Capítulo Quatorze - Sebastian

"SUA MÃE?", PERGUNTEI, LEVANDO UM tempo para processar a informação. Lancei um olhar para a lista de nomes de clubes que tinha colocado de volta no sofá e me perguntei como aquilo poderia ter a ver com a mãe da Penelope.

     "Sim", ela disse, torcendo as mãos em nervosismo. Ela começou a andar de um lado para o outro, os olhos longes dos meus. "Até onde sei, ela ainda vive em Arthenia, então eu pensei que como já estaria aqui, não perderia nada tentando encontrá-la. Quando essa ideia me ocorreu semanas atrás, pensei que seria fácil achá-la e tirar isso da minha cabeça, mas agora não tenho mais tanta certeza."

      Eu guiei minha cadeira de rodas para mais perto de Penelope, mas ela estava andando de um lado para o outro como um leão enjaulado e não parecia mais notar minha presença. Ela estava tão agitada, gesticulando para lá e para cá, que a única coisa que ganharia chegando mais perto dela seria um murro bem forte no nariz.

     "Espera um pouco, você nunca se encontrou com a sua mãe?", perguntei. Fiz força para lembrar tudo o que ela tinha me dito a respeito de sua família naquela primeira noite em que nos encontramos, há alguns dias. Penelope tinha mesmo contado que era uma filha fora do casamento, mas eu pensei...

    "Não temos contato", Penelope respondeu antes que eu terminasse meu raciocínio, então soltou um suspiro e balançou a cabeça. "Bom, na verdade essa é só uma maneira mais educada de dizer que eu nunca a conheci."

    Levei uma mão aos óculos e olhei de volta para Penelope. Seus olhos muito azuis estavam distantes e notei que ela estava ficando mais agitada que o normal.

   O que era mesmo algo preocupante.

"Penelope, escuta. Por que você não se senta e me conta essa história direito? Eu não consigo prestar atenção com você andando sem parar."

Ela finalmente parou e voltou os olhos para mim, suas bochechas ficaram vermelhas e ela se dirigiu até o sofá mais próximo, se jogando sem cerimônia sobre as almofadas.

"Desculpa, não devia estar jogando tudo isso em cima de você", ela murmurou. "Sei que não tem nada a ver com isso."

"Não precisa se desculpar", eu disse, ficando de frente para ela. "Tudo bem. Pode falar sobre o que quiser comigo."

Assim que eu disse as palavras, elas pareceram ter um peso ainda maior do que quando estavam apenas na minha cabeça. Penelope ergueu os olhos e me fitou daquele jeito que mais parecia que estava vendo através da minha alma.

Não era a sensação mais confortável do mundo.

"Sei disso", ela falou, e algo dentro de mim se remexeu ao me dar conta daquelas palavras. Era bom saber que ela confiava em mim, porque eu... Bem, eu também sentia que podia confiar nela. "Só não quero te deixar sem graça com a história esquisita da minha família."

Ao ouvir aquilo, foi quase impossível não soltar uma risada. Eu sabia que o momento era inadequado, mas mesmo assim...

"Você acha a sua família esquisita?"

Nós trocamos um olhar de compreensão. Eu sabia que estávamos pensando a mesma coisa.

A mãe que eu mal conhecera tinha sido assassinada pela mulher que foi casada com o meu pai por anos, se fazendo de boazinha e escondendo seu crime do país todo. Aquilo era horrível de muitas maneiras e sempre que eu pensava em Arabella era como se algo cruel e escuro tomasse conta de mim, mas pensar que Penelope estava com medo de me deixar sem graça por conta da família dela... Bem, era mesmo um pouco engraçado.

"Por que você não começa do começo?", sugeri. "Geralmente essa é a forma mais fácil de entender qualquer história."

Ela assentiu, os cabelos ruivos ondulando pelos ombros descobertos e tomados por sardas. Percebi naquele instante que ela estava sentada contra a luz que vinha das janelas da biblioteca, o que a fazia parecer ainda mais bonita.

Por outro lado, a luminosidade também deixava seus olhos azuis de um tom quase tão límpido e penetrante quanto os de Giulia. Se eu me concentrasse só naqueles olhos, era quase como se ela estivesse ali de novo, dentro da minha casa e fazendo parte da minha vida.

