Capítulo Vinte e Dois - Penelope


ACORDEI NA MANHÃ SEGUINTE AO baile com batidas insistentes na porta. Abri os olhos devagar, mas a claridade nauseante do quarto fez com que eu os fechasse novamente.

Droga, o que estava acontecendo comigo? Era como se alguém estivesse martelando a minha cabeça sem parar. Com força. As batidas na porta não estavam ajudando a melhorar a situação.

"Já vai!", disse, mas a minha própria voz em um tom mais alto fez com que eu gemesse de dor. Me arrastei para fora da cama com um resmungo e caminhei até a porta, sem nem me importar com os cabelos bagunçados e a maquiagem borrada que provavelmente estava me fazendo parecer uma palhaça.

Abri a porta e me deparei com Sebastian do outro lado, vestido de maneira impecável e perfeito como sempre. Quase senti raiva dele por isso.

"Oi", disse.

"O jeito que você disse 'oi' me fez lembrar bastante o Ross de Friends, sabia?"

Por mais que minha cabeça estivesse me matando e eu soubesse que minha aparência não estava nem um pouco agradável, eu sorri. Não conseguiria não sorrir ao me dar conta de que Sebastian conhecia uma das minhas séries preferidas.

"Estou tão mal assim?", perguntei.

"Pior", ele disse, mas guiou a cadeira de rodas para trás quando ameacei dar um tapinha nele. Sebastian riu. "Estou brincando. Quer dizer, mais ou menos. É uma pena que esteja de ressaca."

"Não seja sarcástico."

"Não estou sendo."

Eu soltei um bocejo e me apoiei na maçaneta da porta.

"Posso saber por que me acordou a essa hora depois de termos ficados acordados a madrugada toda? Espero que seja algo importante."

"Pensei em adiar os nossos planos para hoje", ele disse, me fazendo franzir as sobrancelhas em confusão. "Sobre a busca pela sua mãe. Ao invés de irmos até a cidade amanhã, podemos ir hoje." Ele voltou a se aproximar um pouco de mim. "Margot não vai se levantar antes de meio-dia, eu te garanto, muito menos Layla com Eloise e Steven. Alexia e Lily foram para a cidade ontem depois do pedido de casamento e duvido que apareçam por aqui tão cedo. Meu pai... Ah, meu pai está trancado em seu escritório, ocupado com ligações e papeladas mesmo em um domingo. Pensei que deveríamos aproveitar a oportunidade para escapar sem ter de dar muitas explicações."

"Você não se esqueceu de alguém nessa conta?", disse com um meio sorriso, olhando para Sebastian. Ele pareceu confuso. "E enquanto a minha tia?"

"Já cuidei dela."

"Como assim cuidou dela?"

"Ontem à noite, chamei Thomas Hooper em um canto e o convenci a convidá-la para almoçar em Arthenia hoje. Você pode deixar um bilhete e dizer que está comigo, acho que ela não vai se importar."

"Espera um pouco... Tia Matilde aceitou o convide?!", perguntei, encabulada. Não conseguia acreditar.

"Pelo que ele me contou, sim. Por isso, não precisa se preocupar com ela, já que vai estar ocupada demais com o Sr. Hooper."

Eu estreitei os olhos para Sebastian, não conseguindo segurar o sorriso que se espalhou pelo meu rosto.

"Você é mais parecido com Margot do que pensa, sabia?"

Sebastian soltou uma risada e olhou para mim. Seus olhos castanhos reluziram e algo em mim balançou, me tirando de órbita por um segundo.

"Acho melhor você se arrumar", ele disse então, já se afastando da porta do quarto. "Deve demorar bastante ajeitar aquela peruca."

"Não tanto quanto você pensa. Ah! Não se esqueça da camisa havaiana, ok? Nem pense em se livrar dela."

"Eu vou é acabar botando fogo naquela coisa...", ele sussurrou, enquanto se afastava.

"Ei! Eu ouvi isso!"

"Te encontro em quarenta minutos no pátio. Até daqui a pouco."

