Capítulo 06.

+ LOGAN.

A empresa de limpeza apareceu no sábado pela manhã, foi alívio, porque eu e meu nariz sensível já não estávamos mais aguentando toda aquela poeira e cheiro de roupa velha. Deixei tudo sob as mãos responsáveis da companhia e saí de casa, pronto para uma corrida. Do lado de fora, arrisco uma olhada para a casa da minha linda e encantadora vizinha e balanço a cabeça, passando os dedos pelos cabelos. Um típico gesto de nervosismo. Eu não havia me esquecido que prometi noite passada ir conhecer seu estúdio de dança, mas uma conversa com Anna me fez pensar melhor e perceber que estou indo rápido demais com esse trenzinho — como minha irmã classificou ironicamente.

Mais ironicamente ainda, é que ela estava certa.

Bufo, começando a caminhar pela rua cheia de casinhas bonitinhas. Cheguei ao ponto de pedir conselhos amorosos a minha irmã mais nova. Quanto isso soa deprimente para um homem da minha idade? Vergonhoso, no mínimo. Eu pego o embalo da corrida e coloco os fones de ouvido, desligando-me dos sons externos.

Na noite passada, Anna me fez abrir os olhos e ver que realmente as coisas estavam indo muito rápido para mim. Tudo bem que eu acho Alessia uma mulher linda e encantadora, sim. Realmente, acho que ela mexe com algumas coisas dentro de mim e desperta sentimentos que são absolutamente diferentes dos que já conheço. No pouco que vi, a achei doce e interessante, inteligente e incrivelmente inconsciente do que faz aos outros. Não nota como se move com fluidez ou como balança os quadris de forma bastante sedutora quando caminha. Não nota que me deixou absolutamente doido em dois dias. Mas independente de tudo isso, preciso ter foco, porque passei por um rompimento recente e tudo que não quero é agir como um canalha que se envolve com uma garota quando ainda tem mágoas da ex. Não se cura um amor com outro. É o que disse a mestre zen Anna Howell. Afirmei para Anna muitas vezes que não me importo mais com Jéssica, mas a verdade é que me importo. Não exatamente com ela, é claro, mas com sua traição, seu comportamento e sua leveza em admitir isso. Magoou e feriu, muito mais meu ego do que meu coração, mas ainda há um certo ressentimento em mim tratando-se do envolvimento de Jessica com o ilustre senador Kinsley.

Um babaca. Dois babacas... Bem, três babacas.

Lembro bem da reação da minha mãe, ela questionou-me em plena quarta-feira se Jéssica não viria para o jantar, também me lembro de como informei a ela secamente que Jessica e eu havíamos rompido nosso noivado. Sem detalhes, sem preparar o terreno. Eu esperava a avalanche de reclamações que viria para mim, mas não exatamente esperava que mamãe reagisse como reagiu.

Isso sim foi uma surpresa.

— Romperam como?! — A voz de minha mãe beirava quase o desespero, duas oitavas acima do seu tom polido e educado. Por um momento pensei que ela estava sinceramente preocupada comigo. — Você terminou com a Jessie?! — Sua expressão caiu como se pudesse chorar, acho que ela queria chorar.

Franzi o nariz, com nojo do apelido. — Sim mamãe. Terminei. 

— Porque diabos fez isto? Por acaso você é idiota, Logan? — Ela andou de um lado para o outro da nossa minuscula sala, os saltos finos do sapato chique não enroscando nenhuma vez no tapete caro, felpudo e desnecessário que ela me fez comprar meses atrás.

Eu revirei os olhos, cansado demais para ter aquela conversa mas não vendo saída alguma para ela. — Porque sua adorada nora estava me traindo, mamãe. — Eu joguei a bomba em sua direção, torcendo por alguma reação. Um afago, consolo, qualquer coisa que mostrasse algum bom-senso em sua atitude. 

Minha mãe levou a mão ao peito, chocada. — Ela o que?!   

Deus, um pouco de sensibilidade, finalmente.

— Peguei Jessica na cama com aquele seu amigo senador. — As palavras saíram da minha boca cheias de veneno. É um pouco irônico que tenha sido minha mãe quem apresentou Jéssica ao projeto de senador. Disse que seria bom se Joe Kinsley tivesse uma amizade influente como a da minha noiva.

— Não acredito nisso. — Exclamou minha mãe parecendo furiosa e então para minha surpresa, ela marchou até mim, dando-me um belo tapa no rosto. Fiquei tão surpreso que não tive reação nenhuma, nem mesmo a ardência que surgiu em minha bochecha direita doeu realmente. Eu estava em choque, surpreso além da conta.  — Você é um idiota mesmo, filho! Ela podia nos salvar da ruína, sabia disso? Podia nos tirar deste buraco pequeno e imundo que seu pai nos colocou.

— Mãe...

