Capítulo Vinte e Oito - Penelope


  ACORDEI COM O SOL DA manhã batendo no meu rosto. Ainda de olhos fechados, me espreguicei e senti meu braço bater em alguma coisa.

"Ai!"

Rolei para o lado e me surpreendi ao encontrar Sebastian esfregando o nariz que eu devia ter acertado sem querer.

"Desculpe", murmurei, mas então franzi as sobrancelhas e olhei para o aposento ao meu redor. Eu não estava no meu quarto.

"Eu pensei que acordar ao seu lado fosse mais tranquilo", ouvi Sebastian dizer. "Mas é claro que isso seria esperar demais de Penelope Beverley."

Eu ergui os olhos para ele e percebi que sorria para mim. Seus cabelos castanhos eram uma bagunça só, sua camisa de dormir estava amarrotada e ele estava com a maior cara de sono do mundo. Por um segundo só fiquei parada pensando no quanto ele era bonito.

As imagens da noite anterior aos poucos voltaram à minha mente. Depois que Sebastian e eu tínhamos chegado na casa, comido qualquer coisa e tomado banho, nos encontramos de novo para conversar e... Bom, beijar. Sim, eu tinha quase certeza que mais trocamos beijos do que palavras na outra noite, assim como sabia que em certo momento eu devia ter adormecido ao lado dele sem nem perceber, depois de tantas horas conversando sobre nós, sobre a vida e qualquer outra coisa que surgisse na nossa cabeça.

"Me mexi muito durante a noite?", perguntei, me erguendo nos travesseiros macios e tentando domar meu cabelo que geralmente acordava como o da Anna naquela cena de Frozen.

"Não muito", Sebastian falou, tateando a mesinha de cabeceira e encontrando seus óculos. "Só tentou quebrar meu nariz umas três vezes."

Soltei uma risada e puxei as cobertas para mais perto do corpo, pensando em como eu tinha me metido em uma situação daquelas.

Eu tinha acabado de acordar ao lado do príncipe. Ao lado de Sebastian! Isso depois de termos passados quase uma noite inteira nos braços um do outro.

Aquilo era loucura. Se bem que, parando para pensar, parecia a melhor loucura que eu já tinha cometido na vida.

"Penny", ele me chamou então, também se erguendo dos travesseiros e olhando para mim. "O que aconteceu entre a gente ontem... Eu queria que você soubesse que eu não me arrependo."

Meu coração disparou ao ouvir as palavras.

"Eu também não", respondi no mesmo instante.

Percebi quando Sebastian soltou a respiração que parecia estar prendendo. Vi seus ombros relaxarem e tive de me segurar para não sorrir.

Era verdade que eu estava confusa a respeito do que sentia, a respeito daquele desejo e sentimento avassalador que despertou em mim no instante em que beijei Sebastian. Não sabia muito bem como agir diante da situação, nem o que fazer a seguir, mas estava certa de que não me arrependia nem um pouco.

Senti meu corpo todo se arrepiar quando a mão de Sebastian deslizou pelo meu braço. Sorri ao me dar conta de que estava gostando muito daquela outra parte dele, menos tímida e receosa e mais confiante. Mas eu ainda preferiria me jogar de novo de um avião do que deixá-lo se aproximar demais enquanto eu ainda tinha acabado de acordar.

Pulei da cama e soltei uma risada ao ouvir um ruído de frustração vindo de Sebastian.

"Te encontro durante o café da manhã, Alteza", disse.

"Você ainda vai me matar um dia desses, sabia?"

"Se isso acontecer, juro que não vai ser intencional."

Então saí, só tendo tempo de vê-lo se jogar de volta no colchão antes de fechar a porta do quarto.

Sebastian e eu estávamos passeando pelo jardim da propriedade depois do café da manhã quando o peguei me olhando daquele jeito que fazia meu coração disparar e minhas mãos suarem.

"O que foi?", perguntei quando paramos diante do pequeno lago perto da casa, que refletia um céu muito azul e sem nuvens. Sebastian desviou os olhos no mesmo instante.

