Capítulo Quatro - Penelope


O pouso em Arthenia foi tranquilo. Ou, pelo menos, o mais tranquilo que poderia ser considerando a pequena quantidade de repórteres que me esperavam do lado de fora do aeroporto, com suas câmeras e microfones apontados diretamente para mim.

Aparentemente a minha chegada à cidade não tinha conseguido se manter tanto em segredo quanto o meu pai e o rei desejaram, mas tentei não ligar muito para aquilo, embora minhas mãos suassem e eu me sentisse um tanto quanto apreensiva ao pensar no que as revistas de fofoca diriam sobre mim e o quão rápido a notícia da minha chegada em Arthenia se espalharia.

Conforme era conduzida junto de tia Matilde por um punhado de guardas do palácio que nos esperavam no aeroporto até uma limusine luxuosa, tentei respirar fundo e pensar que apesar da minha localização atual em breve não ser mais um segredo, eu pelo menos estava a centenas de quilômetros de Lyria, o que consequentemente me colocava a centenas de quilômetros de Damien também.

Senti um arrepio perturbador subir pela minha espinha ao pensar naquele nome e cravei as unhas nas palmas das mãos, me obrigando a manter o controle.

Era hora de deixar aquilo para trás de uma vez por todas. Damien e o que tinha acontecido entre nós devia pertencer ao passado e não mais me atingir, aliás, aquele era um dos motivos pelos quais eu tinha fugido para Arthenia. Ali era um lugar em que o medo não podia mais me manter aprisionada.

"Você está bem?", ouvi a voz de tia Matilde perguntar de repente, quando a limusine começou a se deslocar deixando o aeroporto para trás. Percebi que atrás de nós e à nossa frente havia carros pretos do palácio, nos escoltando por toda a cidade.

"Estou sim", respondi, olhando para a minha tia e tentando soar o mais natural possível. "Só um pouco nervosa."

Tia Matilde não respondeu, ao invés disso tirou um espelhinho da bolsa e começou a ajeitar os cabelos pela centésima vez desde que tínhamos saído de Lyria.

Como que influenciada pela preocupação dela com a aparência, me peguei encarando meu reflexo na janela do carro, passando as mãos nervosamente pelo cabelo que caía sobre os ombros sem nenhum penteado sofisticado ou coisa parecida.

Minhas olheiras ainda estavam visíveis apesar da maquiagem que eu tinha aplicado antes de sair de casa, entregando as poucas horas de sono que tivera na noite anterior.

Conforte a limusine passava pelas ruas da cidade, vi muita gente parar suas atividades cotidianas para olhar curiosos para nós, com certeza notando o enorme brasão da família real estampado na lataria do carro.

Pensei que Arthenia não era muito diferente das outras capitais dos condados que eu já tinha conhecido. Populosa e de grandes arranha-céus, era um lugar agitado que parecia oferecer uma porção de atividades que eu já estava ansiosa para participar. Fazia um bom tempo desde que eu saíra de casa para me divertir pela última vez...

Algo dentro de mim também se remexia em curiosidade e apreensão ao ver cada parte daquele lugar. Eu tinha vindo a Arthenia pouquíssimas vezes durante a vida e apenas na infância e no início da pré-adolescência. Agora, voltando ali com certa idade, eu não conseguia parar de pensar que aquela era a cidade onde eu havia nascido, onde, em algum lugar que eu não fazia ideia de onde era, a minha mãe provavelmente ainda vivia. Eu quase me arrependia por não ter pressionado meu pai ao longo dos anos para conseguir mais algumas informações sobre ela. Talvez, se soubesse mais que seu nome completo e sua idade aproximada, conseguiria encontrá-la com mais facilidade.

Acabei ficando tão absorvida em pensamentos, que me surpreendi quando vi a cidade ficar para trás e a limusine do palácio começar a traçar caminho pela colina que me levaria até os portões do castelo.

Olhando para as árvores que margeavam a estrada, eu me surpreendia com o tom de verde vivo da mata e o som baixo dos pássaros ao redor. Era tudo lindo demais, porém nada se comparou ao meu espanto ao ver o castelo de perto, que mais parecia uma daquelas construções saídas diretamente de um conto de fadas.

