Capítulo Vinte e Três - Sebastian


O RESTAURANTE FICAVA BEM LONGE do pub onde a mãe de Penelope costumava trabalhar. Enquanto eu dirigia, Penny fez o melhor para ajeitar o cabelo e alinhar suas roupas coloridas. O dia estava quente, mas mesmo assim fechei meu casaco por completo. Sem chance de sair por aí como eu mesmo vestindo aquela camisa havaiana.

Enquanto dirigia em direção ao restaurante, não conseguia deixar de olhar para Penelope de tempos em tempos, para garantir que estava bem. O que aquela mulher tinha dito no pub sobre sua mãe tinha mexido muito com ela. Na verdade, eu acreditava que toda aquela situação estava abalando Penelope mais do que ela se dava conta.

Aquele desejo de encontrar a mãe... Eu o entendia completamente. Faria qualquer coisa para ver minha própria mãe de novo, nem que fosse por um segundo. Durante a vida, tinha ouvido todos ao meu redor dizerem como ela havia sido uma boa pessoa, quanto amava a mim e aos meus irmãos e como estaria orgulhosa de nós três. Mas Penelope? Ela não tinha tido nada daquilo. Ela não sabia quem a mãe era e ninguém nunca tinha lhe contado histórias a seu respeito. De alguma forma, pensei que talvez aquela situação fosse ainda pior do que perder alguém para a morte.

Esperava que o encontro com a avó de Penelope mais tarde trouxesse algum tipo de conforto para ela.

"Chegamos", disse em voz alta algum tempo depois, desacelerando o carro até que parássemos perto de um restaurante grande em um dos bairros nobres da cidade. "Conversei com uma moça da equipe do palácio e ela disse ter conseguido um lugar particular para a gente. De todo modo, o restaurante não parece estar muito cheio. Acho que vamos conseguir entrar sem sermos vistos."

Penelope olhou para o restaurante pela janela do carro e sorriu para mim de maneira brincalhona.

"Então você também tem um gosto para espaços luxuosos?"

"Até parece que você nunca pisou em um lugar do tipo."

"Talvez você esteja certo. Mas essa é a primeira, ou melhor, segunda vez, em que estou acompanhada de um príncipe. Isso dá muito mais glamour à coisa."

Soltei uma risada baixa e olhei para ela. Seus olhos brilhavam e as lágrimas que tinha deixado derramar minutos antes já tinham sido esquecidas. Me perguntei como ela fazia tudo parecer tão leve e simples mesmo depois de situações como aquela no pub.

Penelope e eu descemos do carro e entreguei a chave para um manobrista que já esperava por nós. Olhei ao redor e constatei que não havia ninguém da imprensa à vista. Tanto Penelope quanto eu soltamos um suspiro de alívio.

Eu já tinha ido até aquele restaurante algumas vezes com Margot e Steven, por isso sabia que não teria problemas com a cadeira de rodas. Um caminho ladrilhado com pedras brancas nos levou até uma rampa, que por sua vez conduzia até uma das grandes portas de vidro da entrada. Lá, uma mulher de cabelos escuros se apresentou como gerente do restaurante. Pelo jeito o pessoal do palácio tinha falado diretamente com ela, que estava acompanhada de dois seguranças enormes.

Mais discreto impossível.

Penelope não pareceu se importar nem um pouco enquanto éramos escoltados até uma sala a parte do restaurante. O lugar não estava mesmo muito cheio, o que era ótimo.

Depois que nos acomodamos, a gerente nos recomendou alguns pratos e nós fizemos nossos pedidos.

"Iremos trazer tudo em um instante", ela disse com um sorriso simpático, se curvando diante de mim levemente antes de sair e deixando Penelope e eu a sós.

"Acho que nunca vi um lustre tão grande em toda a minha vida", Penelope falou assim que ficamos sozinhos, olhando para o teto da sala com os olhos arregalados. "Não se parece com aquele que cai em O Fantasma da Ópera?"

"Eu não sei dizer. Nunca cheguei a assistir ao musical ou aos filmes." Penelope se virou para mim no mesmo instante, me olhando encabulada. "Mas já li o livro", acrescentei rápido. Ri quando ela soltou um suspiro de alívio dramático.