— Não! Toda mulher tem suas atividades... — O cabelo loiro como o de Anna, que estava tão bem preso que até fazia sumir suas rugas, soltou-se um pouco. Ela parecia absolutamente descontrolada.   — Será que você não podia ignorar? Só pensa em você?! E eu?! Eu investi tanto nesse relacionamento! Eu estava esperando tanto!  — Mamãe franziu as sobrancelhas, acreditando no absurdo que dizia como se fosse uma verdade universal. — Você é uma decepção para mim, Logan.

Eu estava ridiculamente surpreso. 

— Acredite mamãe, o sentimento é recíproco. — Ela bufou, dando-me as costas e eu respirei, cansado e jogando-me no sofá pequeno de dois lugares.

Tínhamos de fato uma casa pequena, em um bairro de classe média baixa, um único carro popular na garagem e três quartos sem suítes, mas vivíamos bem no meu ponto de vista. Nunca nos faltou nada e ainda fazíamos viagens de férias quando bem entendiamos.

Mas minha mãe queria mais. Ela queria a vida que ela tinha com meu pai.

Nunca percebeu que assinou um contrato pré nupcial até estar separada dele, isso a desestabilizou, deixou-a furiosa. Usou a mim e a Anna por anos para conseguir dinheiro, mas um dia meu pai deu um basta, passou a pagar os estudos de Ana e seu custos, deixando que ela aproveitasse o seu pagamento de meio período à vontade, com a condição de não dar um real a nossa fútil e insuportável mãe. Foi quem ele pagou minha faculdade também, e claro, quem custeou toda minha mudança aqui para Verona, isso não me abalava, era bom ter com quem contar.

Eu amo meu pai, ele é um bom homem, apesar de tudo, de nossa família, jamais poderia dizer que foi um mau pai.

Sinto por Anna que ficou em casa, mas mesmo sendo mais cabeça dura que a maioria das garotas, minha irmã tem um coração gigantesco, quis ficar para manter nossa mãe na linha. Ainda sorrio quando lembro de Anna fazendo um quase escândalo em um restaurante em que encontramos Jessica e Kinsley. Eu a impedi, é claro, isso seria péssimo para a sua carreira em ascensão, mas foi bom ver minha irmã defendendo-me com tanto amor.

Ao menos, nós tínhamos um ao outro. 

Quando encerro a corrida, volto para a casa e tudo já estava limpo, com brilho e perfume de limpeza, fico impressionado com o serviço. Não volto a espiar a casa de Alessia, sento-me sobre o escritório e tento trabalhar um pouco nos casos que tinha trazido para a casa, trabalho este que me rendem boas horas e fui desperto somente pela campainha tocando no começo da noite, estou usando uma camisa e moletons velhos e fico surpreso quando vejo Asher e Isabela em minha porta. Eles carregam um carrinho triplo e quase estremeço pensando na possibilidade dos três bebês começarem a chorar de uma só vez.

— E ai, cara. — Asher me abraça com animação.  — Viemos comemorar a sua chegada. — Ele ergue uma garrafa de vinho. Era engraçado como italianos amam um bom vinho, bem mais do que nós americanos adeptos da boa cerveja.

— Oi, Log. — Bela me abraça e eu beijo sua bochecha. — Está bonitão. — Ela pisca divertida. 

Eu rio, pegando sua mão e fazendo-a dar uma voltinha. Bela tinha lindas curvas e um lindo cabelo castanho encaracolado que iam até suas costas. O rosto tinha um formato oval e ela tinha lábios cheios e os olhos eram de um verde arrebatador. Apesar de tudo, eu a considerava exatamente como Anna, uma irmã para mim. Via sua beleza e a apreciava, mas jamais a veria com malícia verdadeira.  — Você também, que acha de deixarmos Asher pra lá e conversarmos?

— Lá vem você dando em cima da minha mulher. — Asher puxa a esposa pela cintura. — Não chega muito perto dele baby.

Bela ri com gosto, dando um tapa no braço de Asher. Eu sorrio para eles e me abaixo para ver os bebês. — Eles são bonitinhos. — Eu comento sem saber o que dizer. Nunca tive bebês na minha família e esperava não ter por algum tempo, então não sabia muito bem como elogiar uma criança.

— Não diga que meus filhos são bonitinhos, mané. — Asher me dá um tapa na nuca, parecendo ofendido e eu dou risada outra vez. — Tem que dizer que eles são lindos.

Bem, eles cara de joelho. Mas todo bebê recém nascido tem cara de joelho.

— Lindos, amigo. — Eu me levanto e indico a cozinha. — Mas eu não preparei nada para jantar.

— Não se preocupe, cara. — Asher me entrega o vinho parecendo relaxado. — Nós pensamos em tudo. — Sorri trinta e dois dentes e eu rio quando ele beija a esposa e se afasta em direção à porta. — Bem que eu te disse, baby, que o Logan só come congelados. Esses americanos. Tsc Tsc. — Ele balança a cabeça inconformado.

Idiota. Nem parece que é americano também.

Bela revira os olhos e segue para a cozinha, completamente à vontade. — Não acredito nisso, Logan. Vou mandar Asher trazer comida para você todos os dias... — Ela para e sorri divertida. — Até se casar ou contratar uma cozinheira.