Eu já tinha visitado o castelo uma vez com o meu pai em um dos bailes do Dia da Nova Conquista, mas aquilo tinha sido há muitos anos e minhas memórias já não pareciam fazer mais jus à grandiosidade do palácio.

As torres brancas pareciam ser capazes de arranjar o céu, as centenas de janelas brilhavam à pálida luz do sol e lá no topo da torre mais alta, a bandeira negra e azul-marinho com a coroa dourada do país no centro, tremulava ao vento.

Era uma das coisas mais estupendas que eu já havia colocado os olhos.

"Oh, olhe só esse jardim!", ouvi tia Matilde dizer, quando guardas do palácio abriram os portões dourados do castelo para que a limusine entrasse, serpenteando entre os enormes canteiros floridos do palácio.

"Será que eles têm girassóis?", perguntei empolgada, ansiosa para ver um cantinho destinado às minhas flores preferidas.

"Algo me diz que eles devem ter todo tipo de flores nesse lugar...", tia Matilde sussurrou baixinho.

Eu sorri, tamborilando nervosamente os dedos na perna, ansiosa para sair logo daquele carro.

Assim que a limusine parou, não esperei que um guarda próximo viesse abrir a porta para mim. Em menos de dois segundos eu já tinha pulado do carro e respirado uma grande lufada de ar puro, recebendo um olhar reprovador da minha tia no processo.

Foi só naquele momento que percebi as pessoas paradas em frente às grandes portas de entrada do castelo, lado a lado em uma fila perfeita.

Tia Matilde naquele instante se colocou ao meu lado – só depois de ter a própria porta aberta por outra pessoa, claro – e começou a passar as mãos pela saia do vestido escuro de maneira nervosa.

"Fique ereta, Penelope!", ela sussurrou rispidamente para mim quando começamos a ser conduzidas até a escadaria que levava às enormes portas duplas, onde a família real nos aguardava. "Sua postura é a mesma de uma cadeira torta."

"Eu nunca vi uma cadeira torta antes", não consegui deixar de dizer, sorrindo. "Pelo menos não uma que tenha sido feita assim de propósito..."

O olhar cortante que tia Matilde me lançou me fez fechar a boca.

Quando finalmente chegamos ao topo das escadarias e eu me vi frente a frente com o rei, percebi que ele devia ter quase a idade do meu pai. Seu cabelo e barba rala eram grisalhos, e apesar da postura perfeita eu podia perceber como seus ombros estavam um pouco curvados para frente, como se estivesse segurando um peso muito grande nas costas.

Talvez o peso de um país inteiro, para ser mais exata.

"Majestade", minha tia disse naquele instante, fazendo com que eu acordasse e também me curvasse diante do rei, torcendo para que ele não percebesse logo de cara que as minhas maneiras não eram tão refinadas assim.

"É um prazer recebê-las na nossa casa, Srtas. Beverley", o rei disse de maneira simpática, com um sorriso contido no rosto. "Estou muito feliz que tenham aceitado passar um tempo conosco."

"A honra é toda nossa, Majestade", disse tia Matilde, antes que eu pudesse abrir a boca para falar qualquer coisa. "Minha sobrinha e eu temos certeza que passaremos dias maravilhosos no palácio."

Ela então olhou sugestivamente para mim e eu pigarreei, tentando encontrar algo adequado para dizer.

"É isso mesmo", falei, abrindo um dos meus melhores sorrisos e torcendo para que meu rosto não estivesse tão vermelho quanto o meu cabelo naquele instante. "Estamos..." Maravilhadas? Empolgadas? Aliviadas? "Agradecidas", disse por fim, mesmo sabendo que aquela palavra não descrevia nem metade do que eu realmente estava sentindo.

A empolgação e a ansiedade pareciam brigar no meu peito, clamando por atenção, enquanto eu tentava não pensar muito no que a minha vida seria nos próximos meses. Para ser sincera, eu preferia focar no alívio que sentia por ter deixado as minhas grandes preocupações para trás em Lyria, assim como abrir o coração para as novas possibilidades que poderiam vir no meu curto tempo em Arthenia.

