| Capítulo 8 | Num lugar em meu coração, uma semente é semeada
Minha concentração reta teve uma curva inesperada. Encantada, segui a nova direção que surgia diante dos meus olhos maravilhados. Após algum tempo perdido, finalmente avistei o encanto se aproximar, e soube que voltaríamos a caminhar juntos, de mãos dadas.
A cada mensagem enviada, construímos um elo eufórico. Diversos assuntos atualizaram o que havia acontecido com cada um de nós após quase um ano sem contato. André continuava com os treinos e se aprimorara nas jogadas, conquistando a posição de atacante do time. Sua rotina agora incluía um curso particular de inglês, com aulas duas vezes por semana.
Não me importava com as horas que passavam. Recuperar esse sentimento reacendeu minhas faíscas, trazendo uma iluminação que me aquecia intensamente.
André Rodrigues: Que tal um rápido encontro na segunda, depois da aula? Também estudo de manhã e há um ônibus que passa perto da sua escola. Te espero em frente à portaria.
A alegria aumentou ainda mais, fazendo meu coração pulsar mais rápido a cada tecla que digitava.
Alana Guedes: Por mim tudo bem. Espero que dê tempo de você chegar aqui, porque não posso me atrasar para voltar para casa.
Depois de pouco tempo, sua resposta apareceu no chat.
André Rodrigues: Relaxa, vai dar certo... já estou contando os minutos para te ver.
Sorri diante da tela do notebook. Adicionei alguns emojis para expressar minha emoção atual.
Minha curiosidade me levou a procurar mais informações sobre a pessoa com quem me encontraria na segunda-feira. Cliquei no nome dele na pequena aba do chat e fui direcionada ao seu perfil. O encantamento aumentou a cada foto que via, revelando um sorriso alinhado, cabelos bem cortados e olhos cor-de-mel.
Admirei sua aparência por um tempo, em completa harmonia afeiçoada. De repente, o som da fechadura interrompeu meus devaneios.
— Cacete, que susto! — reclamei.
Flavia riu da minha reação enquanto fechava a porta lentamente. Ela havia acabado de sair do banho, usando um roupão de microfibra rosa-claro e uma toalha enrolada na cabeça, também rosa-claro.
— Quando eu entrei, você não estava com essa cara assustada.
— E antes eu estava com que cara? — provoquei.
Ela deu alguns passos e sentou-se na beirada da sua cama, que estava ao lado da minha.
— Sei lá, meio alegre. Parecia que estava em outro mundo.
— É, eu estava — admiti, sorridente. — Até alguém chegar e cortar o clima.
Minha irmã fez uma careta.
— O quarto também é meu, dã. Como dividimos o mesmo espaço, eu mereço saber o motivo dos seus olhos brilhantes.
— André voltou a falar comigo! — exclamei, seguida por um grito de empolgação.
Ela ficou surpresa e arregalou os olhos.
— Quem diria, o piá ainda está vivo — gracejou. — Depois daquele dia em que ele sumiu, pensei que vocês dois não iam dar certo.
— Eu também já tinha perdido as esperanças. Mas ele havia perdido o celular e, ao ganhar um novo, resolveu criar uma conta nova no Facebook — expliquei.
— Caramba, quanto mal-entendido — ela disse, balançando a cabeça e dando uma risada amena. — O bom é que vocês voltaram a se falar. Lembro pouco do André no baile de formatura, mas como você estava feliz, deduzi que ele parecia ser uma pessoa bem legal.
Suspirei, deixando escapar um leve sentimento de afeto por ele.
— Ele é incrível! Marcamos um encontro na segunda-feira, depois da aula.
— Se ele é tão incrível assim, aproveita e dá uns pegas nele.
Nossas gargalhadas invadiram o ambiente.
— Às vezes, você me assusta com essa atitude atrevida — falei, ofegante, enquanto amenizava o riso.
Minha irmã recuperou o fôlego.
— Eu fiz isso ontem e consegui ser beijada pela primeira vez — confessou. — Viu? Comigo funcionou.
Fiquei boquiaberta.
— Não acredito que minha irmãzinha de treze anos é mais rápida que eu!
Ela deu de ombros.
— Quem não arrisca não petisca, irmãzona — rebateu.
— E aí, foi bom petiscar? — brinquei, enquanto a risada retornava.
Nenhuma palavra ousou sair, mas sua travessura respondeu minha pergunta quando senti meu rosto ser atingido pela almofada decorativa da sua cama.
