Capítulo Dez - Penelope

               

               SEBASTIAN E EU CHEGAMOS AO restaurante cerca de vinte minutos depois que saímos do castelo. O lugar ficava afastado da cidade, parcialmente isolado no campo. A construção rústica e acolhedora ficava aninhada entre duas colinas, localizada perto de um amplo lago que refletia à luz das estrelas. Pela janela do carro, pude ver as luzes brilhantes que iluminavam o restaurante.

"É lindo!", eu exclamei quando avistei a construção. "Eu adorei."

"Você ainda nem entrou", o príncipe comentou com um sorriso, enquanto guiava o carro até um amplo estacionamento que ficava ao lado do restaurante.

"Não importa", disse com um aceno da cabeça, já ansiosa para pular do carro e ir até lá. "Parece ser tão fofo e aconchegante!"

Eu ouvi quando o príncipe soltou uma risadinha baixa, mas não me importei de provavelmente estar parecendo uma criança que acabou de ganhar um doce. Aquele lugar parecia ser bem melhor do que qualquer coisa que eu poderia encontrar em Arthenia.

Desci do carro primeiro e fiquei esperando até que Sebastian se ajeitasse sozinho. Reparei que ele parecia fazer tudo o mais rápido possível, mas contive o impulso de dizê-lo para não ter pressa. Seu rosto corado era sinal o suficiente de que minha tentativa de ajudar só acabaria piorando as coisas.

"Então, onde está toda a sua equipe de segurança, Majestade?", brinquei, quando começamos a ir em direção ao restaurante por uma trilha pavimentada. Havia algumas mesas montadas de frente para a construção e perto do lago, mas percebi que todas elas estavam vazias.

"Provavelmente escondidos em algum lugar onde não podem ser vistos", Sebastian respondeu casualmente. "Pedi para que nos dessem um pouco de privacidade. Não é tão legal ser acompanhado por uma dúzia de par de olhos a cada movimento."

Quando chegamos ao restaurante, percebi que pelo menos meia dúzia de pessoas tinham se organizado para receber o príncipe, entre elas os proprietários do restaurante, um casal de meia-idade muito simpático e acolhedor. Eles pareciam muito felizes com a nossa presença e nos guiaram para dentro.

Assim que entrei no restaurante, fiquei ainda mais apaixonada pelo lugar. Tudo ali dentro seguia um estilo rústico que eu adorava. Altas paredes eram sustentadas por vigas de madeira, mesinhas redondas cobertas por jarros de flores coloridas e uma série de janelas abertas deixavam o ar fresco da noite entrar. Uma música baixa e calma preenchia o ambiente, enquanto um garçom nos guiava até uma mesa que ficava ao lado de uma das janelas.

"Você gostou?", Sebastian perguntou quando nos acomodamos. Eu estava tão ansiosa e admirada com o lugar que não conseguia parar de girar a cabeça, tentando captar os mínimos detalhes do lugar.

"Ah, eu amei!", disse com sinceridade. "Uma vez fui a um restaurante parecido em Lyria, mas aqui é bem melhor, além de mais calmo." Eu olhei para ele e abri um pequeno sorriso. "É impressão minha ou você fechou esse lugar só para nós dois?"

Sebastian deu de ombros enquanto pegava o cardápio, um pequeno sorriso brincando em seus lábios.

"Mais ou menos", ele falou. "Você não se importa, não é?"

"Não", disse. "Quer dizer, eu gosto de estar cercada por gente e barulho, mas também aprecio a calmaria."

O príncipe tentou reprimir uma risada de descrença, em seguida erguendo o cardápio para que ocultasse seu rosto.

"Ei! É sério", falei. "Também gosto de ficar no silêncio, em um lugar calmo e com poucas pessoas..."

"É mesmo?" Sebastian abaixou o cardápio para olhar para mim. Havia um brilho divertido em seus olhos. "Não é exatamente pela sua aversão à calmaria que estamos aqui?"

"Não", respondi tranquilamente, me lembrando daquela tarde há alguns dias, na biblioteca do palácio. "Estamos aqui porque você perdeu no Banco Imobiliário. Perdeu feio ainda por cima."

"Pensei que tínhamos concordado que foi uma simples questão de falta de sorte..."

