Capítulo Trinta e Um - Penelope

"VOCÊ É AMÉLIA GORDON?", EU perguntei, sem saber de onde tinha arranjado ar o suficiente para dizer as palavras.

A mulher atrás de Giulia acenou com a cabeça na direção do mordomo, que no mesmo instante abaixou os olhos e sumiu de vista, deixando nos quatro sozinhos.

"Você é a primeira a me chamar assim em bastante tempo", ela respondeu com calma.

"Mãe, o que está acontecendo?", Giulia murmurou, olhando de Amélia para mim e de mim para Sebastian. "Você a conhece?" Ela me indicou com a cabeça ao dizer aquilo.

Naquele instante a verdade me atingiu como um raio.

Cambaleei para trás e tentei me apoiar na parede, ao mesmo tempo em que cenas difusas surgiam na minha cabeça, mudando rapidamente como se estivessem em um caleidoscópio. Aquilo não podia ser verdade.

Fraca, me voltei para Sebastian, que olhava para Giulia como se estivesse de frente para um fantasma.

"Você sabia?", perguntei, franzindo as sobrancelhas para ele. Quando não obtive resposta, elevei a voz. "Sebastian, você sabia?"

"Não", ele respondeu, só então voltando os olhos para mim. "Penelope... Eu não fazia ideia."

Eu não sabia o que pensar. Não sabia o que fazer.

"Por que vocês não entram como duas pessoas civilizadas e resolvemos isso de uma vez?", ouvi Amélia dizer em um tom frio. "Não quero que causem um escândalo na minha porta."

Uma força invisível pareceu me empurrar para frente. Segui Amélia pela casa grande e gelada enquanto Giulia não parava de guinchar, exigindo explicações. Sem nem perceber, me vi em uma sala ampla de sofás confortáveis.

Amélia me indicou um assento e eu me joguei ali sem jeito, Sebastian ficou perto de mim.

A estranheza da situação era tanta que me perguntei se não estava em um daqueles sonhos malucos, onde pessoas que você conhece, mas que não tem relação nenhuma umas com as outras fazem parte de um mesmo cenário onde nada faz sentido.

"O que vocês estão fazendo aqui?", Giulia disse pelo que devia ser a sétima vez, se sentando em uma poltrona perto da mãe. "O que está acontecendo?"

Eu me virei para ela, tentando fazer com que minha mente processe todas as informações. Pela primeira vez, reparei em Giulia de verdade.

Quando a vi pessoalmente no restaurante, tudo que notei foi como ela era bonita no geral. Estonteante do tipo que faz qualquer um perder o fôlego. Mas agora, com a luz do sol entrando por uma janela enorme, pude ver a cor exata de seus cabelos, que eram de um ruivo claro muito parecido com o meu. E com o de Amélia.

"Vim procurar minha mãe", eu disse de uma vez, me agarrando ao braço do sofá como se fosse um bote salva-vidas. "Amélia."

"Amélia? Mas..." Giulia se virou para a mãe. "Que tipo de brincadeira é essa?"

"Como eu disse, ninguém me chama assim há muito tempo", a mulher disse, cruzando as pernas e pousando as mãos no colo, como se aquela não passasse de uma conversa casual. "Todos me chamam de Lia."

"Lia Armfield." Foi Sebastian quem disse, os olhos voltados para Amélia como se tentasse decifrar um quebra-cabeça difícil demais. "Você usa o sobrenome do seu marido. Desde que te conheci pela primeira vez, sempre se apresentou como Lia." Ele então se voltou para mim e percebi que continuava muito pálido. "É por isso que eu nunca soube, Penelope. Amélia Gordon... Nunca tinha ouvido esse nome na minha vida. Só percebi que havia algo estranho quando você disse que esse era o endereço que Nelly te passou."

"Foi a enfermeira, então..." Ouvi Amélia dizer, como se falasse consigo mesma. "Se soubesse que você a conhecia, não teria pedido a ela que viesse aqui no outro dia." Ela então se voltou para mim, os olhos azuis semicerrados. "Como encontrou Cora?"

"Já chega!" Eu ouvi Giulia gritar de repente, antes que eu pudesse responder. Ela se levantou da poltrona e olhou para nós com uma expressão raivosa. "Eu quero saber o que está acontecendo."

Amélia soltou um suspiro profundo e massageou a ponte do nariz.

"Giulia..." Ela ergueu os olhos para a filha. "Eu não pretendia que você descobrisse assim, mas... Penelope é sua irmã."