Eu concordei e fechei a porta atrás de mim, me escorando nela por um momento enquanto ouvia meu coração bater com força no peito. De repente me senti muito ansiosa para aquela ida até Arthenia, e eu não tinha certeza se todo aquele nervosismo era por conta da minha mãe.

Mordi o lábio inferior e corri até o meu armário, a dor de cabeça sendo rapidamente esquecida. Queria ficar pronta o mais rápido possível.

Quando me encontrei com Sebastian mais tarde naquela manhã, percebi quase instantaneamente que havia algo errado.

"Está tudo bem?", perguntei de uma vez, percebendo sua expressão fechada e distante.

"Claro", ele disse, mas notei quando engoliu em seco e se remexeu na cadeira, parecendo muito desconfortável. Soltei um suspiro.

"Desembucha logo, Sebastian. Sei que tem algo errado."

Ele olhou para mim com as sobrancelhas franzidas e maxilares tensos. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, eu já tinha adivinhado o que estava acontecendo.

"Está sentindo dores?", perguntei baixinho, me aproximando mais dele.

"Não está tão ruim."

"Não é o que parece." Afastei uma mecha do meu cabelo falso dos olhos para que pudesse olhar diretamente para ele. "Escuta, nós podemos deixar isso para outro dia, ok? Não tem problema."

"Não, Penny, está tudo bem, sério. As dores não estão tão fortes. Já vai passar."

Eu abri a boca para rebater, mas ele já tinha se afastado na direção do carro. Eu queria acreditar que estava mesmo tudo bem, mas não iria me iludir àquele ponto.

Desde que Sebastian tinha mencionado as dores da primeira vez, eu fizera algumas pesquisas sobre o assunto e encontrara muitos relatos de pessoas com lesões medulares na Internet. Pelo que tinha visto, as dores neuropáticas realmente variavam em grau de intensidade, aquilo dependia de vários fatores e não tinha como prever quando uma crise seria mais forte que a outra, mas também tinha ouvido algumas pessoas dizerem que já tinham até mesmo recorrido à morfina para aliviar a dor.

Me perguntei se Sebastian já tinha passado por aquilo e se ele fazia algum tipo de tratamento que o ajudasse com as dores. Seja como for, não achei que aquele era o momento certo para perguntar.

"Ei, Sebastian?", chamei, correndo até ele enquanto a rampa do carro descia lentamente. "Eu posso dirigir hoje?"

Ele olhou para mim desconfiado, erguendo uma sobrancelha escura.

"Não sabia que você tinha carteira."

"É porque eu não te contei", disse com um sorrisinho. "Tirei um pouco depois de fazer dezoito anos. Admito que não tenho muita prática, mas acho que não corro o risco de nos envolver em um acidente de trânsito."

Sebastian não parecia muito convencido. Sinceramente, me conhecendo como eu me conhecia, era de se esperar que as pessoas hesitassem em colocar uma chave na minha mão.

"Penelope, você não precisa fazer isso por minha causa. Já disse que estou bem e..."

"Quem disse que estou fazendo por sua causa?", falei no mesmo instante. "Só queria poder dirigir um carrão. Vamos lá, sei que você é gentil demais para me negar algo assim."

Sebastian deixou escapar uma risadinha cética. Eu sabia que ele não acreditava em mim, mas não me importava. Queria ajudá-lo e esperava que ele não fosse orgulhoso demais para aceitar aquilo.

"Tudo bem", ele concordou por fim. Eu dei um pulinho no lugar e bati palmas. "Se você tirou carteira, não tenho motivos para me preocupar, certo?"

Eu sorri e algo muito bom se espalhou pelo meu peito quando me lembrei que tinha dito quase a mesma coisa para ele na primeira noite em que saímos juntos para jantar. Eu tinha confiado nele para dirigir, aliás, por que não confiaria? E agora ele estava fazendo o mesmo por mim.

"Pega aí." Sebastian jogou a chave do carro para mim e eu a peguei no ar, empolgada. "Mas vou ter de te ensinar a manobrar os controles adaptados. Nada de pedais para você."

"Sem problemas. Não deve ser tão difícil."

"Vamos ver como você vai se sair."