Eu engoli em seco e me forcei a esquecer aquilo. Tinha que parar de pensar em Giulia cada vez que uma mínima coisinha me fizesse lembrar dela.

"Como eu te contei na outra noite, meu pai conheceu a minha mãe por um acaso e eles acabaram ficando juntos", Penelope começou, agarrando uma almofada próxima e brincando com um fio solto, sem olhar para mim. "É claro que ele nunca me disse isso, mas eu devia ter uns treze anos quando entendi o que isso significa de verdade. Seja lá quem for a minha mãe, ela e o meu pai provavelmente tiveram um caso rápido e eu acabei acontecendo por acidente."

Eu assenti e me perguntei o que ela pensava sobre aquilo. Não parecia chateada ou aborrecida, só... curiosa.

"Você sempre morou com o seu pai?", perguntei.

"A vida toda. Como disse, nunca conheci minha mãe ou a família dela. Não tenho nenhuma foto, só sei seu nome e outras coisas que consegui extrair do meu pai ao longo dos anos." Ela soltou um suspiro antes de continuar. "Ele sempre me disse que eles se conheceram durante um tempo em que ele ficou em Arthenia a trabalho. Disse também que eles se viram pela primeira vez em um clube de música, onde ela se apresentava como cantora. Tirando isso e seu nome, não sei absolutamente nada sobre ela."

"Você nunca pediu a ele que apresentasse vocês duas?", perguntei. Penelope balançou a cabeça em resposta.

"Até onde sei, meu pai nunca mais teve contato com ela. Minha guarda sempre foi dele." Ela hesitou por um instante e então ergueu os olhos para mim. A intensidade deles me pegou desprevenido. "Meu pai sempre evitou falar sobre ela, e tudo o que sei a seu respeito são coisas que ele me contou quando tive idade o suficiente para entender que não tinha o que todo mundo chamava de mãe. Acho que é um tópico delicado para ele, por isso..." Ela fez uma pausa e respirou fundo, baixando os olhos. "Por isso que não contei para ele que um dos motivos de ter aceitado vir para Arthenia foi para tentar localizá-la. Não quero que ele pense nem por um segundo que o amor que me deu foi insuficiente ou que a presença de uma mãe é algo de que eu precise muito. Não quero que fique magoado comigo."

"Penelope..." Antes de me dar conta do que estava fazendo, me aproximei um pouco mais dela e segurei sua mão. Não sei se ela ficou tão surpresa ou envergonhada com o gesto quanto eu, mas tentei deixar aquela bobagem pré-adolescente de lado. Eu até podia não entender muito bem as mulheres, mas qualquer idiota perceberia como tudo aquilo que ela tinha dito mexia com seus sentimentos. Se Penelope tinha confiado em mim para dizer todas aquelas coisas, não ficaria parado na sua frente sendo insensível. "Seu pai nunca ficaria magoado com você por causa disso. Aposto que ele entenderia, talvez até te apoiasse. Mas entendo porque quer fazer isso por si mesma."

Ela me olhou e sorriu de uma maneira triste que me fez desejar fazer alguma coisa, qualquer coisa, para vê-la agitada, tagarela e feliz de novo. Aquele estado de espírito não combinava nada com ela.

"Obrigada, Sebastian", ela disse. O instante durou mais um segundo, até eu soltar a sua mão e me afastar um pouco, torcendo para que meu rosto não estivesse dando sinais do meu nervosismo. Penelope respirou fundo e endireitou os ombros. "Bom, agora você entende porque fiz a lista dos clubes de música da cidade. Pensei em começar por eles, pois é a única pista que tenho."

Eu olhei para lista que ainda estava no meu colo e franzi o cenho.

"Não quero te desanimar, mas nesse ritmo, não sei se você vai conseguir encontrá-la durante o tempo em que estiver aqui."

Ela soltou uma risadinha e seus olhos voltaram a brilhar. Fiquei aliviado.

"Eu pensei a mesma coisa. A não ser que eu decida estender minha estadia aqui até o Natal."

