Capítulo Sete - Penelope

"A expressão dela é de alguém entediada."

"Você acha? Parece serena..."

"E não é a mesma coisa?"

Eu desviei os olhos do memorial e sorri para Margot.

"Bom, tanto faz. O que importa é a história por trás dela."

"Ah, pelo amor de Deus, não me venha com essa", disse a princesa com uma careta, se afastando da janela do carro por onde observávamos a praça apinhada de turistas. "Já não basta Sebastian!"

"Alice foi casada com o rei Albert II por apenas um ano antes de sua morte prematura", comecei a dizer sem me conter, voltando os olhos para o grande memorial dourado no centro da St. Harold Square, que àquela época do ano estava cheio de turistas entusiasmados. A grande construção retratava uma mulher aparentemente jovem de expressão tranquila. Ela tinha uma coroa de flores na cabeça e estava sentada em um delicado trono. "Quando ela morreu, o rei ficou tão abalado que se recusou a sair do palácio por meses. Depois que o memorial ficou pronto, dizem que ele vinha todos os dias chorar aos pés dela. O rei não se casou novamente depois daquilo."

"Muito triste", comentou Margot, claramente entediada. Seus olhos claros se voltaram para mim e ela abriu um pequeno sorriso de lado. "Sabia que há boatos que dizem que a rainha Alice traia o marido com um cavalariço do castelo?"

Eu torci o nariz para ela, mas não consegui deixar de soltar uma risada.

"E você acaba de destruir uma bela história de amor."

"Não é minha culpa que Albert II fosse meio idiota", ela retrucou, erguendo as mãos em sinal de redenção. "Como pode ver, eu também tenho meus conhecimentos sobre história."

Sorrindo, voltei os olhos para a praça. O sol estava alto no céu e o dia parecia perfeito para ficar ao ar livre. Por mais que não me sentisse cem por centro confortável dentro do carro, o alívio por saber que a liberdade estava ao alcance da minha mão caso precisasse dela era reconfortante.

"Sinto muito que não possa ir lá para fora com você", Margot disse de repente, fazendo com que eu voltasse a atenção para ela. "Com toda essa gente, não conseguiria passar despercebida."

"Não, está tudo bem", apressei-me a dizer, pousando uma mão no braço dela. "Eu entendo. Além do mais, nós já passeamos muito hoje."

"Acho que Eloise concorda com você..."

Eu sorri e voltei os olhos para a garota que dormia profundamente na cadeirinha do carro. Depois de todas as voltas que Margot e eu tínhamos dado em lojas e alguns pontos turísticos menos agitados da cidade, ela ficou cansada rapidinho.

Era engraçado pensar que, um dia, talvez aquela mesma garotinha fosse a rainha de um país inteiro. Naquele instante ela só parecia mais uma criança normal.

"Então, quer visitar mais algum outro lugar?", perguntou Margot naquele instante.

"Ah, não por hoje", respondi. "Já é quase meio-dia e tenho certeza que tia Matilde já deve estar se perguntando onde eu me meti."

Margot riu e disse para o motorista que queríamos voltar para o palácio. O carro voltou a se mover e a praça ficou para trás. Me perguntei o que todas aquelas pessoas fariam se soubessem que a princesa de Steinorth estava dentro daquele carro preto discreto.

"Ela é alguém bem rígida, não?", Margot disse. "A sua tia. Já lidei com gente como ela a vida inteira. Reconheço uma ditadora quando vejo uma."

Eu ri, colocando uma mecha do cabelo atrás da orelha.

"Ela é do tipo que... Bem, gosta de ter as coisas sob controle."

"Eu diria que ela é do tipo que gosta de ter as pessoas sob controle." A princesa semicerrou os olhos na minha direção, um sorriso travesso se formando em seus lábios. "Sabe, eu poderia te ajudar com isso. Tenho métodos bastante eficazes que fazem mulheres como ela saírem do seu pé rapidinho..."

"Ah, é? Tipo o quê?"

"Digamos que um rato branco fofinho poderia surgir na cama dela um dia desses..."

Eu ri, mas demorei poucos segundos para perceber que ela não estava brincando.

"Você está falando sério?", perguntei, arregalando os olhos para Margot.

A princesa sorriu timidamente.

"Assustei você, não é? Papai vai me matar..."

Ok, talvez eu estivesse um pouco assustada. Só um pouquinho.

"Não se preocupe, eu não faço mais uma coisa dessas há anos...", ela disse, tentando me tranquilizar. "É que eu costumava ser uma criança um pouco... Bom, eu não sei se existe uma palavra para descrever o meu comportamento. Não que ele tenha mudado muito nos últimos anos..." Ela riu diante da minha expressão. "Digamos que eu e minhas babás e tutoras não nos dávamos muito bem."

