Dèjá Vu

>>>Chapter 24

Trent decidiu que passaria a noite na casa dos Clarence para ficar com Theo por mais tempo, ainda tinham assuntos importantes a serem tratados que não podiam ser adiados.

-Já sabe a hora certa de mostrar a Healey?

-Não. Mas estou sentindo que será em breve. -Disse distraído. -Como você soube qual era a senha do Alek?

-Era o aniversário da Mer. -Deu de ombros rindo. -Não podia ter sido mais óbvio.

-É verdade... -Theo ouviu movimentação do seu lado direito e desligou a luz do abajur rapidamente. -Shiu! Fica quieto!

-O que foi? -Sussurrou o Sullivan deitando depressa no colchão ao lado da cama do Clarence.

-Só finge que está dormindo.

A luz do quarto da Brontë foi acessa e ela apareceu com Angus no colo. Trent estava virado para o outro lado, mas sabia que era ela. Theo, por outro lado, estava com o rosto na sua direção, com os olhos semicerrados fingindo dormir, porém ao mesmo tempo vendo-a.

-Estou tão cansada, Angus... -O gato miou e Annie o colocou na cama. -Vomitei de novo hoje... Não, não. Eu estou bem. Sério. Foi só mal estar mesmo... Acho que foi aquele biscoito que a mamãe me fez comer.

Ela tirou o casaco e o cachecol e pendurou na cabeceira da cama. Theo franziu o cenho. Estava ouvindo tudo.

-Não está longe para a cirurgia, lembra? Vai ser sexta agora e já é quarta! Vou ficar bem. -Ela sorriu sincera, porém com as feições abatidas. -Conversei com o Alonso hoje... Sobre a Healey. -Ela parou um pouco e suspirou. -Ele ainda a ama, sabia? Mesmo depois de tudo....

Trent se mexeu na cama embaixo e ela olhou para a varanda, em direção ao quarto dos meninos.

-Trent está dormindo na casa do Theo hoje, pelo visto. -Ela disse se dirigindo a varanda.

Ficou um tempo segurando nas portas de vidro antes de balançar a cabeça fechando a porta e as cortinas, cortando assim qualquer possibilidade de Theo ou Trent ouvirem o resto da conversa.

Depois que Annie fechou a cortina e desligou as luzes, Theo levantou e sacudiu Trent, apesar desde já estar alerta.

-Você ouviu, não foi? Eu não estou ficando maluco! Eu sei o que eu vi aquele dia, Trent!

-Calma, Theo. Muita calma nessa hora. Não sabemos de nada da vida dela no momento. Pode ser normal, ela pode ter falado com os pais dela, pode já ter avisado sobre isso.

-Não. Ela não avisou.

-Como você pode saber?

-Eu não sei, ok? Eu só tenho certeza que ela está escondendo. Eu a conheço, Trent! Era sangue naquele dia no banheiro, eu sei que era.

-Tudo bem... Mas olha, você não pode fazer nada. Infelizmente, não dá para fazer nada. Você não pode se intrometer na vida dela, principalmente na situação em que você se encontra.

-Eu sei! Eu sei! -Disse segurando forte o cabelo. -Eu só estou preocupado.

-Se fosse algo grave, Theo, ela teria falado. Acho que ela sabe se cuidar sozinha.

-Eu não tenho tanta certeza.

-X-

Mercedes acordou sonolenta ouvindo o toque do seu alarme ao longe. Virou batendo a mão no alarma o fazendo parar e logo se espreguiçou na cama abrindo os braços e, enquanto o fazia, lembrou da noite anterior. Levantou assustada e olhou para o seu lado na cama: vazio. Pegou os cobertores e apertou melhor ao seu redor notando que ainda estava nua.

-Alek...? -Chamou com medo que ele pudesse ter ido embora e deixado-a sozinha. -Não acredito que ele foi embora e...

A porta do quarto, que estava apenas encostada, se abriu revelando o Roberts equilibrando nas mãos uma bandeja com o que parecia ser o café da manhã. Suco de laranja, torradas, geleia, pão, café e gelatina, além de um vazinho com uma singela margarida.