"Eu não me lembro de ter concordado com isso."

Ele riu e ajeitou os óculos, voltando os olhos para o garçom que se aproximava, perguntando o que queríamos beber.

Enquanto Sebastian conversava com ele, vasculhei minha bolsa em busca do celular. Por mais que não fosse do tipo de pessoa que não consegue ficar longe de um aparelho por mais de algumas horas enquanto está fora de casa, queria saber se Margot tinha me enviado mais alguma mensagem desde que tinha saído do palácio.

Mas não foi uma mensagem da princesa que encontrei. Ao invés disso, me deparei com o nome do meu irmão na tela. E podia ser só impressão minha, mas ele não parecia estar em seu estado mais calmo no momento.

SAM: Que história é essa de que você está fora do castelo com o príncipe??? Como isso aconteceu?

Senti minhas bochechas queimarem ao ler a mensagem. Como Sam sabia daquilo? Eu não tinha dito nada para ele justamente porque queria evitar a enxurrada de perguntas que tinha certeza que ele me faria.

Antes que eu pudesse digitar qualquer coisa em resposta, outra mensagem dele surgiu na tela.

SAM: Tia Matilde acabou de ligar para o meu pai. Ela contou que você saiu com o príncipe para jantar e que ele parece ter te convidado. O que isso significa?

EU: Você está parecendo bastante com uma velha fofoqueira, sabia?

SAM: Vai responder a minha pergunta ou não?

Soltei um suspiro exasperado. Era melhor dar uma desculpa qualquer logo, antes que meu irmão começasse a pensar demais com aquela sua cabeça de vento. Não queria que ele começasse a compartilhar suas ideias – que eu tinha uma boa ideia do que se tratavam – com o meu pai. Seria vergonhoso demais.

Pensei que com dezoito anos eu já poderia fazer o que bem entendesse sem dar justificativas para a minha família, mas aparentemente não era assim que a vida funcionava.

EU: É só um jantar, Sam. Esqueça isso.

A resposta dele não levou mais que meio segundo para aparecer.

SAM: Bom, isso não me deixou menos curioso. Não vá fazer nada estúpido. Não preciso te dizer para ter juízo, não é?

Senti meu rosto queimar ainda mais e desejei atravessar a tela do celular para sacudir Sam. Com força.

Aquele grande id...

"Você está bem?", ouvi a voz de Sebastian perguntar de repente, fazendo com que eu jogasse o celular na bolsa com rapidez e erguesse os olhos para ele. Torci para que meu rosto não estivesse tão vermelho quanto eu pensava, mas foi só olhar meu reflexo distorcido no pequeno vaso de vidro no centro da mesa para ver que eu não tinha tanta sorte assim.

"Claro", respondi. "Ótima."

Ele não apareceu acreditar muito em mim, mas quem acreditaria? Comecei a vasculhar o cardápio com os olhos para tentar disfarçar.

Sebastian e eu não demoramos muito para fazer nossos pedidos. O restaurante tinha uma grande variedade de pratos, e logo percebi que eles eram especialistas em frutos do mar. Tanto eu quanto o príncipe decidimos experimentar um tipo exótico de lagosta que eles serviam ali.

Enquanto esperávamos a comida, pedimos refrigerante. Por mais que ambos tivéssemos idade para beber, Sebastian voltaria para casa dirigindo e eu não era a maior fã de bebidas alcoólicas do mundo. A única vez em que fiquei bêbada de verdade foi na virada do ano, quando ainda tinha dezessete. Exagerei demais no champanhe e de algum modo acabei dançando sozinha na piscina da casa de uma das minhas amigas do colégio, às cinco da manhã.

Não era uma experiência que eu gostaria de repetir tão cedo.

"Então, o que você está achando do palácio até agora?", Sebastian perguntou quando o garçom se afastou com nossos pedidos, tentando puxar conversa.

"Está sendo ótimo", eu disse, tentando soar o mais sincera possível, mas talvez eu não fosse uma mentirosa tão boa quanto pensava.

"Tem um 'mas' aí, não tem?", Sebastian disse com um sorrisinho, me deixando muito envergonhada. Tentei negar, mas ele balançou a cabeça de maneira tranquila. "Tudo bem, não tem problema. Eu entendo que apesar de ser enorme, não há muita coisa para fazer por lá. Por mais que não pareça para as pessoas de fora, é só uma casa normal."