"Permitam-me apresentar minha filha mais nova, Margot", disse o rei naquele instante, me poupando da vergonha de ter que falar mais qualquer outra coisa.

Naquele instante eu finalmente consegui dar mais atenção à jovem que se encontrava ao lado do rei. Ela era baixinha, tinha longos cabelos castanhos e olhos azuis-esverdeados que se pareciam bastante com os do pai. Mas apesar de tudo nela ser lindo e radiante, era seu sorriso empolgado e verdadeiro que chamava toda a atenção.

"É um prazer finalmente conhecê-la!", a princesa disse, e antes que eu pudesse me curvar em uma reverência, ela já tinha se aproximado e me envolvido em um abraço caloroso. "Não vejo a hora de nos conhecermos melhor!"

Tudo bem, eu estava mesmo um pouco chocada com aquela recepção tão calorosa da parte da princesa, mas de maneira alguma constrangida ou incomodada.

Alegre, retribuí o abraço com o mesmo fervor, me sentindo feliz por aquele gesto tão espontâneo.

A princesa abraçou tia Matilde com o mesmo entusiasmo, mas ela não soube tão bem como agir diante da demonstração de afeto. Eu tinha a impressão que minha tia sabia exatamente como se portar com as pessoas desde que nada envolvesse um contato tão íntimo como um abraço.

"E essa é minha neta, Eloise, filha do meu filho mais velho", o rei continuou quando a princesa se juntou a ele novamente. "Ela está passando um tempo conosco também, já que os pais tiveram que viajar por alguns dias."

Eu baixei os olhos para a garotinha também de cabelos castanhos, que estava praticamente agarrada à perna do rei.

Ela era bem pequena e não parecia ter mais de três anos, os olhos castanhos curiosos iam rapidamente de mim para a minha tia, como se tentasse entender quem éramos nós e o que estávamos fazendo ali.

Sem pensar duas vezes, me abaixei para que ficássemos da mesma altura.

"Oi", eu disse com um pequeno sorriso, acenando para a princesinha. "É um prazer conhecê-la, Eloise. Eu adorei o seu vestido."

Assim como eu, a garotinha estava usando um vestido rodadinho cheio de estampas coloridas que roubavam toda cor do local.

A princesa ficou em silêncio por um tempo, como se estivesse me avaliando, mas antes que eu começasse a ficar apreensiva, ela abriu um sorriso e deu um passo para frente, ficando mais perto de mim.

"O seu cabelo é lindo", ela disse, fazendo com que eu sorrisse ao mesmo tempo em que soltava um suspiro aliviado.

"Você gostou?" Passei a mão casualmente por uma mecha do meu cabelo. "Posso te deixar fazer penteados nele mais tarde. O que acha?"

Os olhos da princesa – que ao vivo pareciam muitíssimo com os da mãe, que eu já tinha visto em fotos e vídeos da Internet – se iluminaram e ela deu um pulinho no lugar.

"Tudo bem!"

O rei riu e eu o vi lançar um olhar carinhoso para a neta, enquanto acariciava sua cabeça de uma maneira quase imperceptível.

Puxa, eu já estava gostando mesmo daquele lugar! Ninguém ali parecia rígido e frio como uma estátua de pedra, como eu esperava...

Eu me ergui, satisfeita por ver que Eloise já não parecia mais tão tímida perto de mim.

"Eu também queria pedir desculpas pela ausência do meu filho Sebastian", o rei falou naquele instante, fazendo com que toda a minha atenção voltasse para ele e meu coração desse um pulinho no lugar. Por um tempo, quase tinha me esquecido do que meu pai havia falado antes que eu embarcasse em Lyria.

Foi só naquele instante que realmente me dei conta da ausência do príncipe ao nos receber. E, sinceramente, eu não sabia se me sentia mais apreensiva ou aliviada por conta daquilo.

Olhei para o rei com atenção, tentando me lembrar das palavras exatas do meu pai. Ele tinha tido algo sobre o príncipe ter andando recluso ultimamente. Deprimido. E tinha dito para que eu tentasse passar um tempo com ele.