Ele demorou a vê-la e ela também não conseguiu emitir som algum com a surpresa que sentia. Quando ele fechou com cuidado a porta com o pé, ele virou e a viu sentada na cama olhando-o com uma cara de surpresa.

-Mer! Você já acordou? Eu fiz o maior silêncio lá embaixo para tentar não te acordar. Desculpe... -Ele aproximou-se dela e foi aí que ela notou que ele só usava a box preta da noite anterior. Corou com as lembranças. Ele pôs a bandeja na sua frente e lhe deu um selinho rápido que ela ainda estava sem reação demais para retribuir. -Queria fazer uma surpresa...

-E-Eu achei... Eu acordei e-e... Meu Deus, Alek, o que é isso? -Agora estava absolutamente encanada tocando nas pétalas da margarida.

-Queria fazer algo especial para quando você acordasse. -Ele sorriu e ela o olhou com os olhos brilhando. -Sabia que ia estar com fome...

Mercedes não encontrou palavras, apenas lhe puxou com uma mão para um beijo e começou a comer. Estava realmente delicioso. Ela o elogiou e ele corou de leve. Ficou olhando-a enquanto comia com um sorriso no rosto.

"Sou o cara mais sortudo do mundo... "

"Sou a garota mais sortuda do mundo inteiro!" Ela sorriu entre uma dentada que havia dado na torrada com geleia.

Quando terminou, limpou a boca com o guardanapo que estava por ali e recostou-se novamente no travesseiro. Alek retirou a bandeja e pulou para deitar ao seu lado.

-Obrigada pela surpresa... Eu adorei. -Disse se aconchegando em seu peito nu. -Foi realmente muito especial... Continua sendo. Obrigada.

-De nada... -Eles ficaram um tempo assim, até que o Roberts voltou a falar. -Como está se sentindo?

Ela sabia que aquela pergunta era referente à noite que tiveram juntos. Lembrou do toque, dos beijos... Havia sido perfeito. Alek a havia tratado com gentileza e paciência, ciente que aquela era a primeira vez da namorada. Foi especial de um jeito que ela não conseguia descrever com palavras.

-Me sinto diferente.

-Diferente bom? Ou diferente ruim?

-Diferente bom. Não sei, é como se eu me sentisse mais mulher, sabe? Mais... Independente, talvez? -Ela riu. -Não dá para explicar! Mas é algo bom.

-Acho que eu entendi um pouco, sim. -Ela riu e ele também. -Você gostou? Tipo, eu... Não machuquei você, machuquei?

-Não. Claro que não. -Ela levantou para olhá-lo ainda segurando os lençóis ao seu redor. -Doeu, claro... Mas foi muito pouco e a gente já sabia que isso ia acontecer. -Alek desviou os olhos dos dela. Ele estava preocupado, porque no começo saíram lágrimas dos seus olhos. Ele sabia que ela podia, e estava, minimizando os fatos para ele se sentir melhor. -Ei... -Ela pegou no seu queixo e o fez olhá-la novamente. -A gente sabia que ia acontecer.

-Me sinto culpado... Eu não gosto de ver você sofrer, Mer...

-O prazer que eu senti foi bem maior... -Ela sorriu e acabou roubando dele um pequeno sorriso também. -Acredite.

Ela o beijou de leve e voltou a deitar-se em seu peito. Eles ficaram em silêncio novamente. O Roberts se sentia melhor depois de ter tido aquela conversa com ela, um pouco, digamos, constrangedora, mas extremamente necessária. Se ela havia gostado e sentia-se feliz, quem era ele para discordar? Só podia compartilhar da sua felicidade, já que a noite que passaram juntos foi a melhor, e mais especial, de sua vida.

-Não quero ir para a aula hoje... Podíamos faltar, o que acha? -Decidiu de repente. -Podíamos fazer chocolate e eu ia comprar alguns morangos na mercearia da esquina, aí podíamos ver algum filme no sofá... -Ele parou e sorriu inclinando-se para beijar o pescoço desnudo da Baker. -Quero ficar o resto do dia com você, Mer...