"Bom..." Eu enrolei uma mecha do meu cabelo na ponta do dedo, sem conseguir encará-lo. "Talvez eu fique entediada às vezes."

"Enquanto à Arthenia?", ele perguntou. "A cidade deve ter umas mil coisas que te manteriam entretida por um tempo."

"Ainda não consegui explorá-la direito", eu disse, ainda sem olhar para ele. "Mas tenho certeza que vou fazer isso em breve."

Me impedi de falar mais. Não queria que ele soubesse que na verdade eu não me sentia à vontade de sair pela cidade sozinha. Talvez aquilo não fosse uma grande coisa para mim há alguns meses, mas agora... Só de pensar em estar em um lugar público desacompanhada me dava nos nervos.

Estava esperando que aquele medo passasse logo. Na verdade, esperava que ao sair de Lyria aquilo não me aborrecesse mais, mas era como se houvesse uma trava dentro de mim, me impedindo de ser exatamente como eu era antes.

Pensar naquilo me fazia sentir pequena e estúpida, e eu odiava aquela sensação.

"Você não precisa responder se não quiser", disse o príncipe naquele instante, chamando minha atenção para ele. "Mas por que decidiu passar o verão aqui? Além do fato do meu pai ter te convidado, é claro."

Eu vi a curiosidade genuína em seus olhos e desejei ser verdadeira sobre meus motivos, mas sabia que não podia. Não sobre a maior parte deles, pelo menos.

Tomei um gole do meu refrigerante e me obriguei a sorrir, tentando afastar a pressão que apertava meu peito.

"Bom, eu não tinha planos para o verão", comecei, satisfeita por pelo menos estar sendo sincera a respeito daquela parte da história. "Acabei de me formar e ainda não sei muito bem o que quero fazer daqui para frente. Tenho vontade de ir para uma universidade, é claro, mas ainda não decidi qual caminho seguir. Eu pensei... Pensei que talvez passar um tempo longe de casa me faria clarear um pouco a mente." Encolhi os ombros e olhei para a noite lá fora através da janela aberta. "Então, quando meu pai me falou sobre o convite do rei, achei que seria uma boa ideia. Estou esperando que algo aconteça e eu volte para casa sabendo exatamente que passos seguir a partir de agora. Sei que deve soar meio bobo."

"Não acho que seja bobo", ele falou assim que terminei de tagarelar. Voltei os olhos para o príncipe, que me encarava com total atenção. "Na verdade, faz todo sentindo. Eu também..." Ele hesitou por um momento antes de continuar. "Ainda não decidi o que fazer muito bem a partir de agora."

"É mesmo?", perguntei, apoiando meu queixo na mão e olhando para ele, curiosa. "Vocês, membros da realeza, já não têm passos muito bem definidos?"

"De forma geral, sim", ele respondeu com um pequeno sorriso. "Meu pai sempre exigiu muito de mim e dos meus irmãos, mas ele não é mais tão rígido quanto era antigamente. É claro que quer que eu também tenha um diploma superior em alguma área que me interesse, mas não está me pressionando tanto para que escolha depressa o que fazer. Enquanto isso, tento ajudá-lo quando precisa, mas é claro que ele sempre separa as partes mais chatas do trabalho para que eu cuide delas..."

Eu sorri, ouvindo interessada.

"E o que mais você faz?", eu perguntei. "Além de, é claro, ler bastante e ajudar a governar um país de vez em quando?"

"Eu não governo nada", ele disse, soltando uma risada. "E quem disse que eu leio bastante?"

Eu sorri e dei de ombros.

"Foi só um palpite. Eu acertei?"

Ele mexeu nos óculos e passou uma mão pelo cabelo castanho.

"Talvez..."

Não consegui segurar o riso, um tanto quanto satisfeita comigo mesma.

"Você deve estar pensando que eu sou uma espécie de nerd esquisito, não é?", ele disse, e achei fofo o modo como suas orelhas ficaram vermelhas ao dizer aquilo. Estava contente por não ser a única de nós dois que mostrava claramente quando se sentia envergonhada.