"É claro que leu." Penelope sorriu e bebeu um pouco da água que um garçom tinha servido em uma taça. "Me fala, além de ler, o que mais você gosta de fazer?"

"Bom, eu sempre gostei muito de história, então às vezes passo o tempo estudando a respeito. É, e eu sei que isso me faz parecer sem graça."

"Não acho que seja sem graça. Talvez um pouco entediante, mas..."

"Puxa, valeu."

Penelope riu e brincou com uma mecha do cabelo, me olhando com aqueles olhos azuis intensos.

"E o que mais? Você deve ter mais que um interesse. Todos têm."

"Eu também gosto de passar um tempo na Netflix, se é isso que você quer saber."

"Bom, agora estou aliviada. Você não é de todo esquisito."

"Você tem um jeito particular de ofender os outros, sabia? E eu não sei se gosto disso." Nós rimos e eu também bebi um pouco da minha água, pensando no que falaria a seguir. "Também desenho às vezes e... Bom, eu gostava de viajar um pouco pelo país. Steinorth é um lugar pequeno, mas tem muitas coisas bonitas para ver."

"Com isso eu concordo. Ainda quero viajar ao redor do país e visitar cada lugarzinho." Então ela olhou para mim de um jeito enigmático. "Mas como assim gostava? Agora que o colégio acabou, você devia estar aproveitando para sair por aí sem se preocupar em ter de entregar o dever de casa."

Eu girei minha taça na mão, sem olhar para ela.

"Não sei... Já que a minha família está toda em casa, prefiro aproveitar para ficar perto deles." Aquilo era verdade, mesmo sendo uma parte bem pequena dela. Mudei de assunto antes que Penny insistisse naquilo. "Você quer visitar algum lugar em específico antes de voltar para Lyria? Não quero me gabar, mas Crownworth é o melhor condado do país."

Penelope riu e revirou os olhos para mim, mas em seguida inclinou a cabeça e pareceu pensar um pouco sobre a minha pergunta.

"Faz muito tempo que eu não vejo o mar. Queria dar um pulinho no litoral antes de voltar para o interior do país."

"Tenho certeza que você pode arranjar isso. Arthenia não fica muito distante da costa."

"Tem razão. Mas, não sei, acho que não quero ir sozinha... Não tem muita graça sair por aí sem companhia."

"Margot ficaria feliz em ir junto."

"E você? Também ficaria?"

Eu olhei para ela, por um segundo hipnotizado pelos seus olhos azuis. Penelope me olhava séria, aguardando uma resposta verdadeira. Eu engoli em seco e com muito custo voltei os olhos para a tampa da mesa.

"Não sei se é uma boa ideia."

"Eu acho que é uma ótima ideia." Ela sorriu para mim daquela maneira doce e genuinamente alegre tão característica dela. "Seria divertido, você não acha?"

Por um segundo, eu pensei naquilo. Como seria ir com Penelope para mais longe dos arredores de Arthenia? Eu gostava de estar na companhia dela, e achava que ela também gostava de estar na minha, mas... Pensei em todos os detalhes que teria de arranjar para dar um simples passeio para mais longe de casa. Em como teria de escolher a dedo e tentar me preparar para só ir a lugares acessíveis para mim. Mesmo assim, pela minha experiência de estar a quase dez anos em uma cadeira de rodas, eu sabia que nada poderia ser tão meticulosamente planejado que eu não acabasse encontrando dificuldades e obstáculos no meio do caminho. Literalmente.

Eu sabia que conseguiria lidar com aquilo sozinho ou na companhia da minha família, aliás, já estava acostumado. Mas ter Penelope por perto, observando... Eu não queria aquilo.

Fui salvo de responder qualquer coisa quando o garçom chegou trazendo nossos pratos. Penelope desviou o olhar do meu e pareceu deixar o assunto de lado por um tempo, mas eu sabia que mais cedo ou mais tarde ela acabaria trazendo aquilo à tona de novo.

"Parece bom", Penny disse, respirando fundo o aroma que emanava da nossa comida quente. "Qual é sua comida preferida?"