Ela sorriu e virou o rosto para encará-lo.

-Seria perfeito e... A ESCOLA! -Ela sentou na cama em um salto. -ALEK! MEU DEUS! -Ela olhou para o relógio e faltavam menos de vinte minutos para o início do primeiro tempo. -ESTAMOS ATRASADOS! -Ela o empurrou da cama fazendo-o cair e ele reclamar de dor. -Sai daqui! Eu preciso me trocar!

-Mas Mercedes! Porque a gente não simplesmente falta!?

-Hoje é a campanha! Para presidente! -Disse olhando para os lados agoniada e levantando ainda segurando os lençóis ao seu redor. -Sai Alek! Preciso tomar um banho e me vestir!

Alek já havia levantado e estava rindo do desespero da namorada.

-Mas amor... Eu já vi tudo que tem aí. Não tem problema você se trocar na minha frente e...

-ALEK ROBERTS! -Mercedes se virou para ele totalmente vermelha e começou a empurrá-lo para a porta. -Sai! Agora! Por favor!

-Ta bom! Ta bom! -Disse desistindo e pegando sua calça jeans no chão e indo em direção à porta. -Te espero lá embaixo!

Mercedes o empurrou para o lado de fora e fechou a porta de modo a deixar somente seu rosto do lado de fora e lhe deu um beijo estalado.

-Obrigada, amor. Te amo!

E fechou a porta deixando-o do lado de fora rindo sozinho.

-X-

Annie acordou mais cedo àquele dia sentindo muita dor na região do estômago e uma fome que lhe fazia contorcer-se na cama. Fazia tempo desde a ultima vez que sentira fome, pelo menos não forte daquele jeito.

Ela levantou e foi até a cozinha e olhou o relógio de parede que marcava 05:03. Ela abriu a geladeira e começou a distribuir os ingredientes pela bancada: pão, geleia, alface, tomate, ketchup, carne moída e molho especial. Para beber fez um chocolate quente.

Enquanto montava o sanduíche, Angus pulou na bancada.

-Eu não disse que estava bem? Estou até com fome! -O gato miou e ela o acariciou enquanto dançava uma música qualquer que tocava na rádio. -Estou me sentindo muito bem hoje!

Depois de comer ela subiu os degraus correndo e no meio deles sentiu a casa girar. Segurou-se no corrimão ainda ouvindo Dirty Work do Austin Mahone se propagar pela casa. Ela se endireitou, contou até três, e dirigiu-se ao seu quarto voltando a cantar.

-X-

Mercedes desceu as escadas depressa ainda fechando os botões do seu sobretudo vermelho. Usava botas pretas que possuíam salto e por baixo uma calça preta e uma blusa bege de gola alta. Os cabelos estavam soltos e ela colocou uma maquiagem leve, mas colocou rímel, lápis e outros. Resumindo: estava linda.

-Alek? Onde você está? Estamos atrasados! -Disse pegando a chave do carro dos seus pais, já que se fossem andando com certeza perderiam a primeira aula.

-Estou aqui! -A voz veio da ante sala. -Só estou calçando o sapato e... -Ele a olhou quando ela apareceu em seu campo de visão. -Nossa! Para onde a senhorita pensa que vai vestida assim?

Ela gargalhou o envolvendo com os braços pela nuca enquanto ele a segurava pela cintura.

-Para a escola! -Disse ainda rindo.

-Seu namorado não está contente com isso.

-Aí é? Posso saber porque?

-Porque ele vai ter que bancar o namorado super ciumento, já que todos os olhos dos que usam cueca se voltarão para você vestida desse jeito!

-Menos os do Garett.

-Ok. Ele é exceção.

Os dois gargalharam e ela o beijou longa e demoradamente.

-Vamos logo, antes que eu te jogue nesse sofá e repitamos o que fizemos ontem. -Ele disse em seu ouvido bem baixinho e ela se arrepiou. -Eu não respondo por mim...

Ela gargalhou lhe dando um beijo singelos nos lábios e se desvencilhou de seus braços pegando a bolsa com os livros e as chaves.