"Nerd? Talvez. Esquisito? De jeito nenhum." Eu me inclinei um pouco para frente e percebi quando ele desviou os olhos dos meus. Por um segundo, foi como se eu tivesse visto uma sombra de dor tomar conta de sua expressão, mas a sensação foi embora tão rápido quanto veio. Devia ser só uma coisa da minha cabeça. "Mas, me fala, o que mais você faz para passar o tempo?"

Ele pigarreou e pareceu pensar por um instante.

"Bem, eu gosto de desenhar..."

"É mesmo?", disse animada, sem nem esperar que ele concluísse. "Eu não tenho o mínimo talento para isso. Meu pai uma vez me colocou em aulas de pintura, acho que ele estava determinado a fazer surgir em mim uma veia artística, mas foi um desastre total. No primeiro dia eu já tinha destruído pelo menos três telas e feito a professora arrancar todos os cabelos da cabeça. Depois disso tentei me dedicar aos desenhos, mas me dava nos nervos ter de ficar sentada por horas a fio com um lápis na mão... Acho que é por isso que até hoje o melhor que consigo fazer é desenhar pessoas de palitinhos e sóis sorridentes."

Eu fiz uma pausa e dei um gole no meu refrigerante, percebendo sem graça a expressão um tanto quanto desnorteada do príncipe.

"É questão de prática", ele disse quando lhe dei oportunidade. "Mas o que faço não é nada demais, de verdade."

"Aposto que está sendo modesto", falei com um sorriso. "Você sempre gostou de desenhar?"

"Na verdade, só fui ter interesse pela coisa há alguns anos", ele disse. "Meu pai me contou que minha mãe era uma boa desenhista e que costumava passar horas debruçada sobre um papel. Talvez eu tenha herdado isso dela."

Eu o observei atentamente, mas não consegui notar nenhum sinal de tristeza ou melancolia ao mencionar a mãe.

"Você não a conheceu, não é? A sua mãe", perguntei, me lembrando das aulas de história do colégio. A primeira esposa do rei Carl tinha morrido há muitos anos. Por muito tempo todos pensaram que sua morte havia sido acidental, ou mesmo um suicídio, mas há alguns anos todos descobriram que ela tinha sido assassinada pela própria prima, prima essa que se casou com o pai de Sebastian depois de sua morte. Era uma história complicada que nem eu entendia direito, mas sabia ser digna de filmes perturbadores.

"Quando ela morreu eu tinha só um ano", o príncipe respondeu, brincando com sua taça sem olhar para mim. "Não me lembro dela."

"Desculpe", disse, sentindo-me envergonhada. "Não devia ter falado sobre..."

"Não, tudo bem", ele apressou-se a dizer, erguendo os olhos castanhos para mim. "Não é como se eu sentisse saudades dela, não é? Mal a conheci." Ele ficou em silêncio por um instante, mas em seguida disse: "Só é complicado aceitar como as coisas aconteceram com ela, entende? Tenho certeza que você conhece a história."

Eu assenti devagar, levando a mão ao pingente do colar que usava e brincando com ele distraidamente.

Eu não conseguia imaginar como era para ele assimilar tudo o que tinha acontecido. Tanto Sebastian quanto seus irmãos tinham convivido com a assassina de sua mãe por anos, embaixo do mesmo teto. Meu cérebro não conseguia processar como devia ter sido para eles digerirem aquilo quando a verdade veio à tona.

"Eu também não conheci minha mãe", eu disse de repente, por um segundo surpreendendo a mim mesma por dizer aquilo em voz alta. Mas alguma coisa naquele momento de repente me fez sentir confortável a ponto de dizer coisas que eu custava admitir para mim mesma. Quando olhei para os olhos do príncipe, de algum modo, senti como se visse a mim mesma naquele olhar. Se tinha alguém que poderia entender o que eu sentia, essa pessoa poderia muito bem ser ele. "Acho que te contei a história naquela noite na sacada, não é?"

Sebastian assentiu, os olhos fixos nos meus.

"Você nunca teve contato com ela?", ele perguntou em tom baixo. Eu fiz que não com a cabeça.

"Nunca a conheci. Tudo que sei é seu nome." Eu percebi como Sebastian estava curioso para fazer mais perguntas, mas eu tinha a impressão que ele era bem mais contido que eu, além de saber muito bem quando fazer ou não uma pergunta considerada inapropriada.