"Bem, eu não era diferente", disse, agora um pouco mais tranquila. "Nenhum dos meus professores conseguia me manter quieta por tempo suficiente para enfiar algo na minha cabeça. Eles acabavam desistindo." Eu ergui uma sobrancelha para a princesa, sem conseguir deixar de sorrir. "Mas nunca coloquei animais de nenhum tipo na cama de alguém. Não tenho isso no meu repertório."

"Ah, os gritos que elas soltavam..." Margot abriu um sorriso tranquilo, colocando as mãos atrás da cabeça. "Sebastian e eu tínhamos que fugir correndo para evitar que alguém ouvisse nossas risadas."

"Então o príncipe estava envolvido nesses planos também?", não resisti a vontade de perguntar, ansiosa para saber mais um pouco sobre ele. De algum modo eu não conseguia enxergar aquele garoto participando de uma coisa daquelas. Ele e Margot, apesar de serem parecidos fisicamente, não me davam a impressão de terem personalidades semelhantes.

"Ah, você já caiu na lábia dele, não é?", a princesa disse, sorrindo para mim. "Não se engane por todos aqueles modos pomposos e jeito contido. Sebastian era meu comparsa em todas as nossas travessuras. Não conte para ele que eu disse isso, mas se não fosse por sua ajuda eu jamais conseguiria me safar da maioria dos nossos truques."

Eu ri e desviei os olhos para a janela, observando enquanto as ruas de Arthenia passavam rapidamente do lado de fora. Naquele instante vi uma mulher saindo de uma loja de roupas segurando uma garotinha loira pela mão. A menina por algum motivo começou a chorar e a mulher – que devia ser sua mãe – a pegou no colo, passando uma mão por seus cabelos.

Antes que eu piscasse, a cena já tinha ficado para trás, mas o nó em minha garganta permanecia apertado. Eu não fazia ideia de qual era a sensação de ser consolada por uma mãe, e por mais que dissesse para mim mesma que meu pai sempre tinha sido mais que o suficiente na minha vida, o vazio que sentia no lugar onde uma outra pessoa deveria estar permanecia ali.

A cada ano, aquilo era mais difícil de ignorar.

Eu levei uma das mãos ao topo da cabeça, arrancando um fio de cabelo com força.

Era aquele um dos motivos pelos quais eu tinha aceitado vir para Arthenia afinal de contas. Queria, de alguma maneira que eu ainda não sabia como, me encontrar com minha mãe e ser capaz de entender o motivo pelo qual ela nunca quis participar da minha vida. Queria conhecê-la e olhar em seus olhos para que assim, talvez, eu conseguisse deixar todas as minhas dúvidas a respeito dela para trás e ser capaz de seguir em frente, sem ficar me perguntando todo dia o que ela poderia estar fazendo e que tipo de pessoa era.

O único problema era que eu não tinha muita noção de como encontrá-la. Só sabia seu nome, idade e...

Bom, pelo menos era uma pista, certo? Tinha que me agarrar até às mais ínfimas possibilidades se quisesse encontrá-la naquela cidade enorme.

"Margot, você conhece algum pub famoso da cidade? Onde há apresentações musicais e coisas do tipo?", perguntei de repente, me arrependendo logo em seguida. Seria bem menos suspeito se eu simplesmente iniciasse as minhas buscas pela Internet...

A princesa, porém, não me olhou de um modo estranho. Parecia ter recebido uma pergunta perfeitamente normal.

"Bom, conheço alguns de nome", ela disse tranquila. "Mas não frequento lugares do tipo. Meu pai me mataria se ao menos cogitasse a ideia..."

Ela riu e eu a acompanhei, tentando ignorar as borboletas descontroladas no meu estômago.

"Até onde sei há centenas de pubs em Arthenia", ela continuou dizendo, e tentei disfarçar a onda de desânimo que se apoderou de mim naquele instante. "Mas os mais bem respeitados costumavam ficar bem no centro da cidade, tipo o Oasis Club. Muitos cantores nacionais famosos hoje em dia já se apresentaram lá quando estavam iniciando a carreira."

Eu assenti, meus pensamentos disparando em todas as direções.

Talvez o Oasis fosse bastante conhecido hoje em dia, mas e há dezoito anos? Quais eram as casas de show mais famosas naquela época? Uma tão bem respeitada que um conde frequentaria na noite sem pensar duas vezes?

Eu não fazia ideia e não era como se pudesse sair perguntando por aí. Teria que dar um jeito de descobrir sozinha e seguir as pistas que fossem aparecendo ao longo do caminho. Eu só precisava de um plano. Um plano organizado e objetivo. Era uma pena que eu própria não tivesse aquelas características...

"Você queria ir a algum pub?", perguntou Margot de repente, e eu tentei disfarçar o nervosismo que senti.

"Na verdade..." Engoli em seco, perguntando a Deus porque tinha me feito uma péssima mentirosa. "Bom, eu costumava frequentar alguns bares com meus amigos em Lyria. Acho divertido."

Os olhos de Margot brilharam.