-Vem logo, amor. Estamos atrasados.

-É sério? Vai me trocar por um monte de professor chato?

-Vou! Hoje é dia da campanha, já expliquei.

-Eu valho menos que uma campanha. -Disse sentido. -Já que você me troca tão facilmente por ela...

-Você viria mais rápido se eu dissesse que depois da aula podíamos vir pra cá de novo? -Sugeriu sorrindo.

-Agora estamos nos entendendo! Vamos pra campanha! -Disse animado pegando a bolsa com os livros e jogando nos ombros.

Ela lhe deu língua e ele riu beijando-a.

-Se não fosse a campanha, eu ficaria aqui com você, amor, juro... -Disse fazendo biquinho.

-Tudo bem, amor, só queria fazer drama mesmo! -Ele abriu um sorriso enorme e ela lhe deu um soco, mas acabou rindo em seguida.

Chegando ao colégio, logo viram Trent e Theo entregando panfletos com o número "01" pintado na bochecha.

-O que aqueles dois estão fazendo? -Perguntou Alek. -Aquele não é o seu número, é?

-Não, não é. Meu número é 45. Será que tenho um concorrente esse ano?

-Tendo ou não, você vence, amor. -Ele disse olhando-a com um sorriso no rosto e vendo os nós dos seus dedos ficavam brancos de tão forte que ela apertava o volante. -Vai ficar tudo bem. Você já é a presidente.

Ela o olhou e sorriu respirando fundo e acenou positivamente antes de sair do carro.

Os dois andaram de mãos dadas e logo viram Annie chegando correndo na direção deles.

-Bom Dia!

-Bom Dia, Annie! -Disseram juntos e logo sorriram e Mercedes se chegou para mais perto do namorado apoiando a cabeça no ombro dele enquanto andavam.

-O que aconteceu com vocês? -Disse rindo notando a vibe do casal.

-Uma coisa que palavras não descrevem. -Disse Alek e Mercedes ficou vermelha enquanto ria.

-Quero detalhes! -Avisou tendo uma ideia do que poderia ter acontecido aos dois.

-Vai ter, amiga!

-Vai!? -Alek a olhou com uma sobrancelha levantada e as duas caíram na gargalhada.

Eles chegaram perto de Theo e Trent que panfletavam na frente da escola e Annie foi a primeira a pegar um panfleto arregalando os olhos em seguida.

-Ai meu Deus... -Disse sem tirar os olhos do papel.

-Olha quem chegou! -Disse Trent abrindo os braços. -Nosso futuro presidente!

-Obrigada, Trent, mas... -Mercedes começou, mas logo foi interrompida.

-Não estou falando com você, Baker, estou falando com o Alek!

-Comigo? -Se houvesse algo na boca de Alek, ele teria cuspido. -Mas eu não sou candidato, Trent. Deve ter havido algum mal entendido...

-É verdade. -Disse Annie se pronunciando. -Olha aqui...

Ela entregou o folheto para os dois que chegaram bem perto para olhar.

"Vote Alek Roberts para Presidente! Confiança garantida dentro, e agora fora, das quadras!" e como fundo havia uma foto tirada no campeonato passado de Alek no meio de um pulo fazendo uma enterrada. No final do folheto havia "Vote 01, Vote no melhor".

-Quando ia me contar? -Disse Mercedes baixo. -Quando ia me dizer que estava concorrendo contra mim!?

-Mas eu não estava! Eu não me inscrevi! Eu juro, Mer!

-As inscrições são feitas pelo portal do aluno, Alek. Senha privada. -Ela disse o olhando com os olhos marejados. - Você sabia... Sabia que esse cargo é importante pra mim... Como pôde?

-Mas Mercedes... -Ela balançou a cabeça negativamente na esperança de conter as lágrimas e dando vários passos para trás. -Mercedes espera um instante!

Mas já era tarde. Ela não mais lhe ouviu. Já havia corrido para longe.

-E-Eu não entendo... Eu não me inscrevi! -Ele virou para a pintora que estava estática perante os acontecimentos. -Eu não me inscrevi, Annie. Eu juro. Por favor...

