Capítulo Dezesseis - Sebastian
SE PUDESSE ESCOLHER, NÃO TERIA me enfiado no escritório do meu pai depois do jantar e me oferecido para ajudá-lo com qualquer coisa que estivesse precisando. Não, eu não tinha o mínimo interesse de ficar analisando toda aquela papelada a respeito de verbas e orçamentos, mas sabia que não conseguiria ficar a sós com ele em outra ocasião, então teria que ser daquele jeito.
"Desde quando você se oferece para me ajudar em alguma coisa?", ele tinha perguntado minutos mais cedo quando bati na porta de seu escritório.
"Eu só... Bom, pensei que seria uma boa ideia."
Meu pai não pareceu muito convencido. Sinceramente, eu não esperava que ele estivesse. Eu sempre reclamava quando ele me mandava ajudá-lo com assuntos referentes ao país. Steven levava bem mais jeito para aquilo do que eu.
"Você sabe que Steven e Layla estão aqui, não sabe?", ele disse. "Você geralmente gosta de passar tempo com eles quando aparecem para uma visita."
Ele não estava errado. Se eu pudesse escolher entre ficar um pouco com meu irmão e Layla ao invés de me trancafiar no escritório com ele analisando papéis, qualquer um que me conhecia minimamente saberia o que eu preferiria.
"Bom, se você não quer ajuda, eu vou indo", eu tinha dito em uma manobra arriscada, mas meu pai me impediu antes que eu me afastasse dois centímetros de sua mesa.
"Ah, não, eu não vou desperdiçar essa oportunidade." Ele abriu uma gaveta e revirou algumas pastas, me entregando uma particularmente grossa segundos depois. "Estava mesmo precisando de ajuda para organizar essa papelada. Pensei em pedir para Steven, mas achei que seria abusar demais de sua boa vontade. Aliás, ele acabou de chegar."
"Entendi", murmurei, tentando reprimir a onda de desânimo que me invadiu quando abri a tal pasta.
Pelo jeito, eu ficaria um bom tempo ali.
Eu sabia que o meu pai não era do tipo de conversar durante o trabalho, mas depois de quarenta minutos ali, só ouvindo o barulho irritante do relógio na parede, eu já estava a ponto de me matar e jogar toda a cautela no lixo.
Passei uma mão pelo cabelo e me obriguei a respirar fundo. Tinha prometido a Penelope que seria cuidadoso. Não podia estragar tudo antes mesmo de ter começado.
"Layla me disse que adorou conhecer Penelope", comentei então, me lembrando da conversa imaginária que tinha ensaiado mais cedo antes de bater na porta do escritório do meu pai. "Ela me disse que elas se deram muito bem."
"É mesmo?", meu pai murmurou, sem tirar os olhos dos papéis que preenchia.
"É", respondi. "E Penelope parece ter gostado dela também. Sabe, ela é bastante..." Hesitei por um segundo antes de continuar. "Comunicativa."
Meu pai franziu levemente as sobrancelhas, ainda sem olhar para mim. Eu trinquei os dentes, de repente sentindo muito calor. Talvez eu não tivesse mesmo muita paciência para sutileza.
Me forcei a pensar no que Penelope tinha dito no dia anterior, sobre não querer que seu pai soubesse sobre suas intenções de encontrar a mãe. Se me pai desconfiasse de alguma coisa e acabasse comentando com o conde de Lockston, eu não conseguiria manter minha palavra com Penelope.
E eu não queria isso. Ela estava contando comigo. Respirei fundo antes de continuar.
"Penelope tem um irmão mais velho, não tem?", perguntei de maneira casual.
"Tem", respondeu meu pai. "Mas você já sabe disso. Tenho certeza que já se encontrou com o filho mais velho de Charles em algum momento."
"Bom, sim, mas acho que não tivemos tempo de conversar muito. Sabe, Penelope fala muito dele", menti.
Finalmente meu pai desviou os olhos dos papéis, erguendo-os para mim. Ele se recostou no encosto da cadeira e levou o copo d'água que estava por perto aos lábios, as sobrancelhas grossas franzidas daquele jeito que me fazia encolher quando criança.
"Pelo visto, você e a Srta. Beverley estão se dando bem", ele disse. "Não está mais dando chiliques por eu tê-la convidado a passar o verão aqui?"