"Pizza", respondi sem hesitar.

"Sua e de mais metade do mundo."

"E do que você gosta?"

"Pizza, é claro." Eu ergui uma sobrancelha para ela. "Ainda bem que fazemos parte da mesma metade do mundo, não acha? Eu não sei o que faria se você me dissesse que gosta de brócolis."

Eu sorri de lado para ela, decidindo não mencionar que eu gostava de brócolis.

Nós almoçamos devagar. Conversamos durante todo o tempo e a cada segundo eu me sentia mais impressionado com o fato de que conversar com Penelope e simplesmente estar com ela era algo tão bom. Seu riso, seu bom-humor e a maneira como tagarelava sem parar em todas as oportunidades me fazia sentir... bem.

Aquela não era a sensação mais simples e ao mesmo tempo mais prazerosa do mundo?

"Você está nervosa?", eu perguntei depois de um tempo, quando a sobremesa chegou. "Para encontrar a sua avó?"

Penelope mordeu o lábio inferior e pareceu pensar por um instante, olhando para a fatia de torta de chocolate em seu prato.

"Um pouco, eu acho", ela disse. "Sei lá. Não parece real, entende? Minha mente fica dizendo que não vou encontrá-la, que ela não está em casa e qualquer outra coisa do tipo, mas acho... Bom, acho que é só o medo falando. A verdade é que estou aterrorizada."

Eu franzi as sobrancelhas para ela.

"Do que você está com medo exatamente?"

"Bom..." Penny soltou um longo suspiro. "E se ela não quiser falar comigo? E se não gostar de mim? Eu não sei se..."

"Penelope, por que a sua avó, ou qualquer outra pessoa na verdade, não gostaria de você?", perguntei no mesmo instante ao perceber sua agitação e o medo genuíno em seus olhos. "É impossível."

Mesmo consternada, vi quando Penelope sorriu de leve para mim, baixando os olhos para a mesa.

"Isso não é verdade."

"É a maior verdade que eu já disse", afirmei sem pensar, mas não me arrependendo nem um pouco das palavras. "Escuta, vai dar tudo certo. Não acho que ela não vá querer conversar com você, mas se isso acontecer..." Eu hesitei por um segundo. "Então ela estará cometendo um erro enorme."

Penelope me olhou por um segundo. O medo em seus olhos lentamente dando lugar a algo melhor, algo que fez meu coração bater com mais força. Ela segurou minha mão por cima da mesa e a apertou levemente. Foi como se uma descarga elétrica subisse pelo meu braço e atingisse o meu corpo inteiro.

"Obrigada, Sebastian. Você sempre tem a coisa certa a dizer, não é?"

Me forcei a abrir um sorriso para ela. Tentei manter a expressão calma e tranquila, quando na verdade tudo em mim reagia de uma forma exagerada ao seu toque. O modo como Penelope me olhava, a rapidez com que nos tornávamos mais próximos...

Minha cabeça estava uma bagunça.

"Você me dá um minuto?", disse para ela, me afastando da mesa o mais rápido que conseguia sem parecer estranho. "Só preciso conversar com a gerente a respeito da reserva e..."

"Eu te espero aqui", ela disse tranquila.

"Ótimo."

E eu saí da sala como o diabo foge da cruz.

Quando me vi longe de Penelope, finalmente consegui respirar direito. Enquanto tentava recobrar um pouco de juízo, pensei em como toda aquela situação era ridícula.

Eu estava mesmo fugindo de uma garota?

Quantos anos eu tinha, afinal? Dez?

Ajeitei meus óculos nervosamente e decidi ir na direção dos banheiros para lavar o rosto. Talvez um pouco de água fria me fizesse agir de maneira racional.

Entrei no corredor curto perto da sala onde Penelope e eu tínhamos almoçado. As portas que levavam aos banheiros feminino e masculino daquela parte do restaurante ficavam lado a lado, separadas por um grande vaso de flores exóticas.

Eu estava me aproximando da porta do banheiro masculino quando uma mulher atravessou a porta ao lado. Ela mantinha a cabeça baixa, revirando alguma coisa na bolsa, mas no mesmo instante em que a vi foi como se o mundo sacudisse ao meu redor.

