar as pessoas, o emprego sempre foi bom, pagava as contas, tinha vantagens, e eu gostava. 

— É difícil viver com a pressão, não é? — eu toco sua mão em um gesto de conforto e ele enrosca os dedos nos meus.

— Ja passou por isso? 

Eu penso um pouco e nego. — Eu sempre bati o pé e fiz valer minhas vontades para Enzo. Quando disse a ele que queria fazer balé com cinco anos, ele gostou, aprovou. Mas quando disse que não iria a faculdade por isso ele ficou louco.

— Mas aceitou? 

— Aceitou. Enzo teve suas vontades tiradas de si mesmo, por isso não o faz conosco. Os meninos custam a ver o quanto Enzo se esforça entende? Ele está sempre preocupado se estamos bem amparados e se tudo está em ordem..

— Mas..?

Suspiro com um sorriso triste. — ele se esquece um pouco do afeto. Mas é um bom irmão.

— Voce vê os melhores nos outros, eu acho. — Logan sorri para mim e fico encantada como seus olhos também sorriem. Gosto desse tipo de gente, que sorri com tudo e não só com os lábios.

Tem um brilho bonito, suave e tão sincero que quando ele toca meu rosto, me derreto sob seus dedos.

— Nunca conheci alguém especialmente ruim para comprovar a teoria. 

— É uma sorte ter conhecido só pessoas boas em sua vida.

Eu concordo. Toda a minha vida foi cercada pelos meus irmãos, eles estiveram sempre de olho em quem se aproximava, ou quem eu conversava ou quem me apaixonava. Nunca tive espaço para conhecer gente má porque sempre me protegeram. Isso é bom, mas me pergunto se eu saberia lidar com uma situação em que precisasse encarar o mundo real de frente. 

Balanço a cabeça quando Logan chama minha atenção, nos levantamos para sair e ele me leva embora em um silêncio confortável. Nós criamos um momento bom no carro, onde tocava uma melodia americana bastante famosa e apaixonada. Daquelas bem românticas, não foi constrangedor quando eu comecei a cantar a canção e quando Logan estacionou em frente a minha casa, fiquei um tanto triste pelo fim da noite.

— Todos já chegaram. — eu lamento ao ver todos os carros estacionados na entrada da casa.

Logan franze as sobrancelhas de um jeito fofo. — Quer que eu entre e converse com eles?

Quero dar uma risada, porque posso ver uma camada de suor começando a surgir em seu rosto. 

— Sim, acho que seria bom. — eu digo bastante séria — podemos dizer a eles que vamos oficializar o namoro ainda esta semana, que acha? — ele está me olhando chocado e quero muito rir, mas mantenho a expressão — só pra tranquiliza-los então, dizemos que o noivado está previsto para os próximos meses, vai ser mais fácil... Logan!

— Sissa... — os olhos estão esbugalhados e ele está realmente suando. 

— Está bem? — rio tocando sua testa. Pobrezinho, está suando frio.

— Sissa... — ele começa envergonhado e sem jeito, todo nervoso. Começo a rir e ele arregala os olhos ainda mais, logo suspira aliviado e me dá um sorriso, em seguida fecha a cara. — Me assustou mulher! 

Eu balanço a cabeça. — Desculpe, precisava ver sua cara. Mas não se preocupe, não vai ter que passar por isso.

— Não? 

Sorrio e me aproximo beijando seu rosto. — Não bobinho.

— Porque não? 

Dou de ombros. — Não pretendo ter um namorado, estrangeiro. É bom que você também não queira uma namorada. — eu pisco, abrindo a porta do carro. — Estamos bem de acordo.

— Estamos..? — Logan soa como uma pergunta. 

— Boa noite, Logan.

Logan está de boca aberta e acho que eu o choquei além da conta. Quando estou na minha porta, vejo que ele ainda não arrancou com o carro. Então aceno e entro finalmente. Na sala, estão todos. Me jogo ao lado de Bernardo sorrindo feito uma boba. O beijo não sai da minha mente. 

— Já está apaixonada? — meu irmão questiona sem tirar os olhos da revista que tem nas mãos. É um guia de viagens e penso em bater em Bê se ele sequer cogitar ficar longe de mim ainda mais tempo.

— Não vou me apaixonar. — digo a ele decidida, me levantando e subindo as escadas.

— Já está se apaixonando! — ele grita lá de baixo e eu bufo.

Não estou não. 

Não vou mesmo. Não vou me apaixonar e não quero um namorado.

Nem se for um estrangeiro bonito que beija muito bem. Nem que eu esteja sorrindo feito boba. Não quero. E não vou.

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