"Minha irmã?"

Se toda a situação não fosse tão absurda e chocante para mim, talvez eu tivesse me atrevido a rir. Aquela não podia ser a minha vida. Mais parecia uma cena das novelas mexicanas que tia Matilde adorava.

Porém, quando as palavras saíram da boca de Amélia, todas as desculpas que eu vinha criando para mim mesma desde que pisara naquela casa caíram por terra.

Eu olhei para Sebastian, mas ele parecia perdido demais nos próprios pensamentos para tentar interferir na conversa. Me perguntei o que se passava na cabeça dele e como estava digerindo aquilo.

Se eu não o conhecesse, talvez descobrir que aquelas duas pessoas na minha frente compartilhavam o mesmo sangue que o meu não seria tão chocante. Toda a situação só era absurda porque Giulia e eu, de certa maneira, tínhamos tido uma ligação com ele.

"Você nunca contou a ela?", eu perguntei para Amélia, me referindo à Giulia. "Como pôde esconder isso da própria filha?"

Amélia me olhou de maneira indiferente e se limitou a dar de ombros.

"Depois de um tempo, a mentira que você sempre conta acaba se tornando verdade."

Vi Giulia se sentar de volta na poltrona lentamente, olhando para a mãe como se ela fosse uma estranha.

Eu tinha tantas perguntas, e sabia que Giulia devia ter mais ainda. A minha vida toda eu tinha convivido com a ideia de que minha mãe havia me abandonado, mas Giulia... Amélia havia escondido coisas dela desde seu nascimento.

"Como você me encontrou?", Amélia perguntou, se voltando para mim. Eu estava tão atordoada que nem me senti nervosa por aquilo. Se havia alguém ali que devia fazer perguntas, esse alguém era eu.

"Sebastian me ajudou. Consegui encontrar alguns lugares onde você costumava se apresentar quando era jovem. Essa busca me levou até Cora." E então a raiva me invadiu sem que eu nem pudesse vê-la chegando. Cravei as unhas nas palmas da mão. "Você a abandonou. Ela estava tão doente e confusa... Como conseguiu fazer isso com ela?"

Mas Amélia não respondeu. Sua expressão era uma muralha impenetrável.

Eu me virei para Giulia.

"Você sabia? Sobre a nossa avó?"

Ela piscou atordoada, mas assentiu.

"Eu... Nunca tive muito contato com ela." Giulia então se virou para Amélia, as sobrancelhas franzidas. "Minha mãe nunca deu abertura para isso."

Amélia olhou para a filha e revirou os olhos.

"Foi para o seu próprio bem. O que acha que as pessoas diriam se soubessem que tínhamos relação com ela? Relação com uma mulher que até poucos anos se matava limpando bares de esquina em troca de algumas moedas?"

As palavras me feriram como facas. Ela não tinha vergonha de dizer aquilo? Ou remorso?

"Você nunca mencionou a sua avó para mim", Sebastian disse, os olhos fixos em Giulia. Ela, por sua vez, apenas balançou a cabeça.

"Como eu disse, não éramos próximas."

Eu olhei para Amélia, tentando pensar no que falar a seguir. Havia coisas demais na minha cabeça. Meus pensamentos vagavam de um ponto para outro e eu não conseguia me concentrar em nenhum.

"Como você conheceu o pai dela? Como tudo aconteceu?", Giulia disse então, me poupando de fazer qualquer pergunta.

Eu conhecia um pouco daquela história, mas só tinha ouvido a versão do meu pai.

Amélia se ajeitou no sofá e entrelaçou os dedos. Ela fitou a mesinha de centro e vi seu olhar se perder.

"Eu estava me apresentando em um clube de canto naquela noite. Tinha acabado de ser contratada e saído do lugar imundo onde costumava cantar em troca de um salário péssimo. Eu estava feliz por estar ali. Por ser ouvida por pessoas tão ricas e importantes, embora o que eu quisesse mesmo era estar entre elas.

"Quando terminei a apresentação, Charles me procurou. Ele disse ter ficado fascinado com a minha voz. Eu mal podia acreditar que um dos homens mais poderosos do país estava diante de mim, me elogiando daquele jeito. Foi... um caso de uma noite. No dia seguinte ele tinha ido embora como se nunca tivesse existido. Não significou nada para mim, é claro, e muito menos para ele. Era óbvio que um membro da nobreza nunca iria querer nada comigo."