"Eu não dei chilique nenhum", rebati, mas em seguida me lembrei do real motivo por estar ali e pigarreei. Odiava depender do meu pai para qualquer coisa, mesmo que fosse por uma informação. Além do mais, não era como se eu estivesse gostando de estar ali de frente para ele, admitindo que estava mesmo me dando bem com Penelope quando há poucos dias tinha brigando com ele por tê-la convidado para passar tanto tempo no palácio. "Ela é uma garota legal. Pelo menos pelo que já vi dela."
"Ah, eu diria que você já viu bastante", ele comentou então, e eu podia jurar que havia a sombra de um sorriso em seus lábios. "Ainda mais levando em conta que vocês são o assunto principal em Steinorth por conta de um jantar há dois dias."
Eu gaguejei alguma coisa em resposta, mas foi difícil falar enquanto todo o meu rosto parecia estar pegando fogo. Eu engoli em seco e ajeitei os óculos.
Meu pai estava evitando falar sobre o que tinha acontecido, eu sabia, mas comigo comentando sobre Penelope, era esperar demais que ele ficasse quieto.
"Aquilo... não foi nada demais."
"Eu não disse que foi", ele falou de maneira tranquila. "Mesmo assim, se não estou enganado, foi a primeira vez que você saiu em um bom tempo. Me pergunto o que te levou a convidá-la."
"Eu não a convidei", disse irritado, mas me arrependi logo depois. O interesse surgiu nos olhos geralmente impassíveis e concentrados do meu pai.
"Não?", ele disse.
"Não", resmunguei. "Foi... uma aposta." As últimas palavras saíram em tom tão baixo que eu duvidei que ele fosse ouvir, mas pelo jeito estava enganado. É claro que ele ouviu.
"Uma aposta?", meu pai ecoou, agora esquecendo por completo o trabalho e se inclinando para mim. "E, pelo que estou vendo, uma aposta que você perdeu."
"Não é óbvio?"
Para a minha surpresa e vergonha, meu pai começou a rir.
E ele nunca ria. Era um daqueles fenômenos raros que, quando acontece, você tem de ficar parado assistindo para não perder.
Mas eu não queria assistir. Não daquela vez.
"Eu gostaria muito de saber direito essa história, mas acredito que você não vá me contar."
Ele deve ter visto pela minha cara que eu não iria mesmo.
"Mas suponho que a aposta também tenha sido ideia da Srta. Beverley. Estou certo?"
Eu não sabia por qual motivo aquilo era importante, mas, de novo, meu pai deve ter visto a resposta para a pergunta na minha expressão irritada. Ele soltou outra risada.
"Uma garota singular, essa Penelope, não é?", ele disse, parecendo mais estar falando consigo mesmo. "Acho que fiz muito bem em tê-la convidado afinal de contas."
Ah, eu sabia o que ele estava pensando. Provavelmente meu pai estava bastante satisfeito consigo mesmo, achando que tudo aquilo era um sinal de que Penelope e eu estávamos próximos e que aquilo poderia evoluir para... bem, para um interesse romântico. No fundo, queria discutir, queria dizer que ele podia tirar todas aquelas ideias absurdas da cabeça e que aquele jantar havia sido um acidente, mas eu já tinha perdido tempo demais naquilo.
"Bom, nós estamos mesmo conversando bastante", eu disse, enquanto sentia cada parte de mim se contorcer ao ver o sorriso presunçoso do meu pai. Tentei ignorar tudo aquilo e seguir em frente. "Sabe, eu percebi que Penelope fala muito sobre o pai e o irmão, mas nada sobre a mãe. Parando para pensar, eu também não me lembro se o conde de Lockston já foi casado alguma vez."
"Ah, Charles já foi casado há muitos anos com a mãe de Sam", meu pai falou, voltando-se para seus papéis. "Mas ela morreu durante o parto do filho. Corina sempre foi uma mulher muito frágil."
"Então Penelope é filha de outro casamento?", perguntei, também fingindo desinteresse no assunto, mas meu coração estava batendo forte no peito.
"Na verdade, Charles não foi casado com a mãe de Penelope. Ela... bom, ela foi fruto de um caso de uma noite. Se não me engano, Charles tinha vindo passar um tempo em Arthenia quando a conheceu."
Eu engoli em seco, sabendo que teria que ter mais cuidado a partir de agora.