-Alek... Eu vou procurar ela, ok?

-Mas não fui eu! -Ele segurou os ombros dela com força.

-Tudo bem. Eu acredito em você. -Ela disse e Alek relaxou. -Vou ver como ela está, ok?

Ele assentiu e ela se afastou com passos rápidos, encontrando Lauren no caminho e explicando a situação rapidamente para juntas continuarem a procurar pela amiga.

-Eu não me inscrevi nisso! -Ele disse ainda olhando para o folheto.

-Nós sabemos. -Disse Theo sorrindo e segurando o ombro do amigo.

-Fomos nós que te inscrevemos. -Disse Trent simples. -Sua senha é ridiculamente óbvia, cara.

Por um segundo Alek não teve reação. Seu cérebro levou alguns minutos para entender a informação recebida e processá-la da forma correta.

-Vocês... O QUE!?

-Bem, a gente pensou que você fosse um melhor candidato que a Mercedes. -Disse Theo cruzando os braços.

-E ela SEMPRE é a presidente. Tipo, desde de sempre! -Disse Trent revirando os olhos. -Esse colégio grita por uma mudança no comando, e quem seria mais perfeito que você? Deixa que eu respondo: ninguém!

-Claro que passamos a noite toda planejando a campanha... -Disse Theo dando de ombros. -Mas valeu a pena! Olha como você está famoso! Todo mundo está animado com sua candidatura. Você vai vencer!

Um grupo de meninas passou por ali e disse.

-Boa Sorte, Alek! Nosso voto já é seu! -Elas o cumprimentaram e seguiram seu caminho sorrindo.

-Viu? -Disse Theo feliz.

-EU. VOU. MATAR. VOCÊS!

-De amor né? Eu sei! Somos os melhores amigos do mundo! -Disse Trent sorrindo e abrindo os braços para receber o abraço de Alek.

-NÃO! -Ele empurrou o Sullivan que caiu por cima do Clarence. -Vocês não entendem? Vocês estragaram tudo!

-Como assim? A gente te fez um favor! Vai ser divertido!

-Favor o Caralho! Vocês fuderam com a minha vida! Ela nunca mais vai olhar na minha cara! E logo depois do que aconteceu ontem...

-Alek, cara! Relaxa! -Disse Theo se aproximando devagar. -Foi só uma brincadeira!

-Vocês não sabem qual o limite, não é mesmo? Não sabem quando parar. Isso não é brincadeira que se faça!

-Olha, cara, desculpa se passamos do limite... A gente só queria te pregar uma peça... -Disse o Clarence. -Como nos velhos tempos.

-Não, nos "velhos tempos", vocês eram meus amigos. Aqui só vejo traidores.

E dizendo isso saiu para dentro do colégio amassando o panfleto o jogando longe.

-Nossa! Que exagero! -Disse Trent levantando. -Ele supera. Vem Theo! Temos folhetos para entregar e uma campanha para vencer!

-Não, Trent. Chega. Você não ouviu? -Ele cruzou os braços olhando para onde perdeu Alek de vista. -Passamos do limite dessa vez.

-Ele supera! É o Alek!

-Por isso mesmo! É o Alek! Nosso AMIGO. Não vou mais fazer parte disso, desculpe Trent.

-Se quer amarelar, tudo bem, pode ir! Eu faço a campanha sozinho... -Disse o olhando feio e se afastando continuando a entregar os panfletos.

-X-

Alek estava disposto a tudo para ser expulso da candidatura. No livro dos direitos e deveres do aluno, na cláusula sobre a eleição presidencial, depois que expirada a data de inscrição, seu pedido de afastamento era promulgado. Ou seja, como o tempo da inscrição expirou ontem, não havia nada que Alek pudesse fazer. Ele estava dentro. Existia, porém, uma pequena observação que dizia que o candidato poderia pedir afastamento, porém somente no dia da declaração. O que tornava tudo ainda mais impossível para ele, já que ele queria ser demitido dessa função o quanto antes!

-Meu voto já é seu, Alek!

-Adorei sua candidatura, Roberts! Conta comigo!

