| Capítulo 19 | Confie na magia que brilha dentro de si
Pesquisar, investigar, encarar e dar o meu melhor. Essas eram as palavras que mantinham o brilho em cada ideia, iluminando cada pensamento. A empolgação faiscava constantemente, dominando cada parte de mim.
Passei a tarde daquele domingo com os olhos fixos na tela do notebook. Memorizava cada palavra dos sites e artigos que lia. Decidi realizar uma pesquisa, em busca de orientações que pudessem ajudar alguém em conflito com sua autoimagem. Com meu caderno e caneta ao lado, transcrevi alguns trechos, caso precisasse me desviar em algum momento.
Não havia mais como adiar o que se revelava tão claro à minha frente. Algo tão nítido quanto desolador. Chegara a hora de entrar no devastado mundo de Elisa e ajudá-la a se levantar dos escombros.
Às vezes, precisamos lutar batalhas que não são nossas.
Durante a aula de orientação vocacional, Gael nos propôs uma atividade em dupla. Após as instruções, eu e Elisa juntamos as mesas e começamos a preparar o cartaz. Fiquei responsável pela elaboração do texto, enquanto ela decorava o material com canetas coloridas.
Apesar de sua revelação, ainda era possível ver em seu semblante as marcas do que carregava. Reuni coragem para romper o silêncio que pairava desde o início da tarefa.
— O cartaz está ficando bonito — elogiei.
Ela finalizou os traços coloridos e suspirou, visivelmente incomodada.
— Sei lá, achei meio esquisito. Não sou muito boa com essas coisas — confessou.
— Está assim por causa daquele dia, né?
Elisa largou a caneta e me olhou diretamente.
— Quem dera fosse só isso. O problema é que isso me persegue constantemente. Desabafar aliviou uma parte, mas o fardo ainda é enorme.
— E que tal começarmos a aliviar essa carga?
Ela franziu o cenho.
— E como você pretende fazer isso?
— Vamos ao shopping — sugeri, com entusiasmo.
— Não sei se é uma boa ideia. — Baixou o olhar. — Não me sinto à vontade em lugares muito cheios... E, embora ainda tenha o dinheiro do evento, não consigo pensar em como gastá-lo.
— É simples. Nós duas ainda temos o dinheiro, então vamos investir em algo que nos faça bem. Tipo roupas, sapatos, lanches, qualquer coisa. O importante é você se distrair um pouco. Nós trabalhamos duro e merecemos nos presentear com algo de que gostamos. O que me diz? — cantarolei a última pergunta, tentando animá-la.
Ela me olhou de novo.
— Tá bom — respondeu, com a voz suave.
Meu sorriso foi a celebração do momento. Agitei as mãos, empolgada.
— Fechado! Nos vemos no sábado à tarde, em frente à entrada do shopping — pisquei com entusiasmo.
Meu trajeto apressado na calçada revelava a euforia de iniciar a primeira etapa. Pela primeira vez, eu permitiria que Elisa visse um raio de luz atravessar seu céu desbotado. As expectativas faiscavam em minha mente, trazendo um alento e sugerindo que o ponto de partida seria menos complicado do que eu imaginava.
Três quarteirões separavam minha casa do shopping, o que fez minha caminhada durar menos de dez minutos. A entrada se ampliava à medida que eu me aproximava. Reduzi o ritmo dos passos e comecei a procurar por Elisa entre as várias pessoas que ocupavam o espaço. Em poucos minutos, a vi acenando em minha direção, o que facilitou minha busca. Caminhei até ela, que estava ao lado da porta automática.
Nos cumprimentamos com um abraço e logo notei sua vestimenta. Elisa nunca usava combinações extravagantes ou autênticas. Seu visual consistia em uma calça jeans skinny, moletom cinza e tênis Vans Old Skool.
— Caramba, que maravilhosa! — ela exclamou, boquiaberta.
— Você também está incrível — respondi.
Ela riu, sem muita convicção.
— Tá zoando, né? Não sei me arrumar direito. Isso aqui é só um look simples e sem graça — admitiu, rejeitando o elogio.
Sem prolongar o assunto, fiz um gesto para entrarmos.
Percorríamos o corredor das lojas, e as primeiras ideias já começavam a se manifestar. O início havia sido dado, e agora a responsabilidade de guiar estava nas minhas mãos.
— Que tal dar uma olhada naquela loja de fast fashion? — sugeri, apontando. — Talvez você encontre algo que goste.
Ela deu de ombros.
— Pode ser.
Em poucos minutos, entramos na loja, e meus olhos logo se encantaram com a coleção "Primavera 2016" exibida nos manequins. Comecei a retirar as peças que me atraíam, até precisar de uma sacola de compras devido à quantidade. Enquanto isso, orientei Elisa a circular pela loja para escolher o que lhe interessasse.
Depois de algum tempo no provador, selecionei as peças que ficaram boas e devolvi as que não serviram. No caixa, a fila era curta e rapidamente finalizei a compra. As sacolas de papel foram entregues e, ao sair, sorri discretamente, satisfeita com minhas aquisições.
Encontrei Elisa perto da saída, mas o resultado não foi o esperado.
