Capítulo Cinco - Penelope

"ESTÁ TUDO BEM", O GAROTO a minha frente disse, enquanto eu tentava organizar meus pensamentos confusos e entender o que estava acontecendo. "Só respire, devagar."

Eu sentia meu peito arder e minhas mãos suarem, meu coração batia como se eu estivesse em uma maratona. Tentei seguir as instruções dele sem questionar e puxar o ar para os pulmões, mas era difícil demais e estar enclausurada naquele corredor fechado não ajudava muito.

"Preciso ir lá para fora", consegui dizer entre arfadas, tremendo da cabeça aos pés. "Aqui está abafado demais..."

"Certo", o rapaz disse, os olhos castanhos me fitando ansiosos através das lentes dos óculos que usava. "Preciso que você se levante, ok? Pode fazer isso?"

Eu fiz que sim com a cabeça, tentando dizer a mim mesma que estava tudo bem, que logo, logo eu estaria fora daquele cubículo, respirando normalmente de novo.

Me apoiei na parede com dificuldade, o rapaz desconhecido estendeu a mão para mim e eu aceitei sem pestanejar, me levantando do chão com as pernas bambas. Eu estava tão confusa e desesperada que só naquele momento realmente me dei conta de que ele estava em uma cadeira de rodas. Por um microssegundo, minha curiosidade despertou e eu me perguntei o que devia ter acontecido com ele, mas aquele pensamento logo foi embora quando me lembrei da situação em que me encontrava.

"Por aqui", ele disse baixinho, em um tom de voz calmo que contrastava com o meu desespero. "Venha comigo."

Ele não soltou minha mão, ao invés disso me levou para fora do corredor, conduzindo a cadeira de rodas o mais rápido que podia.

"Respire fundo."

Eu tentava fazer o que ele dizia, mas não estava adiantando muito. Tentei me consolar, pensando que pelo menos não estava sozinha, mas mesmo assim eu suava frio, sentindo uma pressão avassaladora no peito. Minha situação só piorou quando de repente paramos em frente a um dos elevadores do palácio.

"Não", choraminguei, soltando a mão dele e me encolhendo no lugar. Me sentia pequena, ridícula, mas a verdade era que a simples ideia de ficar presa em um elevador naquele instante, mesmo que por poucos segundos, me fazia preferir a morte. "Não posso entrar nessa coisa, por favor..."

"Ei, está tudo bem", ele disse então, se virando para mim. "Sem elevadores."

Percebi que os olhos dele iam de um lado para o outro, como se tentasse achar uma solução. Sem os elevadores, o único jeito de chegar aos jardins seria pelas escadas, e ele obviamente não podia me acompanhar por aquele caminho. Na situação em que me encontrava, eu também sabia que jamais conseguiria sair daquele palácio sozinha sem entrar no mais completo desespero.

Eu estava tão desnorteada que apenas o segui quando ele voltou a segurar minha mão. Os corredores novamente se transformaram em um borrão, mas tudo entrou em foco quando segundos mais tarde paramos em frente a portas duplas feitas de vidro, que se abriram com facilidade.

Assim que senti o ar da noite preencher meus pulmões, me precipitei para frente, desesperada, como se estivesse há muito tempo submersa e finalmente tivesse conseguido voltar à superfície.

Senti o parapeito de pedra sobre meus dedos quando me curvei para frente, respirando ruidosamente e enchendo meus pulmões com o ar mais puro que pensava já ter respirado. Tonta, olhei para os jardins lá embaixo, mergulhados nas sombras. Nas muralhas do palácio, em pontos estratégicos, conseguia ver guardas de vigia.

Eu não estou sozinha, pensei, não estou mais presa naqueles corredores.

Com um suspiro profundo de alívio, deslizei até o chão, pousando a cabeça nos joelhos e tirando alguns segundos para agradecer a Deus por conseguir respirar de novo. A pressão no meu peito lentamente se desfazia e meu coração desacelerava, muito mais calmo.

"Você está bem?", uma voz disse, e eu ergui os olhos para o rapaz na cadeira de rodas, que me observava preocupado. Ele parecia indeciso sobre se aproximar ou não de mim. "Esse foi o único lugar que pensei que poderia ajudar. É a sacada aberta mais próxima, embora não seja a maior."

Eu passei a língua pelos lábios secos e balancei a cabeça, me forçando a abrir um pequeno sorriso.