Eu vi quando a expressão de Amélia ficou carregada de rancor e raiva. Me remexi no assento quando uma imagem mais nova do meu pai apareceu na minha mente.

"Mas então... você aconteceu", ela disse, agora voltando os olhos para mim. Não havia amizade neles, muito menos qualquer outro sentimento fraternal. "Quando soube que estava grávida, fiquei dividida entre a felicidade e a repulsa. Eu não queria um bebê, não quando estava começando a ter uma carreira na música, quando a minha vida estava começando a melhor. Mas, ao mesmo tempo, pensei que talvez aquilo fosse bom. Eu estava grávida do conde de Luckston. A vida que sempre quis estava ao alcance de minhas mãos.

"Quando consegui me encontrar com Charles, ele não ficou furioso ao saber do ocorrido, nem desconfiou que o filho pudesse não ser dele. Naturalmente, depois que você nasceu ele fez um teste de DNA, mas antes do parto ele só parecia preocupado com a situação. Eu disse para ele que deveríamos nos casar, que ele deveria me assumir como esposa e evitar um escândalo maior, mas ele se recusou." Amélia se levantou do sofá e caminhou até a janela, o olhar perdido na rua lá fora. "Eu estava com raiva. Ameacei expô-lo divulgando tudo para a mídia, mas fiquei surpresa quando ele disse que embora não fosse se casar comigo, pretendia cuidar da criança.

"Eu pensei que ele fosse me abandonar com você. Que esqueceria da nossa existência e seguiria com sua vida cheia de privilégios, mas sabe o que ele disse para mim? Disse que havia se casado uma única vez com a mulher que amava e que tinha tido um filho com ela, mas que não pretendia nunca ter uma segunda união sem amor."

Amélia se virou para mim, a raiva estampada em seu rosto.

"Só que eu não queria você, Penelope. Nunca quis. Só encarei aquela gravidez como uma possibilidade de ter uma vida melhor, longe da miséria das ruas de Arthenia onde cresci, longe do meu passado. E não, não me olhe como se eu fosse uma aproveitadora barata. Não tenho medo ou vergonha de falar essas coisas. Essa era a minha realidade e eu só queria uma chance de ter uma vida minimamente digna. Mas quando soube que Charles não pretendia se casar comigo, ameacei tirar a criança de dentro de mim. Eu não queria estar grávida. Não queria nada daquilo."

Eu engoli em seco, tentando não deixar com que as lágrimas me dominassem.

Eu sabia que ela teria o direito de fazer aquilo se quisesse. Para ser sincera, o fato dela ter desejado me abortar não era o que mais doía. O que machucava mesmo era a raiva e o rancor que ela parecia nutrir por mim mesmo depois de tanto tempo.

"Mas Charles queria o bebê", ela continuou, quando percebeu que ninguém na sala diria nada. Não que um de nós três fosse capaz de falar alguma coisa diante das palavras dela. "Ah, ele queria tanto. É claro que a gravidez era um inconveniente para ele, já que tinha acabado de perder a esposa e cuidava de um filho pequeno, mas ele estava disposto a fazer qualquer coisa para garantir que você nascesse bem e saudável. Mas eu não abri mão dos meus desejos tão fácil assim. Naquela época, não havia máculas na nobreza. Ainda hoje vocês se portam como se fossem inatingíveis, mas há quase vinte anos essa era uma questão mais séria. Charles não queria que você nascesse no meio de um escândalo monstruoso, por isso disse que ficaria com a guarda total do bebê. Ele propôs que em troca do meu silêncio, me daria uma boa quantia em dinheiro todos os meses.

"A ideia parecia boa o suficiente para mim. Eu não precisaria cuidar de um filho indesejado e teria mais dinheiro do que um dia pude sonhar na vida, mesmo quando me encolhia na cama dura onde costumava dormir quando criança, ouvindo a minha barrida e a de Cora roncar a noite toda. Aquele arranjo não faria com que eu... bem, com que eu atingisse o status que desejava, mas já era um meio para um fim.

"Quando chegou o momento de você nascer, ele me levou para uma casa de campo onde uma equipe enorme esperava por mim. Você nasceu aos berros, grande e saudável, uma garotinha ruiva parecida comigo. No instante em que Charles te pegou no colo, soube que ele faria o que fosse preciso para mantê-la por perto.

"Ele ficou comigo mais alguns dias naquela casa, enquanto eu me recuperava. Estava quase tudo arranjado. Ele teria que tratar de alguns assuntos em Arthenia a respeito da sua guarda, mas eu não me importava com nada daquilo. Desde que você nasceu, Charles cumpriu com o acordo que fizemos e eu fiquei bem."