Eu ri e nós nos ajeitamos no carro. O banco do passageiro se movia e era tão acessível quanto o do motorista, o que facilitava e muito a vida de Sebastian. Depois que nos acomodamos, o príncipe me ensinou a como manobrar o carro. Era um pouco estranho não usar pedais, mas logo me adaptei. Sebastian me olhava de perto caso algo desse errado.

"Como estou indo até agora?", perguntei feliz, quando já estávamos quase chegando à cidade.

"Muito bem", Sebastian falou. "As tartarugas agradecem. Na velocidade em que estamos indo, elas finalmente vão ter o prazer de vencer uma corrida."

"Estou considerando seriamente a possibilidade de te jogar pela janela, sabia? Talvez as tartarugas gostem disso também."

"Você nunca faria uma coisa dessas."

"É melhor não pagar para ver."

Ele riu e eu continuei com os olhos fixos na estrada, me sentindo tão satisfeita e confortável ali com ele que chegava a ser desconcertante.

Enquanto estávamos em silêncio, pensei nos acontecimentos da noite anterior e algo em mim se mexeu, despertando as borboletas no meu estômago.

Sim, eu me lembrava de estar ligeiramente bêbada horas atrás, e tinha quase certeza que havia dito coisas que não devia, mas não conseguia me importar muito com nada daquilo.

O fato era que, na noite passada, eu finalmente conseguira ver um pouco através das muralhas que Sebastian tinha erguido em volta de si mesmo, e aquilo era muito bom. Eu só precisava esquecer o fato de que tinha sido tão rude de perguntar a ele sobre a ex-namorada daquele jeito. Sério, quem era tão sem noção?

"Então, no fim das contas você acabou se divertindo ontem?", eu perguntei, porque simplesmente não consegui ficar quieta. Precisa tocar naquele assunto de algum modo.

Pelo canto do olho, vi Sebastian desviar os olhos da janela e me encarar.

"Foi melhor do que eu pensei", ele disse, me fazendo sorrir.

"Tirando a parte que eu caí em cima de você, não é?", falei, sem me envergonhar. Já sabia que Sebastian estava constrangido o suficiente por nós dois. "Sinto muito por aquilo. Eu não estava mesmo muito bem."

"Tudo certo, aliás, não foi como se fosse a primeira vez, não é?"

Eu ri, me lembrando do que tinha acontecido entre nós na biblioteca. Apenas algumas semanas nos separavam daquele encontro desastroso, mas desde então tanta coisa tinha acontecido que mais parecia meses.

"Penelope?", Sebastian chamou de repente, fazendo com que eu olhasse para ele por um segundo antes de voltar os olhos para a estrada.

"Sim?"

"Você se lembra de tudo que falamos ontem?"

Fiquei surpresa por ele ter ido direto ao ponto, mas não reclamei. Eu também queria falar sobre aquilo.

"Sim, eu me lembro."

"Então, você sabe o que prometeu para mim, não é? Sobre o seu pai."

Por um instante não entendi do que ele estava falando, mas então me lembrei de tudo e senti meu rosto corar. Não era sobre as suas revelações que Sebastian queria falar afinal...

"Eu não prometi", disse simplesmente, sem conseguir encará-lo.

"Penelope... Você sabe que isso é importante." Ele mexeu em seus óculos. "Não pode continuar escondendo sobre a claustrofobia."

"Sebastian, sinceramente, isso não é nada demais. Já estou grande o suficiente para lidar com isso."

"Idade não significa nada em situações do tipo."

Eu abri a boca para responder, mas nada saiu dela.

Ele estava certo e eu sabia disso, não adiantava ficar irritada.

Ainda não conseguia acreditar que tinha falado abertamente sobre a claustrofobia com Sebastian. Apenas algumas poucas amigas sabiam sobre aquilo e mesmo assim de forma superficial. Embora o fato de eu ter confiado tanto nele me chocasse agora que estava sóbria, não me arrependia nem um pouco daquilo.

Tudo bem, talvez eu não gostasse que ele ficasse dizendo que eu devia contar tudo para o meu pai, mas mesmo assim... Era bom saber que Sebastian tinha consciência daquela parte de mim, e que se importava.