— Deus, nenhum dos dois. — Eu gemo.

Primeiro porque ainda não tenho dinheiro suficiente para uma cozinheira e segundo porque, bem... Não quero chegar perto de um altar tão cedo.

Isabela ri e coloca todos os pratos na mesa, ditando ordens a todos. Pobres bebês. Eu só pude rir e obedecer, se tem uma coisa que Bela faz com perfeição, é ser assustadora com toda essa pose maternal. De fato, ser mãe mudava um pouco as mulheres. Nós jantamos entre risos, com Asher e eu tomando vinho e Bela com sua limonada, foi uma noite agradável, cheia de riso e eu me senti feliz, finalmente depois de algum tempo, me sentia em casa. Essa casa, os amigos que tenho aqui, até meus vizinhos petulantes, gosto deles.

Na quarta feira, após ouvir uma bronca gigantesca de Anna sobre não ser idiota o bastante para dar esperanças a Alessia, mas também não ser idiota o bastante para ignorá-la, eu resolvo ir até sua casa, me desculpar pelo sábado. Ainda que um pouco tarde.

Um dos gêmeos quem abre a porta, infelizmente eu ainda não sei reconhecer quem é quem.

— E ai estrangeiro? — Ah, é Georgio. Percebo só pela forma como ele fecha ainda mais a expressão, aparentemente esse gêmeo não vai muito com a minha cara em especial.

— Oi Georgio. —  Eu coloco as mãos no bolso do jeans, um pouco sem graça. —  Alessia está em casa?

Ele estreita os olhos para mim e parece lamentar. — Minha irmã foi embora cara. Por sua causa.

— Eu... —  Pisco aturdido — O que?

— É isso ai. — Ele gesticula como se isso afirmasse ainda mais. — Você magoou ela pra caramba e agora ela foi embora. Não sei não o que fez, cara, mas agora vamos ter que conversar. Sabe como é, vou defender a honra da minha irmãzinha. — Ele ergue os punhos e eu reviro os olhos.

De que diabos esse louco está falando? Que diabos Alessia disse para eles? Será que eu a fiz chorar ou se entristecer? Só por não aparecer no sábado?

— Georgio... — Eu fico sinceramente surpreso, passo os dedos pelos cabelos, nervoso e suspiro. — Eu não sabia que...

Então ele explode em uma gargalhada, pela primeira vez quero socar sua cara. Fecho a expressão e cruzo os braços, mas Georgio continua rindo.

A irmã tem razão. Eles são irritantes e insuportáveis.

— Precisava ver a sua cara, estrangeiro. — Ele aperta os lábios, puxando-me para dentro. — Vem, estamos jogando, você é bem vindo amigo.

Na sala estavam Antonella e Fabrizio. A primeira sorri para mim, acenando para me sentar e o segundo está concentrado demais na tela de vídeo-game.

— A Sissa está na vila. — Antonella explica com um sorriso. — Acho que volta na segunda-feira. Ela foi com o vovô resolver algumas coisas por lá.

  —  Vila? - Franzo as sobrancelhas, confuso.

—  San Pietro. Tem uma casa por lá e um dos hotéis também. É incrível, quem sabe um dia não vai até lá.

Eu assento em silencio. Ainda é estranho como eles são ricos e não parecem ricos. 

Fico um pouco decepcionado em saber que ela não está em casa, odeio admitir, mas gostaria de ouvir seu riso, sua voz e só vê-la um pouco;  dou de ombros e me sento, prestando atenção no jogo. Não demora muito para que eu esteja dando palpites, já que eles são bem ruins naquele game. Os meninos adoram e simplesmente me passam o controle, então eu começo a jogar com eles como se fossemos amigos. E eu bem notei que quando Alessia não está envolvida, os garotos são até simpáticos.

Depois de algum tempo, Antonella me cutuca, passando longe da vista dos meninos — que ainda estavam presos em uma discussão qualquer — um pedaço de papel pardo.

— Aqui. – Ela me estica o papelzinho. – É o número da Sissa, você pode mandar mensagem para ela. – E então pisca, afastando-se sem esperar resposta.

Eu encaro o pequeno papel com os números de Alessia, guardando-o no bolso. Quando o tiro, no dia seguinte, fico encarando-o por outros quatro dias seguidos, e não tenho coragem de digitar uma mensagem para ela. A dúvida se quero começar algo ou não me perturba, para ser sincero.

Jéssica ainda é uma cicatriz relevante em minha vida e não que eu goste de admitir, mas ela ainda significa algo. 

No entanto, eu tenho que admitir também que Alessia bagunça minha mente de uma forma diferente, eu a quero por perto e se ela está perto, a quero cada vez mais perto, mas se ela está longe, minha mente se ilumina e eu me questiono se isso não é uma grande loucura. 

De qualquer forma, o número dela fica gravado na minha agenda do celular e na minha mente. Sua foto brilhando para mim sempre que eu abria seu contato. Alessia parece brilhar e sempre que eu estou perto dela, me sinto cego por suas faíscas. 

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