"Então..." Eu engoli em seco, tentando encontrar as palavras certas. "O meu pai ainda tem contato com você? Ele... Ele ainda te dá esse dinheiro?"

"Não nos falamos há alguns anos, mas ele tem todos os meios de me encontrar se quiser. Charles nunca insistiu para que eu a conhecesse, não que eu quisesse isso. As coisas melhoram não muito tempo depois, quando conheci Chris. Em menos de um ano a minha vida tinha mudado completamente e devo admitir que não precisei mais do dinheiro do sei pai. Mas você sabe o que dizem, é sempre bom ter mais de uma fonte de renda."

Eu me encolhi e pensei em meu pai. Todos aqueles anos ele tinha me dito que não sabia exatamente onde a minha mãe vivia, o que fazia ou qualquer outra mínima informação importante. Falava que estávamos melhores sem ela e que eu não devia me preocupar, mas era tudo enganação. Durante todo aquele tempo ele continuava dando dinheiro a ela com o objetivo de mantê-la longe de mim, escondida e em silêncio.

Ele podia ter me contado. Podia ter explicado tudo e ter me dado a opção de encontrá-la ao invés de ocultar durante toda a minha vida onde Amélia vivia e o que realmente tinha acontecido entre eles.

"E quanto a mim?", ouvi a voz de Giulia dizer. Ela também tinha se levantado, encarando a mãe de frente. "Existe alguma mentira por trás do meu nascimento também?"

Amélia olhou para ela com descaso, mas então respirou fundo e fez que não com a cabeça.

"Conheci seu pai pouco depois de tudo isso, querida. Nós dois nos apaixonamos e eu engravidei de você antes mesmo de nos casarmos."

"Se apaixonaram?" Eu percebi a descrença nos olhos de Giulia. "Ou você só se aproximou dele por que era um empresário rico?"

Amélia fuzilou a filha com o olhar, mas em seguida se voltou para Sebastian com um sorrisinho irônico.

"Não que você tenha agido diferente há alguns meses com ele, não é?"

Giulia lançou um olhar para Sebastian, mas então balançou a cabeça e fechou os olhos por um instante.

"Você sabia que eu não gostava de Sebastian. Me forçou a me aproximar dele quando mudei de colégio. Disse que eu tinha chances de ficar ao lado da Família Real."

Amélia soltou uma risada desprovida de qualquer humor.

"Pelo amor de Deus, Giulia, como se eu tivesse te manipulado. Você também queria tanto o glamour da realeza que se sujeitou a ficar com ele."

"Porque você sempre colocou na minha cabeça que eu precisava alcançar o grande, que não devia me contentar com nada menos do que fosse capaz de conseguir!", Giulia gritou, o rosto vermelho.

"Parem com isso!", eu disse, agora me levantando também. Não olhei para Sebastian. Nem precisava. Eu sabia como ele devia estar se sentindo naquele momento, sendo discutido como se não passasse de um objeto.

"Como posso acreditar em qualquer coisa que você diz afinal de contas?", Giulia continuou, e percebi que seus olhos estavam se enchendo de lágrimas. "Por todos esses anos você mentiu para mim, nunca me disse que eu tinha uma irmã! Nunca passou pela sua cabeça que eu merecia saber disso?"

"Eu te dei tudo, garota", Amélia disse, levantando a voz e se voltando contra Giulia. "Dei a vocês duas, mesmo que nunca tenha me importado com ela." E ela apontou para mim ao dizer aquilo. "Penelope é filha de um conde. Acha que ela sabe o que é sentir fome e frio? Acha que um dia vai saber qual é a sensação de vergonha por ver seus colegas de escola rirem da sua mãe por ela andar sempre esfarrapada demais, como uma mendiga? E você, Giulia? Você cresceu cercada das melhores coisas que o dinheiro é capaz de comprar. Vocês duas têm pais que se importam com vocês e que não as abandonaram antes mesmo de nascerem." Amélia, que havia segurado Giulia pelos ombros, a largou de uma vez, quase a derrubando no chão. Seus olhos estavam perdidos. "Eu te dei tudo, Giulia, então não ouse se virar contra mim agora."

As lágrimas escorriam pelo rosto de Giulia. Eu própria sentia como se estivesse prestes a desmoronar. Vi quando ela enxugou o rosto com força, deixando vergões nas bochechas. Ela cerrou as mãos em punhos e olhou para Amélia.