"Vou pensar nisso", eu disse então, por mais que não tivesse assim tanta certeza sobre a situação. "Não precisa se preocupar."

"Não posso prometer isso."

Não consegui deixar de segurar o sorriso bobo que se espalhou pelo meu rosto ao ouvir as palavras.

Droga! O que estava acontecendo comigo?

"Você está se sentindo melhor?", perguntei quando finalmente adentramos a cidade, tentando mudar de assunto.

"Estou sim, obrigado."

Arrisquei um rápido olhar para ele e me lembrei das coisas que Sebastian tinha me confessado na noite anterior. Eu sabia que ele não queria que eu mencionasse o assunto, por isso decidi manter silêncio, pelo menos por enquanto. A verdade era que eu não conseguia me esquecer de tudo o que tinha descoberto a seu respeito.

Eu ainda não conseguia acreditar que sua ex-namorada, Giulia, havia terminado com ele pelo fato de Sebastian estar em uma cadeira de rodas. Eu não entendia e no fundo esperava que aquilo não fosse mesmo verdade, mas o modo como Sebastian tinha me contado tudo não dava muita margem para dúvidas.

Aquela conversa que eu tinha tido com Isabel, antes de escapulir do salão com ele, também se recusava a sair da minha cabeça. O que ela tinha dito antes de se despedir, sobre eu não parecer ser alguém que o magoaria, ficava invadindo repetidamente meus pensamentos, me fazendo questionar quão fundo aquele término tinha mexido com Sebastian e quanto ele realmente havia me contado. Minha vontade era procurar Isabel e tentar extrair algo dela, mas sabia que aquilo não era certo.

Eu podia esperar. Quando soubesse de tudo, queria que fosse por Sebastian e não por outra pessoa. Queria que ele confiasse em mim.

"Então, aonde nós vamos primeiro? Para a antiga casa dela ou o pub onde trabalhava?", perguntei enquanto dirigia sem rumo pelas ruas da cidade. "O currículo está na minha bolsa, você pode pegar para dar uma olhada se quiser."

"Talvez seja melhor ir até a casa primeiro", Sebastian sugeriu. "Eu pesquisei o horário de funcionamento do pub e ainda demora uma meia hora para abrir."

"Certo."

Conforme dirigia pela cidade, o nervosismo pelo que estava prestes a fazer finalmente se instalou dentro de mim. Eu me sentia satisfeita por toda a situação no Empire Music Club não ter dado em nada, mas também me sentia ansiosa por saber que estava dando passos lentos, porém constantes, em direção à minha mãe.

Me perguntei se a encontraria naquele dia. Sabia que a situação era no mínimo improvável, mas não consegui deixar de fantasiar a respeito.

O que eu diria quando a visse pela primeira vez? A abraçaria? Ficaria chocada demais para fazer qualquer coisa? Muitas imagens passavam pela minha cabeça, e em todas elas eu me via ao lado de uma pessoa que eu nunca tinha conhecido, uma pessoa que nunca tinha nem me procurado, mas que talvez, só talvez, me amasse mesmo assim.

Será que era pedir muito? Será que estava sendo ambiciosa demais por desejar mais amor do que eu já tinha com a família que sempre esteve ao meu lado?

Senti a mão de Sebastian pousar no meu braço levemente. Eu olhei para ele, que abriu um sorrisinho para mim.

"Vai dar tudo certo, ok?"

Não respondi. O nó que se formou na minha garganta me impossibilitou de dizer qualquer coisa. Eu assenti e retribui o sorriso, feliz por tê-lo ao meu lado.

Feliz por não estar sozinha.

No fim das contas, a primeira busca não deu em nada.

O endereço que constava no currículo antigo ficava em um bairro pobre e afastado do centro da cidade. Enquanto olhava para as ruas esburacadas e as casas em mau estado, tentei visualizar minha mãe vivendo ali. Me perguntava se ela tinha companhia, ou se morava sozinha na época em que tinha tentado trabalhar no clube.

