Epílogo
Sete meses depois
"Três, dois, um..."
Cortei a fita e no mesmo instante flashes dispararam de todas as direções. Ouvi os aplausos ao meu redor e gritinhos animados, assim como o tilintar de taças batendo de leve umas nas outras. Ergui os olhos para a grande casa de dois andares à minha frente e senti meus olhos arderem.
Aquilo estava mesmo acontecendo?
"Parabéns, Penny!", a voz de Margot soou ao meu lado. Ela me abraçou com força e eu retribuí o gesto, sem conseguir parar de sorrir por um instante. "Eu estou muito feliz por você!"
"Alteza, Srta. Beverley, uma foto, por favor!"
Margot e eu nos viramos para o fotógrafo que estava por perto e sorrimos. O flash me cegou por um instante, mas eu pisquei depressa para receber os cumprimentos de um punhado de pessoas que estavam no evento de inauguração da casa abrigo.
A casa ficava em um ponto tranquilo e seguro da cidade, afastado o suficiente do centro para que não se fundisse com todos os prédios e construções enormes que se amontoavam umas por cima das outras. O jardim em frente a casa era grande e parecia estar servindo muito bem para todas aquelas pessoas vestidas de maneira elegante, que sorriam e conversavam umas com as outras enquanto a imprensa registrava tudo.
Eu ainda não conseguia acreditar que aquele dia finalmente tinha chegado.
Depois de meses de correria e angústia por conta de todos os problemas burocráticos que hora ou outra acabavam surgindo a respeito do abrigo, eu finalmente estava ali, vendo os pedaços da fita vermelha em frente à porta de entrada cortada ao meio. Olhei para as janelas lustrosas e para as paredes de um tom alegre de amarelo e senti meu coração encher de orgulho. Eu tinha pensado em cada mínimo detalhe daquele lugar, tinha me envolvido desde a escolha do terreno e a planta da casa até as cores das cortinas de cada cômodo. Queria que aquele lugar tivesse personalidade e que não fosse apenas uma construção inóspita e fria. As mulheres e possivelmente crianças que logo chegariam ali já estariam tristes e assustadas o suficiente. Queria que quando passassem por aquela porta se sentissem acolhidas e seguras.
"Penny, Penny, olha o que eu ganhei!", uma vozinha disse, e eu vi Eloise correr até mim com as mãozinhas fechadas, como se estivesse segurando algo. "Tia Alexia trouxe uma porção de caramelos na bolsa e me deixou ficar com um monte deles. Quer um?"
"É claro que quero."
Eu me abaixei para ficar da altura de Eloise e peguei um dos caramelos. Ela já devia estar com uns três na boca quando Layla se aproximou e a pegou no flagra.
"Chega de açúcar, mocinha", ela disse. "Você já foi a responsável por sumir com quase todos os bombons da mesa. Quem é que anda contrabandeando caramelos para você?"
"Não posso contar, mamãe."
Layla pegou a filha no colo e soltou um suspiro cansado.
"Está bem, mas só dessa vez. E pode ir passando um para cá."
Eloise riu e deu um caramelo para Layla, que então se virou para mim com um sorriso radiante.
"Sei que já te falei isso mil vezes, Penny, mas vale repetir: esse lugar está incrível e você não faz ideia de quantas pessoas vai ajudar." Ela pousou a mão com delicadeza no meu braço e me olhou séria quando disse: "Passei por uma situação muito difícil com um garoto há alguns anos e sei como é se sentir sozinha e desamparada, mesmo tendo muitas pessoas ao seu redor. Saber que mulheres passando por situações parecidas poderão ter uma alternativa e um lugar seguro para onde ir... Isso me traz um alívio gigantesco."
Eu assenti e apertei a mão de Layla. Aquelas palavras significavam mais do que eu conseguia descrever. Olhei para o abrigo e senti uma onda de amor e carinho invadir meu peito. Era assim que todos se sentiam quando encontravam o seu propósito?
"Obrigada, Layla."
Naquele instante um fotógrafo se aproximou e pediu para tirar uma foto de Layla com a princesinha. Eu me afastei um pouco e no instante seguinte já estava envolvida em uma conversa animada com a prefeita de Arthenia, Emanuelle Gove, que era uma mulher de meia-idade bem humorada e que não parava de dizer como o evento de inauguração estava belíssimo. Assim que ela se afastou, fui surpreendida pelo meu pai e por Sam, que já estava de novo com uma taça de champanhe na mão.
"Se eu fosse você ia com calma", eu murmurei para o meu irmão. "Se der um vexame aqui, eu juro que te tranco em um dos quartos."
"Não seja boba", ele me disse. "Já faz um tempo que não me divirto fora de Lyria. Além do mais, você não poderia servir um champanhe tão bom e esperar que eu não fosse experimentá-lo."
Eu revirei os olhos, mas não consegui deixar de sorrir. Meu pai pegou minhas mãos e me olhou nos olhos.