Era impossível controlar aquele misto de emoções, que provocavam uma série de alvoroços. O tempo todo, aquela sensação se manifestava em minhas mãos, fazendo-as tremer intensamente. Meu estômago estava embrulhado, a ponto de eu ter que recusar a oferta de um cappuccino com Lu e Marcelo antes da primeira aula. Apenas observava os dois se deliciarem com o líquido quente e cheiroso, enquanto dividíamos a mesma mesa no refeitório.
— Você quebrou nossa tradição do cappuccino nas segundas-feiras — Marcelo disse, um pouco desanimado.
— Desculpa, gente. Não tô legal — admiti.
Os dois se entreolharam. Lu tomou o último gole e pousou o copo de papelão sobre a mesa amarela.
— Lana, você está muito tensa. Se quiser falar, nós vamos te entender — ela incentivou.
Por um momento, aquelas palavras não saíram das minhas cordas vocais. Uma lembrança desagradável do ano passado veio à tona. Parte do medo ainda me perseguia, então reprimi a novidade.
— É por causa do trabalho individual. Não sei se fiz certo e não posso tirar uma nota muito baixa — menti.
— Qual é! — minha amiga protestou. — Já fizemos isso várias vezes, e você está bem habituada. Pode tirar esse medo da sua cabeça.
Marcelo parou de mexer no copo vazio e me encarou.
— A Lu tem razão. Você tem um medo desnecessário.
O progresso ainda era lento, mas já era motivo de comemoração a cada passo que eu dava em frente. Carregava fardos do passado e sabia que, se continuasse com esse ritmo, eventualmente eles seriam deixados para trás.
Até que mais um desapego havia chegado naquele dia.
E dessa vez não podia falhar.
O anseio veio como uma forte pancada, dominando todo o meu ser, assim que o sinal anunciou o término da última aula. O tão esperado momento havia chegado.
Antes de sair da sala para encontrá-lo, percebi que precisava de algum realce para despertar um pouco de atração.
Subitamente, minhas ações tomaram controle. Peguei a mão de Lu e a puxei suavemente para trás.
— Preciso da sua ajuda — implorei, apreensiva. — Vamos até o banheiro, prometo que vai ser rápido.
Ela franziu a testa, confusa. Soltei sua mão e olhei para ela.
— Lana, o que tá acontecendo?
Apenas gesticulei para que ela me acompanhasse e saí apressada do cômodo.
Entramos simultaneamente no banheiro feminino. Respirei fundo.
— Eu menti, tá? — confessei. — Não estou nervosa por causa do trabalho, mas sim porque vou me encontrar com um garoto de quem gosto muito.
Lu se encostou na beirada da longa pia de mármore, cruzou os braços e deu uma risada.
— Espera aí. Só por causa disso? Meu Deus, Lana! Garotos não mordem. — Ela meneou a cabeça, enquanto amenizava sua risada. — A não ser que você queira. — Fez uma expressão maliciosa.
Revirei os olhos.
— Para com isso, é sério. Por acaso você tem sua nécessaire aí? Porque a minha só tem uma escova de cabelo e alguns absorventes.
Ela apoiou a mochila na pia, abriu o zíper e começou a mexer nas suas coisas. Não demorou muito para retirar a bolsinha vermelha.
— Sorte a sua que meu pó facial é o mesmo tom da sua pele.
Sorrimos uma para a outra e Lu começou a me maquiar. Pedi apenas para que ela escondesse minhas espinhas e destacasse meus cílios com rímel.
Poucos minutos depois, minha aparência estava transformada. Desviei o olhar do enorme espelho e agradeci sua agilidade e paciência com um forte abraço.
O ritmo dos meus passos fez o trajeto do banheiro até a portaria ser imediato. Quando coloquei os pés na calçada do lado de fora, observava atentamente a cena repleta de alunos, procurando por André.
Olhei para o lado e avistei uma figura masculina, a única com uniforme diferente, encostada no muro da escola.
Avancei em direção a ele, e a cada segundo, meu coração palpitava intensamente.
Nosso encontro foi marcado por olhares que correspondiam a uma série de sentimentos. Estava frente a frente com aquele que tingiu minhas emoções com sua aquarela repleta de encanto.
O tempo trouxe algumas mudanças para André. Seus cabelos ondulados estavam mais elegantes, e seu sorriso não tinha mais aparelho ortodôntico. Sua aparência fez minhas pulsações aumentarem ainda mais, como se eu estivesse flutuando em um céu que ele fez questão de me presentear.
Ele se aproximou e me envolveu em um abraço apertado e aconchegante.
— Olá, garota do baile — ele sussurrou próximo ao meu ouvido.
— Olá, jogador de futebol — respondi no mesmo tom de voz.
Deixamos escapar uma leve risada e nos desvencilhamos.