"O senhor chegou a conhecer a mulher? A mãe dela?"
"Ah, não", meu pai disse, balançando a cabeça. Ele se virou para uma gaveta e começou a revirar seu conteúdo. "Ela era uma cantora em um desses grandes clubes da cidade. Até onde sei, ela não tinha muito boa índole."
"Então Charles ficou com o bebê", eu disse, mas não era uma pergunta.
"Sim. Era o melhor para todos, eu acho. É claro que houve um pequeno escândalo na época, mas até onde sei a mulher não fez questão de participar da vida da filha e acabou desaparecendo."
"Imagino que ele deva ter ficado bastante consternado na época. Charles", comentei.
"Bom, sim. Lembro que ele me procurou quando descobriu que a tal mulher estava grávida. Ele estava bastante preocupado e ansioso, aliás, tinha perdido a mulher há poucos anos e Sam era muito novo. Não sabia como iria explicar a situação para ele."
Eu assenti, meus pensamento girando na cabeça.
"Você..." Eu pigarreei. "Sabe em qual clube ela cantava? A mãe de Penelope?"
Meu pai parou de revirar a gaveta e olhou para mim, o cenho franzindo levemente.
"Por que a pergunta?"
Eu dei de ombros, torcendo para que meu coração acelerado não estivesse fazendo tanto barulho quanto eu pensava.
"Só curiosidade", falei. "Imagino que naquela época esses clubes de música fossem bastante famosos, não é?"
"Sim, eram", meu pai disse, e tentei não respirar aliviado quando vi a ruga entre suas sobrancelhas desaparecer. "Acho que alguns ainda fazem sucesso hoje em dia, embora não como antes. Mas, respondendo a sua pergunta, acho que ele comentou algo sobre o Empire Club Music, ou algo coisa assim. Só sei que era um clube bem conhecido e respeitado na época."
Eu assenti e baixei os olhos para os meus papéis. Queria sair daquela sala o mais rápido possível agora que já tinha a informação de que precisava, mas me obriguei a terminar o trabalho que meu pai tinha me dado.
Quando finalmente consegui sair do escritório, não hesitei em me enfiar no elevador mais próximo e ir em direção ao quarto de Penelope. Não queria esperar até o dia seguinte para contar o que tinha descoberto para ela, mas também não achava que uma informação daquelas pudesse ser dada pelo celular.
Mesmo que o Empire Music Club acabasse não nos dando mais informações sobre o paradeiro da mãe de Penelope, querendo ou não aquela informação era um avanço e daria esperanças a ela. Era algo importante e muito sério.
Bati na porta do quarto de Penelope minutos mais tarde, e através das portas ouvi uma voz abafada gritar:
"Já vai!"
Ela apareceu na soleira alguns segundos depois. Ainda estava vestida para o dia com uma calça jeans e blusa estampada, o cabelo amarrado em um coque alto. Os olhos muito claros de Penelope se arregalaram ao me ver ali, mas logo em seguida um sorriso surgiu em seu rosto.
"Desculpe aparecer assim", murmurei, percebendo no mesmo instante que minha boca estava seca. Eu pigarreei. "Você já estava se preparando para dormir?"
"Ah, não, ainda é cedo para dormir."
Eu assenti e olhei para o quarto atrás dela.
"Eu... conversei com o meu pai. Descobri algumas coisas e talvez seja melhor a gente não falar sobre isso no corredor. Se importa se eu entrar?"
"É claro que não", ela saiu do caminho, me dando passagem. "O castelo é seu, né?"
Eu sorri e esperei que ela fechasse a porta atrás de si. Penelope então se virou para mim, as mãos agitadas indo até o cabelo repetidas vezes e arrancando alguns fios com a ponta do dedo. Eu já tinha notado aquele seu hábito antes, mas sempre reparei que ela tentava se controlar. Naquele instante, porém, Penelope não parecia se policiar àquele respeito.
"Eu fui bastante cuidadoso, acredito que meu pai não tenha desconfiado de nada", eu disse de uma vez, desejando que ela ficasse mais calma. Penelope se aproximou de mim, ainda de pé.
"Sei disso", ela disse com um pequeno sorriso. "E o que descobriu?"
"Ele confirmou o que o seu pai já contou a você", falei. "Disse que sua mãe e ele se conheceram enquanto Charles estava em Arthenia e que ela cantava em um clube de música na época. Ele mencionou o Empire Music Club, mas disse que não tem muita certeza sobre o nome."