"E você nunca teve vontade de encontrá-la?", ele perguntou por fim.

Tive de resistir ao impulso de abrir um sorriso sarcástico. Aquela era a pergunta que valia um milhão. A pergunta que eu tentava esconder de mim mesma desde que me entendia por gente, tentando não me machucar ou machucar ao meu pai.

Mas as coisas tinham mudado. Pelo menos um pouco. Aliás, aquele não era um dos motivos que tinham me levado até Crownworth afinal de contas?

"Não sei muito bem o tipo de pessoa que ela é", decidi dizer por fim, esquivando-me da pergunta como a grande covarde que era. "Não sei, mas sempre achei que seria melhor deixar essa parte da minha vida no escuro. Não é como se eu precisasse da minha mãe, afinal de contas. Meu pai sempre foi maravilhoso cumprindo os dois papéis."

O príncipe abriu um sorriso educado e assentiu com a cabeça.

"Admiro isso em você", ele falou. "Se fosse eu..." Sebastian balançou a cabeça, como se nem conseguisse processar a ideia. "Eu a teria procurado há muito tempo."

Antes que eu pudesse responder, dois garçons se aproximaram com nossos pratos. Fiquei aliviada quando aquela conversa pesada foi deixada de lado, eu não sabia o que mais minha boca grande poderia revelar se continuasse debatendo aquele assunto com o príncipe.

O restante do jantar ocorreu sem outros tópicos estressantes. Conforme o tempo passava, eu não conseguia deixar de reparar como me sentia à vontade na presença do príncipe. Apesar de bem mais reservado que eu, ele ainda sim me fazia rir boa parte das vezes, e eu achava que conseguia fazer o mesmo com ele.

Quando chegou a hora da sobremesa e ele pediu uma torta de limão, começamos uma discussão acalorada sobre seu gosto por doces.

"Quem escolhe torta de limão quando há meia dúzia de opções que levam chocolate em todas as suas formas no cardápio?!", eu exclamei, chocada.

"O que você tem contra torta de limão?", ele retrucou.

"Nada", respondi. "Só acho que tem coisas muito melhores para experimentar aqui. Fala sério, olha só essa opção de bolo!" Eu levei o cardápio até bem diante dos olhos dele, quase o cegando no processo.

"Eu tenho ou não o direito de pedir a torta de limão?"

Bufei, revirando os olhos de uma maneira dramática.

"Sempre achei que a realeza tinha gostos duvidosos..."

Nós trocamos um olhar aborrecido. Senti-me vitoriosa quando ele foi o primeiro a rir.

Quando terminamos de comer, os proprietários do restaurante aconselharam que passeássemos um pouco pelo lugar, uma ideia muito bem-vinda por mim. Lá fora, o céu noturno estava pontilhado de estrelas e quando o vento fresco bateu no meu rosto, me senti satisfeita e feliz como não me sentia há muito tempo.

Ali, longe de todos e na companhia do príncipe de Steinorth, eu me sentia segura e leve como não me sentia há muitos meses. Como se nada nem ninguém pudesse me atingir. Desejei que aquela sensação durasse para sempre.

"Podemos ir até o lago?", perguntei quando Sebastian e eu saímos do restaurante. Mais adiante, a superfície do logo reluzia à luz das estrelas. No centro dele, havia um pequeno quiosque circular.

"Claro."

Juntos, nós fomos lentamente até o lago. Apesar de ser verão, Crownworth era o condado mais ao norte do país e uma rajada de vento frio fez com que os pelos dos meus braços se eriçassem. Me abracei por um instante, e antes que percebesse, Sebastian já tinha tirado seu paletó e estendido para mim.

"Então você é um cavalheiro?", brinquei, aceitando o casaco e o colocando sobre os ombros. Depois de passar quase duas horas na presença do príncipe, eu já me sentia bem mais à vontade do que pensei ser possível uma semana antes, quando cheguei a Arthenia.

Sebastian soltou uma risada.

"Qualquer um faria isso."

"Nem todos os homens prestam atenção nas necessidades de uma garota", comentei em tom de brincadeira.