"Nada", ele respondeu, mas completou em seguida: "Só estava imaginando como você ficaria em um desenho..."

Ótimo, agora eu também estava corando...

"Você nunca me mostrou os seus desenhos", eu disse, tentando fazer com que o meu coração parasse de ser tão idiota, derretendo por qualquer coisinha. "Trouxe algum para cá?"

"Só uns três em que estava trabalhando quando saímos de Arthenia."

"Pode me mostrar?"

"Ainda não estão prontos", ele objetou.

"Não seja tão perfeccionista. Sei que estão incríveis."

Sebastian sorriu.

"Está bem. Eu só vou busca..."

"Deixa que eu vou", me ofereci no mesmo instante, ansiosa. "Onde você guardou?"

Sebastian me contou onde encontrar os desenhos em uma parte de seu armário e eu disparei em direção a casa. Quando cheguei até seu quarto, ainda não tinha conseguido parar de sorrir.

Tudo o que tinha acontecido no dia anterior se recusava a sair da minha cabeça, e mais parecia que a cada segundo que eu passava com Sebastian mais eu me sentia bem.

Enquanto revirava as gavetas em busca dos desenhos, pensei no que ele tinha me falado momentos antes de eu beijá-lo. Sebastian tinha dito que sentia algo por mim, mas há quanto tempo? Será que só tinha percebido aquilo no dia anterior, quando estávamos tão próximos um do outro?

E eu? O tinha beijado da primeira vez por impulso, mas de alguma forma eu sabia que o sentimento que tinha me feito fazer aquilo já estava guardado dentro de mim há algum tempo, enterrado cada vez mais fundo sempre que eu o afastava inconscientemente para um lado.

Eu nunca tinha me sentindo daquele jeito. Nada se comparava às emoções que Sebastian despertava em mim quando estava ao meu lado. Se aquilo era se apaixonar de verdade, eu sabia que todas as quedinhas que tivera por garotos ao longo da vida não passaram de meros reflexos daquele sentimento muito mais forte e verdadeiro.

"Achei!", disse em volta quando finalmente encontrei os desenhos de Sebastian no fundo da gaveta.

Sem conseguir resistir, me sentei na beirada da cama e passei os olhos pelo primeiro desenho. Era um esboço do castelo visto de cima, mostrando a colina repleta de árvores e a construção grande e suntuosa do palácio. Fiquei de boca aberta.

Eu não fazia ideia de que ele era tão bom! E olha que aquele desenho nem estava pronto.

Passei para a próxima folha e meu coração disparou ao reconhecer a paisagem. Era o desenho daquele quiosque onde Sebastian e eu tínhamos ido no nosso primeiro passeio juntos, depois de jantar naquele restaurante longe da cidade. Fiquei abismada ao ver como ele tinha capturado o céu noturno, cheio de estrelas brilhantes e constelações perfeitas.

Eu já estava passando para o próximo quando outra folha pareceu se descolar da do desenho do quiosque. A vi deslizar pelo ar e chegar ao chão. Quando me abaixei para pegá-la, percebi olhos azuis familiares me encarando do papel.

Peguei a folha e me ergui, observando as feições de Giulia retratadas com perfeição. No desenho ela sorria e tinha um olhar caloroso, muito diferente daquele em seu rosto quando a conheci no restaurante de Arthenia.

O desenho não tinha data, mas me perguntei por que Sebastian o tinha trazido do castelo.

"Acho que você não vai conseguir encontrar os papéis na bagunça do guarda-roupa", ouvi a voz de Sebastian se aproximar no corredor, me fazendo dar um pulo no lugar. Não tive tempo de fazer nada antes que ele aparecesse no quarto com um sorriso tranquilo no rosto.

Ele parou onde estava ao me ver de pé no meio do quarto, com o desenho de Giulia nas mãos.

Engoli em seco e tentei me recompor, como se nada tivesse acontecido, mas Sebastian já tinha voltado a se aproximar.

"Onde você encontrou isso?", ele perguntou, parecendo atordoado.