Eu ajeitei os óculos e fiquei em silêncio, pensando sobre a situação com cuidado. Parecia claro que encontrar a mãe era importante para Penelope, talvez até mais importante do que ela estava deixando transparecer.

"Onde você nasceu?", perguntei quando uma ideia me ocorreu.

"Aqui em Arthenia."

"Então podemos ir até o hospital onde você nasceu!", exclamei. "Eles com certeza ainda têm os registrados daquela época. Quando sua mãe deu entrada no hospital, ela tem de ter deixado o endereço de onde vivia."

"Não dá", Penelope falou, mordendo o lábio e baixando os olhos. "Eu nasci em Arthenia, mas não em um hospital. Perguntei sobre isso ao meu pai há muito tempo e ele disse que nasci em casa. Em qual casa? Isso eu já não faço ideia. Nunca quis perguntar. Como disse, meu pai evita tocar nesse assunto."

A fagulha de animação no meu peito morreu assim que ouvi as palavras. Franzi as sobrancelhas, pensando no que ela tinha dito.

Eu já tinha entendido que a mãe de Penelope aparentemente não tivera mais que um caso rápido com o seu pai. Mas, mesmo assim, ela ainda estava grávida de um dos homens mais importantes do país. Era de se esperar que tivesse dado à luz no melhor lugar da cidade e tivesse sido tratada com o maior cuidado do mundo.

Penelope tinha dito que tanto ela quanto o pai nunca mais tiveram contato com a tal mulher e, sinceramente, duvidava muito que pudesse existir boatos por aí sobre a sua verdadeira identidade depois de tantos anos. Tudo aquilo parecia indicar que a mãe de Penelope, seja lá quem fosse, não era alguém que teria sido aceita pela nobreza. Pelo menos não na época.

Eu me perguntava se Penelope pensava o mesmo.

"Bom, então talvez essa seja mesmo a melhor pista que você tenha", eu admiti de contragosto, mostrando a lista para ela. "Mas vai ser meio difícil encontrá-la se não filtrar tudo isso."

"Eu sei", Penelope disse, escorregando um pouco do seu lugar no sofá e cobrindo o rosto com a almofada. "Eu não tenho um plano, essa é a verdade. Talvez seja melhor desistir e deixar isso tudo do jeito que está."

"Você não quer desistir", eu falei, e não era uma pergunta. "Ei, olha para mim."

Penelope afastou a almofada e seus olhos azuis me encararam.

"Você disse que o seu pai estava passando um tempo em Arthenia a trabalho quando conheceu sua mãe, certo?" Ela assentiu, as sobrancelhas ruivas franzidas para mim, como se não entendesse onde eu quisesse chegar. "O meu pai e o seu deviam estar mais próximos naquela época, não é? Eles trabalham juntos de certa forma."

Os olhos de Penelope se arregalaram e ela jogou a almofada para lá, no mesmo instante voltando a sua posição original no sofá tão rápido que mais parecia ter levado um choque.

"E eles são amigos. Sempre foram", ela disse antes que eu terminasse meu raciocínio. "Meu pai me disse que sempre foi bastante próximo do rei, independente de questões relacionadas ao trabalho. Parece que estudaram juntos por um tempo quando ainda eram jovens."

"Exatamente." Eu abri um pequeno sorriso quando os olhos de Penelope começaram a passar de um lado para o outro. Se me esforçasse talvez conseguisse ouvir as engrenagens de seu cérebro girando. "Algo tão importante quanto o fato do seu pai... bem..." Eu não sabia como dizer aquilo, não queria ser indelicado.

"Do meu pai ter engravidado uma mulher desconhecida", Penelope completou para o meu alívio, balançando a mão no ar. "Tudo bem, não tem problema."

"Bom, isso. Quando tudo aconteceu, ele deve ter dito tudo ao meu pai. Então, talvez, ele tenha informações que possam ajudar."

Penelope se levantou do sofá em um pulo, voltando a andar de um lado para o outro enquanto mexia no cabelo. Eu me afastei um pouco para lhe dar espaço, sabia que nem se quisesse conseguiria acalmá-la agora.