"Empire Music Club", Penelope murmurou para si mesma, então foi até a escrivaninha ao lado da cama e revirou uma gaveta até encontrar a lista que eu tinha encontrado na biblioteca no dia anterior. "Aqui está!", ela exclamou com um enorme sorriso, mostrando a lista para mim, mas era difícil conseguir ler qualquer coisa com ela balançando o papel em todas as direções. "Eu coloquei esse nome na lista ontem. Esse clube... ele ainda está em funcionamento!"
Ela começou a dar pequenos pulinhos no lugar, olhando a lista mais uma vez com os olhos brilhando.
Penelope não parecia apenas feliz, ela estava... radiante. E tudo aquilo por conta de uma única pista que tínhamos encontrado. Imaginei como ela reagiria se no fim acabássemos encontrando sua mãe de verdade.
"Sebastian, nem sei como te agradecer", ela disse então, se aproximando de mim e se sentando na beirada da cama. "Se não tivesse me ajudado eu nunca teria..."
"Não precisa agradecer", disse a interrompendo. "Eu não fiz nada."
Penelope revirou os olhos para mim, como se nem tivesse me ouvido, e se inclinou um pouco na minha direção.
"Você sabe que isso não é verdade. Mas, bem, agora precisamos ir até lá, não é?", ela disse, os olhos brilhantes voltados para mim. "Podemos encontrar mais informações. E se ela ainda trabalhar lá? Sei que parece improvável e bobo, mas não faz mal ter esperanças." Penelope voltou a se levantar, andando de um lado para o outro. "Estou tão nervosa! Não acredito que estou mesmo fazendo isso. Depois de tanto tempo hesitando e..." Ela parou de falar de repente. Levantei os olhos do carpete que encarava para encontrá-la parada a poucos metros de distância de mim, uma expressão preocupada no rosto.
"Sebastian, o que foi?", ela perguntou baixinho e eu engoli em seco, me esforçando a sorrir.
"Nada", disse, mas eu soube que ela não acreditou em mim nem um pouco. Suspirei e me obriguei a olhá-la nos olhos. "Penelope... Não tenho certeza se é uma boa ideia que eu vá com você."
"O quê? Por quê?"
Ela se aproximou de mim e voltou a se sentar na cama. Agora que meus olhos estavam na altura dos dela, era difícil evitar olhá-la.
"É muito provável que eu acabe sendo reconhecido", disse. "Se isso acontecer, a notícia vai vazar para a imprensa e vai ser bem difícil manter sua busca em segredo."
"Sebastian, isso não é um problema", ela disse tranquila, sorrindo para mim de um jeito que mostrava como não estava mesmo nem um pouco preocupada com aquilo. "Nós podemos arranjar um disfarce para você. Veja só, eu estou até imaginando." Ela se sentou sobre as pernas e gesticulou freneticamente no ar. "Primeiro, óculos escuros. Depois, nada de roupas chiques para você, vai ter que se virar com uma boa e velha calça jeans e camisa estampada." Eu devo ter feito uma expressão de desagrado, porque ela soltou uma risada. "É, eu sei que essa parte vai ser difícil para você, Alteza. Às vezes me pergunto se tem outra cor no seu armário que não seja preto ou branco. Mas, continuando, também vamos precisar de um boné. Eu também vou me disfarçar, não se preocupe. Talvez até consiga uma peruca."
Por mais que sentisse minha barriga dar voltas diante de todas aquelas ideias, não consegui deixar de abrir um pequeno sorriso pela linha de raciocínio dela. Já tinha notado que era difícil permanecer sério por muito tempo perto de Penelope.
"Eu ainda não sei se é uma boa ideia", disse, desviando os olhos de seu rosto. "Eu..." Engoli em seco quando me imaginei na cidade com Penelope. Nenhum disfarce no mundo faria com que eu passasse despercebido naquela cadeira de rodas, além do mais... "Se eu for junto, só vou te atrasar."
Penelope, que já tinha aberto a boca para falar qualquer coisa, a fechou. Idiota, me xinguei internamente quando a vergonha tomou conta de mim. Talvez tivesse sido melhor mesmo ficar de boca fechada.
"Sebastian, você não vai me atrasar", ela falou, quebrando o silêncio.