Eu pensava que o rei havia pedido para que o meu pai falasse aquilo comigo, mas ainda não entendia muito bem o que ele esperava de mim. Aquilo era inquietante. Será que ele estava contando comigo para interagir com o filho? Para animá-lo?

Eu não tinha certeza se queria aquela responsabilidade, nem se conseguiria oferecer qualquer ajuda, embora sem sombra de dúvidas pudesse tentar.

"Ele estava se sentindo indisposto", o rei continuou, fazendo com que eu voltasse minha atenção para ele. Ao seu lado vi a princesa Margot levar uma das mãos a boca, e eu estava quase certa de ter visto um sorriso de relance antes que ela pudesse cobri-lo. "Mas tenho certeza que logo poderei apresentá-los formalmente."

"Tudo bem", respondi, tentando parecer tranquila. "Eu entendo. Estou ansiosa para conhecê-lo."

Antes que qualquer um de nós pudesse falar mais alguma coisa, os guardas do castelo se aproximaram trazendo as minhas malas e as de tia Matilde.

"Eu vou levar vocês aos quartos", a princesa disse então, sorrindo para mim. "Podemos ir?"

"Espero vê-las mais tarde", disse o rei, antes que eu seguisse a princesa para dentro do castelo. "Margot apresentará o lugar assim que estiverem instaladas."

Minha tia e eu agradecemos em uníssono e então entramos no castelo, seguindo a princesa de perto. Assim que me vi no saguão de entrada, percebi que aquele lugar era ainda mais luxuoso do que eu me lembrava.

O teto alto e abobadado era a coisa mais linda do mundo, assim como os lustres de cristais que pendiam em cascatas, iluminando o cômodo. O tapete vermelho aos meus pés não parecia ter uma única sujeirinha sequer e cada móvel ali reluzia de tão polido.

Eu, que admitia ter crescido com uma boa parcela de luxo ao meu redor, ficava de boca aberta com a grandiosidade do palácio real. Era sério que pessoas realmente morassem ali? Para mim toda aquela sala pertencia a um museu ou algo parecido.

A princesa então nos conduziu pelas amplas escadarias do castelo, fazendo curvas e mais curvas até que eu estivesse completamente perdida em meio a todos aqueles corredores e lances de escada.

"Depois de um tempo você se acostuma", ouvi a princesa murmurar para mim, com um sorriso no rosto. "Se dê algum tempo e você vai acabar percebendo que os corredores não são todos iguais."

Por mais que um alarme na minha cabeça soasse, dizendo que eu estava com a princesa de Steinorth ao meu lado e devia tratá-la como tal, não consegui segurar a língua ao perguntar:

"E quanto tempo Vossa Alteza levou para distinguir todos esses corredores?"

A princesa sorriu despretensiosamente e deu de ombros.

"Para ser sincera, eu meio que me perdi na semana passada no terceiro andar."

Soltei uma risada alta, mas no mesmo instante tentei encobri-la com uma tosse fingida quando minha tia me olhou com aquele seu olhar de gelar os ossos.

"E, pelo amor de Deus, me chame de Margot", a princesa disse, olhando para mim. "Essa coisa de Alteza e formal demais, principalmente agora que vamos passar bastante tempo juntas."

Eu sorri, sem tentar esconder a empolgação.

"Tudo bem."

Se estar em um palácio perto de uma cidade que eu adoraria explorar pelas próximas semanas já era bom, com companhia aquilo se tornava melhor ainda!

Até então a princesa não tinha me dado nenhum motivo para não gostar dela.

"E eu? Posso te chamar pelo seu nome?", ela perguntou me olhando de relance, enquanto subíamos mais um curto lance de escadas.

"É claro", disse rapidamente, quase cuspindo as palavras. "Pode me chamar como quiser."

A princesa riu e ergueu uma sobrancelha para mim.

"Tem certeza disso? Eu não costumo ser boa em dar apelidos."

Eu senti minhas bochechas corarem.

"Nesse caso, Penelope está ótimo."

Ela assentiu com um amplo sorriso e parou em frente a uma porta branca no fim de um dos corredores.