"Não, está ótimo. De verdade. Só o fato de eu já conseguir ver o céu é..."

Deixei a frase no ar com um suspiro, observando as estrelas e a lua lá em cima, bordadas em um céu negro que parecia ser a coisa mais linda do mundo para mim.

Pelo canto do olho, vi o rapaz me observar atentamente, com certeza segurando as mil perguntas que queria fazer.

Engoli em seco e olhei para ele.

"Eu... tinha me perdido nos corredores."

Ele piscou e anuiu devagar, mas o que eu tinha dito pareceu não acalmá-lo muito. Ainda me olhava como se a qualquer momento eu fosse pirar.

"Tem alguma coisa que eu possa fazer por você?", ele perguntou.

Eu balancei a cabeça e naquele momento, enquanto olhava para ele, minha mente deu um estalo e eu quase desejei pular daquela sacada para não precisar mais encará-lo.

Aquele garoto que parecia ter a minha idade, que perambulava pelo castelo em uma cadeira de rodas à noite... Jesus, como aquilo não tinha me ocorrido antes?! Uma vozinha na minha cabeça tentou me consolar, dizendo que há menos de cinco minutos eu tinha preocupações mais urgentes, como voltar a respirar, por exemplo, mas mesmo assim me senti bastante estúpida por não ter me dado conta de tudo antes.

"O senhor já fez muito... Alteza", eu disse, me perguntando se era tarde demais para começar a tratá-lo corretamente quando tinha acabado de me ver em meu estado mais vulnerável, um estado que nem mesmo a minha família costumava presenciar muito.

Eu me levantei do chão, também me dando conta que estava diante do príncipe de Steinorth vestindo um robe cor-de-rosa que mal chegava aos meus joelhos e tinha um decote que provavelmente deixaria tia Matilde escandalizada.

Gemi baixinho, sentindo todo o meu rosto corar. Quantas malditas coisas eu tinha negligenciado durante minha crise há poucos minutos?

"Eu...", comecei a dizer, passando as mãos pelos braços e encarando o chão. "Eu não sei nem o que dizer, de verdade. Sinto muito pelo que aconteceu."

A sacada mergulhou no mais absoluto silêncio, que se estendeu até eu não aguentar mais e olhar para o príncipe. Ele me encarava parecendo um tanto quanto perplexo, como se eu fosse uma incógnita que ele não conseguisse compreender.

"Não peça desculpas", ele disse finalmente, se aproximando um pouco mais em sua cadeira, que era bastante alta e fazia com que quase nos olhássemos da mesma altura. "O que aconteceu... Não é culpa sua."

Senti minhas bochechas esquentarem ainda mais – se é que aquilo era possível – e desviei os olhos, me sentindo muito envergonhada.

"Não era assim que eu planejava te conhecer", comecei a dizer, antes que pudesse me impedir. "Quer dizer, não que eu tenha pensado muito sobre isso, mas pode ter certeza que uma cena dessas não estava na minha lista de possibilidades... Parece que eu sempre acabo surpreendendo a mim mesma, como meu irmão, Sam, sempre me diz. Não queria causar transtorno, mas estou grata por ter me encontrado. Eu realmente não sei o que dizer... Estou tão envergonhada e..."

"Parece que a senhorita sabe muito bem o que dizer", ele falou, e quando ergui os olhos para encará-lo percebi que estava sorrindo levemente.

Me calei. Não queria deixá-lo tonto com a minha falação e botá-lo para correr já no meu primeiro dia ali.

"Desculpe...", sussurrei.

"Por favor, pare de se desculpar."

"Tudo bem", disse rapidamente. "Eu sinto..." Me calei, percebendo que já estava prestes a fazer aquilo de novo. O príncipe sorriu ainda mais.

"Srta. Penelope Beverley, certo?", ele perguntou naquele instante.

"Por favor, pode me chamar só de Penelope", disse.

"Muito bem, Penelope. Tem certeza que não tem nada mesmo que eu possa fazer por você?"

Eu assenti, me abraçando numa tentativa de autopreservação e também buscando esconder aquele decote. Deus, era realmente escandaloso.

"Está tudo bem agora, de verdade", eu disse. "Obrigada por ter me ajudado."

Ele olhou discretamente para mim, mas eu conseguia ver a curiosidade em seus olhos. Estava claro que ele queria entender o que tinha acontecido, mas parecia indeciso sobre perguntar ou não.