-Vote 01! Boa Alek! Tamo junto!

E essas pessoas estavam lhe tirando do sério. Já estava cansado de explicar que não havia sido ele e que ele não queria aquele cargo. Porém quanto mais ele explicava, mais as pessoas o achavam modesto e mais apareciam para lhe cumprimentar.

-De onde surgiu tanto aluno, pelo amor de Deus!? -Resmungava depois de dar mais um sorriso falso à um jogador reserva do time.

Ele entrou na sala do auditório, onde haveria a apresentação formal dos concorrentes, e logo avistou seus amigos. De longe viu que estavam brigando, e feio. Trent segurava uma placa "Vote 01!" e encarava Lauren, que segurava uma placa "Vote 45!", vermelho de raiva e quase pulando em cima dela se não fosse o Clarence segurando-lhe a gola da camisa enquanto discutia algo com a Brontë.

Uma rápida olhada ao redor e viu que não eram só eles que brigavam. Todos pareciam estar a ponto de se agarrarem e saírem lutando de soco e chute pelo chão. Tudo por causa dos rivais(Alek odiava essa palavra) Mercedes X Alek.

Andou mais um pouco até os amigos, porém foi parado por Victor Van Tien, Sean Olsen, Henry Poleff, Drew Cobret e Amelia Vilmore, assim como todas as líderes de torcida.

-Alek! Você não contou o que pretendia ao time! Que traição! -Disse Victor fingindo estar magoado.

-Contando ou não, levantaria demais a moral do time já que um dos titulares é o presidente! -Apoiou Sean.

-Verdade, mas mesmo assim, porque guardar segredo Roberts? O time vem em primeiro lugar sempre. -Disse Henry com a cara fechado. Eles nunca haviam se dado bem.

-Talvez ele só quisesse fazer uma surpresa! -Disse Drew sorrindo e Alek relaxou. Com o Cobret tudo ficava mais ameno. Ele era a âncora do time. -E que surpresa! Adorei! Não é, Mel?

-Com certeza! Estou tão animada! -Disse sorrindo abertamente o abraçando em seguida. -Eu e Drew já sabemos bem em quem vamos votar, não é amor?

-Com certeza! A gente sempre tem os mesmos pensamentos... -Disse meloso e os caras do time franziram o nariz.

-Ly, já sabe em quem vai votar? -Perguntou Van Tien puxando a namorada.

-Claro! Na Mercedes, óbvio!

-Não! Tem que votar no Alek! -Corrigiu o capitão. -ISSO é óbvio!

-Não, na Mercedes! Ela é conservadora! -Disse uma das líderes e Beverly Winkler concordou.

Alek já revirava os olhos. Só queria sumir.

-Vamos dizer juntos, Mel!

-Está bem! Mostrar para eles o que é um casal de verdade!

Eles fizeram uma contagem regressiva e gritaram juntos:

-MERCEDES/ALEK! -Ao mesmo tempo cada um gritou um nome diferente e arregalaram os olhos. -O QUE!?

-Mel! Temos que votar na Mercedes!

-Não, Drew! No Alek! Mudança é bom! Ela já ficou por muito tempo. Ele é novo, vai saber o que fazer.

-A Mercedes é líder do corpo estudantil, já foi presidente 2 vezes seguidas e vai cuidar do anuário. -Disse o Cobret como se parecesse óbvio. -Claro que é nela que vou votar!

E de repente tudo ao redor de Alek virou somente uma confusão de vozes gritando uma por cima da outra tentando ser ouvida. Até o casal margarina, Drew e Amelia, estavam brigando. Era o apocalipse. E o estopim havia sido o maldito do Sullivan que teve a brilhante ideia de pregar a peça mais sem noção do ano. Talvez do século.

Sem avisar, Alek simplesmente deu a volta e saiu da sala altamente frustrado e com muita raiva. Se ouvisse "Vote Alek" de novo... Era capaz de levar detenção por falta de conduta. Ou até uma expulsão.

-Expulsão... É isso!