"Penelope..." Eu me calei e engoli em seco. Pensei nas ruas movimentadas, no tal clube de música que eu nem conhecia e se encontraria uma boa vaga onde pudesse parar o carro adaptado. Eu sabia que boa parte das coisas que estavam passando pela minha cabeça naquele momento não tinham surgido na mente de Penelope, e é claro que ela não tinha culpa por isso. Ela não tinha de saber como era viver do jeito que eu vivia, tendo todas aquelas preocupações bobas que não teriam vez para uma pessoa com as capacidades físicas intactas. Além do mais, aquela minha parte orgulhosa e ferida não queria que ela me visse passando por todas as pequenas dificuldades que, literalmente, apareceriam no nosso caminho em Arthenia.
"Eu... Eu entendo o que você quer dizer", Penelope continuou, parecendo muito desconcertada. Desejei me encolher até sumir. "Mas eu não tenho pressa e podemos fazer algumas pesquisas antes de entrar em um carro e ir para Arthenia."
Eu não respondi, mas não consegui deixar de olhá-la com certa admiração.
Talvez... Bom, talvez Penelope compreendesse a minha situação. Pelo menos um pouco.
"Eu vou entender se você achar que não é mesmo uma boa ideia", ela continuou, e eu pensei em dizer que não era mesmo uma boa ideia, mas percebi que ela ainda não tinha terminado. "Sei que consigo ir ao tal clube sozinha se quiser, talvez possa até conseguir algumas informações, mas eu... Bom, eu não quero ir sozinha." Ela engoliu em seco e olhou para o chão. Ela não costumava ter dificuldades em me encarar, e por algum motivo aquele gesto simples fez um alarme soar na minha cabeça. Antes que eu pudesse pensar mais sobre aquilo, ela continuou: "Eu acho, tenho certeza na verdade, que vai ser bem mais fácil se você vier comigo."
Eu a encarei por um instante, sem saber o que dizer. Eu sabia que acompanhá-la seria uma péssima ideia, que tornaria tudo ainda mais difícil, mas quando a vi me olhar daquele jeito, como se estivesse desamparada...
Eu praguejei internamente. Não podia acreditar que seria vencido com tanta facilidade.
"Tudo bem", disse por fim, mas minha voz foi abafada quando Penelope soltou um grito feliz e correu até mim, passando os braços em torno do meu pescoço.
Pelas minhas contas, aquela era a segunda vez que ela me abraçava, e em ambas as vezes eu não estava nem um pouco preparado para aquilo.
Senti seu cheiro me envolver quando seu cabelo se desmanchou do coque e caiu sobre os ombros. Meu coração bateu mais forte e antes que eu pudesse cogitar a ideia de passar um braço por sua cintura, ela se afastou.
Soltei a respiração que nem sabia estar prendendo quando Penelope ficou a alguns metros de distância de mim.
"Você vai planejar essa coisa dos disfarces", eu disse então, tentando colocar a minha cabeça no lugar e focar no que era realmente importante.
"Pode deixar", ela falou toda feliz. "Ninguém vai nos reconhecer, pode ter certeza."
Ela se jogou na cama, sorrindo sem parar.
"Me dê apenas alguns dias para arrumar tudo isso. Além do mais, não vou conseguir sair do castelo por enquanto. Preciso organizar um monte de coisas a respeito do baile primeiro e pensar em uma boa desculpa para dar a tia Matilde por não levá-la até a cidade comigo quando sairmos juntos. Talvez eu diga que..."
"Espera um pouco", pedi, a interrompendo antes que começasse a falar mais e me distraísse do que tinha chamado minha atenção. "Como assim baile?"
Penelope mordeu o lábio inferior e olhou para mim como se estivesse se divertindo.
"Penelope?", chamei quando ela permaneceu em silêncio.
"Margot ainda não te falou sobre o baile?", ela perguntou de maneira inocente.
"Por Cristo, de que baile você está falando?"
Ela sorriu timidamente e colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha.
"Layla, Margot, Eloise e eu tivemos a ideia de um baile", ela explicou tranquilamente. "Um baile de verão. Aqui no castelo."
Eu olhei para ela de boca aberta, tentando processar a ideia. Aquilo não podia ser verdade. Como assim um baile de verão? Desde quando nós tínhamos bailes de verão?!