"Quando me perdi, entrei em desespero", contei de uma vez, poupando-o de ter que remoer aquilo mais um pouco. "Não me sinto bem em lugares apertados e com pouca entrada de ar, entende? Eu não sabia para onde ir e... Bom, graças a Deus você me encontrou." Eu parei, envergonhada. "Eu já te tratei incorretamente umas cem vezes, não é? Se minha tia me ouvisse agora, provavelmente me jogaria dessa sacada..."

O príncipe sorriu de maneira gentil e balançou a cabeça.

"Pode me chamar de Sebastian. E com todo o respeito, acho que o que sua tia poderia pensar em uma hora dessas é a pior das suas preocupações."

Não consegui esconder meu sorriso. Ele estava certo.

"Como me encontrou?", não consegui resistir à vontade de perguntar.

"Eu estava indo para o meu quarto quando te ouvi", o príncipe disse casualmente. "Felizmente não sou do tipo que dorme cedo."

Eu olhei mais atentamente para ele daquela vez e percebi que não estava mesmo vestindo pijamas ou algo do tipo. Na verdade, usava roupas um tanto quanto sociais, pretas e brancas, alinhadas de um jeito que as minhas próprias roupas nunca ficariam, devido ao meu nível de agitação.

Curiosa, me perguntei o que ele ficava fazendo até àquela hora da noite. Será que ajudava o pai com assuntos referentes ao Estado e ficava sempre ocupado com eles? Era por isso que eu não o tinha visto o dia todo?

"Srta. Beverley...", ele começou a dizer, mas eu lhe lancei um olhar significativo e ele parou, pigarreando. "Quer dizer, Penelope. Desculpe, sei que estou sendo insistente, mas eu não consigo deixar de me preocupar com você. Poucos minutos atrás te vi tremendo e..."

Ele não continuou, ao invés disso fez gestos amplos no ar, como se tivesse dificuldade de encontrar palavras para descrever o que tinha presenciado. Mas tudo bem, eu entendia. Aquelas crises não eram bonitas de testemunhar para ninguém, e eu ficava sensibilizada pela preocupação dele, não irritada.

"Não quer que eu chame um médico?", o príncipe sugeriu então. "Ou sua tia, talvez?"

"Não, de jeito nenhum", falei no mesmo instante, estremecendo diante daquela ideia. "Eu não preciso de um médico e minha tia... Bom, ela não seria de grande ajuda. Eu estou bem. Juro que se precisar de qualquer coisa, você vai saber."

Ele me analisou por mais alguns segundos e eu tentei sorrir, para tranquilizá-lo. Depois de algum tempo o vi soltar um pequeno suspiro, os ombros relaxando sob a camisa.

"Nesse caso, acho que devo me desculpar por não ter aparecido para te receber o dia todo", ele disse, e pareceu ser a vez dele de ficar envergonhado. Percebi quando o príncipe ajeitou os óculos repetidas vezes, mesmo quando eles já estavam perfeitamente no lugar. "Eu estive...", ele fez uma pequena pausa, "impossibilitado."

Não resisti a tentação de erguer as sobrancelhas.

Poderia existir pelo menos mil possibilidades implícitas ali, entre elas uma bastante inquietante, que me dizia que ele simplesmente não queria me conhecer.

Porém, até então, o príncipe não havia se revelado nada mais do que caridoso e gentil, o que eliminou quaisquer ideias ruins que eu podia ter nutrido sobre ele até então.

"Ah, está tudo bem", eu disse, fazendo um gesto com a mão, como se aquilo não fosse grande coisa. "Não se preocupe. Vou passar todo o verão aqui, afinal de contas. Vamos ter tempo de sobra para nos conhecermos."

Eu olhei para o príncipe e pude jurar vê-lo se remexer um pouco desconfortável na cadeira, desviando os olhos para longe. Constrangida, voltei meus próprios olhos para os jardins, procurando desesperadamente por algo que pudesse dizer para aliviar aquele desconforto que sentia.

Minha impressão era que havia uma porção de coisas ali que não estávamos dizendo um para o outro.

"O palácio é tão lindo", comentei em voz alta a primeira coisa que me veio à cabeça. "Muito mais bonito do que eu me lembrava..."

"Você veio até aqui poucas vezes, não é?", ele perguntou, graças a Deus sem me deixar falar sozinha. "Não me lembro de vê-la recentemente em bailes ou eventos da nobreza."