"Esse é o seu quarto, Srta. Beverley", Margot disse, sorrindo para a minha tia. "Em alguns instantes os criados virão vê-la, caso precise de qualquer coisa. Eu adoraria de mostrar o palácio mais tarde."

"E eu ficaria honrada, Vossa Alteza", disse tia Matilde, com uma reverência tão profunda que eu fiquei impressionada que seu nariz não acabasse tocando o chão. Ao olhar de relance para a princesa, percebi que ela parecia fazer força para não rir. Tive que morder o lábio inferior com força para não acabar eu mesma deixando escapar uma gargalhada.

Depois de deixar tia Matilde em seu quarto, a princesa continuou me conduzindo adiante, os guardas que levavam minhas malas nos dando certa distância.

"Sabe, eu estou muito feliz que você tenha vindo passar um tempo aqui, Penelope", falou ela, naquele instante entrelaçando o braço no meu como se já fossemos amigas intimas. Adorei aquilo. "Os verões geralmente são bem tediosos por aqui."

"Também estou contente por ter vindo", falei com um sorriso. "Quando meu pai me contou sobre o convite do rei, achei que seria uma ótima oportunidade."

Por diversas razões, completei mentalmente, mas a princesa não precisava saber daquilo.

"Você já tem planos para quando o verão acabar?", ela perguntou então, os grandes olhos claros voltados para mim. "Meu pai me contou que você também se formou recentemente."

"Ah, não, ainda não", murmurei, me sentindo um tanto quanto envergonhada. "Eu meio que não tinha traçado um plano para depois que me formasse no ensino médio..."

"Você não tem uma área de interesse, ou algo assim? Algo que queira conhecer mais a fundo?", ela perguntou, e seu tom era de curiosidade, não como se estivesse me criticando.

"Ah, eu gosto de uma porção de coisas", falei com um pequeno sorriso, dando de ombros. "Adoro música e sei tocar alguns instrumentos, tenho uma queda por astronomia e sempre amei história..."

"História?" Margot franziu o nariz. "Sebastian adoraria ouvir isso."

"O príncipe gosta de história?"

Margot riu e revirou os olhos diante da minha pergunta.

"Gostar seria um eufemismo." Ela então olhou diretamente para mim. "Se quer saber, acho que aos dezoito anos são poucas as pessoas que realmente sabem o que querem fazer da vida. Por isso tanta gente muda de curso logo nos primeiros anos da faculdade. Se você ainda não tem certeza do que quer, o melhor a fazer é esperar até que se conheça bem o suficiente para dar o próximo passo."

Eu olhei impressionada para a princesa, suas palavras balançando meu coração de um jeito muito bom.

"Você está certa", disse, sem conseguir reprimir o enorme sorriso que se espalhava pelo meu rosto. "Uau. Quantos anos você tem mesmo?"

A princesa sorriu e deu de ombros, jogando uma mecha do cabelo para trás em um gesto exibido.

"Dezoito."

Nós duas trocamos um olhar significativo e no segundo seguinte caímos na gargalhada.

Acho que eu nunca tinha feito uma amizade tão rápido na vida!

"Aqui está seu quarto", Margot disse depois de algum tempo, finalmente parando em frente a uma porta branca, a poucos corredores de distância do quarto da minha tia. "Eu e minha família também dormimos nessa mesma ala, por isso, se alguma hora precisar de mim, é só gritar que se eu estiver por perto apreço para te salvar." Ela sorriu para mim. "Mais tarde eu venho para te levar em um tour pelo castelo. Não dá para ver tudo de uma vez, mas vou te dar uma noção das áreas principais."

"Certo", falei empolgada. "Obrigada por... Bem, por ser tão simpática."

Os olhos de Margot brilharam e ela balançou a mão no ar.

"Pare com isso. Eu já sou metida demais para o meu próprio bem."

Eu ri, porque já tinha a impressão que aquilo não era nem um pouco verdade.

"Sinta-se em casa, Penelope", ela disse então, já se afastando. "Logo, logo a gente se vê."

Eu sorri e acenei, em seguida abrindo a porta do quarto.

