Prólogo

Apenas o silêncio reinava. Não havia lugar para mais nada, ou para mais alguém. A multidão encarava o jovem garoto com piedade, sem conseguir ver nas mãos trémulas, ou no corpo curvado e magro, o líder que os representaria dali em diante.

Raiden sentia-o. Não precisava de palavras para perceber que todos o julgavam incapaz, inapto para ocupar o cargo para o qual nascera. Talvez lhe faltasse a preparação que a tragédia abocanhara, mas ele poderia jurar que a lacuna era bem mais profunda do que isso.

As pistas estavam todas lá, bem à vista do povo. No entanto, eles tentavam, é claro. Fingiram não notar quando o adolescente tropeçou no último degrau do altar e nem sequer deixaram escapar um único sorriso de escárnio pela coroa larga que insistia em escorregar pelos fios loiros.

Mas a culpa de tudo aquilo não era de Raiden, ele era apenas uma vítima do sistema. Apetecia-lhe gritar que aquele era um grande erro. Como poderia esperar-se que decidisse sobre o futuro de seu povo, se nem conseguia optar entre leite ou chá? Infelizmente, não havia como voltar atrás.

Ao fechar os olhos, o jovem agarrou-se ao poder que lhe era trespassado pela coroa.

"Que o meu dom seja decidir logo de primeira, sem hesitações", desejou com toda a sua alma.

Os olhos de um verde pálido escorregaram para o pulso que o jovem tentava discretamente destapar. Raiden fixou, absorto, o número tatuado a negro na sua própria pele. O 100 garantia-lhe que tudo correria bem. 


252 palavras

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