Capítulo Vinte e Nove - Sebastian

OS DIAS NO LITORAL FORAM para mim como uma prévia do paraíso. Eu não sabia o quanto precisava de outros ares que não fossem os da minha casa até estar ali com Penelope passeando pela costa, dirigindo sem rumo ou simplesmente assistindo ao pôr do sol todos os dias perto do mar.

A verdade é que eu não queria ir embora tão cedo.

Enquanto estivéssemos ali, Penny e eu podíamos ficar juntos sem se preocupar. Não havia ninguém por perto, portanto também não havia ninguém a quem dar explicações. Eu sabia que quando voltássemos para Arthenia aquilo iria mudar, então tentava pensar no dia da partida o mínimo possível.

Apesar dos meus esforços para curtir cada segundo da viagem como se fossem infinitos, atrasar o futuro era uma tarefa impossível. Depois de um café da manhã reforçado cinco dias depois de termos chegado até ali, Penny e eu já estávamos prontos para partir. Quando entramos no carro, ela passou um dos braços pelos meus ombros e brincou com os meus cabelos de maneira distraída.

Desde o dia em que nos beijamos depois do salto de paraquedas, vínhamos ficando cada vez mais próximos. Era difícil ficar longe dela. Era difícil até manter as mãos longe dela por muito tempo, e eu não conseguia deixar de me surpreender com o fato de que Penelope parecia se sentir do mesmo jeito.

Como aquilo tinha acontecido? Será que ela tinha dado sinais que eu não havia percebido? Será que se interessava por mim tanto quanto eu me interessava por ela?

E, o maior importante, por quanto tempo aquilo iria durar?

Nós ainda não tínhamos conversado sobre o que estava acontecendo entre a gente, nem no que aquilo poderia dar. Durante aqueles dias no litoral, tanto Penelope quanto eu parecíamos querer só curtir o momento, e por mim tudo bem. Mas agora, voltando para casa, eu sabia que mais cedo ou mais tarde teríamos que resolver tudo entre a gente.

Ainda estava tentando descobrir o motivo pelo qual pensar naquela conversa inevitável me deixava tão apreensivo...

"Você está mais bronzeado, sabia?", Penny disse enquanto eu dirigia pela rodovia. "Essa corzinha caiu bem em você."

"E olha que foi você quem passou quase o dia inteiro no mar ontem", comentei com um sorriso. "Suas bochechas ainda estão vermelhas."

"Sabia que devia ter passado mais protetor solar!"

Conforme os quilômetros que nos separavam de Arthenia foram diminuindo, eu me senti cada vez mais inquieto. Tudo o que Penelope tinha me contado naquele dia sobre Damien não saia da minha cabeça de jeito nenhum, chegando ao ponto de me deixar acordado até mais tarde durante a noite.

Pensar no que aquele cara tinha feito com ela, em tudo o que Penny tinha passado e ainda estava passando... Me deixava louco. Queria protegê-la de tudo aquilo mais do que qualquer coisa, tanto quanto queria acabar com a vida da pessoa que a estava fazendo sofrer tanto.

Mas eu sabia que não podia resolver aquela situação sozinho. Penelope teria de tomar a iniciativa.

"O que foi?", a ouvi perguntar de repente. "Você está com uma cara estranha..."

Pensei em mentir para não perturbá-la com aquilo, mas não queria esconder meus pensamentos de Penelope.

"Damien", respondi, apenas o som do nome dele já despertando a raiva dentro de mim. "Venho pensando muito nele."

Ouvi quando Penny soltou um longo suspiro.

"Eu não queria te aborrecer com isso", ela disse. "Se soubesse que você ficaria tão..."

"Não", a interrompi antes que ela completasse o que quer que fosse dizer. "Você fez bem em ter me contado, Penny. Nunca devia ter passado por tudo aquilo sozinha."

Eu pousei a mão em sua perna em um gesto tranquilizador. Penny entrelaçou os dedos nos meus e pelo canto do olho a vi olhar para mim.

"Estou pronta para deixar isso para trás, Sebastian", ela disse, e embora eu notasse a tristeza em sua voz, também percebi que estava determinada. "Não quero mais viver com medo de Damien. Nem quero ter um ataque de pânico toda vez em que meu celular tocar e a possibilidade de ser ele me passar pela cabeça. Vou fazer a minha parte. Vou denunciá-lo e esperar que esse inferno passe de uma vez."