Pedi que os guardas deixassem minhas malas em um canto, onde logo eu poderia lidar com elas, e em seguida me vi sozinha no aposento mais incrível que poderia ter escolhido.

Olhando para aquela cama de dossel enorme e para os móveis brancos e de muito bom gosto espalhados pelo quarto, eu dei alguns pulinhos no lugar antes de começar a sorrir feito uma idiota. Sem pensar muito, corri, me jogando no colchão macio da cama que pareceu abraçar cada centímetro do meu corpo.

Não consegui ficar deitada ali por mais de dois segundos sem que pulasse no chão de volta, correndo até uma porta lateral para me deparar com um banheiro gigantesco que tinha uma banheira mais gigantesca ainda.

Olhei para as minhas malas jogadas no chão – especialmente para aquela amarela provocante, que eu tinha certeza que assim que abrisse cuspiria todas as roupas enfiadas ali na minha cara em um protesto – e olhei para a banheira, que parecia tão convidativa.

Um banho quente e relaxante cairia bem.

Cairia muito bem. Além do mais, eu ainda tinha tempo para desfazer aquelas malas.

Meses inteiros para ser mais específica.

Animada, comecei a preparar meu banho de espuma.

"Eu senti sua falta", ouvi uma voz dizer para mim, bem perto do meu ouvido.

Meu coração deu um pulo no peito e eu me virei, mas quando olhei para trás não havia ninguém.

Então senti uma mão gelada segurar meu antebraço. Tentei gritar e correr, mas simplesmente não conseguia. Era como se eu estivesse paralisada e presa ao chão.

Consegui virar a cabeça apenas o suficiente para ver olhos azuis me encarando através da escuridão.

"Por que você não atendeu ao telefone?", ele perguntou, me puxando para mais perto. "Por que, Penelope? Me responda!"

Ele me sacudiu e eu entrei em desespero, tentando a todo custo escapar de suas mãos.

Quando finalmente consegui me libertar, corri para longe, mas mesmo assim conseguia ouvir a risada de Damien ressoar atrás de mim.

"Não adianta", ele dizia, rindo. "Você ainda não percebeu isso?"

De repente me vi cercada por muros altos, que cada vez mais se fechavam em torno de mim.

Tentei empurrar uma das paredes para longe, gritando para que me deixassem sair, mas tudo o que consegui fazer foi sangrar minhas mãos por conta da aspereza do muro.

As paredes se fechavam cada vez mais e mais. Eu me sentia sufocar, sem ar. Me encolhi o máximo que podia, meu coração quase saindo para fora do peito, até que abri meus olhos e me vi sentada na minha cama do palácio, os lençóis molhados de suor se enroscando nas minhas pernas.

Foi só um pesadelo, eu pensei desesperada, ofegando ao mesmo tempo em que olhava para o quarto escuro, como se das sombras pudesse sair um garoto de olhos azuis, sorrindo para mim.

Passei as mãos pelo cabelo, percebendo que meus dedos tremiam sem parar.

Estiquei o corpo e alcancei meu celular no criado-mudo ao lado da cama. Era meia-noite.

Pensei em me deitar e tentar dormir de novo, mas sabia que aquilo seria impossível. Meu coração batia acelerado demais por conta do sonho vívido, e eu não conseguia parar de pensar naquelas paredes me sufocando, me prendendo entre elas, como aquele quarto.

Sem pensar mais, pulei da cama, apertei o cinto da minha camisola e calcei meus sapatos.

Eu precisava caminhar. Precisava, de preferência, encontrar uma sacada onde pudesse sentir o vento da noite envolver meu corpo.

Silenciosamente, me esgueirei para fora do quarto, me deparando com os corredores semi-iluminados do palácio.

Eu não sabia como os guardas ficavam postos durante a noite nos corredores, mas me senti aliviada por não ver nenhum por perto. Não sabia o que diria se me vissem saindo do quarto àquela hora da noite.

Enquanto perambulava pelo castelo, tentei ocupar minha mente com qualquer outra coisa que não fosse aquele pesadelo terrível, que parecia ainda se esgueirar pela minha mente. Tentei pensar no meu primeiro dia no palácio, que havia sido maravilhoso, com a princesa me levando para conhecer vários cômodos e aquele jardim magnífico.