"É algo que pensamos para animar as coisas por aqui", ela continuou dizendo. "Sabe, para nos mantermos ocupadas e tudo mais. Pensamos em algo íntimo, Margot disse que vai convidar apenas alguns familiares e amigos. Vai ser um evento pequeno."
Eu soltei uma risada descrente, passando uma mão pelo cabelo e me perguntando qual delas tinha inventado aquilo.
Desde quando Margot fazia qualquer coisa que não fosse exagerado?
Por Deus, já não era o bastante ter prometido sair do palácio com Penelope mais uma vez, agora no meio da cidade? Será que o universo tinha decidido tirar alguns dias para testar minha sanidade?
Fechei os olhos com força. Já conseguia imaginar uma tonelada de parentes que eu mal suportava reunidos no mesmo salão por uma noite inteira, além de todas as pessoas com quem Margot já tinha trocado pelo menos uma dúzia de palavras.
"Vai ser divertido", a voz de Penelope soou naquele cenário infernal que eu já tinha pintado na minha cabeça. "Layla disse que vai ser tudo do nosso gosto. Vai ter boa comida, música e uma decoração maravilhosa. Você pode participar da organização também, se quiser."
Nem sonhando...
"O meu pai já sabe disso?", perguntei, porque não conseguia acreditar que ele fosse concordar com uma coisa daquelas.
"Layla pediu para que Steven contasse a ele", Penelope continuou, sorrindo docemente. "E ela me disse mais cedo que ele concordou."
Praguejei internamente. Steven, aquele traidor... Ele sabia muito bem como eu odiava bailes, na verdade, ele odiava eventos do tipo quase tanto quanto eu. Pelo jeito ele dava mais valor ao seu casamento do que ao nosso relacionamento de irmãos.
"Você não parece muito feliz", Penelope comentou.
"Você reparou?"
Ela sorriu de lado para mim, não parecendo nem um pouco atingida pelo meu sarcasmo.
"Vai ser divertido, pode confiar."
Ah, não. Uma voz dentro de mim não parava de dizer que eu já estava confiando mais naquela garota do que deveria. Se continuasse daquele jeito, ela me manipularia com uma facilidade impressionante.
"Eu tenho as minhas dúvidas. De quem foi a ideia do baile afinal de contas?"
"De Eloise", Penelope respondeu. Droga... Ao contrário de Margot e Layla, eu não podia esganar minha sobrinha de três anos.
"Bom, me avise quando puder ir até Arthenia, então", eu disse, me forçando a esquecer tudo aquilo. Não adiantaria sofrer pelo tal baile antes da hora. Deixaria para ficar mal humorado com aquilo mais para frente.
Me dirigi até a porta do quarto e Penelope me acompanhou, abrindo a porta.
Antes que pudesse me despedir, ela sorriu para mim e disse:
"Obrigada por tudo o que está fazendo por mim, Sebastian. Você fica falando que não é nada, mas acredite, faz toda a diferença." Ela mexeu no cabelo e suas bochechas ficaram vermelhas de repente. "Desde que cheguei aqui, você me ajudou de muitas formas. Se tiver qualquer coisa que eu possa fazer para retribuir..."
"Não", a interrompi, balançando a cabeça. "Você... Você não precisa fazer nada."
Ela sorriu para mim de uma maneira doce que a fez ficar ainda mais linda. Eu engoli em seco e temi encará-la demais, mas era difícil não ficar abismado diante de Penelope.
Eu murmurei um boa noite apressado e me despedi dela, guiando a cadeira de rodas até o meu quarto. Sem querer, as palavras dela continuaram ecoando na minha cabeça sem parar...
"Se tiver qualquer coisa que eu possa fazer para retribuir..."
Eu respirei fundo e massageei a ponte do nariz. Não conseguia deixar de pensar que, para o bem ou para o mau, Penelope Beverley já estava fazendo muito desde que tinha entrado na minha vida.
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Oii gente! Mais um capítulo novinho para vocês <3
Algumas coisas já aconteceram aqui e eu estou louca para saber o que vocês acharam! O que acham que vem por aí? Estão gostando da relação do Sebastian e da Penelope? Me contem!
Espero postar um outro capítulo na quarta-feira, mas não posso prometer. Mandem energias positivas, quem sabe dá certo kkkk <3
Muitos beijos e uma ótima semana para vocês!
Ceci.
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