"Bom, talvez nisso você esteja certa..."

Nós chegamos até a beira do lago. A ponte que levava ao quiosque tinha parapeitos altos e era bastante ampla para que duas pessoas a atravessassem lado a lado, mas não parecia ter sido projetada pensando que uma dessas pessoas poderia estar em uma cadeira de rodas.

"Pode ir na frente", eu disse para Sebastian. Ele lançou um olhar para ponte e fez que sim sem olhar para mim, guiando a cadeira de rodas até ela.

Quando chegamos ao quiosque, eu me apoiei no parapeito e observei o reflexo da lua minguante na água. Ao olhar para cima, me dei conta novamente de como longe das áreas urbanas, as estrelas pareciam surgir às milhares.

Era tão lindo...

"Este é um bom lugar para observar o céu com um telescópio", eu disse, minha voz ressoando pelo quiosque silencioso. Ali, tudo o que eu podia ouvir era o barulho baixo da minha respiração e a de Sebastian, além de um sapo coaxando em algum lugar próximo. "Acho que essa foi a única coisa que eu quis trazer para Arthenia, mas que não cabia na mala."

"Você tem um telescópio?", o príncipe perguntou, também se aproximando do parapeito. Nossas sombras se projetaram na água abaixo.

"É claro que tenho", respondi com um sorriso. "Sempre fico pendurada naquela coisa por pelo menos meia hora antes de dormir."

O príncipe sorriu de lado e ergueu os olhos para o céu.

"Daqui dá para ver melhor as estrelas", ele comentou.

"São lindas, não é?", eu disse, realmente fascinada. "Todas elas são luzes do passado."

"Como é?"

Olhei para Sebastian.

"As estrelas", eu disse. "As luzes que vemos podem demorar milhares de anos para chegar até nós. Por isso são luzes do passado, porque estamos olhando para o brilho que um astro emitiu há muito tempo, um tempo em que nem eu ou você pensávamos em existir."

"Uau", ele murmurou baixinho, fazendo com que eu soltasse uma risadinha. Sebastian inclinou um pouco a cabeça e voltou a olhar para o céu, agora com as sobrancelhas escuras levemente franzidas. "Acho que já li algo a respeito em algum lugar, mas nunca parei para pensar sobre de verdade. É bastante... triste, eu acho. Mas não sei o porquê."

"Também acho um pouco triste", concordei, também me voltando para o céu. "Mas não deixa de ser bonito por causa disso."

Ele sorriu e concordou com a cabeça. Ficamos em silêncio por um longo tempo, e aquilo não me perturbou nem um pouco, por incrível que pareça.

Era como se as palavras não fossem necessárias, e a paz que me invadiu me fez desejar congelar aquele momento simples para sempre.

Alguns minutos se passaram até que saíssemos do quiosque e voltássemos para o carro. Quando já estávamos na rodovia, voltando para o palácio, eu olhei para o príncipe e disse:

"Vamos, admita que o jantar foi uma boa ideia", falei, me sentindo muito satisfeita. Sebastian tentou segurar o sorriso, mas não conseguiu escondê-lo de mim.

"Talvez", ele disse, sem dar o braço a torcer. Eu o cutuquei de leve com o cotovelo. Ele soltou uma risada baixa. "Tudo bem, foi mesmo uma boa ideia. Mas lembre-se que fui eu quem escolheu o lugar, e isso fez toda a diferença."

"Te dou todos os créditos por isso", falei sem preocupações, e então, com uma súbita onda de coragem, disse: "Margot me contou que vocês costumavam fazer passeios muito divertidos pelo condado. Não quero ser oferecida nem nada, mas seria legal se nós três saíssemos de vez em quando por aí."

O pequeno sorriso no rosto de Sebastian se fechou de repente e eu me perguntei se tinha dito a coisa errada. Por outro lado, nem tinha mencionado o fato de que, na verdade, a princesa tinha me dito que fazia um tempo que ele não saia do castelo. Não queria que ele soubesse que ela havia mencionado aquilo comigo.

"Margot adoraria te acompanhar", ele disse então, depois de um momento em silêncio.

"Seria mais legal se você viesse junto", disse, pois agora que tinha começado, não via motivo para não prosseguir.