Em passos tranquilos, decidimos dar uma volta no enorme quarteirão da escola, enquanto nossas vozes preenchiam o tempo. Os assuntos eram tão variados que nem percebi o passar dos minutos.
Naquele momento, quando ele segurou minha mão, senti meu espírito ser contagiado por uma grande dose de afeto.
Era algo que eu queria me agarrar, para poder pairar no infinito.
Após o passeio, decidimos ficar na calçada. Tirei o celular do bolso da calça para checar o horário. Apertei o botão do meio e a imagem exibida na tela interrompeu aquela harmonia.
Arregalei os olhos e guardei o aparelho no bolso.
— André, preciso ir. Prometi à minha mãe que não demoraria.
— Tudo bem, Lana. Mas vou ficar aqui com você até que entre no ônibus.
Ergui minha cabeça para encontrar aquele olhar tão meigo.
— Pena que usamos linhas diferentes de transporte. Queria ficar mais um tempinho com você — murmurei.
— Esse não é nosso último encontro. Vamos passar mais tempo juntos — afirmou sorridente. — Vou treinar uma partida no sábado, você podia ir me ver — propôs. — Meu pai não vai poder ir, parece que vai fazer hora extra... e minha mãe não confirmou — explicou com um tom desanimado.
Ajeitei minha mochila no ombro e sorri.
— Eu adoraria ver você jogar e já quero que faça vários gols.
— Pode contar com isso — ele disse, piscando repentinamente.
Retomamos a caminhada em direção ao ponto de ônibus, que ficava na outra esquina. Quando chegamos, vi alguns estudantes esperando o transporte coletivo.
Assim que a fila se formou, o ônibus parou ao lado do ponto e a porta se abriu.
— Então nos vemos no sábado — reafirmou.
Não pude ignorar o anseio ardente das minhas emoções. A ousadia gritava na minha consciência.
E pela primeira vez, decidi ouvir esse clamor.
Minha aproximação imediata firmou nossa troca de olhares. Guiando minha mão até sua nuca, acariciei seus cabelos macios. Depois disso, deixei que segundos ficassem encarregados do contato dos nossos lábios, em um beijo direto e envolvente.
Abri os olhos após o selinho e me afastei lentamente. Fiquei atrás do penúltimo estudante. Assim que a fila andou, subi o primeiro degrau do ônibus e virei para trás.
Sorri para ele.
— Até sábado.
O som estridente do apito me despertou bruscamente dos meus devaneios. Concentrei os olhos na quadra coberta, onde dois times disputavam a partida. Apesar da imagem ampla, um único jogador era capaz de possuir toda a minha atenção.
A arquibancada, com assentos de plástico nas cores azul e amarelo, estava quase vazia, com apenas alguns familiares e amigos próximos dos jogadores presentes. Do lado de André, a torcida se resumia a mim e a Flavia. Seus pais não puderam comparecer, e minha irmã estava comigo porque meus pais não permitiam que eu saísse sozinha com um garoto.
O jogo estava emocionante, e vibrávamos com os chutes na trave e as boas jogadas. André cumpriu sua promessa e marcou o primeiro gol, o que provocou uma comemoração incrível.
O intervalo chegou e o placar estava 1 a 0. Levantei da arquibancada e fui ao encontro de André, concentrando meus olhos nele para não perdê-lo de vista. Desci as escadas rapidamente e o envolvi em um abraço apertado.
— Parabéns, jogador. Não mentiu que faria um gol — brinquei, sorridente.
Ele riu e se afastou lentamente. Notei que minha irmã nos alcançou.
— E ainda vou fazer mais, o segundo tempo promete — ele disse, confiante. — Ei, querem um lanche?
— Com certeza — minha irmã respondeu.
Nos dirigimos à cantina do outro lado da quadra. Enquanto esperávamos, admirei as estruturas do local, que acomodava várias modalidades esportivas e tinha uma decoração temática que combinava com a atmosfera esportiva.
Após um breve intervalo, André trouxe os lanches e voltamos para a arquibancada. Ele estava atencioso e sua companhia fazia meu espírito flutuar, preenchendo-me com um afeto que me fazia sentir como se estivesse voando nas nuvens de um céu romântico.
O apito anunciou o início do segundo tempo e a disputa se intensificou. A torcida vibrava com cada jogada e o time adversário tentava virar o placar.
— Esta coxinha está ótima — comentou minha irmã. Virei para ela. — Sério, o André está mais do que aprovado — continuou, enquanto terminava o lanche.
— Aprovado?!
Ela pegou uma lata de Coca-Cola.
— Uhum — resmungou, engolindo com o refrigerante. — Se o garoto mimou a irmã mais nova da garota que ele está ficando, então já tem minha aprovação... podem namorar.