"Estou tão orgulhoso de você, querida", ele disse, e percebi a emoção na sua voz. "O que está fazendo... É maravilhoso e vai ajudar muitas pessoas."
"É o que eu espero. Mas eu não fiz nada disso sozinha, se não fosse pelo senhor, pelo rei, Sebastian..."
"Me chamou?"
Meu coração deu um pulinho bobo no peito quando ouvi aquela voz familiar. Me virei para Sebastian, que se aproximava em seu terno elegante com um sorriso capaz de desestabilizar qualquer um.
Nós já estávamos juntos há alguns meses, mas mesmo assim de vez em quando eu ainda me pegava agindo como uma tola apaixonada. Não que eu me importasse muito com aquilo...
"Só estava dizendo ao meu pai como você me ajudou a tornar tudo isso realidade", eu disse para ele. "Se não fosse por você e por mais um monte de gente essa noite não estaria acontecendo."
"Talvez", ele concordou, se colocando ao lado de Sam. "Mas a ideia foi sua. E também foi você quem ficou noites em claro planejando e fazendo o que estivesse ao seu alcance para que tudo isso acontecesse. Você foi incrível, Penny."
Eu sorri sem jeito, mas me permiti sentir mais um pouco daquela felicidade que parecia tornar aquela noite a mais feliz do mundo. E talvez ela fosse mesmo. Eu estava de pé diante de um sonho se tornando realidade, cercada por todas as pessoas que amava. Não me lembrava de me sentir tão radiante assim em muito tempo.
Naquele instante meu pai disse que ia trocar uma palavrinha com o rei e rapidamente sumiu da minha vista. Sam o seguiu, mas não sem antes me lançar um último olhar zombeteiro. Eu revirei os olhos para ele. Não importava que eu já estivesse namorando e agora ele fosse um amigo íntimo de Sebastian, ele continuava sendo o irmão mais velho irritante de sempre.
Em um acordo tácito, Sebastian e eu fomos até um dos cantos mais afastados do jardim, perto de uma fonte bonita que tínhamos erguido ali. Eu me sentei na beirada e Sebastian se colocou diante de mim.
"Será que toda essa gente não vai se importar de eu roubar você por uns instantes?", ele perguntou, olhando por cima do ombro. "Sabe, ninguém tirou os olhos de você essa noite, e nem é como se eu pudesse culpá-los. Você está linda."
Eu sorri para ele, sentindo meu coração derreter.
"Olha só quem fala. É sério que tenho de esperar mais umas horas antes de irmos para o meu apartamento?"
Sebastian riu e se inclinou para mim. Ele segurou minha mão e eu apertei a dele de leve, sentindo o calor de sua pele na minha.
Aquela era uma parte mais escura do jardim, mas as luzes alaranjadas das luminárias no muro clareavam parcialmente o rosto de Sebastian. Apesar daqueles últimos meses terem sido corridos e eu não ter passado tanto tempo com ele quanto gostaria, eu tinha a impressão de que conhecia cada traço do seu rosto, assim como conhecia seu coração. Conhecer tão intimamente uma pessoa assim – e ser conhecida por ela – era algo reconfortante. Durante aqueles meses, quando eu pensava que iria enlouquecer por uma coisa ou outra, eu sabia que podia correr para Sebastian e ele me ajudaria a colocar a cabeça no lugar de novo, assim como eu tentava fazer por ele.
Ele tinha estado ao meu lado quando contei para o meu pai sobre as minhas crises de claustrofobia. Tinha me levado às primeiras sessões com o psicólogo e me esperara do lado de fora até que eu tivesse terminado. Ele tinha segurado a minha mão em vários momentos difíceis, e eu não podia ser mais grata por aquilo.
Sebastian tinha se tornado uma das minhas partes preferidas da vida.
Meu telefone vibrou naquele instante e eu dei um pulinho de susto, fazendo Sebastian gargalhar. Por falta de bolsos, eu tinha enfiado o aparelho no busto do meu vestido.
"Você não tinha um lugar melhor?", ele perguntou enquanto enxugava os olhos que lacrimejavam por conta das risadas.
"Não", respondi. "Você não faz ideia do que é ser uma mulher."
"Ah, Penny, você não sabe como sou grato a Deus por isso."
Eu lhe dei um empurrãozinho e revirei os olhos, em seguida me voltando para a tela do celular.
Era uma mensagem de Giulia.
Giulia: Parabéns pela inauguração. Algumas fotos acabaram de ser divulgadas e o lugar não ficou nada mal.
Eu abri um sorrisinho e digitei uma resposta rápida.
Giulia e eu não nos falávamos muito e tínhamos nos encontrado só uma vez depois de toda a situação no verão passado. Mas aquilo não me incomodava nem um pouco. Trocávamos ligações de vez em quando e nos mantínhamos a par da vida uma da outra, e isso era mais do que eu poderia ter imaginado que teria quando descobri que ela era a minha irmã.
