Um Trono, Dois Reis

Mesmo enquanto escrevo isso, ainda não consigo acreditar no que testemunhei. Um rei que sobreviveu por mais de quatro décadas, como eu, nunca deveria presenciar esse tipo de situação. Como um homem que nasceu e sofreu neste país enquanto a opressão massacrava meu povo, pessoas que compartilhavam minhas crenças, minha cultura, minha pele, não posso crer que o impossível possa ser concebível. Claro, não posso dizer que o impossível não pode vir a ser algo palpável, já que libertei meu povo de uma opressão de invasores que tinham ferramentas que ainda não haviam chegado à minha terra, que não se satisfaziam com sua própria riqueza e precisavam roubar dos mais fracos, realmente não é tão fácil de pensar que se tornaria realidade. Malditos sejam. Nunca pensei diferente; por isso, já fui e ainda sou quem eles acreditam que eu sou. É um título muito heroico para um homem que fez de tudo por suas ideias. Mas é lamentável que muitos não puderam ver a ascensão do nosso povo. Após viver três décadas de guerras em minha terra, finalmente consegui expulsar os parasitas, sendo um dos mais significativos, e por isso fui coroado rei. ‘Antes um pobre oprimido, agora um rei.’ É uma das coisas que eu disse para os milhares que assistiam ao meu discurso na coroação do novo monarca.

Mesmo sendo aplaudido e recebendo festas em meu nome, sei muito bem que o rei que eles desejavam não sou eu, quem escreve isto. A verdadeira majestade que todos esperavam era o Rei Iluminado. A lenda que cercava este homem, esta entidade, era extremamente esperançosa para um povo que já não tinha em quem acreditar, diante da perversidade de um país que nos assolava, ferindo nosso orgulho, nossa cultura e nosso amor. Portanto, a história do rei mais jovem que fugiu durante um confronto, cantada em canções épicas, foi mais deturpada do que realmente aconteceu, pois estava retornando para nos devolver a liberdade como se fosse um herói. Mas não são mitos, canções épicas ou histórias de heróis que meu povo precisava, era de mim que precisavam e precisam.

Quando assumi o reino, enfrentei a difícil tarefa de reconstruir o antigo império da minha nação. No entanto, esses grandes mercadores não usavam seu poder e riqueza para ajudar a própria terra e seus irmãos; eles só pensam em si mesmos. Eu desejava muito acabar com esses miseráveis, porém não adianta reinar sem eles, afinal, eles nos ajudaram na nossa tomada, claro, depois dos vermes invasores se imporem às exigências que os próprios mercadores queriam colocar sobre o território. Eles não passam de oportunistas.
Tentei comandar minhas terras seguindo aquilo em que acreditava quando era apenas um menino, cuja única arma era minha palavra. Mas quem realmente tem poder: os poderosos comerciantes ou a ralé? Obviamente, são aqueles com mais moedas enfiadas no bolso. Eu não concordo com essas decisões egoístas que esses malditos queriam que eu tomasse só para agradá-los, e já coloquei tudo isso para fora.

Não demoraria para arranjarem um sucessor para um rei traidor, que seria executado por crimes de guerra. No entanto, não esperava que trouxessem à tona uma lenda de eras passadas. A lenda do monarca jovem que deveria retornar após uma guerra perdida, agora se concretizava diante de mim. É uma pena que não poderei ver o que o Rei Iluminado fará com meu trono. Não permitirei que alguém manche minhas conquistas.

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