"Vai passar", garanti. "Eu te prometo isso."

Penny abriu um sorriso triste para mim.

"Você é uma das melhores pessoas que eu já conheci, sabia? Obrigada por estar ao meu lado."

Ela apertou minha mão e eu senti meu coração errar uma batida.

Eu pensava que não era possível gostar mais daquela garota, mas Penelope parecia determinada a me provar que podia sim ser cada vez mais incrível.

Era estranho pensar que semanas antes eu tinha desejado com todas as forças que ela nunca tivesse aparecido na minha casa...

"Podemos passar na casa de Cora quando chegarmos a Arthenia?", Penny perguntou depois de ligar o rádio em uma estação de música pop. "Prometi a Nelly que tentaria ter mais contato com ela e eu quero muito isso. Além do mais, trouxe a minha peruca na mala. Você também tem óculos escuros e um boné por aqui em algum lugar."

"Enquanto à camisa havaiana?", perguntei com um meio sorriso.

"Ela não está no castelo?"

Eu soltei uma risadinha e dei de ombros, olhando para ela por um segundo.

"Jura que não vai rir se eu disser que me apaguei àquela coisa?"

"Eu sabia!"

Penny soltou uma gargalhada e eu ri com ela. Minutos depois, quando encostou a cabeça no meu ombro e fechou os olhos, eu podia jurar que nunca tinha me sentido tão feliz na vida.

Nunca desejei tanto não me decepcionar de novo quanto naquele momento.

Percebi que havia algo errado assim que estacionei o carro na rua de Cora Gordon.

Penelope estava terminando de ajeitar sua peruca quando olhou pela janela e franziu as sobrancelhas. A porta da casa estava aberta e muitas caixas de papelão se encontravam espalhadas pelo jardim. Algumas ainda estavam abertas, revelando roupas dobradas e outros objetos.

Troquei um rápido olhar com Penelope e descemos do carro. Ela me esperou enquanto eu tentava me ajeitar sozinho, mas percebi sua impaciência para saber o que estava acontecendo. Abaixei muito a aba do meu boné e coloquei os óculos escuros.

Eu estava olhando para as caixas no jardim quando ouvi uma voz feminina chamar Penelope pelo apelido.

"Penny!"

Olhei na direção da casa e vi Nelly se aproximar. Ela tinha os olhos muito inchados e carregava um lenço na mão.

"Oh, querida, sinto muito. Pensei em contatá-la para avisar do ocorrido, mas nós não trocamos números de telefone naquele dia em que você veio. Sinto muitíssimo mesmo."

Penelope olhava para a enfermeira como quem não entendia o que estava ouvindo. Eu mesmo estava confuso, mas assim que vi os olhos de Nelly se encher de lágrimas, a verdade me atingiu como um raio.

Por um segundo, quis segurar Penelope pela mão e tirá-la dali.

"O que aconteceu?", Penny disse, e foi a vez da enfermeira de olhar para ela como quem não entende nada. Eu engoli em seco.

"Você não sabe? Ninguém te avisou?", Nelly perguntou, enxugando o rosto. Então ela respirou fundo e segurou a mão de Penny na sua. "A sua tia... Ela faleceu há dois dias."

Eu não poderia saber o que se passou pela cabeça de Penelope naquele momento, mas ela ficou imóvel por alguns segundos, olhando para Nelly com as sobrancelhas franzidas como se ainda não entendesse. Ou como se não quisesse acreditar.

"Por favor, entrem por um minuto", Nelly disse então, diante do silêncio de Penelope. "A casa está uma bagunça, mas tenho certeza que posso encontrar um lugarzinho para nós."

Ela nos conduziu para dentro da casa, pedindo para que não nos importássemos com toda a bagunça, já que ela estava separando algumas coisas de Cora para doar para a caridade.

O que eu queria mesmo era pegar Penny nos braços e abraçá-la, sussurrar algo que a tranquilizasse. Ela parecia muito perturbada e percebi que suas mãos tremiam ligeiramente quando Nelly a entregou um copo d'água.

"Como?", foi a primeira coisa que ela perguntou depois que Nelly a fez se sentar em uma cadeira da cozinha. Seus olhos azuis estavam perdidos em algum ponto.

"Ela já estava muito doente, querida", a enfermeira disse. "Cora não passou mal nem nada parecido, muito pelo contrário. Faleceu enquanto dormia. Acho que foi melhor assim. Não deve ter nada mais terrível do que deixar essa vida em uma cama de hospital, cheio de máquinas e tubos ao redor."