"Estava junto com seus desenhos", disse, sem saber o motivo pelo qual estava me sentindo tão mal. "Desculpe, não quis xeretar nem nada..."

Sebastian tirou o desenho das minhas mãos com delicadeza e o olhou por um momento.

"Eu não trouxe isso de Arthenia, Penny", ele começou a dizer, mas eu só sacudi a cabeça. Não queria que ele se sentisse na obrigação de me dar explicações. "Não, é sério. Devia estar colado junto a outro e..."

"Está tudo bem", eu disse, me forçando a abrir um sorriso. "Você não precisa explicar nada."

"Eu sei disso, mas quero mesmo assim."

Sebastian suspirou e jogou o desenho em cima da cama, em seguida ergueu os olhos para mim.

"Eu costumava fazer muitos desenhos dela, mesmo depois que terminamos. Não sei muito bem porque continuava colocando o rosto de Giulia no papel como eu costumava me lembrar dele, bondoso e gentil, mas...", ele soltou um suspiro pesado, "mas já faz algum tempo que parei de desenhá-la. Acho que percebi que aquilo não estava fazendo bem nenhum. Eu só estava mantendo a imagem de uma pessoa que eu pensava conhecer, mas que agora não significa mais nada para mim."

Eu assenti devagar, sentando na cama e puxando os joelhos para junto do corpo.

"Acho que entendo bem como é isso", disse baixinho, sem olhar para ele. "É difícil deixar com que uma pessoa vá embora, não é? Também é difícil esquecer tudo o que ela causou."

Sebastian não disse nada. Eu mesma estava mergulhada nos meus próprios pensamentos, pensamentos esses que só pareciam me puxar para mais fundo em um mar de ressentimentos e tristeza.

Então ouvi o ruído familiar da cadeira de rodas de Sebastian se aproximando. Comigo sentada na cama, os olhos dele ficavam na altura dos meus, tornando difícil olhar para qualquer outro lugar.

"Você pode me contar se quiser", ele disse em um tom de voz calmo e seguro. "O que aconteceu entre você e Damien."

Ouvir o nome dele foi como ter um punhal cravado bem no coração. No mesmo instante meu corpo inteiro se arrepiou e eu senti como se todo o calor do quarto fosse sugado.

"Não é uma história grande", eu disse, sem nem me dar conta de como tinha conseguido pronunciar as palavras. "E também não é bonita. É só mais um caso de uma garota que se envolveu com a pessoa errada sem perceber. Histórias do tipo são comuns e geralmente não terminam bem."

"Você pode me contar o que quiser. E no tempo que quiser também."

Eu assenti e olhei para o chão do quarto enquanto imagens difusas surgiam na minha mente. Antes que me desse conta, já estava dizendo tudo em voz alta.

"Conheci Damien através de Ivy, uma das minhas ex-colegas de sala. Ele é filho de uma empresária em Lyria e essa minha amiga conhecia a família dele há bastante tempo. Nós nos encontramos pela primeira vez em uma festa na casa dela e Damien acabou me levando embora quando já era tarde. Nós trocamos números de telefone." Eu encolhi meus ombros, sentindo um nó se formar na minha garganta quando as cenas de meses antes invadiram com tudo a minha mente. "Sabe, ele era bastante insistente. Me mandava mensagens sem parar e acabou me convencendo a sair com ele. Depois daquele segundo encontro, pensei que Damien podia mesmo ser um cara legal e que não faria mal ficar mais próxima dele. Em um mês nós já saíamos muito juntos e ele parecia mover céus e terras para me conquistar. Mandava flores, chocolates, escrevia poemas... Talvez eu estivesse mesmo um pouco caidinha por ele.