Eu reconheceria aqueles cabelos ruivos mesmo se ela estivesse do outro lado de um estágio de futebol lotado.

Giulia ergueu a cabeça e seus olhos se encontraram com os meus. Por dois segundos, ela pareceu surpresa por me ver ali parado diante dela, mas rapidamente a expressão se desfez, dando lugar a um olhar raivoso.

"Você", ela disse baixo, a voz parecendo ecoar pelo corredor vazio.

Eu não disse nada. Não conseguia. Meu coração tinha parado no peito e minha boca ficou seca quando a vi ali, a poucos metros de mim. Desejei que aquilo fosse só um pesadelo, desejei que estivesse apenas vendo coisas, mas é claro que não teria tanta sorte assim.

"Pensei que não te veria mais", ela disse então, fechando a bolsa que tinha ficado aberta quando me viu. Giulia me olhou de cima, o rosto bonito congelado em uma expressão de desprezo e raiva. "Não saiu do seu palácio por um tempo, Alteza. O que aconteceu? Ficou mal depois que terminei com você?"

Engoli em seco, me forçando a deixar o choque de lado. As palavras dela bateram com força, mas eu duvidava muito que pudessem provocar um estrago maior do que aquele que tinha causado na manhã em que descobri tudo. Decidi não dizer que, na verdade, tinha sido eu quem terminara com ela. Afinal, aquilo não importava nem um pouco. Se Giulia precisava se enganar para manter seu orgulho intacto, por mim tudo bem.

"Não quero discutir com você", eu disse, pois foi a melhor coisa em que consegui pensar. Ela, porém, soltou uma risada de desdém e revirou os olhos para mim.

Durante o tempo em que tínhamos ficado juntos, Giulia apenas soltava risos doces e carinhosos que fariam uma princesa de contos de fada morrer de inveja. Mais uma prova de como eu tinha me enganado a respeito dela mesmo nas coisas mais simples.

"Você é bom demais até para isso, não é, Sebastian? Sempre evitando uma briga, sempre agradando aos outros... Isso é tão irritante. Às vezes me pergunto como aguentei tanto tempo."

Como, mesmo...

"Pensei que não precisaria te ver de novo, mas olha como a vida funciona. É muito azar."

Ela me olhou daquele jeito que me fazia querer encolher, mas algo em mim se revoltou diante das palavras.

"Todo esse ódio que você carrega", comecei, agora sentindo a raiva aflorar em mim também, "tudo isso é porque eu não quis acreditar nas suas mentiras naquela manhã? Quando você chorou para mim dizendo que eu tinha ouvido errado o que estava falando no telefone?" Eu olhei bem para ela, para aquela garota que tinha sido o meu primeiro amor, que tinha me feito acreditar, mesmo que por pouco tempo, que alguém como eu poderia ter algo tão bom e verdadeiro como ela se mostrara a princípio. "Você se pergunta como aguentou fingir que gostava de mim por tanto tempo, eu me pergunto se se por acaso eu tivesse te dado ouvidos naquele dia, engolindo suas desculpas, você ainda não estaria fingindo para mim."

Eu vi o choque reluzir nos olhos dela. Talvez Giulia não esperasse que eu fosse revidar daquele jeito. Eu mesmo estava surpreso. Pouco tempo antes, eu teria dado o mundo para ela caso me pedisse, mas agora... A dor que ela tinha causado, que ainda causava, parecia tomar conta de cada parte de mim, bem mais forte agora que a estava vendo frente a frente desde o nosso término.

Giulia, por outro lado, só precisou de poucos segundos para se recuperar.

Ela afastou os cabelos do ombro e deu um passo na minha direção.