"Eu sinto muito", eu disse, pois percebi o quanto Nelly também estava abalada. Ela parecia gostar muito de Cora.

"Eu também", ela respondeu, olhando para o chão da cozinha. "Cora era uma mulher de coração muito bom."

Olhei para Penelope e vi quando uma lágrima escorreu por sua bochecha. Eu segurei sua mão, sentindo um nó terrível se formar na minha garganta.

"Onde ela foi enterrada?", Penny perguntou com a voz fraca, e Nelly passou o nome do cemitério para ela. "Havia muitas pessoas no velório?"

"Poucas", Nelly disse baixinho. "Alguns amigos antigos, enfermeiras e pessoas que ajudaram Cora nos últimos dois anos. Nenhum parente."

Eu vi quando Penny se retesou ao meu lado.

"Nenhum parente? E quanto à filha dela?"

"Ela não foi ao velório", Nelly disse, e seu tom de voz revelava como ela também parecia ressentida com aquilo. "Mas a tal mulher me chamou para ir a casa dela ontem. Queria saber sobre os últimos dias da mãe." Nelly fungou e ergueu o queixo, os olhos muito vermelhos. "Só depois da morte ela pareceu se interessar um pouco por Cora. Bom, agora não adianta mais nada. O tempo que aquela odiosa mulher perdeu longe da pobre mãe não pode ser recuperado."

Eu troquei um olhar com Penelope, ela parecia estar pensando o mesmo que eu.

Nelly deve ter adivinhado o que se passava pela nossa cabeça, pois soltou um suspiro e se levantou da cadeira.

"Eu não me esqueci do que vocês me disseram naquele dia. Sei que desejavam encontrá-la." Ela foi até uma bolsa que tinha deixado sobre a mesa da cozinha e a revirou, nos mostrando um pequeno pedaço de papel dobrado. "Eu não sabia se a encontraria de novo, Penny, mas mesmo assim decidi escrever o endereço para não me esquecer." Ela entregou o papel à Penelope, que o pegou com a mão trêmula. "Já que não trabalho mais para a filha de Cora, não me importo de te ajudar da maneira que puder. Mas devo adverti-la que você não perde muita coisa por não se encontrar com aquela mulher. Ela foi tão fria durante todo o tempo em que conversamos... Quando perguntei por que não tinha ido ao enterro da mãe, ela respondeu que não via sentido em se despedir de alguém que não poderia mais vê-la ou ouvi-la."

Penelope olhou para o papel em suas mãos. Ela parecia atordoada demais para dizer qualquer coisa.

"Nelly, você por acaso contou a ela sobre nós quando a viu ontem?", eu intervim.

"Não vi necessidade. Para ser sincera não queria passar mais tempo do que o necessário naquela casa."

"Claro. Talvez seja melhor assim", eu disse, forçando um sorriso. "Não sabemos se ela vai querer nos receber no fim das contas."

Nelly insistiu para que tomássemos uma xícara de café antes de irmos embora. Durante o restante do tempo em que ficamos lá, Penelope fez perguntas sobre Cora e sobre o tempo em que Nelly tinha trabalhado com ela. Penny parecia querer ter mais informações sobre a avó que mal conhecera, parecia desejar recuperar um tempo que infelizmente já tinha passado.

"Ela não deixou nenhum álbum de fotografias?", eu perguntei depois de certo tempo.

Nelly balançou a cabeça.

"Cora não tinha nada muito pessoal e..." A mulher se interrompeu, franziu as sobrancelhas e se levantou da cadeira. "Esperem só um momento."

Ela saiu da cozinha e voltou um minuto depois. Parecia trazer algo nas mãos.

"Eu perguntei para a filha de Cora se ela queria alguma coisa da mãe. Uma peça de roupa, algum objeto... mas ela disse que eu podia encontrar alguém que precisasse dessas coisas. Sendo assim, não me sinto mal por lhe dar isto."

Então ela estendeu um colar prateado para Penelope, que tinha um pequeno pingente em forma de nota de música. O cordão brilhou na luz que entrava pela janela da cozinha.