"Em um dia no colégio, pouco tempo depois de termos nos beijado pela primeira vez, ele surgiu no meio do almoço com flores e a banda da escola tocando uma música romântica. Ele subiu em uma das mesas do refeitório e me pediu em namoro bem ali, no meio de toda aquela gente. Eu... Eu não consegui dizer não. Sei que é idiota, mas o modo ele como me olhava, como todos estavam me olhando em expectativa..." Eu engoli em seco e fechei os olhos por um momento. "Aliás, ele era mesmo alguém legal. Talvez o garoto mais simpático que eu já tivesse conhecido. Quando percebi, já tinha tido sim e ele começou a espalhar aos sete ventos que estávamos juntos oficialmente. Sei lá, olhando para trás, sabendo o que sei agora, às vezes me pergunto se ele não estava me manipulando o tempo topo. Quando fez aquele pedido de namoro em uma situação ridícula com tanta gente ao redor, era mesmo difícil que eu fizesse qualquer outra coisa que não fosse aceitar ficar com ele."

"Eu não duvido que seja mesmo isso", Sebastian falou, e quando olhei para ele percebi que suas mãos estavam cerradas em punhos. "Ele só queria garantir que você não fosse recusar."

"É o que eu acho." Suspirei e afastei uma mecha do meu cabelo dos olhos. "Depois disso nós ficamos bem por algum tempo. Eu conheci melhor a família dele e ele a minha... Eu achei que daria certo entre a gente. Achei que com o tempo talvez eu conseguisse gostar dele tanto quanto ele parecia gostar de mim." Soltei uma risadinha sem humor e fechei os olhos com força. "As coisas não ficaram estranhas de um dia para o outro. Foi devagar de um modo que demorei a perceber. Ele me ligava com frequência porque queria saber onde eu estava, com quem e o que estava fazendo. Ele fazia todas essas perguntas de uma maneira gentil e quando eu dizia para ele relaxar, Damien respondia que só se preocupava muito comigo. Essa preocupação também estava presente quando eu saía com as minhas amigas, ou mesmo com meu irmão e com o meu pai. Certas vezes, eu olhava pela janela do meu quarto e via seu carro do outro lado da rua. Quando eu mandava uma mensagem perguntando o que ele estava fazendo, Damien só dizia que eu estava ficando maluca, vendo coisas. O tempo em que eu abaixava os olhos para o celular, era o tempo que ele gastava para dar partida no carro e sumir de vista. Por um tempo eu acreditei mesmo que estava enlouquecendo.

"Eu estava sempre com medo, ansiosa, me afastei de quase todo mundo tirando a minha família, e mesmo com eles eu me sentia distante, em um universo onde só existiam Damien e eu. Em uma noite o meu celular descarregou e eu não atendi quando ele me ligou para desejar boa noite, como sempre fazia. No outro dia, quando acordei, Damien tinha praticamente invadido minha casa exigindo saber onde eu estava e o que tinha acontecido. Eu fiquei tão assustada que não conseguia dizer nada, mas Graças a Deus Sam ainda estava em casa e ficou do meu lado. Acho que foi a presença dele no cômodo ao lado quando pedi para conversar com Damien a sós que me deu forças para terminar tudo. Ele tentou reverter a situação, claro, mas tudo aquilo estava me deixando doente e eu não aguentava mais um segundo na presença dele. Quando ele finalmente foi embora, foi como se um peso enorme tivesse sido tirado das minhas costas."

Eu ergui os olhos para Sebastian. Ele parecia tão perturbado quanto eu, se é que aquilo era possível. A raiva que antes eu tinha visto em seu rosto tinha dado lugar à amargura.

"Meu alívio durou pouco, como você já deve imaginar", continuei. "Damien ficou sumido uma semana e embora eu estivesse esgotada de todas as formas possíveis, estava começando a me sentir feliz de novo. Pouco tempo depois, ele voltou a ligar e mandar mensagens. Ele queria me ver, queria que reatássemos o namoro de qualquer jeito, dizia que me amava e que nada tinha acabado de verdade. No início eu até tentei conversar e explicar que não daria certo, mas depois desisti e troquei de número. No outro dia, quando estava saindo do colégio, o vi encostado em seu carro, olhando para o pátio como se estivesse procurando alguém. Ele me viu e foi atrás de mim. Por sorte, meu pai tinha ido me buscar naquele dia e quando Damien viu o carro dele me deixou em paz.