Insisti para que Sebastian ficasse no carro depois que finalmente encontrei a rua que estava escrita no currículo. A acessibilidade daquele lugar era péssima e não queria que ele tivesse todo o trabalho de descer do carro para no fim ficar na rua só por cinco minutos, o que acabou sendo exatamente o que aconteceu.

O casal que morava na casa me recebeu bem, mas quando mencionei sobre uma possível antiga moradora, eles disseram que só estavam ali há seis meses e que aquela casa na verdade tinha sido construída sobre as ruínas de uma antiga, que pertencia a um outro proprietário que eles não conheciam.

Não precisei de muito tempo para perceber que seguir aquele rastro acabaria ocupando um tempo que eu não tinha e que provavelmente me levaria a lugar nenhum. Mesmo assim, peguei o contato do proprietário atual da casa com o casal. Talvez, se eu acabasse me vendo em um beco sem saída, teria de insistir naquela pista, mas, até lá, não valia a pena.

Quando voltei para o carro, contei para Sebastian o que tinha descoberto. Ele concordou que era melhor esperar um pouco antes de insistir naquele ponto, por isso comecei a dirigir em direção ao pub onde minha mãe havia trabalhado antes de começar no Empire Music Club. Eu esperava ter mais sorte por lá.

"Não é um lugar bonito", comentei quando finalmente chegamos ao pub. Olhei pela janela e observei a construção de paredes azuis descascadas, com mesas velhas espalhadas pela calçada e uma placa faltando pelo menos metade das letras na fachada.

"Sua mãe devia ser uma boa cantora para sair daí e conseguir parar no Empire. Tem certeza de que não herdou a voz dela?"

Eu soltei uma risadinha enquanto tirava o cinto de segurança e ajeitava a minha peruca.

"Certeza absoluta. Você não vai querer me ouvir cantar nem morto."

Àquela hora, o pub ainda não estava tão cheio. Salvo dois homens de meia idade em uma das mesas do lado de fora, não havia mais ninguém ali. Uma música baixa vinha de um jukebox antigo no canto do estabelecimento, o ar ali dentro era abafado e pesado e senti cheiro de café sendo preparado.

Sebastian me cutucou e apontou para um palco de madeira velho e sujo em um dos cantos do pub, onde havia um suporte e um microfone. Talvez, há muito tempo, minha mãe tivesse ocupado aquele palco.

"Com licença", chamei, quando um homem de longos bigodes brancos surgiu de uma porta que possivelmente levava à cozinha, carregando uma bandeja e a entregando para uma garçonete que o esperava atrás do balcão. "Eu sou Tracy Pearse e esse é meu irmão, Cory. É um prazer conhecê-lo. Por acaso o senhor é o proprietário do lugar?"

O homem me olhou com os olhos semicerrados, me analisando da cabeça aos pés e depois encarando Sebastian. Resisti ao impulso de olhar para ele também, só para garantir que seus óculos escuros continuavam no lugar e o boné vermelho cumpria a função de esconder seus cabelos castanhos.

"Sou eu mesmo", o homem falou depois de nos inspecionar por um longo momento, principalmente Sebastian. Tentei conter o suspiro de alívio. " Strang, ao seu dispor."

"É um prazer, Sr. Strang. Não quero ser inconveniente, mas será que poderíamos conversar em um lugar mais reservado? Eu e meu irmão temos..."

"Desculpe, dona, mas além da cozinha e dos banheiros, não temos outros cômodos por aqui", ele me interrompeu antes que eu pudesse terminar, escorando-se no balcão e cruzando os braços enormes. "Além disso, duvido que ache lugar mais reservado no momento." E ele ergueu as sobrancelhas para o pub, que não estava sendo ocupado por mais ninguém além de nós, os homens do lado de fora e a garçonete.

Eu lancei um olhar hesitante para Sebastian, me sentindo subitamente nervosa. Apesar de não conseguir ver seus olhos, percebi quando ele assentiu devagar e se aproximou mais de mim.

Respirei fundo e sequei as mãos suadas na minha calça jeans.

"Muito bem", falei, abrindo um sorriso e me inclinando para o homem mais velho. "Meu irmão e eu estamos procurando por uma prima com quem perdemos contato ainda na infância. O nome dela é Amélia Gordon e sabemos que ela trabalhou aqui como cantora em algum momento entre 2001 e 2002. O senhor a conhece?"