"Quando vim trabalhar com Cora, ela ainda não estava tão mal por conta da doença", Nelly disse. "Ela me contava que quando era mais moça costumava tocar piano para as famílias ricas da cidade. Ela dizia que a música era uma de suas paixões e que se sentia feliz por a filha ter nascido com uma voz tão bonita." Ela colocou o pingente na palma da mão de Penny. "Você também gosta de música como a sua tia?"

Penelope piscou e observou o colar de perto. Ela engoliu em seco antes de responder.

"Não sou uma boa cantora, mas...", a voz dela falhou por um instante, "eu gosto muito de tocar piano."

Nelly sorriu.

"Então esse colar deve mesmo ficar com você."

Depois daquilo, nós conversamos mais um pouco até Penny se levantar e dizer que era melhor ir para casa. Ela e Nelly se abraçaram por um longo instante e Penelope deixou com ela seu número de telefone. Assim que entramos no carro, Penny colocou o colar no pescoço, olhando para o pingente com uma expressão triste.

"Sinto muito", eu disse, tirando meus óculos escuros. "Sei que você mal a conhecia, mas... Cora ainda era a sua avó."

"É tudo tão estranho. Não é como se eu estivesse sofrendo muito por mim, porque eu só a vi uma vez antes que ela partisse, mas... Não consigo parar de pensar em tudo o que Nelly disse. Cora merecia ter tido mais. Ela não devia morrer em uma casa sem ninguém da família por perto. É triste demais."

"Eu entendo. Mas, Penny, temos que acreditar que agora ela está em um lugar melhor, não é? Que está feliz." Eu não me considerava uma pessoa muito religiosa, mas sempre acreditei que a morte não é um fim definitivo. Devia ter algo depois. Algo bom para as pessoas boas. E eu esperava que Cora Gordon tivesse encontrado um pouco do amor que merecia além da vida. "Você quer ir ao cemitério?", perguntei a ela.

Penny balançou a cabeça.

"Não sei se consigo fazer isso hoje." Ela se abraçou e olhou pela janela do carro, para as caixas abertas no jardim. "Acho que só quero ir para o castelo agora. Tentar me distrair com qualquer coisa."

Eu assenti e dei partida no carro. Nós já estamos saindo de Arthenia quando vi Penelope tirar do bolso o papel que Nelly tinha entregado a ela, onde estava escrito o endereço de Amélia Gordon.

"O que você vai fazer?", eu perguntei. "Sobre a sua mãe?"

Penelope suspirou e dobrou o papel, guardando-o de volta.

"Depois das coisas que Nelly me disse hoje, só estou mais convencida de que minha mãe não deve mesmo ser alguém que eu gostaria de ter por perto. Mesmo assim..." Ele se voltou para mim. "Acho que preciso fazer isso, Sebastian. Daqui algum tempo, não quero pensar no que poderia ter sido se eu tivesse ido atrás dela. Quero fechar essa porta na minha vida. Seguir em frente."

Ela estava certa, pelo menos para mim. Por mais que aquele encontro pudesse ser terrível, depois Penelope poderia seguir em frente sabendo que fez o que pôde para conhecer a mãe e saber quem de fato ela era. Não haveria mais dúvidas, embora o ressentimento talvez continuasse dentro dela.

Eu não queria que Penny sofresse, mas talvez fosse inevitável. O que eu podia fazer era estar ao seu lado e tentar fazer por ela o mínimo que ela tinha feito por mim.

"Quando?", perguntei por fim.

"Eu acho..." Penny hesitou por um momento, mas então fechou os olhos com força e respirou fundo. "Amanhã. Quero acabar com isso de uma vez. Não aguento mais tantas dúvidas."

Eu assenti e olhei para ela por um breve instante.

"Vai me deixar ir com você?"

"Sei que posso fazer isso sozinha, mas... Bom, eu não quero estar sozinha. Você se importaria?"

Soltei uma risadinha sem conseguir evitar. Ela estava mesmo fazendo aquela pergunta?

Bom Deus... O quanto aquela garota já tinha me enfeitiçado?

"Vou estar com você Penny, sempre que quiser."

E, no fundo, eu só esperava que ela quisesse tanto quanto eu. Não queria dar atenção àquela voz que me dizia que nada é permanente, muito menos as coisas boas demais.

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Oii gente!!

Espero que tenham gostado do capítulo! Espero que o Wattpad não me sabote e deixe vocês comentarem dessa vez.

O que acharam?? Me contem tudo!

Lembrando que quem tiver interesse em entrar no canal de escrita no Telegram é só me chamar por mensagem!

Ceci.

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