"Só que nada disso parou. Ele conseguiu meu número de novo, começou a mandar presentes anônimos e em todo lugar que eu ia ele estava me espreitando atrás de um poste de luz ou por cima de um jornal. Eu parei de sair aos poucos. Pedi para o motorista de casa me levar e buscar do colégio todos os dias. Eu tinha pavor até de olhar pelas janelas, porque tinha medo de encontrá-lo do outro lado dos portões." Eu enxuguei o rosto quando senti lágrimas molharem minhas bochechas. Eu não queria chorar. Não mais do que já tinha chorado durante todos aqueles meses. "Quando meu pai me falou sobre o convite do rei para vir até Arthenia... Eu achei que essa seria a minha salvação. É claro que a imprensa divulgaria em massa a notícia da minha estadia no palácio, mas eu não pensei que Damien sairia de Lyria para me perseguir aqui! Alguns dias depois que eu cheguei ao castelo, ele me mandou uma foto dele mesmo em um parque de diversões em Arthenia, também enviou um bilhete. Por isso fiquei naquele estado quando esbarrei com um cara na rua naquele dia em que visitamos o Empire Music Club. Eu sabia que Damien estava na cidade e meus nervos já estavam me deixando completamente maluca. Pensei que teria um pouco de liberdade aqui, que poderia voltar a sair de casa e ficar ao ar livre, mas ele decidiu me seguir de novo. Que chance eu tenho de ir para qualquer outro lugar e esperar que ele me esqueça de uma vez?"

Parei de falar. Minha garganta já estava arranhando e me vi afogada em lágrimas de novo, por mais que tentasse reprimi-las. Dizer tudo aquilo em voz alta era, de certa forma, libertador, mas só tornava a situação ainda mais real e assustadora.

Será que um dia eu teria a minha vida de volta? Uma vida sem medo de ser perseguida a cada esquina?

Vi quando Sebastian se aproximou mais da cama e começou a sair da cadeira, para se sentar ao meu lado. Me adiantei para ajudá-lo, mas ele só balançou a cabeça e disse que estava tudo bem.

"Você nunca contou nada disso para ninguém?", ele perguntou depois de se colocar ao meu lado, os olhos castanhos fixos nos meus.

Eu balancei a cabeça.

"Não queria preocupar o meu pai, ou Sam. Pensei que Damien acabaria me deixando em paz. Quando o convite do seu pai chegou... Bom, eu pensei que toda aquela história ficaria para trás de uma vez por todas."

Sebastian ficou em silêncio por muito tempo. Ele ajeitou os óculos e respirou fundo, como se estivesse analisando um problema matemático muito complicado.

"Você sabe o que tem de fazer, Penny", ele disse de repente, voltando-se para mim. "Você tem que denunciar esse cara. Colocar ele na cadeia."

"Damien faz parte de uma das famílias mais ricas e importantes de Luckston, Sebastian", eu disse sem esperança. "Mesmo se eu fizesse isso, você acha que adiantaria? Só causaria um escândalo gigantesco. Damien se faria de vítima, como sempre fez quando eu o confrontava a respeito de suas atitudes obsessivas."

"Penelope, a sua família também é importante, a minha então..." Ele segurou minha mão. "Eu juro que faço o que for preciso para te ajudar. Você não pode deixar que esse desgraçado acabe com a sua vida desse jeito."

Tentei reprimir um soluço, mas foi em vão. Só percebi que meu corpo inteiro tremia quando Sebastian me puxou para mais perto.

"Você sabe o que isso causaria", eu disse baixinho, me sentindo pequena por sentir tanto medo. "Se me ajudasse nisso, seu nome também estaria envolvido em toda essa bagunça."

"Você acha mesmo que eu me importo com isso?"

"E o meu pai... O que eu vou dizer para ele? Como ele vai..."

"Penelope", Sebastian disse em um tom de voz firme, me afastando um pouco para que pudesse me olhar nos olhos. "Você não pode proteger a sua família de tudo. Não pode se colocar tanto em segundo plano com medo do que os seus problemas causariam a eles. Não vê o quanto isso é mil vezes pior? O quanto isso te mata aos poucos? Você esconde a claustrofobia porque não quer perturbar seu pai, também está com medo de contar a ele sobre sua vontade de conhecer a mãe porque sabe que esse é um tópico sensível para ele, e agora isso. Acha mesmo que seu pai ficaria feliz em saber o quanto você se machuca só para que ele tenha a falsa sensação de que você está feliz e bem?"