— Ué, cadê suas compras? — perguntei, surpresa.
— Não gostei de nada e, além disso, só tinham roupas feias no meu tamanho — respondeu. — Tudo bem, já tô acostumada com isso.
— Você não vai sair daqui de mãos vazias! — protestei. — Lembre-se do que combinamos, vamos gastar esse dinheiro hoje. Ainda há outras lojas — insisti.
Ela concordou com a cabeça, e seguimos em busca de uma nova alternativa.
Na próxima loja, resolvi acompanhá-la de perto, já que Elisa sempre se sentia indecisa e insegura com relação ao seu estilo. A levei até a seção feminina e apresentei algumas peças que, na minha opinião, seguiam as tendências da época. Enquanto How Deep Is Your Love, do Calvin Harris, tocava, sugeri uma blusinha ombro a ombro com estampa floral, mas seu rosto expressou clara desaprovação.
Encaixei o cabide no suporte e decidi retomar a procura. Em pouco tempo, minha mão estava preenchida por vários cabides.
— Todas essas são do seu tamanho — mostrei uma a uma para ela. — Tem essa saia plissada rosa pastel, uma calça jeans destroyed, um vestido soltinho amarelo, short jeans de cintura alta e uma t-shirt com estampa de dream catcher.
— Foi mal, Lana, mas não curti nenhuma. Essas roupas só ficam bonitas em outras pessoas.
Suspirei, sentindo meu semblante entristecer.
— Fala sério — resmunguei, um tanto chateada.
Devolvi as peças nos seus respectivos lugares. Circulamos até a seção de sapatos, e eu selecionei alguns, na expectativa de obter alguma aprovação de Elisa.
— Para tudo! — exclamei, maravilhada. — Olha esse scarpin com glitter dourado.
Peguei um dos pares e admirei cada detalhe que me encantava.
— Sou uma negação para salto alto. Fico parecendo uma pata choca andando nisso — retrucou ela.
Dei uma risada suave, guardei o par de volta na prateleira e fui procurar outros modelos. Elisa se acomodou em um dos bancos para experimentar calçados, enquanto deixei minhas compras aos seus cuidados. Após alguns minutos, voltei com alguns pares nos braços. Sentei ao seu lado e apresentei um de cada.
— Que tal essa sapatilha, o sapato meia pata com salto pequeno, a sandália rasteira ou as alpargatas? — recomendei.
Ela analisou atentamente cada um, mas seu semblante revelava mais uma vez uma possível recusa.
— Alguns são até legais, mas nenhum faz meu estilo. Sei que você quer me ajudar, mas nada corresponde ao que gosto. Por isso detesto comprar roupas... fico muito insegura e parece que nada fica bom em mim — desabafou.
— Não vamos desistir, ainda temos outras opções — incentivei.
Peguei minhas duas sacolas e os sapatos, afastando-me de Elisa para devolvê-los. Bufei e revirei os olhos.
— Isso vai ser mais difícil do que eu pensei — murmurei para mim mesma.
Voltamos ao corredor do shopping, caminhando vagarosamente. A luz ainda estava lá, mas não alcançava quem deveria iluminar. Meus pensamentos começaram a fluir, buscando uma solução. Dentre todas as ideias que eu já havia acumulado, alguma devia ser capaz de restaurar o rumo da nossa primeira etapa. Relembrei o que Elisa havia dito anteriormente.
Inesperadamente, uma simples faísca surgiu.
E acendeu minhas esperanças.
— Esse é o problema! Eu tentei impor meus gostos pessoais, por isso você rejeitou tudo — falei, deixando o raciocínio escapar em voz alta.
— Hã? — ela perguntou, confusa. — Tá falando comigo?
— Já sei! — exclamei, empolgada. — Elisa, a partir de agora, você vai seguir seus próprios gostos, o que realmente combina com o seu estilo. E não se preocupe com as opiniões dos outros, escolha o que te faz sentir bem — motivei.
— Tem certeza? Porque eu sou meio... esquisitona.
— Esquisitona em que sentido?
— Meu irmão me influenciou a gostar de animes e HQs. A gente sempre teve uma relação muito boa, e ele compartilhava essas coisas comigo. Eu sigo um estilo geek, mas muita gente reprova isso. Escondi da Lívia e da Dani que gosto dessas coisas, porque não queria ser julgada. Sei que as garotas da nossa idade costumam se vestir de outro jeito e curtem quase sempre as mesmas coisas.
— Então você vai seguir a opinião dos outros só por isso? — perguntei. Ela negou com a cabeça. — Você precisa agradar a si mesma. Sim, temos gostos diferentes e isso sempre vai acontecer. Ninguém é igual a todo mundo — argumentei.
Seus lábios se curvaram em um sorriso singelo.
— Confesso que é muito bom quando alguém te dá confiança... Vou tentar fazer o que você sugeriu.
Comemorei com um grito de empolgação. Naquele instante, parecia que um raio cintilante atravessava suas inseguranças, iluminando suas verdadeiras preferências, e finalmente sua essência voltava a brilhar como deveria.