Eu tinha me encontrado com o rei e Eloise no jantar novamente e tinha sido bom estar na companhia deles, embora eu tivesse sentido o clima entre nós ficar um tanto quanto tenso quando o rei mencionou que o filho não desceria para se juntar a nós.

Eu começava a pensar que talvez o príncipe que eu nem conhecia poderia ter algum problema comigo, o que me deixava nervosa. Será que ele não me queria em sua casa? Será que tinhas motivos para não gostar de mim?

Droga! Pensar naquilo só estava me deixando ainda mais ansiosa, coisa que eu estava tentando evitar.

Andei pelos corredores do palácio, tentando encontrar uma das muitas sacadas amplas que tinha visto por ali mais cedo. Em determinado momento avistei as portas de um dos vários elevadores espalhados pelo palácio, mas eu sabia que nem morta entraria em um daqueles naquele momento, por mais que fosse mais fácil me locomover por ali sem me perder.

"Devia ter ficado no quarto...", murmurei baixinho para mim mesma, quando de repente me vi em um corredor de paredes azuis claras que, eu tinha certeza, eu tinha passado algum tempo antes.

Conforme andava, levei uma das mãos à cabeça, arrancando fios de cabelo nervosamente com a ponta do dedo.

Margot tinha me ensinado a identificar alguns corredores e escadarias do palácio mais cedo, mas aparentemente todas as informações tinham sumido da minha cabeça com a mesma rapidez com que entraram.

Percebi que estava começando a suar, as imagens do pesadelo voltando vividas à minha mente.

Virei em um corredor, torcendo para que encontrasse algo familiar que me levasse na direção do meu quarto, mas me vi cercada por paredes repletas de quadros antigos que pareciam me observar enquanto eu me movia.

Não havia uma única janela naquele lugar?!

Senti meu peito subir e descer em uma respiração entrecortada quando me vi em um corredor estreito minutos mais tarde. Pensei em voltar, mas de repente percebi que já não tinha mais a mínima ideia de onde estava ou para onde ir.

Precisava de ar.

Aquelas paredes, como no sonho, de repente pareceram se fechar cada vez mais a minha volta, me apertando, espremendo.

Tremendo, comecei a correr, agora sem tentar sufocar o desespero que se apoderava do meu corpo. Os corredores e escadas se transformaram em um borrão enquanto eu corria sem ar. Meu peito estava apertado e eu sentia minha boca seca.

Foi quando dobrei em uma esquina, pensando reconhecer aquele lugar em específico, e me vi diante de um corredor sem saída, que perdi totalmente o controle.

Senti as lágrimas no rosto. Minhas mãos pingavam suor. O ar do local parecia estar sendo sugado, sem sobrar nada para mim.

Deslizei por uma parede, abraçando os joelhos e me balançando para frente e para trás, tentando inutilmente acalmar o ritmo acelerado do meu coração.

Eu sabia que era uma crise. Sabia que o ar não estava se esgotando e que as paredes não estavam me apertando entre elas, mas para a minha mente confusa pouca importava aquilo tudo. Minha certeza minguava.

"Por favor", sussurrei, quando já tinha a impressão de não conseguir mais respirar. Pensei que morreria naquele labirinto de corredores e levaria dias até alguém me encontrar. "Por favor, alguém..."

Então ouvi um barulho, um chiado baixo, bem perto de mim.

Assustada, me arrastei pelo chão, tentando me afastar, mas quando olhei para frente tudo o que consegui ver foram olhos castanhos me encarando.

"Fique calma", uma voz masculina disse, baixinho. "Eu te encontrei."

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Dedicado a: DannySilvh

Oii gente! Capítulo novo como eu prometi. Estou super curiosa para saber o que vocês acharam dessa nova versão. Me contem tudo!

Estou amando escrever o livro do Sebastian e espero que vocês também estejam gostando de acompanhar essa história. Logo vou liberar mais capítulos, ok?

Um milhão de beijos,

Ceci.

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