"Não sei como não pensei nisso antes", ela disse. "É claro que você pode estar certo, mas..." Ela parou perto da lareira e olhou para mim. "Como eu poderia..."

"Eu vou te ajudar", disse antes mesmo que pensasse no assunto. Mas, quando disse as palavras, percebi que era aquilo mesmo que iria fazer. "Eu vou te ajudar a encontrá-la. Acho que vai ser mais fácil se você... não estiver sozinha."

Penelope ficou parada e piscou, como se estivesse tendo dificuldades para processar minhas palavras. Então, ela deu alguns passos hesitantes para frente e me olhou com seriedade.

"Sebastian, eu não quero te perturbar com isso", foi a primeira coisa que ela disse. Eu balancei a cabeça em discordância.

"Você não está me perturbando com nada. Eu quero ajudar de algum modo. Se você aceitar, é claro."

Ela soltou uma risadinha e sorriu para mim, os olhos brilhando como duas pedras preciosas.

"E eu sou louca de recusar?" Ela se aproximou mais, parecendo se conter para não dar pulinhos no lugar. "Eu nem sei como agradecer, de verdade. Sinto que vai ser bem mais fácil com você me ajudando."

Ela então se sentou em um sofá próximo e olhou para mim de um jeito mais sério.

"Eu só... Acho que você tem de saber que eu não quero que o meu pai saiba sobre isso. Eu vou contar tudo para ele quando o momento certo chegar e eu perceber que existe mesmo uma chance de encontrar minha mãe, mas até lá..." Ela engoliu em seco. "Eu ainda quero que isso fique só entre a gente."

Eu assenti.

"Não vou deixar que o meu pai desconfie de nada. Vou tentar ser o mais discreto que puder."

Penelope sorriu para mim e assentiu, por um momento achei que o seu sorriso de felicidade não caberia mais no rosto. Até parecia que eu tinha feito algo mágico para ela, de tanto que seus olhos brilhavam.

Aquilo fez meu estômago revirar.

"Talvez essa seja o momento de finalmente trocarmos números de telefone", ela disse com um sorriso de lado. "É difícil te encontrar nesse castelo enorme e embora eu seja do tipo que aprecia a moda antiga, trocar bilhetinhos não é tão prático assim."

Ela estava certa, por isso passei o meu número para ela para que pudéssemos conversar de um jeito mais fácil.

"Vou tentar falar com o meu pai hoje ou amanhã", disse depois que ela guardou o celular no bolso da calça jeans. "Assim que tiver informações, eu te aviso."

Ela concordou e se inclinou para mim. Senti o cheiro do seu perfume quase instantaneamente, suave e marcante ao mesmo tempo.

"Obrigada de novo, Sebastian. Sei que você não precisaria estar fazendo nada disso por mim, mas está, e isso faz toda a diferença."

Eu sorri um pouco sem graça e tentei disfarçar levando a mão aos óculos. Disse de novo que não era um incômodo e que gostaria de ajudar do jeito que pudesse, porque aquela era a verdade pura e simples.

Eu queria mesmo ajudá-la e também ver onde tudo aquilo daria.

Mas, apesar de me sentir contente comigo mesmo por em parte ser o responsável por tê-la deixado feliz e animada daquele jeito, outra voz dentro da minha cabeça me fazia sentir desconfortável com toda aquela situação.

Porque eu não conseguia esquecer que há pouco mais de uma semana tudo o que eu mais queria era ficar longe de Penelope Beverley, mas que agora, pouco tempo depois, tinha tomado uma decisão que pelo jeito só me faria ficar ainda mais perto dela.

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Oii gente! Tudo bem com vocês?? Espero que sim!

Estou super feliz de estar liberando esse capítulo hoje! Particularmente eu amei muito escrever e ver a Penny e o Sebastian se aproximando.

Mas e vocês? O que acharam? Me contem tudo! Já tem alguma ideia do caminho que Penny e Sebastian vão traçar para encontrar a mãe dela?

** Pequeno spoiler do próximo capítulo (pule se você não quiser saber). **

Se preparem para ver (ou quem sabe rever?) outros personagens... Muita coisa está prestes a acontecer!

Fiquem com Deus, até breve!

Ceci.

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