"Ah, não", disse baixinho, começando a enrolar alguns fios do cabelo na ponta do indicador. "Eu não frequento muito esses tipos de eventos."

"Bom, acredite quando digo que não está perdendo nada", o príncipe falou com um meio-sorriso. "São entediantes e é difícil achar alguém da nossa idade. Eu quase sempre fico cercado por gente na casa dos sessenta."

Eu ri e revirei os olhos.

"Não deve ser tão ruim assim..."

"Acredite, é bem ruim assim." Ele guiou a cadeira de rodas para mais perto do parapeito da sacada, de modo que ficamos lado a lado, olhando para o jardim. "Mas ajuda um pouco quando Margot está por perto. Ela sempre acaba fazendo eventos do tipo serem mais toleráveis."

Eu sorri ao pensar na princesa. Depois de passar um dia inteiro com ela, eu pensava entender bem o que o príncipe estava dizendo.

Aquela garota... Ela tinha uma energia só dela.

"Você é mais do tipo caseiro, então?", ele perguntou de repente, puxando assunto. "Por isso não gosta dos eventos da nobreza?"

"Ah, na verdade não", admiti, mordendo o lábio inferior com força e desviando os olhos. "Eu odeio ficar muito tempo em casa. Acho um tédio. Sobre os bailes..." Suspirei. Eu poderia mentir para ele ou desviar o assunto, claro, mas para quê? Eu tinha certeza que o príncipe mais cedo ou mais tarde descobriria aquela parte da minha vida, isso se o rei já não tivesse mencionado o assunto com ele alguma vez. "Não quero te deixar desconfortável nem nada, mas a verdade é que eu sou uma filha fora do casamento. O meu pai foi casado antes, por um curto período, com uma das filhas do conde de Blackwood. Ela morreu durante o parto do meu irmão mais velho, Sam. Ele não voltou a se casar depois disso." Me senti estúpida e brava comigo mesma quando senti minhas bochechas esquentarem. Não importava quantas vezes eu dissesse para mim mesma que não precisava ter vergonha daquela parte da minha vida, mas era mais difícil seguir meus próprios conselhos do que eu pensava. "Bom, meu pai acabou se envolvendo com outra mulher por um período e... eu aconteci. Ele não se casou com a minha mãe nem nada, por mais que tenha me legitimado. Por isso não costumo comparecer muito aos eventos da nobreza. É um tanto quanto desconfortável ter de aturar os olhares desconfiados e cochichos de todo mundo."

O príncipe ficou em silêncio por um bom tempo, assim como eu.

Por um instante pensei que talvez fosse melhor ter ficado calada ou inventado uma desculpa qualquer, mas eu e minha boca grande não éramos conhecidas pela descrição.

"Isso é tão...", o príncipe começou a dizer, e eu olhei para ele, ansiosa, "antiquado. Sério, quem se importa com uma coisa dessas?"

Eu ri, de repente sentindo uma onda de alívio invadir meu peito.

"Bom, aparentemente boa parte dos nobres de Steinorth se importam", eu disse com um leve dar de ombros. "Para falar a verdade, nem sei se posso julgá-los. Todo mundo gosta de algo para fofocar ou de um bom escândalo, mesmo que esse escândalo já tenha dezoito anos de idade e use saias..." O príncipe riu com a minha comparação. "De verdade? Eu não me importo muito, mas é bem desconfortável. As pessoas tentam esconder, mas parece que a situação só fica mais nítida desse jeito. Meu pai sempre ficava uma fera com isso e eu acabei percebendo que era melhor evitar eventos do tipo. Além do mais, não é como se eu estivesse perdendo muita coisa." Eu ergui uma sobrancelha para ele, sugestivamente. "Velhos políticos ricaços na casa dos sessenta, lembra?"

O príncipe olhou para mim com um pequeno sorriso.

"Nós também somos ricaços e eu, pelo menos, também tenho a minha participação modesta na política de vez em quando."

"Mas somos jovens", disse tranquila. "A idade faz toda a diferença."

"Acho que tenho que concordar."

Eu sorri, me sentindo mais à vontade do que poderia imaginar vinte minutos atrás, quando ele me encontrou à beira da histeria completa em um dos corredores do castelo.

"Imagino que seja mais difícil para os príncipes", disse. "Tenho a impressão de que não é como se você acordasse um dia e decidisse que não está afim de participar de um evento importante e simplesmente não ir."