O homem mais velho franziu as sobrancelhas grossas por um momento, como se pensasse a respeito. Pelo menos aquilo era melhor do que o tratamento que recebemos da tal Judith, que havia sido uma verdadeira va...

"Eu assumi esse negócio em 2003", Roger disse, interrompendo meus pensamentos. "Antes o pub era comandado pelo meu irmão, e quando ele se mudou para a Inglaterra eu decidi tomar as rédeas do lugar. Sinto muito, mas não me recordo de nenhuma Amélia Gordon."

"Talvez tenha algum registro por aqui. Ou... ou talvez o senhor possa nos passar o contato do seu irmão, quem sabe", eu insisti assim que ele terminou de falar.

"Sinto muito, mas meu irmão já faleceu há cinco anos. Quanto aos registros, não mantemos nada disso por aqui."

Um nó enorme se formou na minha garganta. Tentei pensar em algo para dizer, mas de repente me dei conta de que tinha batido em uma parede, sem mais caminhos para seguir.

"O senhor não poderia...", eu comecei a dizer, mas fui interrompida pela garçonete, que se aproximou naquele instante e olhou de Sebastian para mim.

"Não consegui deixar de ouvir o que estavam dizendo", ela disse. "Por acaso mencionaram o nome Amélia Gordon?"

Meu coração deu um pulo no peito e eu me virei para a mulher mais velha, que de repente mais pareceu um anjo caído do céu.

"A senhora conhece Amélia?", Sebastian perguntou, virando-se para a garçonete.

"Nós trabalhamos juntas há muitos anos", a mulher disse, enquanto dava a volta no balcão e amarrava os longos cabelos loiros em um coque. "Comecei aqui na época em que o irmão de Roger ainda era o dono."

"Ora, é verdade", o homem disse, dando um tapa no balcão como se se lembrasse de alguma coisa. "Não me lembrei de que você está aqui desde aquela época, Maggie, querida."

A garçonete, Maggie, abriu um sorrisinho torto e revirou os olhos.

"Na sua idade, Roger, me surpreende que se lembre do que comeu ontem."

Eles riram e eu tentei segurar a minha ansiedade, que ameaçava estourar a qualquer momento. Só a presença calma e reconfortante de Sebastian ao meu lado impedia que eu sofresse um treco.

"Nós éramos jovens na época, Amélia e eu", a mulher disse, e naquele momento percebi que de fato ela já devia ter pouco mais de quarenta anos. "Cantávamos em dias alternados. Até hoje me arrisco no palco em noites mais movimentadas."

"Vocês eram amigas?", perguntei, tentando manter a calma e me concentrar nas perguntas que devia fazer. A risada sarcástica de Maggie me fez franzir as sobrancelhas.

"Amigas? Eu a detestava. Nunca conheci ninguém tão cheia de si até hoje." Ela se apoiou no balcão e se inclinou para mim, os olhos azuis fixos nos meus. "Sei que são parentes dela, mas só estou respondendo a sua pergunta com sinceridade. Amélia era do tipo que não se importava em pisar nos outros para conseguir o que quer. Em sua última noite trabalhando aqui, quando soube que tinha conseguido emprego em um dos clubes chiques da cidade, ela estava tão prepotente e insuportável que tive de me segurar para não quebrar o nariz dela. Depois que o pub esvaziou e eu estava arrumando as minhas coisas para ir para casa, ela fez questão de me humilhar, dizendo que eu nunca conseguiria subir tão alto e tão rápido quanto ela conseguiu." Maggie abriu um sorrisinho e deu de ombros para si mesma. "Talvez ela estivesse certa, mas nunca precisei de muito para ser feliz. Gosto daqui e Roger nunca atrasou o meu pagamento. Na verdade, ele vem considerando a ideia de me dar um aumento."

"Aumento? Talvez quando Jesus voltar eu pense nisso", o senhor disse, mas eu estava perturbada demais com as palavras de Maggie para prestar atenção em qualquer outra coisa.