Não respondi nada. Mesmo se quisesse, não conseguiria.

A verdade me acertou como um murro na cara, me deixando um pouco desnorteada.

Sebastian estava certo. É claro que estava. Durante toda a minha vida eu tinha escondido muito do que sentia por não querer trazer problemas para a vida do meu pai. Esse era o meu maior medo. Ser um problema. Ser um peso para qualquer pessoa.

E talvez... Bom, talvez aquele medo sempre estivera comigo. Desde que tive idade o suficiente para entender que a minha mãe estava viva, vivendo em algum lugar, mas que nunca tinha se dado ao trabalho de me procurar. Talvez porque eu também tivesse sido um peso para ela.

Sebastian deve ter percebido que eu estava prestes a desabar de novo, porque me puxou para um abraço apertado. Escondi o rosto em seu peito e por um segundo quis que o mundo ao redor desaparecesse e restasse apenas nós dois.

"Shhhhh vai ficar tudo bem, Penny", o ouvi sussurrar para mim enquanto passava uma mão pelas minhas costas. "A gente vai voltar para Arthenia e vamos resolver isso. Meu pai vai ajudar, é claro. Você não precisa contar a história toda para ele se não quiser, mas pode ter certeza que bem rápido aquele filho da..."

Eu me afastei de Sebastian um pouquinho, um meio sorriso se formando no meu rosto sem que eu pudesse impedir.

"Você estava prestes a xingar?"

Sebastian soltou um suspiro e sorriu também, acariciando meu rosto de leve.

"Esse Damien... Ele conseguiu despertar o pior que há em mim. Só de pensar no que ele fez com você..."

"Vai ficar tudo bem", foi a minha vez de dizer, entrelaçando os braços ao redor do pescoço de Sebastian. "Quer dizer, eu sei que vai ser difícil, sei que explicar tudo para a minha família e ter de lidar com o que a imprensa vai dizer vai ser complicado, mas parando para pensar, acho que nada é pior do que continuar vivendo com o medo constante de Damien atrás de mim." Então eu fechei meus olhos, a intensidade do olhar de Sebastian me fazendo perder o fôlego. "Além do mais, você vai estar comigo, não vai?"

Não gostava de me sentir vulnerável daquele jeito, mas seja como for, eu já estava mesmo entregando meu coração de bandeja para Sebastian. Não tinha mais como voltar atrás.

Eu não queria voltar atrás.

"Vou." Foi a resposta rouca dele, antes que me beijasse.

Em seus braços, não poderia me sentir mais segura.

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Oii gente! 

Desculpe pela demora em postar, mas é que tive de planejar bem os próximos passos do livro antes de voltar a escrever e postar aqui para vocês.

Mas então, o que acharam do capítulo??? Estão com o coração na mão como eu?

Sei que o capítulo de hoje foi intenso e também foi bem difícil de escrever. Durante a escrita eu aprendi muito sobre a Penny e foi muito engraçado como ao longo dos parágrafos os sentimentos dela ficaram cada vez mais claros para mim. Para ser sincera, eu não tinha noção do quanto as emoções dela eram complexas e tão reais até escrever esse capítulo.

 A escrita me surpreende demais, e aproveitando esse gancho vou aproveitar para convidar você escritor a se juntar ao meu grupo de escrita no Telegram hahahaha

Agora sério, criei um grupo lá no Telegram onde quem está começando a escrever agora ou quem já faz isso há muito tempo vai poder entrar e fazer sprints de escrita com frequência e também receber diquinhas semanais que vou estar postando por lá.

Se você quiser entrar, é só me chamar no inbox que eu mando o link ! <3

Por hoje é isso gente! Espero voltar no domingo com um capítulo novinho para vocês.

Mil beijos,

Ceci.

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