"Você quer saber a verdade, Sebastian? Muito bem." Ela semicerrou os olhos para mim, como se desejasse me fuzilar apenas pelo poder do olhar. "Não foi bom ter sido rejeitada pelo príncipe, eu admito, mas a verdade é que eu não teria aguentado mais muito tempo com você, fingindo a todo momento que me importava, que estava tão perdidamente apaixonada. Já não me importava o status, a riqueza... Era humilhação demais para suportar. As minhas amigas tentavam disfarçar a pena que sentiam de mim, me vendo recusar todos os convites para passeios e viagens de casal, porque eu sabia que você nunca poderia nos acompanhar em nada disso. Era ruim demais estar nos braços de Jordan por uma noite e depois ter de voltar para você. Era tão decepcionante! Ficar com você só foi bom por conta de todos os privilégios que vinham junto. E não, não me olhe desse jeito, como se eu fosse uma vadia nojenta. Acho que no fundo você sabe que qualquer pessoa que se aproxime demais tem intenções parecidas. Estar com você por você mesmo... Nunca valeria a pena."

Não vou deixar que isso entre dentro de mim, repeti repetidas vezes em pensamento enquanto ela falava. Não vou deixar.

Mas não importava. Por mais que eu lutasse, as palavras já tinham penetrado, criando raízes profundas.

Pensei em tudo o que tinha vivido com ela. Giulia tinha sido a minha primeira vez em tudo, tinha me feito tão feliz por um tempo... Por que era tão difícil aceitar que aquilo tinha sido mentira e simplesmente deixar o passado para trás?

Por que as palavras dela pesavam tanto, mesmo agora?

"Você está errada", eu disse, as palavras rasgando a minha garganta, mas finalmente saindo. Eu precisava dizer aquilo em voz alta. Precisava provar para mim mesmo que nada daquilo era verdade. "Nem todas as pessoas são tão mesquinhas e egoístas como você, Giulia. Eu sei que é difícil acreditar, mas..."

A risada dela me fez calar a boca. Eu segurava com tanta força os braços da minha cadeira de rodas que os nós dos meus dedos estavam brancos. Eu só queria sair dali e fingir que nunca a tinha encontrado de novo.

"Ah, Sebastian, eu acho que entendi", ela disse então, me olhando com pena. Seu sorriso perfeito continuava estampado no rosto. "Eu vi as notícias há alguns dias, sobre você e uma garota. Sabe, eu vi uma foto dela. Não é irônico que tenha escolhido uma versão parecida e ao mesmo tempo tão inferior a mim?"

"Você não sabe o que está falando", eu disse, a raiva amortecendo por um tempo a dor dentro de mim. Se ela quisesse me humilhar e pisar em mim, tudo bem, eu poderia lidar com aquilo, mas Penelope não tinha nada a ver com aquela história. Não me importava que ela não estivesse ouvindo.

"Ah, eu sei sim", ela rebateu, se aproximando mais. Seu perfume cítrico me invadiu e foi como voltar no tempo, mas a sensação durou apenas um segundo. "Você ainda está se enganando não é, Sebastian? Por favor! Se os rumores estiverem certos e você estiver mesmo com ela, quanto tempo acha que vai demorar para que a garota perceba o que significa ficar ao seu lado? Eu sei como é. Fiquei com você por meses e tive de abrir mão de muita coisa por sua causa."

De repente, não me importou que Penelope e eu não tivéssemos nada além de amizade. As palavras de Giulia fizeram com que imagens rodopiassem na minha cabeça, imagens onde Penelope estava nos meus braços como na noite anterior, sussurrando coisas a respeito de si mesma e me fazendo contar coisas a respeito de mim também. O cenário era bonito e algo em mim se manifestou, desejando aquilo, mas as palavras de Giulia fizeram com que as imagens mudassem para algo mais amargo e doloroso quando percebi que, pelo menos em parte, ela estava certa.

Tinha me enganado por tempo demais achando que teria algo parecido com o que Steven tinha com Layla, ou o que Alexia tinha com Lily... A minha realidade não era como a deles. Ela era bem diferente.

"Estou vendo que você entendeu...", ela sussurrou para mim, parecendo satisfeita consigo mesma.

Eu afastei as imagens da minha cabeça e olhei para Giulia, o nó na minha garganta quase me impedindo de falar.

"Penelope não é desse jeito."

Giulia se endireitou e balançou a cabeça para mim, soltando um suspiro pesado. Ela começou a se afastar no corredor e eu a acompanhei com o olhar.

"Talvez não agora. Mas por quanto tempo você acha que vai durar?"