Ri discretamente. Ela colocou a lata de volta.
— Nem sei quando isso vai rolar — admiti. — Mas confesso que estou ansiosa pra dizer sim.
— Do jeito que vocês estão, em breve ele vai entrar na nossa casa todo sem jeito e ficar nervoso conversando com o pai... está na cara que vocês dois se gostam muito.
Esbocei um sorriso.
— Isso não tem como discordar... eu gosto muito dele — confessei.
— Então! Tem tudo para dar certo. — Ela pegou minha mão e me encarou. — E vai dar certo, você sabe que tem meu apoio.
— E esse apoio é também pelos lanches que ele vai comprar para você — brinquei.
— Esse é um dos motivos que ele tem a minha aprovação, dã.
Rimos juntas. Sempre adorei o companheirismo entre irmãs e Flavia tornava isso ainda mais incrível.
De repente, um coro de comemorações invadiu meus ouvidos. O time adversário havia empatado. Durante a partida, o time de André fez cada jogada valer a pena e minha voz não ficou de fora. Eu torcia e fazia questão de que ele soubesse que estava lá, torcendo por ele.
Um minuto bastou para que a tensão se desfizesse com a vitória do time de André, que levou o público às ruas. Corri para a quadra e, sem hesitar, o envolvi em um forte abraço e dei um beijo. O beijo, que começou suave, ganhou intensidade, tirando meu fôlego.
Naquele momento, as portas se abriram novamente para um céu de paixão. E, desta vez, eu não flutuava sozinha. Estava acompanhada por quem me proporcionou as mais belas tonalidades de afeto.
Aquele voo passou a significar muita coisa. Durante boa parte do mês de abril, nossos encontros se tornaram cada vez mais frequentes, e o portal do nosso céu parecia se recusar a fechar as portas. Eram mensagens diárias, ligações noturnas e passeios que criavam lembranças carinhosas.
Num sábado de maio, vivemos um momento adorável: fomos ao cinema e compartilhamos nossa euforia. Andávamos de mãos dadas e eu recebia beijos que me surpreendiam.
Durante o filme, olhei para seu rosto concentrado na tela e agradeci mentalmente por ter encontrado uma boa companhia. Quando saímos do cinema, decidimos passear pelo shopping. Aproveitamos cada instante, desde uma exposição no pátio, onde tiramos fotos, até a vista do bairro contemplada da sacada, enquanto nos deliciávamos com fast food.
A noite se aproximava, tingindo o céu de tons escurecidos. Como eu tinha horário para estar em casa, saímos do shopping e André fez questão de me acompanhar, já que eu morava a algumas quadras. Caminhamos tranquilamente, conversando e rindo.
Chegamos em frente ao portão marrom e a caminhada terminou. De repente, ele me envolveu em um forte abraço.
— Lana — disse ele em voz baixa. — Ter voltado a falar com você foi a melhor coisa que eu fiz. E devo isso ao meu pai, que me incentivou a te procurar.
Nos separamos e eu esbocei um sorriso bobo.
— Não sabia que teve ajuda do seu pai.
— Eu tinha medo de você ignorar minha mensagem, então pedi ajuda... e agora, preciso cumprir o que ele pediu — admitiu.
— E o que ele pediu? — perguntei curiosa.
André passou a mão pelos meus cabelos, acariciando-os suavemente.
— Que, quando desse certo, eu te levaria para conhecê-lo. E também para conhecer minha família e amigos — disse ele, revelando um toque de nervosismo.
Senti sua mão deslizar até meu rosto e acariciar minha pele. Meu coração começou a palpitar. Olhei para seus olhos fascinantes.
— Tipo um relacionamento? — perguntei com a voz um pouco trêmula.
— Tipo não. Um relacionamento de verdade. Você aceita? — pediu, sorridente.
Tudo o que consegui foi sorrir de volta. Era a pergunta que eu mais esperava.
— Aceito! — respondi.
Nossos sorrisos se encontraram em uma sincronia repleta de sentimentos, e nossos lábios se uniram em um beijo que selava um pedido finalmente bem-sucedido. Nossos braços se entrelaçaram, envolvendo todos os anseios e aquecendo a chama de uma paixão jovem.
E naquele lugar, dois corações batiam intensamente, marcando um novo marco em nossas vidas como uma sinfonia que tocava notas meigas, anunciando a chegada de um afeto que começava a se enraizar.
Notas da autora: Que capítulo mais fofo! Até eu fiquei ansiosa na hora de escrever.
Finalmente, Alana!
E que bom estar de férias para proporcionar mais capítulos! Não vejo a hora de dar continuidade nesse livro que amo tanto.
Só espero que André saiba o que está fazendo...
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