"Ah, deve ser ótimo!", ela disse, empolgada. "Sabe, por mais incríveis que sejam as viagens que já fiz, às vezes é dessa simplicidade que sinto falta, entende? Não é tão fácil para mim simplesmente ir aonde me dá na telha. Nas vezes em que já fiz isso, sempre acabei virando notícia em algum portal mentiroso e deixei meu pai louco da vida..."

"Ele preza muito pela sua imagem, então?", perguntei.

"Bom, sim, mas ele também é bastante superprotetor", ela contou, soltando um suspiro. "Ele melhorou bastante nos últimos anos, mas ainda tem essa paranoia sempre que Sebastian e eu estamos longe. Quer dizer, agora é só quando eu estou longe, passeando por aí. Sebastian também gostava de sair de casa às vezes, mas..."

"Gostava?", não consegui deixar de perguntar, olhando atenta para Margot.

A princesa pareceu um pouco indecisa sobre o que dizer a seguir. Ela mordeu o lábio inferior e brincou com o pequeno pingente dourado que levava ao pescoço. Aquilo só me deixou ainda mais curiosa.

"Sebastian tem ficado muito em casa nos últimos tempos", ela deixou escapar por fim, o que só me deixou ainda mais intrigada. "Faz um tempo desde que saímos juntos sem ser para o colégio."

Naquele instante me lembrei de novo do que o meu pai tinha dito antes que eu embarcasse em Lyria. As palavras que ele tinha usado para descrever o príncipe surgiram na minha cabeça, dessa vez claras como água: Recluso. Deprimido.

O que, por Deus, poderia ter acontecido?

As lembranças da noite anterior me acertaram com força, assim como as daquele dia mais cedo, quando vi o príncipe surgir durante o café da manhã. O pouco que tinha visto dele, eu já tinha gostado. Ele se mostrara alguém gentil e me ajudou quando precisei, assim como respeitou o meu pedido de manter os acontecimentos da noite passada em segredo. Era claro que ele não era animado e agitado como a irmã gêmea, na verdade era discreto e tinha aquele olhar que não deixava escapar muita coisa.

Era uma incógnita. Uma incógnita que eu adoraria decifrar.

"Sempre foi difícil para nós frequentar outros lugares", disse Margot naquele instante, me arrancando de meus pensamentos. Ela não olhava diretamente para mim, parecia ansiosa. "Quer dizer, qualquer jantar fora ou passeio diferente sempre vira uma grande coisa para a mídia, então nos divertíamos mais quando viajávamos para cidades pequenas do condado e coisas assim. Mas já faz um tempo que isso não acontece. Ele costumava gostar bastante..."

Eu já estava prestes a abrir a boca e perguntar de uma vez o que tinha acontecido quando Eloise acordou, se espreguiçando ruidosamente.

"Que horas são?", ela perguntou.

Margot se virou para a sobrinha com um sorriso, parecendo aliviada. Eu engoli minha curiosidade e tentei acalmar meus pensamentos, que disparavam em todas as direções. Aquela história que o próprio Sebastian tinha contado mais cedo, sobre ter muitas coisas para fazer... Humpf! Se antes eu já não acreditava nem um pouco naquilo, depois daquela conversa com Margot, então...

Vi os portões do castelo se aproximarem pela janela do carro e senti meu coração pular levemente no peito. Lá dentro, em algum lugar, havia um príncipe que, pelo que eu já tinha percebido, estava enfrentando algum problema.

Antes de embarcar, meu pai tinha me dito que talvez fosse uma boa ideia eu tentar animá-lo, passar tempo com ele... À princípio, aquela ideia não me agradou. Não queria que o rei ou qualquer outra pessoa estivesse esperando que eu fosse responsável por alegrar outra pessoa ou qualquer coisa do tipo. Mas agora... Agora eu queria fazer aquilo.

Me lembrei do momento em que o príncipe me encontrou na noite anterior. Ele segurou minha mão e não a soltou. Não se intimidou pelo meu ataque claustrofóbico e se preocupou comigo de uma maneira que me fez sentir segura. E, embora eu não o conhecesse muito bem e não soubesse ao certo quais eram os demônios que ele enfrentava, estava disposta a ajudar como pudesse.

Abri um sorrisinho discreto, sentindo a empolgação crescer no meu peito.

Talvez eu fosse capaz de criar um plano organizado e objetivo afinal de contas...

____________________♥️___________________

Oii gente! Depois de mil anos trouxe um capítulo para vocês no domingo hahaha.

Então, não sei se esse capítulo ficou muito bom porque eu meio que estava passando por um pequeno bloqueio quando escrevi, por isso já peço desculpas. Mas, mesmo assim, me contem! O que acharam? Já têm ideia do que a Penny vai aprontar? Eu é que não vou contar... O próximo capítulo está muito divertido!

Vejo vocês em breve, se cuidem!

Ceci.

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