Sebastian deve ter percebido aquilo, pois no instante seguinte se aproximou mais do balcão.

"Por acaso você tem o endereço dela?", ele perguntou para Maggie. "Ou um número de contato?"

Maggie fez que não com a cabeça.

"Nunca mais vi Amélia, o que, sinceramente, é uma benção. Mas sei onde a mãe dela vive atualmente."

"A mãe?", perguntei, erguendo a cabeça subitamente.

"Sim. Sabe, na época em que Amélia cantava aqui, Cora trabalhava como faxineira. Aliás, foi ela quem indicou a filha para o nosso antigo patrão e conseguiu o emprego para ela. Cora é uma senhora muito doce e nós trabalhamos aqui por muitos anos, mas já faz um tempo que ela pediu demissão. Sua saúde tem ficado cada vez mais frágil."

"Você poderia nos passar o endereço dela?", Sebastian perguntou.

"Claro." Maggie pegou um guardanapo e uma caneta e começou a escrever. "Ela ainda é uma boa amiga para mim. Nos últimos tempos Cora tem ficado bastante no hospital e não fala muito. Já é uma senhora muito idosa, afinal de contas."

Sebastian pegou o guardanapo quando Maggie o estendeu para ele. Eu olhei para o endereço escrito ali e senti borboletas no estômago.

Aquela mulher, aquela senhora idosa de quem Maggie estava falando, era a minha avó materna. Avó essa que nunca conheci e não sabia o nome até então.

De repente senti como se o chão vacilasse sob os meus pés. Tudo estava acontecendo rápido demais e eu não sabia como agir. As coisas que Maggie tinha dito sobre a minha mãe... Era verdade? Ela era mesmo egoísta e mesquinha daquele jeito?

Eu não fazia ideia e sabia que só tinha um jeito de descobrir: encontrando-a.

"Muito obrigado pela ajuda", ouvi Sebastian dizer, e senti quando ele passou um braço pela minha cintura. "Minha irmã e eu ficamos muito felizes por isso."

"Não foi nada", Maggie disse. "Boa sorte na busca de você pela prima. Talvez ela seja uma pessoa melhor do que eu me lembro hoje em dia."

"É o que esperamos. Tenham um bom dia."

Sebastian me guiou para fora do pub e me fez entrar no carro. Só percebi que estava no banco do passageiro quando ele ocupou seu lugar em frente ao volante minutos depois.

"Desculpe", sussurrei baixinho, arrancando um dos fios do meu cabelo falso em nervosismo. "Eu só... Não consigo parar de pensar no que aquela mulher disse sobre a minha mãe."

"Eu sei", ouvi Sebastian dizer. Ele tirou os óculos escuros e se voltou para mim. "Penny, sua mãe era jovem na época. Talvez... ela tenha mudado. Não dê tanta importância ao que Maggie falou."

"Não, eu sei, mas é que..." Suspirei e me voltei completamente para ele, encarando-o nos olhos. "Eu estou nessa busca e quero muito encontrar minha mãe. De alguma forma, sei que preciso olhar nos olhos dela e ouvir sua voz para fechar essa porta que esteve aberta desde o dia em que nasci, sussurrando no meu ouvido. Eu fico dizendo para mim mesma que vai ser incrível quando eu finalmente encontrá-la, já imaginei mil cenários possíveis de quando a vir pela primeira vez e em todos eles vejo o sorriso em um rosto que não conheço, vejo olhos parecidos com os meus felizes em me ter por perto. Mas a verdade..." Eu fechei os olhos por um momento, tentando organizar meus sentimentos confusos e transformá-los em palavras. "A verdade é que eu não devia esperar tanto da mulher que me abandonou. Se ela não me quis quando eu era um bebê, por que iria querer agora? E mesmo assim, mesmo sabendo disso, eu não consigo parar. Não vou desistir até encontrá-la, por mais que isso acabe não só machucando a mim, mas ao meu pai também."

Não consegui dizer mais nada. Me senti estúpida quando as lágrimas se acumularam no canto dos meus olhos, ameaçando escorrer pelo meu rosto. Tentei contê-las, mas foi inútil quando Sebastian me puxou para um abraço apertado.