Alek correu até o armário do zelador e pegou vários sprays de pichação. A adrenalina corria solta por suas veias. Não acreditava no que estava pensando em fazer.

A Arch tinha algumas pichações nos armários e o aluno que for pego praticando essa negligência será expulso. Era genial! A diretora Morrison teria que retirá-lo da concorrência à presidência. Quem quer um presidente que ao invés de zelar pela escola a depreda?

Esperou até os alunos serem liberados e irem para suas salas para pagar um garoto do primeiro ano para que chamasse a diretora para o corredor em que estava. Queria que ela visse. Aproveitou o pouco movimento para garantir que alunos o veriam praticando o ato, assim a noticia se espalharia logo.

Assim que ouviu a voz de Evelyn Morrison na esquina do corredor, abriu a tampa com as mãos tremendo e começou a pichar os armários sem olhá-los. Queria que a diretora tivesse uma perfeita visão de seus rosto para não haver enganos. Ouviu alguns murmúrios dos alunos ao seu redor mas não ligou. Evelyn virou a esquina e estancou quando o viu.

-Senhor Roberts... O que... -Tentou conter um sorriso. Seu plano havia funcionado perfeitamente bem. -Nunca pensei que o Senhor fosse se apresentar como um excelente candidato!

-Eu sei diretora... Eu sou culpado. Eu sozinho fiz isso e... Espera. O que disse?

-É isso que esperamos do nosso próximo presidente! -Ela sorriu. -Cuidando do patrimônio escolar! Que orgulho, Senhor Roberts!

Ele ouviu palmas ao seu redor e olhou para os armários. As pichações haviam sumido. Não havia mais nenhum. Olhou desesperado a garrafa do spray e constatou que era da mesma cor dos armários. Ele não os estava pichando, os estava pintando.

-Mas que droga... -Quando levantou o rosto viu vários celulares apontados em sua direção e em meio a eles Mercedes o olhando chocada. -Mer... Não é o que está parecendo...

-Pode parecer empenhado, Alek, mas a Mercedes vai acabar contigo! -Disse Lauren furiosa pegando a amiga e a levando embora.

Antes que pudesse ir atrás das duas foi barrado por um círculo de alunos eufóricos.

-ALEK! ALEK! ALEK! ALEK!

-X-

Annie estava completamente exausta. Parecia que suas pernas não aguentariam nem mesmo mais um passo. Estava se sentindo extremamente fraca e indisposta, além de que as dores abdominais voltaram, só que com maior intensidade.

Quando ela subiu para o quarto, viu Theo e Trent comendo pizza do outro lado da varanda. Seu estômago embrulhou e ela só fez soltar a bolsa e correr para o banheiro. O gosto férrico do sangue na boca lhe preencheu. Quando acabou, levantou e foi até a pia. Estava pálida como um papel e os lábios secos e sujos de sangue. Outra vez a vontade lhe atingiu e ela cobriu a boca com as mãos para tentar chegar ao vaso, mas seu esforço falhou e ela acabou vomitando metade na própria mão e a outra no vaso. Era somente sangue. Parte dele coagulado e um tanto grosso.

Ela olhou-se e estava absolutamente suja sentada no chão do banheiro. Tudo começou a girar e sentiu sangue escorrer do nariz. Assim soube que estava muito mal e precisava urgente ir ao hospital.

Estava tão fraca que mal conseguia se manter em pé. O banheiro rodava e só a fazia querer vomitar de novo.

Agarrando-se no porta toalha, conseguiu se por de pé. Sua voz não saia. Sabia que desmaiaria cedo ou tarde, então precisava ser rápida. Se agarrou na porta e a abriu se segurando nas extremidades, e com o movimento viu tudo girar novamente. Ela viu Theo entrando no quarto com uma latinha de refrigerante na mão e Trent sentado mexendo no computador.

-Theo... -Sussurrou. -Theo... -Sua voz saia tão esganiçada e baixa que não conseguiria ser ouvida por cima do som dos garotos. -Por favor...

Ela largou a porta e deu um passo para a cadeira da escrivaninha. O quarto girou quando ela olhou para frente e viu Theo levantar a cabeça e notá-la.