"Isso é verdade", ele disse, encolhendo um pouco os ombros. "Mas, graças a Deus, Steven é quem tem mais responsabilidades. Não sei o que faria se fosse o herdeiro..."

"Bom, com o devido preparo e dedicação, qualquer um pode ser o que quiser. Você poderia dar um bom rei, quem sabe?"

Sebastian riu baixinho, ajeitando os óculos.

"Concordo com o que disse antes, mas não nasci para isso. Estou bastante satisfeito sendo o segundo filho."

"Eu também", eu disse com um grande sorriso. "Sam sempre tem um monte de coisas para fazer e começou a se preparar desde muito novo para o papel de conde. Sem contar que é bom não ser sempre o centro das atenções..."

"Bom, disto eu não escapei", o príncipe falou naquele instante e percebi decepcionada que ele não estava mais sorrindo.

Por alguns segundos me perguntei do que ele estava falando, mas não demorei muito para entender. Um nó apertado se formou na minha garganta.

Com um suspiro – e sem ter ideia do que falar depois daquilo – ergui o corpo sem dificuldade e me sentei casualmente no parapeito da sacada, olhando para o céu estrelado.

"Cristo, o que está fazendo?!", ouvi o príncipe exclamar de repente, os olhos arregalados voltados para mim. "Desça daí!"

"Não se preocupe", falei com um sorrisinho, achando graça na reação dele. "Olhe só, o parapeito é bem largo e..."

"Não importa", ele disse, e percebi que seu rosto estava ficando pálido. "Você por acaso é maluca? É uma queda de uns cinquenta metros!"

Eu soltei uma risada e ergui uma sobrancelha para ele.

"Vossa Alteza tem medo de altura?"

"Um pouco quando isso envolve assistir sua longa queda até os jardins", ele disse, os nós de seus dedos ficando brancos com a força com que segurava os braços da cadeira de rodas. "Por favor, Penelope, desça daí..."

Era estranho ver meu nome sendo pronunciado por ele com tanta urgência. Até então, o príncipe parecia ser a calmaria e a paciência em pessoa.

"Tudo bem", falei, percebendo que, apesar de estar totalmente segura da minha posição no parapeito, com as pernas devidamente viradas para o lado de dentro, o príncipe parecia realmente assustado.

Tranquilamente, eu saltei os poucos centímetros de distância até o chão.

Ouvi quando Sebastian soltou um longo suspiro de alívio, em seguida voltando os olhos irritados para mim.

"Por favor, não me diga que você faz coisas assim o tempo todo...", ele disse.

Eu ri, mas não respondi à pergunta.

"Veja bem, se eu considerasse minimamente perigoso o fato de me sentar ali, eu não teria feito isso. Sei que é uma queda direto para a morte e eu não quero conhecer essa senhora tão cedo" Sorri para ele de maneira inocente. "Como disse, o parapeito é largo, e eu sempre me equilibrei muitíssimo bem." Parei por alguns instantes, pensando. "Bom, talvez não muito bem, levando em conta as vezes em que já quebrei algum osso, mas..."

"Espera um pouco aí", Sebastian pediu, ajeitando os óculos e olhando incrédulo para mim. "Quantas vezes você já quebrou alguma parte do corpo?"

"Não sei. Muitas. Mais do que posso contar."

O príncipe me olhou como se eu fosse uma alienígena. Será que eu já tinha conseguido espantá-lo? Esperava que não...

"Acredite, eu nunca me machuquei seriamente", apressei-me a dizer. "Estou inteira, não é? E todas as histórias envolvendo esses ossos quebrados são pelo menos um pouquinho divertidas."

"Alguma dessas histórias envolve quedas de lugares altos?", ele perguntou.

"A maioria delas."

"Então eu não quero saber."

Eu ri, mas assim que fechei a boca um longo bocejo escapou. Não dei muita atenção ao fato de estar com os olhos um tanto quanto pesados, mas o príncipe pareceu perceber.

"É melhor nós dois irmos para cama", ele disse. "Pelo que minha irmã disse, seu quarto fica no caminho do meu. Posso te acompanhar?"

"É claro", disse, soltando outro bocejo. Eu já tinha mesmo experimentado emoções demais para a minha primeira noite no castelo e sentia que uma boa noite de sono era tudo o que precisava.