Ela já estava se afastando, mas a revolta cresceu em mim de um modo que não consegui segurá-la.

"O que aconteceu com você?", eu disse, minha voz em um tom mais alto do que eu costumava usar. "O que aconteceu na sua vida, Giulia, para que você se divertisse tanto me enganando por tanto tempo? O que aconteceu para que fosse tão cruel?"

Ela parou. Por um tempo, apenas encarei suas costas. Se pudesse, me levantaria e a viraria para mim, forçando-a a me encarar, mas nem aquilo eu podia fazer.

Então ela se virou, só um pouco, o suficiente para me olhar por cima do ombro.

O que vi me deixou chocado demais para falar qualquer outra coisa. Ela ainda estava com raiva, parecia querer me ferir mais um pouco, mas seus ombros também tinham se curvado, uma sombra diferente e escura cruzando seus olhos.

"Você não sabe nada sobre mim, Sebastian."

Então ela se foi.

No mesmo instante em que Giulia desapareceu da minha vista, virando à direita, Penelope surgiu vinda da esquerda. Ela parou na entrada do corredor e olhou para frente, provavelmente vendo uma garota ruiva como ela se afastar depressa.

No mesmo instante ela veio até mim, apressada.

Eu encarei o carpete. Meu encontro com Giulia se repetia de novo e de novo na minha cabeça. Pensei em tudo o que ela tinha dito, no que tinha falado a respeito de Penelope e como aquilo inconscientemente me fez perceber que eu desejava uma coisa que não poderia ter.

Não conseguia nem olhar para ela. Não agora.

"Ah, Sebastian...", ouvi a voz de Penelope dizer quando ela se aproximou. "Eu posso estar ficando maluca, mas aquela que acabou de sair..."

"É ela", disse de uma vez, para acabar logo com aquilo.

Penelope não disse nada, mas mesmo sem vê-la soube que estava preocupada.

"Você está bem?", ela perguntou baixinho.

Finalmente ergui os olhos para Penelope. Ali naquele corredor repleto de cores neutras, Penny parecia uma explosão de cor e calor. Olhá-la e ver sua expressão consternada para mim foi como a última gota em um balde prestes a transbordar.

Eu me virei na direção do banheiro masculino. Minhas mãos tremiam com a força com que segurava na cadeira.

"Estou bem. Não foi um encontro agradável, mas duvido que qualquer um do tipo seja." Me forcei a abrir um sorriso amargo. "Você me dá um minuto?"

"Claro."

Eu entrei no banheiro e fugi de sua vista como o covarde que era.

O banheiro estava vazio e vi meu reflexo no espelho sobre as pias. Desviei o olhar depressa e fechei os olhos, vendo o rosto preocupado de Penelope com perfeição, como se estivesse gravado a ferro na minha mente.

Então as palavras de Giulia ecoaram, de novo e de novo. Respirei fundo e sufoquei o soluço que ameaçava subir pela minha garganta.

Talvez eu fosse fraco por pensar aquilo, talvez não passasse de um garoto idiota que não sabia lidar com um coração partido. Mas, naquele instante, enquanto Penelope me aguardava do lado de fora e as palavras de Giulia circulavam na minha cabeça, assim como a lembrança específica do dia em que acordei no hospital incapaz de me levantar e correr assustado para os braços do meu pai na minha memória, eu me senti à beira de um precipício. 

_______________________❤️_________________

Oii gente! 

Eu sei que esse capítulo foi muito difícil. Ontem mesmo postei no meu quadro de mensagens o quanto terminei o capítulo com o coração apertado. Sei que esse encontro foi doloroso, foi para mim também.

Mas o que vocês acharam? O que esperam que vai acontecer nos próximos capítulos?

Estamos caminhando para o "quase final" da história, que também vai ser a minha parte favorita, que antes mesmo de começar a escrever eu já tinha ela completamente formada na minha cabeça. No final do próximo capítulo vocês já vão entender mais ou menos o que vai acontecer e acho que vão entender porque essa é minha parte favorita.

Estou muito empolgada!

Espero que estejam bem aí do outro lado da telinha. Se cuidem.

 Um milhão de beijos e até o próximo capítulo!

Ceci.

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