"É complicado", ele falou por fim, e sua voz saiu dura. "Não é todo lugar que é acessível para mim."

Eu abri a boca para responder antes que ele terminasse de falar, mas assim que ouvi a frase completa, me calei. Então era aquilo...

Não consegui deixar de pensar que talvez Sebastian só estivesse usando uma desculpa qualquer para não sair do palácio, mas quando olhei para ele, percebi que estava sendo sincero. Pelo menos em parte.

"Bom, talvez não seja tão difícil assim", opinei. "Olha só o lugar onde fomos hoje. Era incrível, bem perto do castelo e totalmente acessível."

"Antes de encontrar esse restaurante, eu já tinha procurado pelo menos cinco outros, Penelope", ele falou, os olhos fixos na estrada.

Ele não precisou falar mais nada. Entendi o que queria dizer.

Voltei os olhos para a noite lá fora, me sentindo um tanto quanto envergonhada por ter insistido no assunto.

Eu era mesmo uma idiota. Não tinha passado pela minha cabeça em nenhum momento que ele tinha tido dificuldades em encontrar um lugar para nós naquela noite.

"Penelope?"

Eu me virei para Sebastian, um tanto quanto assustada ao ouvir meu nome.

"Eu gostei muito de hoje à noite", ele falou por fim, fazendo com que eu soltasse a respiração que eu nem sabia estar prendendo. "Não pensei que diria isso tão cedo, mas... eu até gostei de ter perdido aquele jogo."

O sorriso que se espalhou pelo meu rosto foi tão grande que fiquei até satisfeita por ele não estar olhando diretamente para mim. O desconforto de minutos mais cedo se desfez quase por completo.

"Eu também gostei", falei, e não tinha como soar mais sincera do que aquilo. "Foi muito... agradável."

O príncipe sorriu diante da minha escolha de palavras. Eu não podia ficar mais contente.

Naquele instante as torres do castelo surgiram ao longe, no topo da colina, e por breves segundos desejei esticar mais um pouco o meu tempo naquele carro.

Eu não me lembrava da última vez em que uma noite havia sido tão simples e ao mesmo tempo tão maravilhosa para mim. Ao olhar de relance para o príncipe ao meu lado, eu soube com certeza que ele era em boa parte a razão para aquilo.

E aquela não era a coisa mais surpreendente?

____________________♥️_________________

Dedicado a: sistolizei <3

Avisinhos:

Oii gente! Tudo bem com vocês? Espero que estejam se cuidando direitinho desse lado da telinha.

Antes de mais nada, queria pedir desculpas pela imensa demora em postar capítulos. Fiquei sobrecarregada nessas duas últimas semanas e isso impactou e muito minha criatividade. Ainda não sei direito se estou passando por um bloqueio de escrita, mas só o fato de conseguir ter escrito esse capítulo para vocês hoje me deixou muito animada para continuar.

Mas então, me digam o que acharam desse "encontro" do Seb e da Penelope! Sei que vocês estavam esperando ansiosos por esse capítulo e espero muito que tenham gostado! Aliás, dica rapidinha: apreciem esse mar de rosas, porque no próximo capítulo as coisas já começam a esquentar... MUHAMUHAMUHA (minha tentativa de risada maliguina)

Gente, outra coisa que vim compartilhar com vocês é a minha pasta no Pinterest e minha playlist no spotify com coisas relacionadas ao livro! A pasta que tenho no Pinterest está intitulada "Steinorth" e por muito tempo mantive ela privada, mas agora decidi compartilhar com vocês. Lá tem tanto inspirações deste livro aqui como do anterior. Espero que gostem! A playlist no spotify também está recheada de musiquinhas que me lembram muito Um Príncipe para Penelope e me inspiram quando preciso escrever. <3

Você pode achar tanto o link para o spotify e Pinterest na minha linktree, que fica na biografia do meu perfil aqui no Wattpad, mas também vou deixar os links aqui:

Pasta do Pinterest:  https://br.pinterest.com/ceciliaamaral01/steinorth/

Spotify: https://open.spotify.com/playlist/3E06bY92rh86jbtufUji2A?si=OUl-v9JES0GFIdQwCGO_iw

Espero que tenham gostado do capítulo! Mil beijos e até semana que vem,

Ceci.

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