Juntos nós deixamos a sacada. Sebastian fechou as portas e eu me senti mal ao voltar para aqueles corredores, mas felizmente eu não estava sozinha e não me perderia novamente. A presença do príncipe me deixava bem mais tranquila.

Quando paramos em frente à porta do meu quarto me virei para ele antes de entrar, abrindo um sorriso.

"Obrigada por ter me ajudado", eu disse. "Eu não gosto nem de pensar no que teria acontecido se você não tivesse aparecido..."

"Eu também não", o príncipe deixou escapar, e em seus olhos vi como ele ainda estava curioso sobre o que tinha acontecido, mas eu não me sentia confortável para falar sobre aquilo e esperava que ele entendesse.

"Você poderia...", eu mexi no cabelo, encarando o tapete vermelho do corredor aos meus pés, "não contar a ninguém o que aconteceu? Quer dizer, comigo. Eu... não me sinto muito à vontade a esse respeito."

O príncipe me encarou por alguns segundos, mas em seguida fez que sim com a cabeça.

"Claro. Não se preocupe."

Eu olhei para ele e sorri. Pensei que a minha primeira impressão do príncipe não poderia ser melhor. Ele parecia ser um cara legal.

"Bom, então boa noite", eu disse contente, me inclinando para ele sem pensar e o abraçando. O gesto não durou mais que um segundo, mas quando me afastei notei que ele tinha ficado um pouco vermelho. Mordi o lábio inferior, apreensiva. Talvez fosse melhor me conter um pouco na presença dele, pelo menos enquanto não o conhecesse melhor. Não queria que ele me evitasse pensando que era uma doida sem modos. "Podemos combinar de fazer algo divertido depois", eu disse, tentando quebrar o gelo. "Margot me chamou para ir até Arthenia amanhã e seria legal se você viesse também."

O príncipe mexeu nos óculos, sem olhar diretamente para mim.

"Talvez...", ele disse apenas, mexendo em um dos controles da sua cadeira de rodas e se afastando um pouco da porta do quarto. "Se precisar de alguma coisa, não deixe de me avisar, tudo bem? Boa noite."

"Boa noite", respondi com um sorrisinho, observando-o se afastar por um instante até entrar no quarto.

Assim que fechei a porta atrás de mim, fui até a parede oposta e abri completamente a janela, deixando o ar entrar.

Ah, daquele jeito era bem melhor...

Mais tranquila, me deitei na cama, puxando os cobertores até o queixo. Minha mente não parava de reviver os acontecimentos da noite.

Quanta coisa tinha acontecido... Queria me lembrar de cada segundo e de cada palavra que o príncipe e eu tínhamos trocado, para tentar avaliar se eu tinha falado demais em algum momento ou agido de um modo mais que apenas reprovável.

Bom, se tinha feito qualquer uma daquelas coisas, ele não demonstrou se importar muito. Além do mais, tentei lembrar a mim mesma, todas aquelas preocupações não eram realmente minhas. Eram da minha tia, dos professores de etiqueta que tive ao longo da vida e de todos aqueles que já tinham me falado sobre como eu devia me comportar e agir de um modo menos... Bom, de um modo que eu não fosse tão eu, seja lá o que aquilo significasse.

Me sentindo infinitamente mais leve ao constatar aquilo, me virei para o lado e fechei os olhos. Meu primeiro dia no castelo não tinha sido perfeito, mas também não tinha sido um desastre total.

Sem perceber, acabei adormecendo. Os pesadelos não me visitaram mais naquela noite.

____________________✨____________________

Para tudo você que ainda não assistiu o booktrailer do livro!

Gostaram? <3

Agora sim...

Oii gente! Desculpe pela infinita demora em postar capítulo novo, mas é que as coisas andam meio corridas desse lado da telinha... Não queria esperar até domingo para postar esse capítulo, já que deixei vocês esperando um tempinho, por isso soltei ele hoje.

Mas então, me digam se gostaram! Quero muito ouvir a opinião de vocês sobre esse capítulo. Quem já conhece meus outros livros, sabe que não sou do tipo que faz o mocinho e a mocinha se encontrarem pela primeira vez de modo casual, por isso quero saber se gostaram desse encontro e o que aconteceu durante ele! O que acharam da revelação da Penny sobre a mãe? Já desconfiavam sobre algo assim? Bom, ainda estamos só na pontinha do Iceberg... 

Por hoje é isso gente, vejo vocês em breve!

Bjs

Ceci.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top