Até onde eu sabia, Giulia estava se virando bem sozinha e tinha me dito estar muito feliz morando na cidade vizinha. Ela se formaria no ensino médio naquele ano e tinha algumas viagens internacionais marcadas para o verão, onde participaria de desfiles de moda. Eu estava feliz por ela, e ao que parecia ela estava feliz por mim também.
"Era a Giulia?", ouvi Sebastian perguntar naquele instante, parecendo cauteloso.
"Sim. Ela queria me desejar os parabéns pela inauguração."
Sebastian assentiu e sorriu para mim. Eu sabia que Giulia ainda era um tópico delicado para ele, e talvez sempre seria. Ela o tinha machucado de muitas maneiras e vez ou outra eu ainda o pegava todo inseguro a respeito de uma porção de coisas, embora não tanto quanto antes. Quando aquelas crises começavam, nós dávamos um jeito de passar por cima. Não era para mim um grande esforço afirmar o quanto eu o amava e o quanto as eventuais dificuldades pelas quais ele – e consequentemente eu também – tinha de passar seriam logo deixadas para trás.
A vida não era um mar de rosas. Às vezes era muito difícil, como quando assistia Sebastian passar por dores terríveis e eu não podia fazer nada além de ficar ao seu lado, ou quando eu saia com ele por aí e ainda me pegava olhando por sobre o ombro assustada, sempre atenta ao ambiente ao meu redor e se alguém poderia estar espiando de algum canto escuro. Nós dois tínhamos as nossas dores e os nossos medos, mas também tínhamos um ao outro e aquilo era mais que o suficiente.
"Penny?", ele me chamou de repente. "Será que você não podia me acompanhar até o carro por um minuto?"
Eu olhei para ele desconfiada, mas nós dois escapulimos dos jardins e fomos até onde o carro de Sebastian estava estacionado. Ele abriu a porta do passageiro e pediu que eu pegasse o que estava esperando por mim no banco.
"O que você está aprontando?", eu disse, mas já estava rindo. Eu tinha vindo no carro do meu pai para a inauguração, por isso não fazia ideia do que Sebastian poderia estar escondendo ali.
Eu vi o que parecia ser um quadro coberto por um pano grande no banco do passageiro. Eu o peguei e o levei para fora.
"Estive trabalhando nele por um tempo, mas não está tão bom quanto pensei a princípio", Sebastian foi dizendo. "Acho que devia ter suavizado um pouco nas cores, mas mesmo assim..."
Antes que ele falasse mais alguma coisa, tirei o pano e me deparei com uma tela colorida em uma moldura de prata. Eu olhei para aquele desenho ultra realista e meu queixo caiu. Não conseguia formular nem meia palavra.
Era um desenho feito e colorido a mão que retratava o abrigo, pegando os jardins, a fonte, o caminho de pedra que levava até a porta de entrada e... Espera um pouco, aquela era eu em um cantinho? O desenho estava tão perfeito que eu tive de passar um dedo pela folha para me garantir que não era uma fotografia.
Eu me virei para Sebastian, que olhava de mim para o desenho como se tentasse vê-lo através dos meus olhos. "Você gostou?", ele teve a ousadia de perguntar.
"É sério que eu preciso responder?" Eu ri da expressão dele, um tanto envergonhada e feliz. "Vou pendurar na sala da casa, Seb. Essa é a coisa mais linda que alguém já me deu. Obrigada."
"Fico feliz que tenha gostado."
Eu coloquei o quadro de volta no banco do passageiro com cuidado e me sentei no colo dele. Meu vestido azul nos cobriu como um manto brilhante, reluzindo à luz da lua. Sebastian passou os braços ao redor da minha cintura e sorriu.
"Você é incrível, sabia?", sussurrei para ele. "Eu te amo."
"Eu te amo também. Você sabe disso."
Eu sabia. Sabia e não conseguia deixar de me sentir a garota mais sortuda do mundo por aquilo.
Então Sebastian me beijou e eu me perdi nele. No seu cheiro, no seu calor e nos seus braços em volta de mim. Acariciei seu rosto e por um segundo pensei que meu príncipe encantado não tinha vindo em um cavalo branco. Muito pelo contrário. Ele tinha se aproximado de mim em uma cadeira de rodas, em um momento de escuridão e incerteza, quando eu me encolhia junto a uma das paredes do castelo me sentindo terrivelmente perdida e sozinha. Ele tinha me estendido a mão, tinha dito que havia me encontrado e que tudo ficaria bem, e eu não podia amá-lo mais por isso.
No fim, ele estava certo. Tudo tinha ficado bem.
_____________________❤️___________________
Hoje eu não tenho nada para falar. Tô emocionada aqui kkkkkk
Vou soltar logo um capítulo de agradecimentos com alguns spoilers do livro da Margot, então fiquem ligados!!
Muito obrigada por tudo!!!!!
Foi um prazer trazer esse livro para vocês.
Sebastian e Penny mandam um beijo!
Com amor,
Ceci.
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