"Você tem razão", Giulia sussurrou tão baixinho que mal a ouvi. "Você me deu tudo que eu poderia desejar. Menos amor."

Amélia se limitou a soltar uma risadinha debochada e sacudiu a cabeça, abraçando a si mesma enquanto se afastava.

"Ah, eu dei, sim", ela replicou. "Pelo menos lhe dei mais disso do que dei a outra."

"Por quê?", perguntei em um fiapo de voz, agora sem mais tentar conter as lágrimas que enchiam meus olhos. "Por que você me odeia?"

Amélia se aproximou de mim. Eu senti os pelos da minha nuca se eriçassem e o frio mais avassalador me envolver. Os olhos dela eram como gelo, impenetráveis e cruéis.

"Porque você é uma lembrança viva de tudo o que eu sempre quis e não consegui ter. Também nunca acreditei que seu pai tenha se recusado a casar comigo por qualquer outro motivo que não fosse vergonha de me ter ao lado dele", ela respondeu com rancor. "E você acha que não te acompanhei a distância durante esses anos, Penelope? Você cresceu coberta de amor e pessoas que fizeram todas as suas vontades. Você já nasceu cercada de tudo aquilo que eu olhava com inveja quando era mais nova e minha mãe era contratada para tocar na casa de famílias ricas da cidade. Cheia de paparicos, rodeada de gente importante. Com Giulia foi a mesma coisa, mas ela cresceu perto de mim, quando eu própria já tinha conseguido o que mais queria: uma casa grande para morar, um marido atencioso e rico e empregados para me servirem, ao invés do contrário."

"E você acha que essas coisas dizem algo sobre mim?", perguntei, tentando sentir raiva, tentando ficar irritada, mas só me deparando com o vazio horrível que ocupava meu coração. "Nada disso é importante. Durante toda a minha vida eu só quis saber quem você era, alimentei esperanças de que talvez, só talvez, eu tivesse uma mãe em algum lugar que me amasse. Agora eu sei que fui uma idiota por querer tudo isso."

Amélia me olhou nos olhos e então assentiu devagar.

"É. Você foi."

Eu solucei e me afastei dela, sem mais conseguir encarar aqueles olhos.

"Não volte mais aqui, Penelope", a ouvi dizer. "Não quero que meu marido saiba sobre você. Seria ótimo se pudesse fazer um pequeno favor para mim e dizer ao seu pai que estou até mesmo feliz com o que você se tornou." Então ela lançou um olhar para Sebastian e sorriu. "Pelo jeito, eu ainda vou ver uma das minhas filhas se relacionando com a realeza. A garotinha imunda e faminta que eu fui um dia nunca teria esperado algo assim."

Eu não aguentava mais um segundo naquela casa.

Com a visão embaçada, tentei me lembrar do caminho até a porta de entrada. Ouvi o som da cadeira de rodas de Sebastian atrás de mim, mas não consegui dizer nada a ele.

Tinha finalmente encontrado o corredor que me levaria até a porta quando ouvi alguém me chamando.

"Penelope!"

Me virei e vi Giulia se aproximar no corredor. Nos encaramos por um tempo, com Sebastian entre nós. Eu via as lágrimas ainda rolando por seu rosto. Os olhos – que agora eu percebia serem tão parecidos com os meus – estavam desolados.

Eu não conseguia encará-la.

Eu sabia o quanto aquela garota tinha magoado Sebastian, sabia que ela o tinha ferido e sido cruel com ele de uma maneira que o deixou em pedaços. E, mesmo assim, não conseguia deixar de sentir um pouco de pena dela por toda a situação com Amélia.

Sabia que não havia justificativa para os seus atos a respeito de Sebastian, mas, olhando por certo ângulo, parecia bem claro de onde toda a sua mesquinharia e crueldade tinham saído.

De formas diferentes, tanto eu quanto ela tínhamos sofrido nas mãos da nossa mãe.

Encarei Giulia. Ela parecia querer dizer alguma coisa, mas não conseguia encontrar as palavras.

Eu balancei a cabeça, tentando não desmoronar ali mesmo no corredor.

"Sinto muito, mas não consigo. Não agora." Ela pareceu entender o que eu queria dizer, pois assentiu e me deixou sair da casa sem dizer mais nada.

Uma vez na calçada, eu tentei respirar fundo. Embora a rua estivesse silenciosa e ninguém estivesse por perto, mil vozes na minha cabeça gritavam. A de Giulia, de Amélia, a minha própria e a do meu pai.