-Theo... Por... Favor...

Ao tentar dar mais um passo na direção dele, escorregou e caiu.

-X-

Não conseguia nem respirar.

Quando a vi ensanguentada daquele jeito, só conseguia pensar no pior. A vi abrir a boca e falar algo antes de escorregar e bater a cabeça na quina da sua escrivaninha de estudos.

No segundo seguinte eu já estava correndo.

-Annie! Annie! Meu Deus! -Abaixei e mantive sua cabeça entre minhas pernas lembrando da aula sobre primeiros socorros. Tinha um corte enorme em sua testa até um pouco dentro do couro cabeludo onde havia batido. -Você vai ficar bem... Vai sim... TRENT! -Gritei vendo-o parado ao meu lado branco com um semblante preocupado. -Precisa ligar para uma ambulância agora!

-Ambulância? Precisamos levar ela para o hospital nós mesmos! Olha estado dela, pelo amor de Deus!

-Não podemos! Ela bateu a cabeça, não podemos mechê-la, Trent, podemos machucá-la! -Expliquei tremendo enquanto tirava a camisa de botões que usava por cima da regata para tentar parar o sangramento de sua cabeça. -Ambulância! Vai!

-Está bem! Está bem! -Disse correndo para o quarto para pegar o celular.

-Você v-vai ficar bem, ok?

A olhei e ela parecia muito mal. Uma rápida olhada para o banheiro e notei que estava vomitando sangue, muito sangue. Seu nariz sangrava também. Não podia ser um bom sinal. Comecei a temer o pior. Um horrível sentimento de dèjá vu me tomou e senti um arrepio na espinha.

A ambulância pareceu demorar uma eternidade. Quando chegamos ao hospital já foram levando-a para dentro e segundos depois vi o Doutor Phillip Dawson passar correndo amarrando uma touca na cabeça e entrar por onde a haviam levado alguns minutos atrás.

-Theodore Clarence? -Me virei para a enfermeira.

-S-Sim... Sou eu.

-Ela está entrando na sala de cirurgia agora. Pode me dizer onde achar os pais dela para cuidar da papelada de admissão?

-C-Cirurgia? -A boca do meu estômago apertou. -É muito r-ruim?

-Parece que a pancada na cabeça possa ter causado uma hemorragia leve. O que mais preocupa são os internos.

-Internos? Você diz... Hemorragia interna?

-Eu não posso dar informações sobre o caso a fundo, Sr Clarence. -Ela disse me levando para uma cadeira. Acho que notou que eu podia cair ali mesmo. -Ela vai ficar bem, os médicos são excelentes.

Muitas horas se passaram. Parecia uma eternidade. Os pais de Annie chegaram primeiro. Maggie estava chorando muito e até John estava deixando algumas lágrimas caírem. Não o julguei. A situação era séria. Alonso e Lauren chegaram mais tarde e alguns minutos depois Mercedes, Alek e Garett. Trent, que havia vindo comigo, agora ressonava baixinho em uma das cadeiras. Eu não conseguia dormir. Não conseguia relaxar. Não havia falado mais nada depois de ter cumprimentado os pais de Annie, não havia o que falar.

Já haviam se passado quase 8 horas de cirurgia quando dois médicos saíram ainda trajando a roupa cirúrgica manchada de sangue. Só de pensar que era sangue dela...

-Parentes de Annie Marie Brontë? -Chamou a médica com cabelos loiros.

-Nós! S-Somos nós! -Gritou a Senhora Brontë que correu junto com o marido até os médicos. -Por favor doutor... Diga que minha filha está bem...

Os médicos se entreolharam e eu soube que havia algo errado. Meu peito se apertou e aquela sensação de dèjá vu voltou mais forte.

-Ela estava em estado grave quando chegou. -Começou o Dr Dawson. -Ela havia perdido muito sangue e estava muito fraca e com um caso grave de subnutrição. A pequena hemorragia cerebral foi contida e o sangue drenado. Nós concluímos a cirurgia, mas...

-Mas o que? -John quase gritou.

-Annie entrou em coma.

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