Ao entrarmos em outra loja, vi Elisa desapegar de parte de seus receios. Caminhando pelos corredores, ela escolhia as peças com mais cautela, mas, aos poucos, suas mãos começaram a selecionar as roupas que mais chamavam sua atenção. Eu a deixei aproveitar seu momento, permitindo que suas escolhas fossem totalmente pessoais. Enquanto ela experimentava as combinações, caminhei pelos arredores, observando os produtos.
Minha expectativa se concretizou quando vi Elisa sair do caixa, carregando as sacolas personalizadas da loja. Sua insegurança foi substituída por um otimismo que transformou seu semblante. Um sorriso radiante e olhos que brilhavam com fascinação tomaram conta de seu rosto. Animada, ela me mostrou tudo o que havia comprado, retirando peça por peça com satisfação: uma saia xadrez verde, estilo colegial, uma jaqueta jeans com patches e um par de meias ¾.
— E aí, como foi a sensação de comprar o que gosta?
— Foi libertador — admitiu, sorridente. — Gastei quase todo o dinheiro, só sobraram uns trocados.
— Que tal gastarmos esses trocados em um sorvete? — sugeri.
Ela aceitou a ideia, e subimos pela escada rolante até a praça de alimentação. No quiosque, escolhemos nossos sorvetes e, com as casquinhas em mãos, saboreamos a sobremesa gelada. Encontramos uma mesa desocupada, nos acomodamos nas cadeiras e deixamos as sacolas nos assentos ao lado.
— Será que eu fiz a escolha certa? — ela perguntou, olhando para as compras.
Introduzi a colher no sorvete.
— Por que diz isso?
— Agora bateu o receio... Isso sempre acontece. Fico pensando na reação das pessoas, não quero parecer estranha.
— Para de olhar pro sorvete e olha ao redor — disse, firme. Ela virou a cabeça.
— E agora?
— Todas as pessoas que estão andando pelo shopping estão vestidas iguais?
Ela balançou a cabeça em negação.
— Viu só? Cada um tem seu gosto. E isso só importa para a própria pessoa. É essa diversidade que nos torna especiais — concluí.
— Tem razão, preciso melhorar nisso... Agora já posso tomar o sorvete?
Dei uma risada leve e a liberei para retomar a sobremesa.
Pouco menos de uma hora depois, deixamos a praça de alimentação. Caminhávamos pelo shopping quando me detive diante de uma enorme janela. As tonalidades laranja e rosa do pôr do sol marcavam o fim da tarde de forma vibrante, criando um espetáculo impressionante.
— Lana, quero ir naquela loja que fica no andar de baixo — pediu.
— Mas você não gastou todo o dinheiro?
— Ainda tenho uma parte do meu salário. Vou pagar no débito.
Ergui as sobrancelhas e sorri, admirada com sua atitude.
— Quem pode, pode, né? — brinquei.
Elisa me conduziu até o estabelecimento com uma temática que correspondia às suas preferências. A loja era conhecida por oferecer uma ampla variedade de produtos relacionados à cultura pop e entretenimento, com foco especial em camisetas e itens de vestuário com estampas de personagens de desenhos animados, filmes, séries, quadrinhos e jogos.
A certa altura, acompanhei Elisa enquanto ela escolhia algumas camisetas temáticas e um moletom, com estampas de séries famosas e franquias de HQs populares. Não deixou o calçado de fora, experimentando um tênis Vans customizado, e sua aprovação foi imediata. Ela reuniu os produtos no cesto de compras e partiu para o provador. Continuei explorando a loja, ao som de The Look, de Roxette. Pouco tempo depois, consegui avistá-la indo em direção ao caixa.
Como a fila estava enorme, avisei que a esperaria próxima à vitrine. Para passar o tempo, resolvi acessar as redes sociais no celular. Percorria as postagens, enquanto meu dedo deslizava sobre a tela, assistindo a alguns vídeos de memes.
De repente, uma notificação surgiu, interrompendo meu momento de distração. Era uma mensagem do grupo com Lu e Marcelo. Abri o aplicativo de mensagens e fui direto para a conversa.
Meus olhos se depararam com um print enviado por Lu, seguido de algumas mensagens.
Lu: Se preparaaaaa!
Marcelo: Finalmenteeee! Que empresa lerda!
Lu: O bom é que já pagamos. Acho que eles vão discutir os detalhes finais dos preparativos.
Depois de ler as mensagens, deslizei o dedo até a imagem no chat. O conteúdo indicava a convocação das turmas do terceiro ano para uma reunião com a empresa de formaturas, que ocorreria na segunda-feira, após o intervalo, no auditório do colégio.
Senti meu coração acelerar e bloqueei a tela. Olhei ao redor, tentando me concentrar no cenário. Apesar de estar sob a luz, uma sombra parecia se aproximar cada vez mais.
E sabia que chegaria uma hora em que não poderia mais adiar.
Notas da autora: A primeira etapa está funcionando! Elisa precisava muito disso.
Estou amando a amizade delas!
E Alana precisa se decidir logo, o tempo está passando. Vamos torcer para que ela encontre sua vocação.
E nossa protagonista vai planejar mais coisas para dar um up na autoestima da Elisa.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top