Só me dei conta do que estava fazendo quando já tinha discado o número no celular.

"Penelope, não faça isso agora", ouvi a voz de Sebastian, mas eu estava andando pela calçada, tentando me manter em movimento, tentando afastar a dor antes que ela me dominasse por completo. "Você está de cabeça quente e nada vai se resolver desse jeito."

Mas eu não o dei atenção.

"Penelope?", ouvi a voz do meu pai do outro lado da linha, e foi como se alguém me acertasse um murro no estômago.

De todas as pessoas no mundo, eu nunca pensei que seria ele capaz de me magoar tanto.

"Você mentiu para mim", eu disse em voz alta, e só então percebi o quanto o nó na minha garganta me impedia de falar qualquer coisa com clareza. "Por que mentiu para mim?"

"Querida, você está bem? Do que está falando?"

"Sobre Amélia!", gritei, sem nem me importar de estar no meio da rua. "Por todo esse tempo você sabia exatamente onde ela estava! Você esteve dando dinheiro a ela em troca de silêncio. Como pôde fazer isso comigo? Nunca viu o quanto eu sofria por conta dela? O quanto queria encontrá-la?"

Meu pai disse alguma coisa, mas eu não consegui entender. Tentei parar de soluçar, parar de arrancar fios do meu cabelo com força em uma tentativa inútil de controlar algum dos meus sentimentos.

"Eu quis te proteger", o ouvi dizer entre uma torrente de palavras.

"Me proteger da pessoa horrível que ela é? Bom, agora eu sei disso. Mas não teria sido bem mais fácil se você tivesse me explicado tudo? Se não tivesse ocultado tanta coisa? Eu não sou mais uma criança há muito tempo, pai." Eu me encostei em uma parede de uma casa qualquer quando uma ideia me ocorreu, fazendo meus joelhos fraquejarem. "Se tivesse sido sincero, se tivesse me dado a oportunidade de escolher o que eu queria, talvez eu houvesse passado mais tempo com ela... Com Cora." Chorei quando o rosto triste da minha avó surgiu na minha mente. "Ela não parecia ser uma pessoa ruim. Ela estava sozinha depois de Amélia tê-la abandonado por vergonha de quem era. Se você tivesse me contado tudo..."

"Penelope..."

"Mas agora é tarde demais. Ela está morta." Eu enxuguei meu rosto e olhei para o céu. Nuvens pesadas começavam a se formar e por um segundo pensei que talvez não tivesse muito tempo antes da chuva desabar. "E eu tenho uma irmã. Você sabia disso também?"

"Eu..." Ele tentou dizer qualquer coisa, mas eu não estava disposta a ouvir.

"Sabia?", insisti.

O silêncio que se estendeu foi resposta o suficiente.

"Não consigo acreditar que fez isso comigo, pai.", sussurrei. "Amélia mentiu para Giulia, e você mentiu para mim."

Desliguei antes de ouvi-lo dizer mais alguma coisa, sentindo quando as primeiras gotas de chuva atingiram minha pele.

Vi Sebastian parado a alguns metros, me olhando como se estivesse perdido.

Não consegui dizer nada. Nem ele.

Vinte minutos depois nós estávamos de volta ao palácio. Entrei no meu quarto e fechei a porta à chave. Desliguei meu celular, que não parava de tocar com chamadas do meu pai, e me deitei na cama.

Não saí daquele lugar por dois dias.

______________________❤️__________________

*Avisos*

Oii gente!

Eu sei que aconteceu bastante coisa nesse capítulo e é por isso mesmo que quero saber TUDINHO que vocês acharam!! Tô muito ansiosa para ler os comentários de vocês!

Também não esqueçam de deixar a 🌟 porque postar dois capítulo grandes hoje e ontem não foi fácil hahaha.

Também queria avisar (com um pouco de pesar no coração) que planejei todo o final do livro e UPPP terá 36 capítulos e um epílogo (de acordo com o meu cronograma até agora). Por isso é bem provável que o livro termine agora em outubro. Estou muito feliz por ter vocês aqui comigo e espero que continuem acompanhando o livro agora na reta final que MEU DEUS, tem muita coisa! 
Meu coração já dói de ter que dizer adeus, mas o fim chega sempre galera.

Muito obrigada por terem lido até aqui! Vocês me inspiram todo dia a continuar escrevendo mais e mais.

Um milhão de beijos e até semana que vem!

Ceci.

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