Escondi meu rosto em seu peito e deixei que as lágrimas viessem. Pelas minhas contas, aquela era a segunda vez que era confortada por ele dentro de um carro. O que será que Sebastian estava pensando de mim? Provavelmente me achava a garota mais vulnerável e fraca do planeta.

"Está tudo bem, Penny", o ouvi sussurrar no meu ouvido. "Você tem todo o direito do mundo de se sentir assim. E você não vai se machucar, assim como não vai machucar o seu pai. Vai dar tudo certo. Confia em mim."

Eu sabia que ele não tinha como me garantir que tudo ia mesmo ficar bem, mas me senti um pouco melhor ao me agarrar àquelas palavras e guardá-las no meu coração.

"Você sabe mesmo como confortar uma mulher, não é?", disse, sem conseguir segurar minha língua. Sebastian soltou uma risadinha e eu ri também, ouvindo seu coração bater tão próximo de mim.

Eu me afastei dele e enxuguei os olhos, tentando manter um sorriso no rosto.

"Bom, não conseguimos achar minha mãe, mas pelo menos temos o endereço da minha avó. Isso tudo é tão estranho..."

"Eu imagino." Sebastian pegou seus óculos no porta-luvas e os colocou no rosto. "Você quer ir até ela hoje ainda?"

"Sim, se você não se importar, é claro. Estou ansiosa demais."

"Não é problema nenhum. Mas o que acha de pararmos para almoçar em algum lugar? Já é tarde e você deve estar com fome."

Eu pensei sobre aquilo. Uma pausa para comer não parecia mesmo uma má ideia, e provavelmente me daria algum tempo para organizar meus pensamentos e emoções antes de ir atrás de Cora.

"Parece uma boa. Mas nós vamos como nós mesmos ou disfarçados?"

Sebastian pareceu pensar por um instante.

"Talvez seja melhor irmos como nós mesmos. Talvez sejamos vistos, mas duvido muito que a notícia se espalhe ao ponto de termos paparazzi em frente ao restaurante depois de terminarmos de comer. Isso se você não se importar, é claro."

"De jeito nenhum. Eu já estou mesmo doida para tirar essa peruca. Mas enquanto a sua família? Se a imprensa descobrir sobre isso, eles vão acabar sabendo que saímos juntos hoje."

Para minha surpresa, Sebastian deu de ombros e olhou para mim com um meio sorriso.

"Não precisamos dizer que viemos para Arthenia para procurar sua mãe. Podemos falar que só saímos para almoçar. Você se importa?"

"Claro que não", eu disse, mas sabia que ele estava pensando o mesmo que eu. Talvez os outros acabassem pensando que nós estávamos... Bem, saindo juntos. Não que eu me importasse com qualquer coisa que pudessem pensar, mas mesmo assim era um pouco desconcertante.

"Ótimo então. Só me dê um segundo para conseguir uma reserva. Vou te levar a um lugar legal."

Vi Sebastian sacar o celular do bolso do casaco e sorri.

"Sei que vai. Você é sempre cheio de surpresas, Alteza."

Ele revirou os olhos para mim, mas havia um sorriso em seu rosto. Enquanto Sebastian fazia algumas ligações, eu olhei para o endereço escrito no guardanapo. Algo em mim se remexeu quando percebi que estava chegando perto de encontrar minha mãe, fosse aquilo bom ou não.

No fim, eu só esperava que Sebastian estivesse mesmo certo. Se chegar ao final daquilo significasse não machucar a mim mesma ou alguém que eu amava, já sairia vitoriosa da situação.

O difícil seria garantir aquilo...

____________________❤️___________________

Oii gente! Bom final de domingo para vocês! Espero que estejam bem <3

Gostaram do capítulo de hoje? Muita coisa já aconteceu e Penny está sentindo que está cada vez mais perto de encontrar a mãe. O que será que vem por aí??

Espero mesmo que tenham gostado! Volto assim que possível com outro capítulo novinho, que, aliás, vai trazer uma bomba que uma galera aí já estava esperando... Não falo é nada hahaha.

Beijos e até o próximo capítulo!

Ceci.

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